Escrevi para o jornal Folha de S.Paulo sobre o retorno da revista Expressa. Agora uma parceria das editoras Azougue e Ugra Press, a publicação dedica sua 19ª edição à vida e à obra do cartunista Angeli. Adiantei no meu texto um pouco do conteúdo da revista e compartilhei alguns trechos das minhas conversas com os editores Sergio Cohn e Douglas Utescher sobre o legado do criador da Chiclete com Banana. Desde já, um dos grandes lançamentos das HQs nacionais de 2023. Os responsáveis pela Expressa reuniram pérolas perdidas que retratam toda a versatilidade e o virtusismo de Angeli – indo muito além de Bob Cuspe, Rê Bordosa, Wood & Stock e outros personagens célebres do autor. Você lê a matéria clicando aqui.
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Rafael Sica fala sobre A Última Enciclopédia: “O estranhamento é para mim algo fundamental”
Talvez você não considere A Última Enciclopédia necessariamente uma história em quadrinhos. O próprio autor da obra, o quadrinista Rafael Sica, não a considera exatamente uma HQ, mas ele também não descarta a possibilidade de ser. O autor inclusive simpatiza com a dúvida, e a vê como um estímulo ao início de cada novo trabalho.
“O estranhamento é para mim algo fundamental”, me diz Sica, autor do álbum Meu Mundo Versus Marta, que tem roteiro do escritor Paulo Scott, e da série Ordinário. Ambos foram publicados pela editora Companhia das Letras.
A Última Enciclopédia é mais um fruto da parceria de Sica com o ateliê e estúdio de impressão em serigrafia Caderno Listrado. Juntos eles administram o site e criam os produtos da loja virtual do autor, além de já terem publicado o livro Brasil (atualmente esgotado).
Lançada mensalmente desde março de 2023, a Última Enciclopédia consiste em uma coleção de 10 gravuras de tiragem limitada. Cada volume tem um tema, todos voltados para a maior concentração possível do conhecimento humano, sempre com a arte delicada de Sica.
Os cinco primeiros volumes foram O Espaço, Planeta Terra, Fauna e Flora, Mares e Rios e A Pré-história. Entre agosto e dezembro serão publicadas: Civilização e Costumes, Nosso Corpo, As Máquinas, Ciências e Tecnologia e MItologia e Simbologia.

Sica fez muito trabalho de escola com enciclopédias e revela um carinho especial por obras do tipo voltadas para crianças: “Para criança tudo é novidade e essas edições compreendem bem essa descoberta do todo pela primeira vez. Tudo ricamente ilustrado e explicado, como, por exemplo, ‘por que temos que mastigar com cuidado?’ ou ‘por que crianças pequenas possuem cabeças grandes?’”.
Na Última Enciclopédia, Sica se propôs a celebrar, apenas com imagens, a narrativa estabelecida por ele durante suas leituras de enciclopédias, focando nas ilustrações e na hierarquização das informações. Ele ressalta não ter nenhum propósito científico ou histórico com o projeto. Seus objetivos maiores são celebrar um formato, sugerindo “contemplação e provocação”.
Ele refletiu sobre a iniciativa: “Temos todo o conhecimento disponível nas redes, só que tudo tá ali de forma mais dispersa, mais apressada. A minha intenção, como gesto artístico, é resgatar esse formato de organização e investigação do conhecimento. Esse códex”.
Nas cinco edições enviadas até agora para os assinantes da Enciclopédia, Sica ostentou todo seu virtuosismo narrativo, diversificando no design das páginas e ampliando o universo visual do projeto a cada novo volume. São cerca de duas e três semanas para desenhar cada painel após o término do período de pesquisas.
Sica me contou que a maior parte de seus estudos acabam descartados da edição final, mas não considera o trabalho em vão: “Sem dúvidas, A Última Enciclopédia vai virar um livro de umas 200 páginas. É muita coisa legal que teve de ficar de fora por conta do espaço”.

