Vitralizado

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Posts por data abril 2016

HQ

Um panorama da cena brasileira de quadrinhos autorais, por Manzanna

A Manzanna publicou hoje um tremendo texto em inglês lá no Comics Workbook dando uma geral do que tá rolando na cena brasileira de quadrinhos autorais. Aliás, talvez seja errado dizer “uma geral”: ela lista vários artistas, eventos e publicações importantes pra caramba do mercado nacional, passando por várias regiões do Brasil.

Não estão listados todos os personagens dessa cena (impossível, né?), mas mesmo assim é extremamente fiel como retrato da agitação atual dos quadrinhos nacionais. Acho que funciona não só como ponto de partida pra quem tá lá fora em relação ao que rola por aqui, como também um guia bem interessante para leitores ocasionais de HQs que não dão muita atenção para gibis nacionais – ei, Manzanna, traduz pro português, cara! Vale muito a leitura.

HQ

Thiago Souto reflete sobre a passagem do tempo em Time Lapse

O Thiago Souto é o responsável pela HQ da quinta edição da série Ugrito. Batizado de Time Lapse, o gibi é apenas sua segunda história em quadrinho. A estreia do autor foi na sensacional Mikrokosmos, já muito elogiada por aqui. Assim que finalizou Time Lapse, o Thiago me chamou pra escrever o texto da contra-capa do gibi. Aceitei o convite após ler e curtir bastante o resultado final.

O quadrinho conta a história de um improvável encontro de um homem com sua versão envelhecida e as várias reflexões decorrentes desse choque.

O lançamento das duas edições mais recentes da coleção Ugrito tá marcado pra amanhã, lá na loja da Ugra. Além do Thiago Souto autografando Time Lapse, o mestre Marcatti estará por lá junto com o André PiJaMar pra autografar Seleção Natural, sexta obra da série. Junto com os três estará a Germana Viana, lançando a segunda coletânea de Lizzie Bordello e as Piratas do Espaço.

Bati um papo rápido por email com o Thiago sobre a produção de Time Lapse. Ele me falou sobre as origens da história, os desafios de criar dentro do formato dos Ugritos e o andamento de Labirinto, sua próxima HQ. Ó:

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O que mais gosto nos Ugritos é ver como cada autor vai criar dentro desse formato fechado e pequena, com um número limitado de páginas. Como foi essa experiência pra você? Você já tinha a história em mente e adaptou para o formato ou você pensou a HQ em função do design da coleção?

Foi um desafio muito legal mesmo. Mas sabe que essas limitações, em certos aspectos, até facilitam? Para mim, um dos grandes problemas de ter tudo à disposição é precisar desistir de uma série de possibilidades em função de uma escolha. No Ugrito, várias dessas escolhas – forma, cores, número de páginas – já estão tomadas, então o maior exercício foi pegar essa ideia que eu tinha rascunhada e adaptar dentro do formado.

E por que falar sobre o tempo? Como surgiu essa história?

Não decidi falar sobre o tempo de caso pensado. Tive essa ideia um dia, nos correios, quando vi um senhor que se parecia demais comigo, tinha a mesma aparência e jeito. E talvez nem fosse, mas achei isso na hora. Foi estranho, me projetei nele e, sei lá, de uma hora pra outra estava pagando a encomenda no caixa preferencial e indo embora.

Talvez aquilo tenha me impactado porque tenho uma filha pequena e sinto muito essa passagem do tempo através dela, crianças mudam muito rápido. Pode ter muito a ver também com um momento pessoal, sabe? De um cara que já não é um menino e resolve mudar uma série de coisas para perseguir aquilo que realmente gosta. Rola esse exercício de não olhar para o passado com arrependimento e nem para o futuro com apreensão ou esperança. A ideia é não deixar esses sentimentos te afastarem do que está acontecendo agora.

Você publicou poucos quadrinhos, o Time Lapse é apenas seu segundo projeto solo e ele é bem diferente do Mikrokosmos. É importante pra você experimentar nesses primeiros trabalhos? O que você tá tirando dessas experiências pro Labirinto? Aliás, em que pé tá o quadrinho?

A experiência com Mikrokosmos foi ótima. Pude conhecer algo que não está na produção quadrinhos, mas na parte prática de fazer aquilo rodar e chegar às pessoas. Time Lapse já tem uma proposta um pouco diferente, as condições foram diferentes. Foi um convite da Ugra. Aliás, eu queria muito fazer um Ugrito, então quando rolou foi bem docaraleo.

Esses dois primeiros projetos são sim bem diferentes. Acho a experimentação importante para descobrir uma voz, uma qualidade que seja reconhecível como sua. Ainda não sei muito bem aonde vou chegar com isso… Espero que Labirinto seja algo mais consolidado nesse sentido, mas é difícil saber.

