Papo com Renato Guedes

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Conversei com o quadrinista Renato Guedes sobre os planos dele pra 2014 e a inauguração da Galeria Ornitorrinco em São Paulo, amanhã. Ele falou sobre o mercado norte-americano de quadrinhos e o potencial crescente do meio aqui no Brasil. O papo tá lá no site da Galileu. Dá uma olhada.

‘Quadrinhos eram consumidos pelas massas e precisam voltar a ser’

Ex-desenhista de Super-Homem e Wolverine, Renato Guedes expõe a partir do dia 5 de dezembro em nova galeria de São Paulo

por Ramon Vitral

Para o ilustrador brasileiro Renato Guedes, o ano de 2013 foi apenas um lampejo do potencial crescente do mercado nacional de quadrinhos. Além dos muitos projetos nacionais sendo financiados coletivamente pela internet, a chegada de artistas independentes a grandes editoras e a realização de eventos como o Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte reforçam a crença do artista que, um dia, gibis possam ser meio de comunicação de massa no Brasil.

Desenhista de personagens norte-americanos consagrados, como Super-Homem e Wolverine, Guedes deixou as publicações dos Estados Unidos em 2013 para investir no Brasil. A partir de amanhã, na inaugração de Galeria Ornitorrinco, em São Paulo, estarão expostas duas artes que deverão chamar atenção de seus fãs. “ São pinturas, diferente do que fazia nos quadrinhos”, explica ele em entrevista à Galileu.

Em 2014 Guedes será o responsável pela arte de um álbum protagonizado pelo indiozinho Papa-Capim, criado por Maurício de Sousa, para a coleção Graphic MSP, na qual artistas reinterpretam personagens da Turma da Mônica em histórias fechadas. Segundo ele, a série reflete uma das vantagens do cenário brasileiro em comparação à ainda milionária indústria norte-americana de quadrinhos: “eles estão investindo em nichos e aqui não”.

As pinturas de Renato Guedes, além de outras exposições e artes originais estarão na Galeria Ornitorrinco entre as 19h de amanhã e o dia 5 de fevereiro de 2014. O espaço fica aberto de segunda a sexta, das 10h às 19h, no número 520 da Avenida Pompeia, em São Paulo.

RenatoGuedes1 - Constantine
Como foi o convite pra expor e quais serão seus trabalhos?
O Mauro Souza, um dos sócios na galeria também é ilustrador. Ele tem um estúdio e trabalha na Maurício de Sousa Produções. Somos colegas e um sempre acompanhou o trabalho do outro. Vou expor duas pinturas na abertura. Procurei fazer algo diferente dos quadrinhos. Estava desde 2002 fazendo super-heróis para os Estados Unidos e não tinha tempo pra testar outros estilos e batia uma frustração. Aí resolvi dar um tempo dos quadrinhos e as pinturas surgiram da vontade de fazer algo diferente, mas não vou revelar muito. É surpresa.

Como está a produção da graphic novel do Papa-Capim?
É tudo diferente, principalmente a temática indígena. Não é a mesma coisa de fazer uma revista mensal como eu fazia nos Estados Unidos. Muito mais legal e ideal para o atual momento da minha carreira, em que busco outros caminhos artísticos.

Muitas publicações independentes foram lançadas em 2013, foram realizadas convenções, há vários projetos em busca de financiamento coletivo na internet e agora a galeria voltada para ilustração. O ano foi atípico para os quadrinhos nacionais?
Veremos esse universo crescer ainda mais em breve. Espero que tenha sido apenas um lampejo. Óbvio que temos vários limites: um artista aqui ainda precisa trabalhar com agências de publicidade, vender ilustrações,… Mas há muita coisa acontecendo, como o projeto das graphic novels do Maurício de Sousa. E acho que tudo isso é só uma amostra desse potencial. Quadrinhos não podem continuar limitados a um nicho. Eles nasceram populares, eram consumido pelas massas e precisam voltar a ser.

Você trabalhou mais de dez anos para os Estados Unidos. Há percepção desse cenário brasileiro na América do Norte?
Eles não olham pra cá. Eles estão bem fechados e convictos em insistir nos mesmos erros. Converso com editores lá de fora e nacionais: enquanto o mercado norte-americano investe cada vez mais em nichos, aqui não. Eles estão em crise. Meu último trabalho lá fora foi a revista do personagem John Constantine, que já teve até filme com o Keanu Reeves, e ela vendia apenas sete mil exemplares por mês. É muito pouco.

Mas eventos como a San Diego Comic Con são cada vez mais populares, não são?
Sim. Nos últimos anos estive em todos os mais importantes, como a San Diego Comic Con e a a convenção de Nova York. Há foco em tudo: cinema, séries, games e brinquedos. Mas o espaço reservado a quadrinhos é mínimo. Esses eventos perderam o foco. O Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte não, lá a prioridade é gibi. Na San Diego, por exemplo, o público muitas vezes nem lembra da existência dos quadrinhos.

Os filmes de super-heróis não resultam em vendas maiores?
Na verdade não. Nos Estados Unidos os quadrinhos são vistos como ponta de lança de outros produtos. Num primeiro instante, as vendas podem até melhorar, mas logo voltam ao normal. Acho que o problema é que os personagens sempre sobreviveram à passagem dos anos graças às suas mitologias. Agora os filmes estão influenciando na mitologia e o público original não embarca nessa.


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