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Posts por data junho 2014

Chris Ware / HQ

Três minutos com Chris Ware

Conversei durante três minutos ao vivo com Chris Ware. O nome pode não significar nada para você, mas não consigo imaginar nenhum artista vivo tão genial quanto ele. É gênio de verdade, não daquelas pessoas fodas que fazem coisas incríveis e classificamos dessa forma, mas alguém além da curva, completamente fora do padrão. Ele é o autor de Jimmy Corrigan, Lint e Building Stories, só pra ficar nos mais famosos. Fiz uma entrevista com ele por email no ano passado, transformei em matéria pra Galileu e publiquei a íntegra em inglês no Bleeding Cool. Sábado rolou aqui em Londres a terceira edição do Elcaf, o Festival de Quadrinhos e Arte do Leste de Londres. O Ware era o convidado especial do evento e também responsável pela arte do cartaz da festa.

Fui na primeira edição do Elcaf, em 2012. O evento é organizado pela Nobrow, talvez a principal editora de quadrinhos independentes da Inglaterra. O primeiro festival foi num galpão próximo à estação Old Street e o espaço estava claustrofóbico de tantos visitantes e artistas. Nessa terceira edição eles mudaram pra um espaço que permitia distribuir um pouco mais os expositores. Não era maior, mas melhorou a circulação de pessoas. Começou às 10h e cheguei por volta de 13h. Passei uma hora visitando as várias bancas expostas no local. Vi muita coisa legal que em breve pretendo comentar aqui no blog. A sessão de autógrafos de Chris Ware começou às 14h, no estande da Fantagraphics, editora responsável pelos títulos do quadrinista nos Estados Unidos.

A fila não estava das maiores, com no máximo umas 10 pessoas na minha frente. Passei uns 40 minutos esperando a minha vez, uns 20 devem ter sido por conta dos primeiros da fila, dois malucos que chegaram lá com malas e iam tirando quadrinhos e mais quadrinhos para o autor autografar. Isso não é raro, já tinha visto em outras convenções que visitei aqui em Londres, mas acho que os artistas não gostam muito. Provavelmente aquelas obras autografadas vão acabar em algum site de vendas e o cara vai lucrar bastante em cima da assinatura do autor. Depois um outro sujeito também chegou com 10 cartazes do evento pro Ware autografar. Ele estava bastante simpático, mas fechava um pouco a cara quando alguém chegava com muita coisa.

Elcaf

Na minha frente tinha um italiano com um óculos redondo bastante semelhante ao do quadrinista. Foi a primeira coisa que ele notou. “Muito bonita sua armação”. Aí ambos tiraram os óculos e ficaram comparando e conversando sobre as lentes e as estruturas de cada um.

Não queria comprar quadrinhos que já tenho apenas para ganhar um autógrafo. Comprei um pôster e também estava com o panfleto do festival. Cheguei com ambos na mão, coloquei na mesa e ele estendeu a mão para me cumprimentar com um sorriso no rosto. “Tudo bom? Qual é o seu nome?”. Me apresentei. “Ramon não é um nome britânico, certo?”. Disse que era do Brasil, falei que era jornalista e ele havia me dado uma entrevista por email no ano passado. Ele fez cara de surpreso e quis saber sobre o que eu havia perguntado. Comentei que a primeira pergunta havia sido sobre as 87 bilhões, 178 milhões, 291 mil e 200 possibilidades de leituras diferentes de Building Stories. Ele riu. “Claro que lembro das suas perguntas complicadas sobre a matemática de Building Stories, Ramon”. E continuou: “Eu gastei bastante tempo com as suas perguntas, não foram fáceis de responder”.

Enquanto assinava o meu cartaz, ele seguiu com a conversa. “Mas você não veio para Londres apenas para essa convenção, certo?”, expliquei que estava morando na cidade por um tempo. “Ok…caso contrário eu ia ter certeza que você é maluco”. Ele sorriu, me devolveu o pôster e um panfleto autografados do festival e agradeceu pela entrevista. Em seguida estendeu a mão e me cumprimentou outra vez. Assim foram meus três minutos com Chris Ware.