Sobre Labirinto. Tenho poucos trabalhos publicados, mas produzo bastante. Isso é foda com quadrinhos: a produção é leeeeenta. E depois de um tempo em um projeto você não quer simplesmente lançar, existe um compromisso com qualidade. Não digo isso com um viés mercadológico, mas como um compromisso com todo esse tempo dedicado. Quero muito acabar Labirinto esse ano, mas ainda não sei como será a publicação. Aliás, editores, editoras, estou aqui, prestes a implorar rs.

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HQ

Os Ciclos Produtivos das HQs Brasileiras: um curso sobre o mercado nacional de quadrinhos

Ei, leitores do Vitralizado, cês tão afim de conversar ao vivo sobre quadrinhos comigo e mais um monte de gente massa do mercado brasileiro de HQs? Vou coordenar o curso Os Ciclos Produtivos das HQs Brasileiras lá na loja da Ugra. Serão quatro aulas, sempre de 10h às 12h, nos dois últimos sábados maio (21 e 28/5) e nos dois primeiros de junho (4 e 11/6). Convidei alguns nomes de peso pra esses encontros: Luciana Foraciepe (Maria Nanquim), Wagner Willian (Bulldogma e Lobisomem Sem Barba), Janaína de Luna Larsen (Editora Mino), Zé Rodolfo (Gato Preto), Douglas Utescher (Ugra Press) e Pedro Cobiaco (Aventuras na Ilha do Tesouro e Harmatã). As quatro aulas saem por R$60 e você se inscreve lá no site da Ugra.

A ideia de um encontro do tipo tava sendo trabalhada na minha cabeça há um tempo. Aliás, nunca pensei o Vitralizado apenas como um blog/site, as possibilidades disso aqui tão muito além de internet. Passei os últimos seis anos publicando matérias sobre quadrinhos nos principais jornais/revistas/sites da imprensa brasileira. O Vitralizado tá a mil desde outubro de 2012, hoje com mais de 1600 posts e numa média de mais de 38 por mês. No arquivo do blog você encontra entrevistados no naipe de Chris Ware, Laerte, Liniers, Mariko Tamaki, Shiko, Rutu Modan, Bruno Maron, Scott McCloud e mais uma penca de gente foda. Já tava na hora de ousar um pouco mais – e acho que investidas do tipo tendem a ficar mais constantes por aqui, mas esse papo fica mais pra frente.

O convite tá feito. Seja você quadrinista, editor, jornalista ou leitor, sua presença na Ugra será extremamente bem-vinda. O objetivo do curso é trocar ideias e experiências, bater-papo e refletir sobre muito do que tá rolando no mercado brasileiro de HQs. Vamos? Ó a programação do evento:

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Curso: Os Ciclos Produtivos das HQs Brasileiras
Organizador: Ramon Vitral (www.vitralizado.com)
Convidados: Luciana Foraciepe (Maria Nanquim), Wagner Willian (Bulldogma e Lobisomem Sem Barba), Janaína de Luna Larsen (Editora Mino), Zé Rodolfo (Gato Preto), Douglas Utescher (Ugra Press), Pedro Cobiaco (Aventuras na Ilha do Tesouro e Harmatã).
Data: dois últimos sábados de maio (21 e 28/5) e dois primeiros de junho (4 e 11/6).
Horário: das 10h às 12h
Número de vagas: 15
Valor: R$60

Nos últimos seis anos o jornalista Ramon Vitral publicou matérias sobre HQs nos principais jornais, revistas e sites da imprensa brasileira. Responsável pelo blog Vitralizado e autor de entrevistas com nomes consagrados dos quadrinhos mundiais, ele organiza entre final de maio e início de junho o curso Os Ciclos Produtivos das HQs Brasileiras. Ao longo de quatro aulas ele conversará com autores, editores e lojistas especializados sobre as várias etapas da produção de um quadrinho e os elementos que tornam tão atípico o momento efervescente do mercado brasileiro de HQs.

Aula 1 (21/5, 10h às 12h): o jornalista Ramon Vitral faz um panorama da atual cena brasileira de quadrinhos e adianta algumas dos temas dos encontros seguintes.

Aula 2 (28/5, 10h às 12h): os quadrinistas Pedro Cobiaco (Aventuras na Ilha do tesouro e Harmatã) e Wagner Willian (Bulldogma e Lobisomem sem Barba) conversam com Ramon Vitral sobre a produção de suas obras mais recentes.

Aula 3 (4/6, 10h às 12h): um debate sobre curadoria, edição e a relação entre autores e editores com Luciana Foraciepe (Maria Nanquim), Janaína de Luna Larsen (Editora Mino) e Zé Rodolfo (Editora Gato Preto).

Aula 4 (11/6,10h às 12h): uma conversa sobre a relação entre autores e o mercado com Douglas Utescher (Ugra Press).

