Saca essa pérola aqui, um documentário curtinho produzido pelo pessoal da Criterion Colletion sobre a amizade do Stan Lee com o cineasta francês Alain Resnais e o filme nunca realizado pelos dois. O curta consiste num depoimento do co-criador do Universo Marvel sobre como ele foi procurado pelo diretor do clássico Hiroshima, Meu Amor nos anos 60 e como a amizade entre eles quase resultou num longa chamado The Monster Maker. Demais essa história. Dá o play:
Posts por data fevereiro 2018
6ª (2/3) é dia de bate-papo com Wagner Willian e Thiago Souto em São Paulo
Ei, tem programa pra próxima sexta-feira, dia 2 de março? Caso esteja em São Paulo recomendo um pulo na Gibiteria, a partir das 19h. Estarei por lá pra mediar uma conversa com os quadrinistas Thiago Souto e Wagner Willian, autores de Labirinto (Mino) e O Maestro, O Cuco e A Lenda (Texugo). As obras mais recentes dos dois estiveram entre as publicações mais badaladas do final de 2017 e presentes em várias listas de melhores lançamentos do ano passado. Também noto certo diálogo em relação aos dois títulos, não só pela qualidade da arte e do roteiro, mas pelas tramas e a dinâmica de produção dos livros. Enfim, pretendo abordar um pouco disso tudo na conversa. Apareça! A Gibiteria fica no número 158 da Praça Benedito Calixto e você confere outras informações sobre o bate-papo com sessão de autógrafos lá na página do evento no Facebook. Vamos?
A 24ª capa de Chris Ware para a revista New Yorker
Dia desses eu comentei com um amigo como tinha um tempo que o Chris Ware não assinava uma capa da New Yorker. Daí que a mais recente edição da revista, recém-chegada às bancas dos EUA, tem a capa assinada exatamente do autor de Building Stories. Há seis dias da próxima cerimônia do Oscar, a ilustração do quadrinista trata dos tópicos predominantes em Hollywood nos últimos meses, os vários casos de assédio e abuso na indústria do entretenimento norte-americana e o despertar do movimento #MeToo. Por aqui você confere uma breve fala do quadrinista sobre a criação da imagem.
Papo com Michael DeForge, o autor de Formigueiro [por Diego Gerlach]
Fiz o meio de campo para uma entrevista envolvendo dois dos meus quadrinistas preferidos: o canadense Michael DeForge, autor de Formigueiro, publicado no final do ano passado no Brasil pela editora Mino, e o brasileiro Diego Gerlach – tradutor de Formigueiro, editor da Vibe Tronxa Comix, responsável pela série Know-Haole e autor do zine Pirarucu (encartado no primeiro número da revista Baiacu). O texto a seguir, assim como as perguntas respondidas por DeForge, são de autoria de Gerlach:
-X-
por Diego Gerlach
Em pouco mais de 10 anos de atividade, o quadrinista canadense Michael DeForge já conta com uma extensa lista de publicações e prêmios em seu currículo. Ele é um dos principais nomes de uma nova geração de quadrinistas autorais norte-americanos que passaram a ser conhecidos amplamente após o advento da internet e das redes sociais. Ainda não tão conhecido no Brasil, no final de 2017 a Editora Mino publicou Formigueiro, talvez seu trabalho mais conhecido e aclamado (originalmente serializado online). (Disclaimer: Coube a mim fazer a tradução.)
É uma história repleta de revelações tão hilárias quanto desconcertantes. DeForge utiliza as interações de uma colônia de formigas vagamente antromorfizadas como trampolim para elaborar sobre questões existenciais profundas, sempre ameaçadas pela implacável sombra do determinismo biológico. A arte é minimalista e expressiva, com um estilo orgulhosamente bidimensional, preenchido por um tornado de cores cítricas. O emprego de um tipo de desenho que parece mais adequado a um livro infantil numa trama pontuada por relações disfuncionais, guerra interespécies e atos de mesquinhez de toda sorte, é grande parte do atrativo.
(DeForge já havia sido publicado no Brasil anteriormente: algumas ilustrações originais contidas na antologia independente Gibi Gibi # 2, editada e publicada em 2013 por Mateus Acioli, Heitor Yida e Luiz Berger.)
Com a ajuda de Ramon Vitral na intermediação, fiz algumas perguntas a DeForge, que nos mandou respostas tão concisas e discretas quanto seu estilo de desenho.
Lembro de ter visto seu trabalho por volta de 2008, ainda através do Flickr, quando você costumava assinar como KING TRASH. Se não estou enganado, os trabalhos eram em sua maioria posters, flyers e experimentos em ilustração, com texto aparecendo apenas em alguns casos. Não eram bem quadrinhos, mas lembro de ficar impressionado com o design agressivo, às vezes beirando a ilegibilidade – aquilo me inspirou um bocado, pois estava experimentando com o mesmo tipo de coisa na época. Em seguida, comecei a tentar fazer quadrinhos, e logo um monte de blogs falavam desse sujeito, Michael DeForge, que fazia quadrinhos fantásticos, e quando finalmente descobri que ‘vocês’ eram a mesma pessoa, fiquei bastante surpreso. Nessa época (em que assinava com pseudônimo), você já produzia ou tentava produzir quadrinhos?
Estava sempre fazendo quadrinhos, histórias curtas, experimentos, esse tipo de coisa. Mas foi só em Lose # 1 que realmente comecei a esboçar a direção que queria seguir. Desenhar para quadrinhos é muito diferente de fazer desenhos ‘normais’, e levou um bocado de tempo e várias tentativas frustradas para me dar conta disso.