Cinema

My Mom’s Motorcycle

DocMotoMãe

O cineasta Douglas Gautraud produziu My Mom’s Motorcycle pro festival de curtas My Rode Reel. O filme tem pouco menos de cinco minutos e conta a história da moto da mãe dele, como diz o título. Na verdade, conta como a mãe dele acabou comprando uma moto…ou algo mais ou menos assim. Desses feel-good movies estilo Amélie Poulain que detestamos amar/amamos detestar, mas fazem mó bem pra vida. Sem contar o estilão Wes Anderson. Enfim, bem bom, saca só:

HQ

O retorno de Bill Watterson, o autor de Calvin e Haroldo

Três quadros ilustrados pelo autor de Calvin e Haroldo foram publicados semana passada na tira Pearl Before Swine. Quem afirma é o autor da tira, Stephan Pastis. No início da semana, antes da publicação, Pastis já havia sugerido que os leitores seriam surpreendidos nos próximos capítulos de sua série. Durante os últimos dias alguns sites especularam que o traço presente no quadrinho pertencia a Watterson. A suspeita só foi confirmada hoje, quando Pastis postou em seu blog um texto explicando como conseguiu fazer Watterson retornar aos quadrinhos mais de 18 anos após o término de seu trabalho mais famoso. Além do quadro central da tira aqui de cima, o pai do Calvin supostamente também ilustrou o centro das próximas duas tiras:

watterson2

watterson3

Segundo Pastis em seu blog, ele havia tentado entrar em contato com Watterson recentemente. Extremamente recluso, Watterson não respondeu. Algumas semanas depois, Pastis publicou um tira na qual fingia ser o autor de Calvin e Haroldo pra conseguir uma namorada em um bar. Ele mandou a tira pra Bill Watterson por email, agradecendo por seu trabalho em Calvin e dizendo o quanto ele era uma influência em Pearl Before Swine.

contatowatterson

Aí vem a surpresa: Watterson respondeu o email. Ele disse que adorou a tira e queria propor uma história para Pastis. A resposta do fã:

“Caro Bill,
Eu faço tudo o que você quiser, incluindo colocar fogo no meu cabelo.”

Watterson disse que conhecia o trabalho de Pastis, que costuma fazer piada do fato de suas habilidades como desenhistas não serem lá essas coisas. A ideia de Watterson era que Pastis batesse a cabeça e começasse a desenhar bem – e esses seriam os quadros ilustrados pelo convidado. O dono da tira propôs outra ideia: ele criaria uma nova personagem, uma criança, que soubesse desenhar melhor que ele. O traço dela seria de autoria de Watterson. O nome da garotinha chama Libby, que depois foi abreviado pra Lib – Bil ao contrário, como lembra Pastis em seu blog. A origem da personagem:

bil1

bil2

De acordo com Pastis, foi extremamente tranquilo trabalhar com Watterson e seu conceito para a tira foi mantido quase integralmente. Apenas uma fala foi alterada por sugestão de Watterson. Vale bastante a pena a leitura do post de Pastis. Ele diz que prefere não revelar muito sobre a dinâmica da produção com seu convidado, até pra preservar Watterson. Ele conta que que a produção foi bastante analógica e o pai do Calvin preferiu evitar ao máximo qualquer ferramenta digital durante a produção das tiras. Todos os contatos foram feitos por email e ele jamais conversou por telefone com seu colega. Demais né?

Só fico aqui pensando…ano passado completou 18 anos do final de Calvin e Haroldo. Pouco depois, o Bill Watterson dá duas entrevistas seguidas após anos de reclusão (uma aqui e outra aqui). Daí ele produz um cartaz pro documentário Stripped. Pode ser só sonho meu, mas será que não tá batendo nele uma saudade dos quadrinhos hein? Podia ser.