Allan Sieber fala sobre As Sete Vidas do Gato Jouralbo e Satã Amigo das Crianças Boas: “Crianças compram ideias malucas”
Quando o cartunista Allan Sieber diz que gosta de limites, ele obviamente não está se referindo a restrições temáticas. Sua primeira HQ infantil narra as muitas mortes trágicas de um gatinho fofo e gordinho chamado Jouralbo. Ele morre esmagado por uma bigorna, comido por um tubarão, atingido por uma bala de canhão e paro com os spoilers por aqui. As Sete Vidas do Gato Jouralbo acabou de sair, em parceria da editora Bebel Books com o estúdio de comunicação Mandacaru. O prefácio do álbum é de Fábio Zimbres, autor dos clássicos Música para Antropomorfos e Vida Boa, ambos publicados pela editora Zarabatana Books.
Sieber também publicou há pouco Satã Amigo das Crianças Boas (Veneta), com desenhos de Rafael Sica. O título é autoexplicativo: a obra é protagonizada por um diabo gente boa em situações de camaradagem com crianças legais.
Os limites apreciados por Sieber dizem respeito a restrições técnicas e espaciais. O quadrinho do gato Jouralbo é integralmente composto por páginas com quatro quadros em preto, branco e jade. Já Satã intercala versinhos bem-humorados com as ilustrações de Sica.

“Gosto de coisas limitantes assim”, me diz Sieber sobre as restrições e os padrões autoimpostos nos dois livros. “Não poder tudo eu acho bem mais interessante do que poder tudo. Eu gosto de limites. Acho interessante trabalhar dentro de limites”.
Jouralbo é o que se espera de uma obra infantil de Sieber. O quadrinho é divulgado por seus editores como voltado para leitores a partir de cinco anos, mas eu diria “leitores a partir de cinco anos com predisposição ao humor agressivo do autor”. Sabe aqueles acidentes do Coiote tentando pegar o Papaléguas? Ou os infortúnios do Tom tentando capturar o Jerry? A vibe é a mesma.
Sieber põe em prática em Jouralbo suas crenças em torno do que faz uma boa obra para crianças.
“Uma boa história, né?”, resume o autor. “Basicamente. Um livro que não subestime a criança, que quando possível entre nessa onda de fantasia da criança, que tem um mundo interno muito rico. Então, nesse sentido, é muito bom escrever para criança. Porque elas são muito malucas. Então, entre aspas, elas ‘compram’ uma ideia muito maluca”.

Ele também é coerente com suas preferências em relação a um bom quadrinho: “Ah, eu espero que não seja só um exercício de virtuosismo. Ângulos, luz e sombra e… Enfim, eu tenho um certo pé atrás com quadrinhos assim. Um desenho muito lambido, acho uma merda. Pessoalmente, dou preferência sempre para um desenho chutado, que não briga com o texto. Às vezes o desenho é tão primoroso que quase abafa o texto”.
Em Satã Amigo das Crianças Boas, Sieber adapta seu texto para outra proposta. Ele mantém o bom humor, mas escreve em versos – “canhestros”, segundo ele.
A proposta para o projeto partiu de Rafael Sica, a partir de uma serigrafia de Sieber com o título Satã Amigo, retratando o diabo oferecendo um sorvete para um garoto.
“O Rafael destruiu, né? Ele tá com o desenho muito, muito sofisticado. Eu fiquei muito feliz com esse resultado aí”, comemora o autor. “A ideia era, sei lá, botar Satã como um tio bonzinho. Ele tá sempre ajudando as crianças. Ele fala para as crianças não serem preconceituosas, não serem egoístas e tal. É basicamente o contrário do que Deus… [risos] Se Deus existisse, Deus falaria justamente o contrário, ‘sejam preconceituosos, odeiem seu próximo’”.
Alison Bechdel fala sobre vida, morte, censura, política e O Segredo da Força Sobre-Humana
Entrevistei a quadrinista Alison Bechdel, autora dos clássicos Fun Home: Uma Tragicomédia em Família e Você É Minha Mãe? Um Drama em Quadrinhos. O foco da conversa foi O Segredo da Força Sobre-Humana, trabalho mais recente dela, recém-publicado por aqui pela editora Todavia, com tradução de Carol Bensimon. Transformei a conversa em texto para a Folha de S.Paulo. Falamos sobre vida, morte, censura, política, exercícios físicos e até quadrinhos. Você lê o meu texto clicando aqui.
