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Posts por data julho 2014

Cinema / HQ / Marvel

Guardiões da Galáxia e o Top 10 da Marvel no cinema

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Já assistiu o filme novo da Marvel? Gostou? Divertido pra caramba e talvez o mais autoral de toda série iniciada lá em 2008, com Homem de Ferro. Também tem alguns dos melhores personagens do pacote. Estamos vendo um crescente de personagens da Marvel no cinema. O Loki do Tom Hiddleston é a estrela de Vingadores, o Soldado Invernal rouba a cena em Capitão América 2 e os cinco protagonistas de Guardiões são interessantes – sendo que todos possuem origens que podem ser extremamente exploradas. Aliás, apesar de todo bom-humor do filme, todas as cenas que tratam das origens dos heróis são tristes. Principalmente a abertura do longa, com a morte da mãe de Peter Quill, e a extremamente sutil referência ao passado de Rocket. Dois dos melhores momentos da produção de James Gunn.

Vi alguns textos perguntando se Guardiões poderia ser o Guerra nas Estrelas de novas gerações. Calma lá, pessoal. Dependendo de onde chegar, talvez o conjunto do Universo Marvel possa sim ter um peso tão grande quanto os três filmes originais da saga de Luke e cia, mas sabe-se lá quando e após quantos capítulos. Por enquanto, sim, mais um ótimo episódio para o Universo Marvel no cinema. E não só mais um, o décimo. E como bom nerd que sou, estava sedento por esse número 10 só para montar uma lista aqui com os 10 melhores, na minha opinião. A verdade é que não vejo tanta diferença assim entre cada filme. Homem de Ferro 2 e 3 não são tão legais quanto o primeiro, mas sério que alguém acha essa porcaria toda? São filmes de super-heróis, quase sempre presos a um formatão muito bem-resolvido.

Sem mais delongas. Meu Top 10 do Universo Marvel no cinema (aguardo os de vocês nos comentários):

1- Os Vingadores (2012);

2- Guardiões da Galáxia (2014);

3- Capitão América 2: O Soldado Invernal (2014);

4- Capitão América: O Primeiro Vingador (2011);

5- Homem de Ferro (2008);

6- Thor: O Mundo Sombrio (2013);

7- Thor (2011);

8- Homem de Ferro 2 (2010);

9- Homem de Ferro 3 (2013);

10- O Incrível Hulk (2008).

E a bela trilha do filme de presente pra você:

Cinema

Avalie o Grand Budapest Hotel no TripAdvisor

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E aí, tá com planos de dar um pulo em Zubrowka nas próxima férias e visitar os suntuosos recintos do Grand Budapest Hotel? Quer conhecer as estruturas mantidas pelo concierge Zero Moustafa desde os gloriosos anos da administração do Monsieur Gustave H.? Antes de ir, vale a pena dar uma conferida na página do hotel no TripAdvisor. Com 124 reviews, o hotel tem uma avaliação geral positiva de 4,5 estrelas. Além da simpatia do atual concierge, os pontos positivos mais ressaltados pelo visitantes do estabelecimento são as salas de banho e a tranquilidade da região montanhosa.

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PS: claro, como explica o TripAdvisor, o hotel do mais recente filme do Wes Anderson não existe de verdade, maaaas vale dar uma lida nas resenhas. E até arriscar uma crítica por lá.

HQ

Papo com a editora do selo Barricada, Bibiana Leme

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Difícil imaginar outra coletânea de histórias em quadrinhos tão ambiciosa quanto O Cânone Gráfico. Em 2012 o editor norte-americano Russ Kick publicou o primeiro dos três volumes da coleção, seu objetivo: reunir quadrinistas dos mais diferentes estilos para adaptar para o formato de hq alguns dos textos mais importantes da literatura mundial. O primeiro tomo de Cânone Gráfico será lançado no Brasil em agosto, na leva inicial de obras do selo de quadrinhos Barricada, da Boitempo Editorial. É definitivamente um dos lançamentos do ano para os leitores de quadrinhos. No primeiro álbum estão presentes trabalhos de autores como Will Eisner e Robert Crumb.

