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Posts por data agosto 2020

Entrevistas / HQ

Papo com Juscelino Neco, autor de Reanimator: “Tentei estabelecer uma trama que vai escalonando a bizarrice a níveis cada vez mais absurdos”

Escrevi na 11ª edição da Sarjeta, minha coluna sobre histórias em quadrinhos no site do Instituto Itaú Cultural, sobre Reanimator, obra do quadrinista Juscelino Neco livremente inspirada tanto no conto Herbert West-Reanimator, de H.P. Lovecraft (1890-1937), quanto no longa Re-Animator: A Hora dos Mortos-Vivos (1985), do diretor Stuart Gordon.

Neco é um dos meus quadrinistas preferidos. Autor da surtada Parafusos, Zumbis e Monstros do Espaço (2013), da intensa Matadouro de Unicórnios (2016) e da tensa Cadeado (2017), ele tem em Reanimator seu trabalho mais bruto e brusco.

Recomendo a leitura da Sarjeta, feita a partir de uma entrevista com Juscelino Neco, para você saber um pouco mais sobre os bastidores e o desenvolvimento de Reanimator. Também recomendo que você não deixe passar a HQ. Depois, volte aqui e leia a íntegra da minha entrevista com o quadrinista. Papo bom, saca só:

“Acredito que consegui levar a coisa toda para um novo nível de infâmia”

Quadro de Reanimator, obra de Juscelino Neco publicada pela editora Veneta (Divulgação)

Queria começar sabendo como você está. Como andam as coisas por aí? Como a pandemia afetou a sua rotina? 

No geral, está tudo bem. Na normalidade que o apocalipse permite. Como sou professor, boa parte das minhas atividades estão paralisadas. Tem um lado bom, já que estou conseguindo colocar a leitura em dia. Mas sinto falta da rotina e, nunca pensei que diria isso, dos alunos também. Fora isso, não perdi nenhum amigo ou familiar. Nesses dias que correm, isso é um grande luxo.

Você pode contar um pouco, por favor, sobre a sua relação com Lovecraft? Você lembra da primeira vez que assistiu ao filme Re-Animator? Quando você viu o filme, já sabia quem era Lovecraft?

Como eu sempre gosto de lembrar, os anos 90 eram tempos selvagens. Passava filmes como Fome Animal e O Último Americano Virgem no meio da tarde. Foi numa dessas que assisti o Re-Animator. Devia ter coisa de 8, 9 anos. Não tinha a menor ideia de quem era o Lovecraft, embora já conhecesse outros filmes com elementos das suas obras: Enigma do Outro Mundo, Uma Noite Alucinante… Bons tempos!

“Quem não leu o conto Herbert West – Re-Animator não perdeu porra nenhuma”

Quadro de Reanimator, obra de Juscelino Neco publicada pela editora Veneta (Divulgação)

E qual foi o impacto tanto do filme quanto do conto na sua formação?

O filme teve um grande impacto, o conto eu li já adulto e não achei grandes coisas. Adoro a mistura de terror e humor que esse filme tem. Os efeitos são ótimos! A violência é maravilhosa. Até a continuação, A Noiva do Re-Animator, dirigido pelo Brian Yuzna, é sensacional. Tem muito a cara do terror dos anos 80, aquele mistura de transgressão, criatividade, baixo-orçamento e picaretagem. Fome Animal e Evil Dead, que tem uma pegada similar, também tiveram muito impacto sobre minha formação.

Já li que o Lovecraft criou Reanimator a partir do Frankenstein, da Mary Shelley. Eu nunca li o livro do Lovecraft, mas Frankenstein é um dos livros de terror mais impactantes que já li. O que mais te interessa em obras de terror? O que você considera mais fundamental para uma boa história de terror?