Glenn Head fala sobre traumas, liberdade, Robert Crumb, Art Spielgeman e Chartwell Manson
Entrevistei o quadrinista norte-americano Glenn Head. O papo teve como foco Chartwell Manson, álbum publicado em português pela editora Comix Zone, com tradução de Érico Assis. Transformei esse papo em reportagem para o jornal Folha de S.Paulo. As 248 páginas autobiográficas do livro narram o período de Head, durante a infância, no internato que dá título à obra e suas vivências como uma das vítimas do diretor da institução, o predador sexual condenado Terence Michael Lynch. Na nossa conversa, o autor falou sobre seus traumas decorrentes do período em Chartwell, sua sensação de liberdade durante a produção da HQ e o impacto de Robert Crumb e Art Spielgeman em seus trabalhos. Você lê o meu texto para a Folha clicando aqui.
Marcelo D’Salete fala sobre Mukanda Tiodora: “Mostro outras estratégias da população negra em busca da liberdade”
Quando o quadrinista Marcelo D’Salete deu início aos seus trabalhos em Mukanda Tiodora (Veneta), ele tinha em mente um projeto menor. Seriam entre 40 e 60 páginas, possivelmente uma obra juvenil e quase sem texto. Eram propostas distintas de seus dois trabalhos prévios, os premiados Cumbe (2014) e Angola Janga (2017). O projeto cresceu, novos personagens surgiram e os temas tratados por ele exigiram novas pesquisas. Às vésperas de sua chega às livrarias nacionais, o livro ficou com 224 páginas. É uma ficção histórica sobre os esforços reais de uma mulher escravizada em busca de sua liberdade na São Paulo do século 19.
Possivelmente a grande HQ brasileira de 2022, Mukanda Tiodora aprofunda temas presentes nos trabalhos anteriores de D’Salete, amplia as reflexões propostas por eles sobre o Brasil contemporâneo e soa como um novo capítulo da verdadeira história brasileira sob a perspectiva e o nanquim de seu autor.
O novo álbum de D’Salete começou a ganhar forma quando ele leu Sonhos Africanos, Vivências Ladinas (Hucitec Editora), obra da pesquisadora e historiadora Maria Cristina Cortez Wissenbach. O livro trata da cidade de São Paulo no século 19 e, principalmente, sua população negra, tanto sua parcela escravizada quanto a livre. Um trecho da obra é dedicado às cartas de Teodora Dias da Cunha, Tiodora, mulher escravizada originária das terras de Angola. Com auxílio de um homem escravizado alfabetizado, ela escreveu sete cartas, para diferentes destinatários, entre autoridades e familiares, tendo em vista sua alforria.
As sete cartas de Tiodora estão reproduzidas na íntegra nos extras da HQ – além de textos complementares de D’Salete e Maria Cristina Cortez Wissenbach, fotos e mapas da cidade de São Paulo do fim do século 19 e uma linha do tempo da luta contra a escravidão no estado de São Paulo.
“Foi um impacto enorme ler as cartas da Tiodora”, me disse D’Salete sobre seu primeiro contato com aquele que viria a ser o foco de seu mais novo quadrinho. “Eu lembro que chorava ao ler as cartas, porque ela é muito contundente. Ela é muito direta em mostrar ali as suas emoções e também o seu interesse de conseguir a sua alforria. E claro, de ter esse contato com pessoas de quem ela foi separada. Este conjunto de cartas, com certeza, como considera a historiadora Cristina Wissenbach, é algo único para pensar na cidade de São Paulo nesse período”.
Na avaliação do autor, as cartas ainda são reveladoras sobre a história de vida de Tiodora e o passado recente do país: “Tiodora vem das terras de Angola, chegou no Brasil e foi vendida no interior de São Paulo. Foi para a cidade de São Paulo, morando na Rua da Liberdade, por volta de 1860. Sendo que o seu esposo e filho ficaram no interior. É preciso entender que o interior de São Paulo e a cidade de São Paulo, ambos escravistas, formavam uma sociedade extremamente desigual e violenta. Mas havia formas diferenciadas de escravidão. E o livro tenta trazer um pouco disso”.