Os outros dois títulos inaugurais são Último Aviso, da alemã Franziska Becker, e o nacional Claun: A Saga dos Bate-bolas, de Felipe Bragança. Conversei por email com a Bibiana Leme, editora da Barricada e ela me falou mais sobre a estreia da Boitempo no mercado de quadrinhos, os três primeiros títulos do selo e a possibilidade de produzir uma edição semelhante à de Cânone Gráfico apenas com artistas brasileiros. Segundo ela, mesmo numa fase ainda inicial, a ideia de um “Cânone nacional” já vem sendo estudada. Segue a entrevista:

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A Boitempo tem quase 20 anos de existência. Por que investir em quadrinhos agora?

Na verdade, já faz alguns anos que pensamos nisso, estávamos amadurecendo essa ideia e, este ano, ela finalmente ganhou corpo. Avaliando a cena brasileira, percebemos que poderíamos contribuir para a diversidade de publicações nessa área. Há uma demanda crescente de leitores interessados em quadrinhos e espaço para a publicação de títulos mais ousados, afinados à linha editorial da Boitempo, ou seja, que transmitam uma mensagem libertária e privilegiem temas ligados à política, aos direitos humanos, à crítica social. As editoras que vieram antes de nós fizeram um trabalho maravilhoso de criação de público no Brasil, pelo qual nós temos muito a agradecer. Agora esperamos dar uma contribuição positiva a esse mercado também, com a nossa cara! É assim que a Barricada surgiu: disposta a fincar sua bandeirinha num solo que a cada dia ganha mais respeito no Brasil.

Vocês divulgaram que a Barricada é voltada principalmente a “títulos libertários e de resistência”. Como vocês chegaram a essa linha editorial?

Por ser uma extensão da Boitempo, editora que tem por característica justamente a publicação de obras do pensamento crítico, é natural que a Barricada siga o mesmo caminho. É nosso foco de interesse, é com isso que gostamos de trabalhar. Mas vemos muito o quadrinho como obra de arte: e arte é arte, não tem que se prender a nada. Por isso não queremos limitar o selo, pra gente basta que a temática seja capaz de acender o questionamento e instigar a imaginação. Mas, claro, se isso fizer alguém querer revolucionar algum aspecto que não ande bem na própria vida ou no mundo, melhor ainda!

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O primeiro lançamento de vocês é Último Aviso, da Franziska Becker. Ela é uma cartunista famosa na Alemanha, mas acredito que será o primeiro trabalho dela publicado no Brasil. Por que vocês escolheram ela para inaugurar o selo?

É isso mesmo, esse é o primeiro trabalho da Franziska Becker publicado no Brasil, apesar de ela estar na ativa desde a década de 1970 na Alemanha. A gente estava selecionando quadrinistas para essa primeira investida da Barricada e chegou a ela quase sem querer, mas o estilo dela nos conquistou de cara! Ela tem tudo a ver com a Barricada, porque consegue ser ácida sem ser ranzinza, “sem perder a ternura”, de forma divertida e muito perspicaz, unindo temas diversos da vida moderna numa mesma sacola, por exemplo as questões de gênero, a crítica ao consumismo desenfreado, a ditadura da beleza etc. Com essa temática, ela cria situações hilárias, mas que ao mesmo tempo nos deixam perplexos, por cutucar sem dó os pontos fracos de nossa sociedade. É um estilo completamente corrosivo e bastante original.

E a quarta capa do quadrinho é de autoria do Laerte. Ele já conhecia o trabalho da Franziska Becker? Você sabe o que ele achou do livro?

Como o Laerte conta na orelha, ele conhecia apenas as ilustrações da Franziska, mas isso já tinha chamado a atenção dele há muitos anos. Ele comenta no mesmo texto que gosta do estilo de Franziska – as cores fortes, quentes, e o detalhamento – e até questiona o fato de ela não ter sido publicada no Brasil antes. Tanto a Franziska como outros quadrinistas europeus influenciaram a geração do Laerte e são desconhecidos ainda por aqui. Ou seja: a Barricada e outras editoras de quadrinhos brasileiras têm bastante chão para cobrir até suprir essa deficiência!

Em seguida vocês lançam o Cânone Gráfico. Essa é uma das coletâneas de quadrinhos mais aclamadas já publicadas. Ela deve impressionar muitos leitores de quadrinhos, mas fico pensando na reação de pessoas não acostumadas a ler gibis quando lerem esse livro. Você acha que pode funcionar como uma porta de entrada para os quadrinhos?