Quem não leu o conto Herbert West – Re-Animator não perdeu nada, nem porra nenhuma. É uma história bem boba e mal escrita, até pros padrões do Lovecraft. Claramente é inspirado no Frankenstein e até os personagens, aqueles médicos idealistas que querem vencer a morte, se parecem. Mas a história da Mary Shelley é bem mais sofisticada, tem aquela coisa de vingança, de embate, aquelas paixões e ódios intenso, uma coisa maravilhosa. O conto do Lovecraft é um pastiche safado, coisa de começo de carreira. Até o Lovecraft achar seu ‘estilo’, vamos chamar assim na falta de uma palavra melhor, ele fazia muito pastiche de outros escritores, principalmente Edgar Allan Poe. Agora, finalmente, respondendo a sua pergunta, muitas coisas me interessam numa história de terror, a depender da mídia. Tenho muita dificuldade em me engajar em literatura de terror. Gosto de pouquíssima coisa, mas gosto de tudo que li Clive Barker. É muito interessante quando o escritor consegue tratar de uma temática sobrenatural com um estilo limpo e direto. No cinema, me interesso por muitos aspectos, principalmente a atmosfera do filme, essa impressão de estranheza que filmes como Hereditário conseguem passar. Mas sou capaz de assistir um filme de terror só pra ver os efeitos de maquiagem e a criatividade com que as pessoas são assassinadas. Assisto Sexta-Feira 13 apenas pra isso. E o que eu considero essencial para que uma história de terror funcione é a capacidade do autor em criar um conceito novo que trabalhe os medos da mente humana. O medo é uma emoção processada pela parte mais primitiva do nosso cérebro e compartilhada pelo humano de todos os tempos. É universal. Se considerarmos os primeiros rituais fúnebres, dá pra perceber que temos medo dos mortos desde sempre. Por isso que histórias de vampiros e mortos-vivos têm tanto apelo e sempre se renovam. 

“Todos os meus quadrinhos trabalham com essa mistura que os estadunidenses chamam de horror-comedy. Em bom português, terrir”

Página de Reanimator, obra de Juscelino Neco publicada pela editora Veneta (Divulgação)

Você vê alguma desafio particular para terror funcionar como HQ?

Existe um desafio fundamental em fazer um quadrinho de terror porque boa parte do poder de sugestão da literatura é eliminado. Cada pessoa imagina o Drácula, por exemplo, de uma forma especifica. As cenas de horror que o Lovecraft descreve são sempre melhores na imaginação do leitor do que em qualquer imagem, por mais talentoso que seja o desenhista. Da mesma forma, os quadrinhos carecem dos processos de imersão e realismo que o dispositivo do cinema consegue proporcionar. Você vê um filme de terror e logo percebe que a música tem um papel central. O diretor consegue manipular as emoções da audiência com um jump scare, as cenas de violência conseguem chocar de forma convincente, a atuação funciona como um índice de reconhecimento para que espectador se engaje. Enfim, nada disso funciona nos quadrinhos. Considero que o terror nos quadrinhos são um processo muito mais cerebral, que causa um desconforto quando o leitor reflete acerca da natureza do que está sendo narrado.

Qual foi o ponto de partida desse quadrinho novo? Por que adaptar Reanimator? Aliás, você vê esse quadrinho mais como uma adaptação do livro do Lovecraft ou do filme do Stuart Gordon?

O filme do Gordon sempre foi uma grande influência no meu trabalho, já que mistura elementos de terror e humor. Todos os meus quadrinhos trabalham com essa mistura que os estadunidenses chamam de horror-comedy. Em bom português, terrir. Sendo bem sincero eu acho esse conto do Lovecraft uma merda. Foi publicado originalmente em 1922, então é uma história de quase 100 anos que envelheceu tão bem quando um viciado em heroína. É interessante porque é uma das primeiras histórias de zumbis. Fora isso, não vejo muito valor… Há quem diga que esse conto tem um certo tom de paródia. Não consigo enxergar isso. Não consigo enxergar Lovecraft fazendo qualquer coisa que tenha o menor traço de humor ou jocosidade. Ele tinha uma grande imaginação, mas não acredito que tenha contado uma piada em toda a sua vida…Quanto à adaptação, acho que ela se aproxima mais do filme, já que tem muito sexo e violência. Mas acredito que consegui levar a coisa toda para um novo nível de infâmia.

Lovecraft virou uma bolha gigante

Quadro de Reanimator, obra de Juscelino Neco publicada pela editora Veneta (Divulgação)

Eu tenho a impressão de uma comoção recente em torno da obra do Lovecraft. Você também nota isso? Você vê algum motivo em particular para esse interesse crescente em torno do trabalho dele?