Documentos potenciais
Em 2018, Marcelo D’Salete teve um ano de repercussão inédita para um quadrinista brasileiro. Por Angola Janga, lançado no ano anterior, pela editora Veneta, ele levou o Prêmio Jabuti na categoria Histórias em Quadrinhos, quatro troféus HQMix (Melhor Edição Especial, Melhor Desenhista Nacional, Melhor Roteirista Nacional e Destaque Internacional) e o Prêmio Grampo de Ouro. Ele ainda recebeu o Prêmio Eisner, o mais importante da indústria de quadrinhos dos Estados Unidos, na categoria Melhor Edição de Material Estrangeiro, pela versão em inglês de Cumbe (Veneta). As duas obras foram publicadas nos EUA pela lendária editora Fantagraphics, casa de alguns dos nomes mais célebres das HQs locais.
Tanto em Cumbe quanto em Angola Janga, D’Salete criou tramas ficcionais a partir de suas pesquisas sobre o Brasil escravocrata do fim do século 16. Em Mukanda Tiodora ele criou ficção a partir de uma das cartas de Tiodora, construindo uma trama envolvendo a jornada da mensagem até seu destinatário. Segundo o autor, as cartas foram como um ponto de partida: “documentos potenciais” que resultaram em imagens, personagens e todo um enredo.
“Há aproximações em relação à história, em relação a essa tentativa de imaginar São Paulo no século 19 e, principalmente, sobre a população negra nesse período”, refletiu o autor sobre seu novo trabalho. “Ele é uma forma de aproximação, uma forma de investigação poética e ficcional sobre aquele momento, trazendo diferentes personagens para entender aquele contexto. Não considero um livro de registro apenas histórico, mas é uma tentativa de imaginar a história criando novas formas de interpretar aqueles fatos a partir da ficção”.
A mescla de ficção e história e a apresentação de uma nova trama sobre resistência e enfrentamento ao poder escravista enfatizam o diálogo entre Tiodora, Cumbe e Angola Janga. No entanto, o salto temporal, do século 16 nos dois álbuns prévios, para a segunda metade do século 19 nesse trabalho mais recente, expõe outro contexto da escravidão e outro período da história de resistência da população negra contra o poder escravista.
“Mostro outras estratégias da população negra em relação à tentativa de obter a sua liberdade ou melhores condições de vida. Essa negociação passava pela fuga, às vezes pela formação de quilombos, mas também por uma negociação tensa com os ‘senhores’, usando cartas, como aconteceu com a Tiodora. Então, a escrita, assim como a ação das irmandades negras, eram uma outra forma de tentativa de negociação com esse poder escravista, tentando melhores condições de vidas e também a liberdade”, explica ele.
“É muito importante que a gente entenda que havia diferentes formas de resistência e negociação com o poder escravista”, ressalta D’Salete. “Todas essas formas, de certo modo, são relevantes para a gente compreender que essas pessoas buscavam melhores condições de vida, às vezes conseguindo sua alforria de fato, mas às vezes conseguindo mais tempo para os seus trabalhos, mais tempo para vender as suas coisas, para conseguir juntar dinheiro, para compra da carta de alforria, para os seus momentos festivos também. Tudo isso faz parte dessas formas de negociação e diz respeito a essa história negra de resistência, de luta contra o poder escravista”.
Libertos escravizados
D’Salete focou Mukanda Tiodora no percurso de uma das cartas de Tiodora. Ele mostra a jornada de um jovem que se propõe a fazer a entrega da mensagem em meio a todos os perigos e ao ambiente hostil da São Paulo escravocrata. A trama simples é cercada por uma ambientação reveladora em relação ao seu contexto. O terceiro capítulo da obra, por exemplo, é protagonizado por Luís Gama e Ferreira de Menezes, figuras icônicas e fundamentais do movimento abolicionista. Os dois aparecem no quadrinho em discussão sobre os vários levantes de escravizados que vinham ocorrendo e o fim inevitável da escravidão, mas como o sistema resistia e a escrita poderia ser uma estratégia de combate.