Com certeza! Pessoalmente, torço muito para que sim! O Cânone gráfico é uma verdadeira obra de arte, é uma concepção genial! E, por ter como base clássicos da literatura universal, pode sim fazer com que gente que nunca leu um quadrinho queira ler esses. E aí o caminho estará aberto! E estará aberto de forma realmente brilhante: participam dos volumes quadrinistas da envergadura de Robert Crumb, Hunt Emerson, Peter Kuper e Will Eisner, entre muitos outros. E todas as histórias vêm acompanhadas de um texto do organizador, o Russ Kick, explicando o contexto daquela obra e particularidades da adaptação para quadrinhos. Simplesmente um livro delicioso de se ler e de se ver!

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São mais de 50 histórias presentes nesse primeiro volume. Você tem alguma preferida?

Ah, tenho algumas… Impossível escolher uma… Tem as adaptações mais engraçadas, como A epopeia de Gilgamesh,Lisístrata, “A mulher com duas vaginas”, O inferno, de Dante. E tem as mais artísticas, por exemplo a versão da Medeia em tons soturnos e traços minimalistas. O Mahabharata está muito estiloso também. As Cartas de Abelardo e Heloísa estão incríveis, “O pescador e o gênio” tem toda uma apresentação original, A rainha das fadas é bastante exótica… O bacana é isto: tem pra todos os gostos, o organizador não ficou preso a um estilo único e assim conseguiu criar um verdadeiro panorama dos quadrinhos.

Há alguma previsão para o próximo volume da série?

Sim, já estamos trabalhando na tradução e nossa ideia é lançá-lo até meados de 2015.

Vocês também estão trabalhando com autores nacionais. Há alguma possibilidade de algum material semelhante ao Cânone sendo produzido com artistas brasileiros?

Há mais que uma possibilidade: nós já estamos estudando esse projeto! (Mas por enquanto ele ainda está numa fase bem inicial.)

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Sobre o Claun, como vocês chegaram nesse material? Ele compõe um projeto maior do autor da obra, certo?

O Claun vai ser nosso primeiro livro nacional, motivo de orgulho total. O livro é fruto da imaginação fantástica do cineasta Felipe Bragança e faz parte de um projeto transmídia que trata da cultura dos “clóvis e bate-bolas” do Carnaval do Rio de Janeiro, dos quais pouco sabemos, mas que existem desde os anos 1920 e formam uma verdadeira rede de grupos (cerca de 400!) que se unem no carnaval carioca numa espécie de folia do submundo. O Felipe mescla isso tudo à mitologia urbana da cidade, sua diversidade de culturas, a juventude, os conflitos sociais. As ilustrações são de jovens artistas talentosos: Daniel Sake, Gustavo M. Bragança e Diego Sanchez Martines. Essa coisa do projeto transmídia é bem interessante: o Felipe é um cara bastante ligado na questão da linguagem e na quebra de barreiras, então ele teve essa ideia de dar ao projeto Claun diversas formas, fazendo com que as histórias se interconectem entre si. Além da HQ, contempla também uma websérie, um jogo de videogame online e um filme-piloto. A forma como ele chegou à Barricada foi bastante natural, pois conhecia gente daqui. Foi uma sorte do selo!

Há uma cena imensa de quadrinistas nacionais e independentes. Muita gente produzindo muita coisa, tanto na internet quanto no papel. Pela linha editorial da Barricada, é possível esperar alguns desses autores publicando em breve com vocês?

Sim, estamos abertos a tudo que há de novo e incrível sendo feito por aí! Nossa intenção é ampliar o mercado, claro que dentro da nossa capacidade. Temos um conselho editorial do mais alto nível, formado por Luiz Gê (que, aliás, fez o nosso logo), Rafael Campos Rocha, Gilberto Maringoni e Ronaldo Bressane. Junto com a gente, eles estão esquadrinhando as novidades e atentos ao que há de novo por aí com a cara da Barricada!