Certamente. Lovecraft virou uma bolha gigante. Vejo edições luxuosas do trabalho dele, adaptações para quadrinhos, cinema. Acho que boa parte desse sucesso se deve ao fato de que as obras do Lovecraft caíram em domínio publico, então todo mundo quer tirar uma lasquinha. Outro aspecto é o Lovecraft criou uma metanarrativa que funciona bem. É quase que como o Tolkien, tudo é amarradinho, aquela coisa dos grandes antigos, terror cósmico, mitos do Cthulhu. A impressão que eu tenho é que o jovem artista lê aquilo e quer fazer uma coisa dentro daquele universo. É quase como criar uma aventura de RPG dentro de um sistema. Como eu gosto de falar mal dos colegas não perco a oportunidade: os resultados são sofríveis.

Você tem alguma adaptação ou reinterpretação preferida para o trabalho do Lovrecraft?


Sim, um filme do John Carpenter chamado À Beira da Loucura (In The Mouth of Madness, 1994). É a história de um escritor que vai parar numa cidadezinha onde tem de tudo de ruim e Lovecraftiano. Não é a adaptação de nenhuma história, mas tem muitos elementos das narrativas daquela racista safado. 

Acho que um mérito desse seu Reanimator é funcionar sozinho e não depender da obra do Lovecraft para ser compreendido e divertir. Você teve alguma preocupação em particular para ser mais ou menos fiel ao filme e ao livro?

Nenhuma. Peguei só a premissa, que é mais simples que fazer um ‘o’ com uma quenga: um cientista inventa um soro que ressuscita os mortos e se mete em altas confusões. O resto eu inventei.

“Gosto de pensar que faço um tipo de quadrinhos muito simples, direto, sem firula”

Quadro de Reanimator, obra de Juscelino Neco publicada pela editora Veneta (Divulgação)

Por que a opção pelo antropomorfismo na HQ? Acho que o caso mais famoso de antropomorfismo em quadrinhos é Maus e ali tá bem explícito como foi um artifício para ressaltar a relação entre oprimidos e opressores. No caso desse seu Re-Animator, fiquei pensando no aspecto animalesco e selvagem das ações dos personagens. Era essa a sua intenção?

Na verdade, não. Eu acho que desenhar quadrinhos é uma atividade muito entediante, então começo a inventar coisa pra me divertir um pouco. Meus quadrinhos também tem um elemento de autoreferencialidade muito presente. Gosto de pensar que faço um tipo de quadrinhos muito simples, direto, sem firula. Como os quadrinhos antigos. Então minha intenção foi buscar dentro da tradição dos quadrinhos um estilo que se adequasse ao tipo de história que eu queria contar. Achei que a desconstrução do gênero dos funny animals, perpetrado por autores como Robert Crumb e Mattioli, seria um bom caminho. Além disso, acho que esse quadrinhos tem as cenas mais grotescas que eu já desenhei. Se não fosse o antropomorfismo, essas imagens teriam outro sentido, se afastando muito do tom de humor negro que eu quis imprimir.

Falando em Maus, como você avalia essa opção do Art Spiegelman pelo antropomorfismo? Você já leu essa carta que o Harvey Pekar publicou em uma edição do Comics Journal questionado essa escolha? Ele diz ser uma metáfora “rasa e óbvia, sem sentido”.

Concordo com o Pekar: a história curta que antecede Maus funciona melhor num nível simbólico. Essa história é uma fábula, os animais encarnam tipos ao estilo do La Fontaine. Já o Maus que saiu em formato de livro se insere na tradição dos funny animals. Enquanto processo metafórico é realmente um pouco raso, mas acho que funciona muito bem como índice de reconhecimento dos personagens. Ele facilita o processo de leitura a partir da simplificação das formas e permite que a ação seja encenada de forma mais clara. Em sua essência, Maus é um quadrinhos clássico: simples, limpo, de fácil leitura. Se um dia você você estiver lendo um quadrinho e tiver a mínima dificuldade de entender a ação que está sendo encenada, jogue-o fora. Esse é um quadrinho bosta.