Nascido livre em Salvador, Luís Gama foi escravizado durante a infância. Já adulto, ele conseguiu na Justiça sua liberdade. Depois, como advogado, foi fundamental na libertação de mais de 500 pessoas. D’Salete conta que a presença de Gama acabou se impondo em Mukanda Tiodora – também por ter sido uma das pessoas que relatou o caso de Tiodora na imprensa da época.
“Luís Gama fazia uma crítica acirrada, extremamente forte, contra o poder instaurado naquele momento, contra os grandes fazendeiros e contra a igreja. Se por um lado você tinha os fazendeiros, que possuíam o dinheiro, o poder para manter essa estrutura, por outro lado, você tinha a igreja, que infelizmente dava apoio moral ao regime da escravidão. O Luís Gama nunca foi condescendente com esses abusos e com essa ‘distorção’, vamos dizer assim, dos ensinamentos que vêm da própria igreja em relação à igualdade e tudo mais”.
D’Salete também lembra que, no contexto da HQ, o tráfico de escravizados no Oceano Atlântico estava proibido há mais de 30 anos. Mas a prática seguiu sob a vista grossa das autoridades e da igreja católica: “Luís Gama é provavelmente uma das primeiras pessoas a utilizar o termo ‘libertos escravizados’. Ele compreendia que pela lei, aquelas pessoas já deveriam ser consideradas livres quando chegavam aqui. Mas, de acordo com o conluio entre os grandes fazendeiros e também a polícia da época, todo aparato jurídico e criminal daquele período não tornavam aquilo um crime hediondo”.
Brasil contemporâneo
Além do salto temporal de 300 anos, Mukanda Tiodora também se distingue dos trabalhos prévios de D’Salete em relação à sua arte. Seu preto e branco segue em alto contraste, à base de papel e nanquim, mas dialoga ainda mais com a xilogravura. Ele assume ter se empenhado para alcançar um “novo estilo” e “outra forma de pensar desenho e composição”.
“Acabava pintando boa parte da cena e da figura com aguadas de nanquim e depois ia construindo as partes de luz com tinta branca, corretivo”, me explicou o quadrinista. “Senti que estava precisando desenvolver outras formas de desenho. Fiquei bem feliz com o resultado, com o que consegui até agora. Não sou um artista eclético, que muda muito de traço de um trabalho para o outro. Mas avalio que o livro Tiodora mostra uma nova fase em relação à composição, ao desenho, às texturas. E claro, tem muita influência de artistas latino-americanos também, como Alberto Breccia e um pouco do José Muñoz”.
E após três álbuns ambientados no Brasil colonial, D’Salete assume sentir saudade dos cenários mais urbanos e modernos de seus primeiros livros, como Encruzilhada (Veneta) e Noite Luz (Via Lettera): “Eu tenho alguns projetos focados no Brasil mais contemporâneo. Mas esses outros projetos, mais históricos, acabaram se impondo de uma forma muito grande na minha relação com os quadrinhos. Eram histórias que eu via e pensava ‘é importante que isso seja contado de algum modo’. Mas ainda espero voltar, sim, para as histórias mais contemporâneas”.
Já sobre o Brasil contemporâneo ele se diz esperançoso. Focado na produção de Mukanda Tiodora durante grande parte dos quatro anos de presidência de Jair Bolsonaro, D’Salete está aliviado com a vitória de Lula nas eleições do último mês de outubro, mas também lamentou o número expressivo de votos conquistados pelo atual presidente.
“Creio que teremos o desafio, nos próximos meses e anos, de criar formas de lutar contra essa desinformação praticada de modo extremamente devastador pelo bolsonarismo. Não podemos imaginar um governo contra as populações negras, quilombolas, indígenas, pobres e mulheres, novamente assumindo o poder de uma forma tão desastrosa. Teremos desafios muito grandes para que isso não volte a ocorrer”.