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HQ

Mickey Mouse suicida

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Ano passado postei aqui uma série de tiras do Mickey de 1951 que mostrava o personagem sob o efeito de uma droga chamada Peppo. No desenrolar da história, Mickey parte para a África para lucrar com a venda do remédio. Um ano depois do Mickey Mouse traficante, hoje descobri o Mickey Mouse suicida. Entre os dias 8 e 24 de outubro de 1930 o personagem de Walt Disney protagonizou uma sequência de tiras na qual ele é abandonado por Minnie e resolve dar um fim ao seu sofrimento. Foram 15 tiras e a partir da décima ele tenta se matar de cinco formas diferentes. Épico. Inimaginável algo assim hoje em dia em quadrinhos infantis – o que não sei se é vantagem ou desvantagem.Vi lá no Messy Nessy Chic. Saca só:

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Cinema

O Black Album dos Beatles, produzido por Richard Linklater e Ethan Hawke para Boyhood

Acho difícil pra caramba escrever sobre Boyhood. Em poucas palavras, ficarei bastante surpreso caso veja algo melhor nos cinemas em 2014. O filme foi produzido ao longo de 12 anos por Richard Linklater. Com os mesmos atores, ele contou 12 anos da vida de uma família, focando no crescimento de um dos filhos. Ele começa com o garoto aos seis anos, com os pais recém-separados, e segue até os 18. O ponto é que esse esforço todo do Linklater para filmar ao longo de mais de uma década é quase detalhe quando o filme é projetado. A passagem é tão sutil que as vezes nem lembramos que estamos vendo o tempo passar de verdade na tela. Foda demais.

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Quando o protagonista já tá lá pelos 15 anos o pai dele dá de presente para o garoto uma coletânea dos Beatles. O nome da mixtape presente no cd é Black Album e reúne as principais obras dos quatro Beatles após o término da banda. No entanto a coletânea foi produzida de verdade pelo Ethan Hawke, intérprete do pai do protagonista do filme, para sua filha na vida real. Fiquei sabendo dessa história via BuzzFeed, que publicou a carta produzida pelo ator para sua filha e adaptada para o personagem principal do filme, Mason. Na cena que o presente é mencionado, parte dessa explicação é citada pelo pai do garoto.

Segue a tradução da carta do personagem com a explicação do presente e em seguida a lista com todas as músicas dos três CDs da coletânea. O original, em inglês, tá lá no BuzzFeed:

“Mason,

Eu queria te dar de presente de aniversário algo que dinheiro não pode comprar, algo que apenas um pai pode dar para um filho, como uma relíquia de família. Isso é o melhor que consegui. E desde já, minhas desculpas.

Meu presente para você: O BLACK ALBUM DOS BEATLES.

O único trabalho do qual fiz parte e pelo qual sinto algum orgulho por envolver algo nascido em um espírito de colaboração – a ideia não pertence a ninguém especificamente, mas surge daquela magia criativa imprevisível que acontece quando energias colidem.

Isso é o melhor trabalho solo de John, Paul, George e Ringo pós-Beatles. Eu basicamente reuni a banda exclusivamente para você. Tem essa coisa que acontece quando você ouve muito dos trabalhos solos deles separadamente – muito Lennon: de repente há um pequeno clima de egocentrismo; muito Paul e pode ficar sentimental – vamos assumir, há um transtorno de personalidade meio patético aqui; muito George: ok, todos temos o nosso lado espiritual, mas só é legal por seis minutos, certo? Ringo: ele é engraçado, irreverente e cool, mas ele não consegue cantar – ele teve alguns hits nos anos 70 (até mais que Lennon), mas você não vai pra casa e se matar de ouvir um Ringo Starr do início ao fim, você simplesmente não vai fazer isso. Quando você junta os trabalhos deles, no entanto, quando você coloca um do lado do outro e deixa fluir – eles aprimoram-se e você começar a ouvir: O S B E A T L E S.

Apenas escute o CD inteiro, ok?

Acho que talvez seja o fato do Lennon ter sido baleado e morto aos 40 (um das últimas músicas compostas por ele foi Life Begins at 40, que ele escreveu pro Ringo – e eu não consegui me convencer a incluir a canção no mix pois ironia da situação ainda não é engraçada pra mim) e eu acabei de chegar aos 40 e isso resultou no BLACK ALBUM. Eu ouço essas canções e por alguma razão (talvez o sofrimento constante e transformador do divórcio com a sua mãe) me encho de tristeza pelo término amargo da amizade entre John e Paul. Eu sei, eu sei, eu sei, isso não tem nada a ver comigo, mas caramba, me explique mais uma vez porque o amor não pode durar para sempre. Por quê ficamos egoístas? Por quê eles ficaram? Por quê costumamos ver dons como possíveis ameaças e diferenças como deficiências? Por quê não conseguimos perceber que nossos atritos podem ser utilizados para polir as qualidades de outra pessoa?