“Reanimator foi feito à moda antiga, com muito nanquim em papel Canson A3”

Quadros de Reanimator, obra de Juscelino Neco publicada pela editora Veneta (Divulgação)

Fiquei com a impressão desse trabalho seu estar mais “sujo”, ter mais hachuras, ser mais preto e branco e ter menos espaço para cinzas do que o Matadouro e o Parafusos. Faz sentido?

Sim. Em Matadouro e Parafusos eu utilizei tons de cinza para estabelecer um pouco os volumes dos desenhos, nesse eu utilizei apenas hachuras. É bem decupado do estilo que o Crumb fazia em Fritz – The Cat.

Quais materiais você utilizou na produção desse trabalho novo? É tudo papel e tinta ou tem algum aspecto digital?

Recentemente migrei para o digital, mas Reanimator foi feito à moda antiga, com muito nanquim em papel Canson A3.

“A produção de Reanimator realmente foi meu Vietnã”

Quadro de Reanimator, obra de Juscelino Neco publicada pela editora Veneta (Divulgação)

Você pode contar um pouco sobre a produção dessa HQ? Foi quanto tempo entre o início desse projeto e o lançamento? Você chegou a finalizar um roteiro antes de dar início às ilustrações?

O roteiro de Reanimator foi finalizado no final de 2016 e, descontando uma pequena alteração na sequência final, se manteve o mesmo até agora. Eu só consigo começar a desenhar depois que o roteiro está finalizado… A produção de Reanimator realmente foi meu Vietnã. Descartei umas duas versões iniciais e, durante todo o processo, muitas vezes tive certeza de que não ia conseguir terminar. Ou melhor, me sentia incapaz de terminar esse quadrinho. Foi um inferno. Ano passado pensei até em queimar tudo e deixar isso pra lá. Felizmente fui dissuadido dessa ideia pelos meus amiguinhos, os astros se alinharam e conseguir finalizar o quadrinho. Fico feliz por deixar o mundo mais estranho.

Houve alguma mudança em particular dos seus métodos de produção dos seus álbuns prévios para essa HQ nova?

Normalmente eu produzo meus quadrinhos num processo de guerrilha, reservo uns dois, três meses, e fico trabalhando 10 horas por dia. Desde que comecei a fazer o Reanimator minha atividades acadêmicas se intensificaram muito e eu não consigo mais tirar esse tempo de folga. Então tenho desenhando quando aparece um tempo. Férias, carnaval, essas coisas. Por isso demorou tanto. Eu não tenho disciplina pra trabalhar na HQ todo dia um pouquinho. Tenho que pensar como resolver isso, porque já estou com o roteiro da minha próxima história e não quero que demore quatro anos pra sair…

“Utilizei muita referência fotográfica da Nova York suja e perigosa do começo dos anos 80”

Quadro de Reanimator, obra de Juscelino Neco publicada pela editora Veneta (Divulgação)

Acho esse Reanimator o seu trabalho mais bruto. Os personagens não tem muitas nuances, a história é bastante linear e é tudo voltado para expor absurdo e violência. Como foi a experiência de conceber e desenvolver esse livro? Que balanço você faz da criação dessa HQ?

Em Reanimator eu tentei revisitar o estilo e a estrutura de quadrinhos clássicos, onde os personagens não tem muita complexidade. Tudo é estruturado em função da trama e o ritmo é muito acelerado. Em termos de narrativa, eu tentei estabelecer uma trama que vai escalonando a bizarrice a níveis cada vez mais absurdos. Não posso negar que me diverti bastante desenhando as cenas, apesar dos percalços da produção. Em termos de narrativa visual, acho que é meu melhor trabalho. Utilizei muita referência fotográfica da Nova York suja e perigosa do começo dos anos 80 e fiquei bem feliz com o resultado. É quase como se o quadrinho se passasse no universo dos filmes que eu curtia quando criança, como The Warriors e O Assassino da Furadeira.

Você recentemente publicou um quadrinho com uma mensagem esperançosa em relação ao nosso futuro, apesar de todos os pesares que estamos vivendo. Você se considera uma pessoa otimista? 

Eu sou uma pessoa que acredita que o universo é um lugar completamente sem sentido e todas as coisas da vida são sem importância. Mas, como vou ser pai daqui uns meses, tento não nutrir esses pensamentos.