Creio que foi num texto escrito por Nick Gazin em que li pela primeira vez que você desenha suas digitalmente, de modo que no fim não tem um original ‘físico’ da página concluída. Gostaria de saber se esse ainda é seu processo, e o que o fez sentir que esse era o caminho a seguir?
Sim, a maioria dos meus quadrinhos são desenhados digitalmente hoje em dia. É simplesmente mais rápido para mim, e isso é tudo que importa. Sempre pendi para um estilo bastante limpo, de linhas estéreis, de modo que a transição não foi muito difícil.
Na introdução para A Body Beneath (compilação com histórias curtas do autor pinçadas da série Lose, publicada em 2014 pela editora canadense Koyama Press), você expressou certo senso de desconforto quanto à qualidade de alguns de seus quadrinhos mais antigos. Agora que algum tempo se passou desde a publicação inicial de Formigueiro, como se sente em relação a esse trabalho?
Creio que é natural sentir ao menos algum senso de ambivalência a respeito do trabalho, conforme ele envelhece. Sinto que sou uma pessoa totalmente diferente daquela que criou Formigueiro e, de certa forma, é verdade. Não sinto vergonha de Formigueiro. Fico feliz de tê-lo desenhado, tendo em vista que aprendi tanto enquanto fazia isso. Definitivamente, há alguns quadrinhos que desenhei na vida que faria sumir se pudesse, e Formigueiro não é uma deles (ainda).
Você costuma reler seu material para aprender com erros passados, ou é algo que só acontece de fato quando você tem que preparar uma nova compilação do seu trabalho?
Tento não reler com muita frequência, mas às vezes é útil. Eu me repito um bocado. É inevitável, a maioria dos autores acaba retornando a certos temas, ou certos eventos, e acho que na verdade é bom reexaminá-los de diferentes perspectivas. Às vezes tenho medo de estar reescrevendo alguma de minhas histórias antigas palavra por palavra, então preciso dar uma folheada pra me certificar de que isso não está acontecendo.
Você é um autor bastante produtivo e ainda tem um emprego ‘oficial’ a gerenciar (DeForge trabalha na equipe de criação do desenho Hora de Aventura, exibido pela Cartoon Network). Ainda encontra tempo para ler tanto quadrinhos quanto gostaria?
Não me mantenho tão atualizado quando costumava, mas ainda me divirto lendo quadrinhos novos. Acabei de ler Pretending is Lying, da Dominique Goblet, que foi traduzido para o inglês ano passado, e amei.
Qual foi a melhor coisa que alguém já disse a você sobre um dos seus quadrinhos?
Estou desenhando uma tira diária, e gosto de ouvir o que as pessoas que acompanham dizem todos os dias. Costumava ler tiras assim quando era criança, e fico feliz de saber que um punhado de pessoas tem esse tipo de relação com meu trabalho.
It’s a Good Life, If You Don’t Weaken, do canadense Seth, será lançado no Brasil pela editora Mino
A editora Mino vai publicar no Brasil o álbum It’s A Good Life, If You Don’t Weaken, do canadense Seth. O quadrinho foi rebatizado em português com o título A Vida É Boa Se Você Não Fraquejar, a tradução será de Dandara Palankof e o letreiramento ficará a cargo de Beeau Goméz. O preço da publicação ainda não foi definido, mas a expectativa é que o livro chegue às lojas especializadas até o final do mês de março. Segundo a editora e proprietária da Mino, Janaína de Luna, a ideia é que A Vida É Boa Se Você Não Fraquejar seja apenas o primeiro título de Seth no catálogo da editora. “Pretendemos publicar outras obras dele, uma figura fundamental para os quadrinhos modernos”, contou a editora em conversa com o blog.
It’s A Good Life, If You Don’t Weaken foi publicado originalmente entre 1993 e 1996, entre as edições 4 e 9 da revista de Seth, Palookaville. A HQ é protagonizada pelo próprio quadrinista e mostra a jornada do autor em busca de informações sobre o cartunista Whitney Darrow, Jr. – lendário autor de tiras, quadrinhos e charges publicadas na revista New Yorker. O álbum ocupa o 52º lugar na lista de 100 Melhores Quadrinhos do Século 20 do Comics Journal.
O ano de 2018 fica bem mais interessante para os leitores de quadrinhos brasileiros com a chegada de um novo trabalho do Seth no país. O autor já havia sido publicado por aqui, em 2014, pela A Bolha Editora, em uma versão nacional do excelente Wimbledon Green – O Maior Colecionador de Quadrinhos do Mundo. Aguardo ansiosamente por essa edição da Mino e acho que você já deveria incluir o título, assim que possível, na sua lista de leituras para os próximos meses.
Os 90 anos do nascimento de Osamu Tezuka e o lançamento do clássico Ayako em português
A edição brasileira de Ayako, obra-prima do Osamu Tezuka (1928-1989), é o primeiro grande quadrinho publicado no país em 2018. Eu escrevi sobre o álbum de 720 páginas, lançado pela Veneta, pra edição de fevereiro da Rolling Stone. Na minha matéria eu falo sobre a chegada do livro às lojas especializadas no ano em que Tezuka completaria 90 anos, data também celebrada com uma exposição lembrando a vida e a obra do autor na mais recente edição do tradicional Festival de Angoulême, na França. A Rolling Stone chega às bancas nos próximos dias, mas o texto está disponível pra leitura aqui.