Li uma história sobre a morte da mãe do John:

Ele era um adolescente revoltado – com um canivete no bolso, cigarro nos lábios e sexo na cabeça. No funeral da mãe desequilibrada e recém-falecida (que ele havia acabado de ficar mais próximo), ele – bêbado e puto – socou um membro da banda e deu o fora. Alguns anos mais novo, o Paul – um moleque que ainda não ligava muito pra garotas, ainda UNCOOL e presente na banda graças às suas habilidades com a guitarra apesar de ser meio infantil – correu atrás do John na rua dizendo: “John, por quê você está sendo tão babaca?”.

O John respondeu, “Minha mãe acabou de morrer, porra!”

E o Paul disse, “Você nunca perguntou sobre a minha mãe.”

“O que tem ela?”

“Ela também está morta.”

Eles se abraçaram no meio da rua. Aparentemente o John disse, “Podemos por favor começar uma porra de banda de rock’n’roll?”.

Essa história respondeu a dúvida presente no meu cérebro ao longo de todo minha vida como ouvinte de música: Se os Beatles estiveram juntos ao longo de apenas 10 anos e os membros da banda eram tão novos ao longo desse período, como eles conseguiram escrever Help, Fool on the Hill, Eleanor Rigby, Yesterday, e A Day in the Life? Eles eram apenas caras de 25 anos cercados por garotas em frente aos seus hotéis e com direito ao tanto de champagne que um moleque consegue beber. Como eles conseguiram desenvolver suas mentes para feitos artísticos tão grandiosos?

Eles conseguiram pois estavam sofrendo. Eles sabiam que o amor não dura pra sempre. Eles descobriram isso ainda muito novos.

No BLACK ALBUM é possível ouvir os caras cantando sobre a vida adulta: casamento, paternidade, sobriedade, crescimento espiritual, a vacuidade do sucesso material – Starting Over, Maybe I’m Amazed, Beautiful Boy, The No No Song, God – e eles ainda estão plenamente conscientes desse fato: o amor não é eterno.

Eu não quero que isso seja verdade. Eu quero Lennon/McCartney escrevendo lindamente juntos para sempre, mas esse é o objetivo? Da mesma forma, se o objetivo de uma rosa fosse durar para sempre, seria feita de pedra, certo? Então como lidamos com essa ideia com graça e maturidade? Se você é romântico, como eu, é difícil não tentar encontrar algum indício da retomada da amizade entre eles. Todos os sinais apontavam para isso.

Quando Paul esteve no SNL recentemente, ele tocou praticamente apenas canções do Lennon. E ele fez isso explicitamente feliz.

Ouça Here Today do Paul.

Você consegue escutar Two of Us (a última canção que eles escreveram juntos) e não sofrer um pouco? O que estavam pensando aqueles dois garotos sem as mães, que outro dia estavam abraçados no meio da rua, quando eles escreveram “The two of us have memories longer then the road that stretches out ahead”?

A dinâmica da separação deles, como em qualquer divórcio, é um mistério. Alguns dizem que Paul, o pupilo, havia superado John, o mentor, e eles não conseguiam chegar a um novo equilíbrio. Outros dizem que o Paul era um pentelho que pegou todos os direitos das canções dos outros três. E ainda tem os que falam que sem o Brian Epstein não havia mediador entre os egos deles. Vai saber.

Eu toquei Hey Jude pra sua irmã outro dia e ela ouviu várias vezes. Contei pra ela que a música foi escrita por McCarney para o filho de Lennon após o divórcio de seu pai e ela prestou ainda mais atenção. O George uma vez disse que Hey Jude foi o início do fim dos Beatles. O Brian Epstein havia acabado de morrer e John e Paul estavam sozinhos para administrar o recém-criado selo Apple. Eles gravaram Hey Jude e Revolution como single. Normalmente, o Brian decidia qual música seria ladoA e qual seria lado B, mas agora estava por conta deles. O John acreditava que Revolution era uma canção de rock política importante e que eles precisavam se colocar como uma banda adulta. O Paul achava que Revolution era brilhante, mas os Beatles eram uma banda essencialmente pop e então eles deviam abrir com Hey Jude. Ele sabia que seria um hit monstruoso e que política deveria vir num lado B subversivo. Eles votaram. Hey Jude venceu por 3 a 1. O George disse que o John sentiu uma espécie de golpe de estado por parte do Paul. Ele não estava explicitamente triste, mas ele começou a recuar. Não era mais a banda dele.