CiclosPôster

Cinema

Alien, por Laurent Durieux

Gosto demais dos trabalhos do Laurent Durieux. Os cartazes dele inspirados em clássicos e algumas pérolas modernas são sensacionais. Essa obra dele aqui em cima faz parte de uma exposição organizada pela Mondo que abre hoje lá no Alamo Drafthouse South Lamar de Austin e é inteiramente dedicada ao universo do filme de 1979 do Ridley Scott. Tem muita coisa foda exposta, não só pôsteres, alguns LPs e umas roupas também – e todos a venda lá no site da Mondo. Ó que demais.

HQ

Os cartazes do Toronto Comic Arts Festival 2016, por Kate Beaton e Kazu Kibuishi

Rola em maio um dos festivais de quadrinho que mais quero visitar um dia, o Toronto Comic Arts Festival. Os caras tem uma linha editorial pro evento que me agrade bastante, com muita coisa indie e também com espaço pra HQ mais pipoca. Uma tradição do TCAF é investir em nomes de peso pra produção da arte dos cartazes do evento. Em 2015, por exemplo, a obra foi assinada pelo Charles Burns. Pra edição de 2016 convidaram a excelente Kate Beaton e o Kazu Kibuishi. Duas pérolas, de estilos totalmente diferentes, que mostram um pouco da diversidade do festival.

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HQ

Fungus: James Kochalka estreia no Brasil com publicação da editora Mino prevista para maio

Com lançamento previsto para o mês de maio pela editora Mino, Fungus de James Kochalka será a primeira obra do autor norte-americano publicada no Brasil. Um dos quadrinistas mais importantes e celebrados da cena norte-americana de HQs indies, Kochalka foi um dos pioneiros na publicação de quadrinhos na internet. Entre 1998 e 2012 ele publicou em formato de webcomic aquele que é seu trabalho mais famoso até hoje, a série autobiográfica American Elf, que mostra o cotidiano profissional e a rotina familiar do quadrinista. Posteriormente, os quadrinhos foram publicados em coletâneas lançadas pela editora Top Shelf. Já Fungus é protagonizado por dois fungos existencialistas que refletem sobre religião, quadrinhos, internet e a vida enquanto caminham por uma floresta. Lançadas em dois volumes nos Estados Unidos, as 144 páginas do gibi serão reunidas em um único encadernado por aqui, no formato de 15X22cm e com preço ainda não foi definido.

Hoje com 48 anos, Kochalka também é músico e influenciou vários quadrinistas de gerações seguintes à sua, sendo um de seus principais discípulos o aclamado Jeffrey Brown. Apesar de conhecido no Brasil por seus quadrinhos com a série Star Wars, como Darth Vader e Filho e A Princesinha de Vader, Brown possui vários livros e coletâneas autobiográficas inéditos em português que reproduzem o traço simples e as temáticas reflexivas dos gibis de Kochalka. Os dois inclusive produziram juntos a segunda edição da série Conversation da editora Top Shelf, na qual eles dialogam sobre a importância da arte e dos quadrinhos em suas vidas.

Outro título de sucesso de Kochalka, também lançado pela Top Shelf, é SuperFuckers. Publicada entre 2005 e 2007, a HQ foi posteriormente transformada em uma série animada de 12 episódios que está  disponível na íntegra no Youtube.

Também vale chamar atenção para a editora original do quadrinho. Fungus será um dos raros títulos do selo/editora Retrofit Comics publicado no Brasil. Criado pelo quadrinista Box Brown, o Retrofit é cada vez mais um dos pólos criativos atuais dos quadrinhos norte-americanos, com várias publicações de autores em ascensão no mercado (Ben Sea, Matt Madden, Yumi Sakugawa, Laura Lannes, Georgia Webber e vários outros). Um dos meus preferidos é o excelente – e constantemente mencionado por aqui – An Entity Observes All Things. Ei, editores brasileiros, abram o olho: tem muita coisa boa disponível no catálogo dos caras.

Marcada por vários lançamentos de autores nacionais entre seu surgimento no final de 2014 e ao longo de 2015, a editora Mino publicará seu segundo título 100% internacional com Fungus. Entre o blockbuster Zonzo de Joan Cornellà e a chegada do livro de Kochalka, eles terão lançado a coletânea Quadrinhos Insones, com as tiras do carioca Diego Sanchez. As novas aquisições do catálogo da Mino, junto com as várias publicações recentes da Veneta e lançamentos constantes e precisos tanto de  algumas editoras (Nemo, Intrínseca, Figura, Martins Fontes e Sesi)  quanto de alguns artistas independentes começam a compor um panorama dos mercado brasileiro em 2016.

Os meses seguintes ao combo FIQ + CCXP no final de 2015 e a crise econômica parecem ter intimidado alguns editores e quadrinistas. Ainda assim, mesmo sem o ritmo frenético do ano passado, os lançamentos continuam chegando em alta frequência às livraria e lojas especializadas. Agora, no entanto, os editores mostram-se cada vez mais maduros e conscientes na seleção de suas publicações. A chegada de Fungus é mais uma prova disso.

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