A ironia/lição dessa história está em uma outra história que ouvi: assim que Hey Jude/Revolution ficou pronto, os garotos tiveram a ideia maquiavélica de levar o single novo para uma festa de lançamento do novo disco dos Rolling Stones. O Mick Jagger diz que assim que os quatro chegaram e deixaram escapar estavam com o single, todo mundo clamou por escutar tão logo terminou o lado um do disco dos Stones. Assim que os Beatles começaram a tocar, o single ficou virando de um lado pro outro. O lado dois de Beggar’s Banquet dos Stones jamais chegou perto da agulha.

Então não importa o quão louco o John fosse, ele não era tão louco assim…

Um vez perguntaram ao John se ele voltaria a tocar com o Paul, ele respondeu: “A dúvida pra mim é o que tocar. É tudo pela música. Nós tocamos bem juntos – se ele tiver uma ideia e precisar de mim, eu estaria interessado”.

Eu amo isso.

Talvez a lição seja: o amor não dura pra sempre, mas a música que o amor cria talvez sim.

Eu e sua mãe não conseguimos fazer o amor durar pra sempre, mas você é a nossa música, meu amigo.

“And in the end, the love you take is equal to the love…”

Eu te amo. Feliz aniversário.

Seu Pai.”

Ufa. Demais né? As canções do BLACK ALBUM, com playlists que criei para cada um dos discos:

Disco 1:
1. Paul McCartney & Wings, “Band on the Run”
2. George Harrison, “My Sweet Lord”
3. John Lennon feat. The Flux Fiddlers & the Plastic Ono Band, “Jealous Guy”
4. Ringo Starr, “Photograph”
5. John Lennon, “How?”
6. Paul McCartney, “Every Night”
7. George Harrison, “Blow Away”
8. Paul McCartney, “Maybe I’m Amazed”
9. John Lennon, “Woman”
10.Paul McCartney & Wings, “Jet”
11. John Lennon, “Stand by Me”
12. Ringo Starr, “No No Song”
13. Paul McCartney, “Junk”
14. John Lennon, “Love”
15. Paul McCartney & Linda McCartney, “The Back Seat of My Car”
16. John Lennon, “Watching the Wheels”
17. John Lennon, “Mind Games”
18. Paul McCartney & Wings, “Bluebird”
19. John Lennon, “Beautiful Boy (Darling Boy)” 20. George Harrison, “What Is Life”

Disco 2:
1. John Lennon, “God”
2. Wings, “Listen to What the Man Said”
3. John Lennon, “Crippled Inside”
4. Ringo Starr, “You’re Sixteen You’re Beautiful (And You’re Mine)”
5. Paul McCartney & Wings, “Let Me Roll It”
6. John Lennon & The Plastic Ono Band, “Power to the People”
7. Paul McCartney, “Another Day”
8. George Harrison, “If Not For You (2001 Digital Remaster)”
9. John Lennon, “(Just Like) Starting Over”
10. Wings, “Let ‘Em In”
11. John Lennon, “Mother”
12. Paul McCartney & Wings, “Helen Wheels”
13. John Lennon, “I Found Out”
14. Paul McCartney & Linda McCartney, “Uncle Albert / Admiral Halsey”
15. John Lennon, Yoko Ono & The Plastic Ono Band, “Instant Karma! (We All Shine On)”
15. George Harrison, “Not Guilty (2004 Digital Remaster)”
16. Paul McCartney & Linda McCartney, “Heart of the Country”
17. John Lennon, “Oh Yoko!”
18. Wings, “Mull of Kintyre”
19. Ringo Starr, “It Don’t Come Easy”

Disco 3:
1. John Lennon, “Grow Old With Me (2010 Remaster)”
2. Wings, “Silly Love Songs”
3. The Beatles, “Real Love”
4. Paul McCartney & Wings, “My Love”
5. John Lennon, “Oh My Love”
6. George Harrison, “Give Me Love (Give Me Peace on Earth)”
7. Paul McCartney, “Pipes of Peace”
8. John Lennon, “Imagine”
9. Paul McCartney, “Here Today”
10. George Harrison, “All Things Must Pass”
11. Paul McCartney, “And I Love Her (Live on MTV Unplugged)”