“Ultimamente tenho desenhado num iPad, o que tem deixado minha vida mais fácil”

Quadro de Reanimator, obra de Juscelino Neco publicada pela editora Veneta (Divulgação)

Você pode me falar como é seu ambiente de trabalho? Você poderia descrever o local no qual Reanimator foi criado?

Eu não tenho estúdio. Meu apartamento inteiro é um amontoado de livros e gibis. Tenho uma mesinha que uso pra tocar meu trabalho de professor e, quando vou desenhar, coloco as pilhas de livros e papeis no chão, limpo a mesa e coloco uma pranchetinha portátil. Ultimamente tenho desenhado num iPad, o que tem deixado minha vida mais fácil e permitido que eu desenhe no sofá. Espero conseguir acelerar o processo de produção dos quadrinhos com esse novo gadget. 

Você poderia recomendar algo que esteja lendo, ouvindo ou assistindo no momento?

Do que li recentemente, recomendo O Mestre e a Margarida, do Mikahail Bulgákov. Uma das histórias mais inventivas, interessantes e absurdas que vi na vida. Colocar o diabo e sua trupe chegando na Moscou dos anos 1930 é coisa de gênio.

A capa de Reanimator, HQ de Juscelino Neco publicada pela editora Veneta (Divulgação)
Entrevistas / HQ

Papo com Simon Hanselmann, autor de Mau Caminho: “Tem tanta bosta medíocre e cheia de si por aí, Megg e Mogg são justamente o oposto disso”

Entrevistei o quadrinista australiano Simon Hanselmann, criador dos personagens Megg e Mogg e autor do álbum Mau Caminho, seu primeiro trabalho publicado publicado no Brasil. A edição nacional foi lançada pela editora Veneta, com tradução do quadrinista Diego Gerlach.

Escrevi sobre as origens dos trabalhos de Simon Hanselmann e apresentei as minhas impressões sobre Mau Caminho em crítica publicada no jornal O Globo. Chamo atenção no meu texto para a dinâmica interna dos personagens de Hanselmann, seus excessos e a indiferença deles em relação ao mundo.

Na minhas conversa com o autor ele falou sobre o desenvolvimento de Megg e Mogg e sobre a repercussão do trabalho dele, abordou a dinâmica de suas publicações no Instagram, contou sobre sua rotina de trabalho e lamentou sobre os rumos do mundo.

Repito: junto com Sabrina, de Nick Drnaso, Mau Caminho é um dos principais lançamentos de 2020. Deixo mais uma vez o link para a minha resenha da obra e reproduzo a seguir a íntegra da minha conversa com Simon Hanselmann, em tradução de Diego Gerlach:

“Meu trabalho é (aparentemente) engraçado e não é condescendente com as pessoas”

Quadros de Mau Caminho, HQ de Simon Hanselmann publicada pela Veneta (Divulgação)

Queria começar sabendo como você está. São tempos muito estranhos, você mora nos Estados Unidos, que junto com o Brasil é o país mais afetado pela pandemia. Você está bem? Como isso tudo impactou a sua rotina? Como essa realidade que estamos vivendo está influenciando a sua produção?

Tenho meio que passado bem. Quadrinhos alternativos parecem ser um negócio à prova de COVID… Tenho trabalhado em casa nos últimos sete anos, então a pandemia não impactou de fato minha atividade diária. Odeio sair de casa, gosto de estar sempre trabalhando, então esse aspecto da quarentena não me desagrada. Também é bom ter minha esposa em casa e não o tempo todo no escritório.

Morro de medo do que está acontecendo do lado de fora, mas dentro de casa estou mais feliz e menos ansioso do que estive em anos. Um viva pra mim por ser um tremendo merda. Muita sorte.

Você nasceu nas Austrália, hoje vive nos Estados Unidos, seus livros já foram publicados em várias línguas e países e agora está saindo aqui no Brasil, em português. Por conta dos temas dos seus trabalhos e do seu estilo, fora de qualquer padrão industrializado, te surpreende a repercussão e o alcance das suas HQs?

Não me surpreende tanto. Meu trabalho é (aparentemente) engraçado e não é condescendente com as pessoas. Gente por toda parte está deprimida, entediada, chapada e precisa de entretenimento que não seja falso e que não tente apenas ser cordial e comportado por temer rejeição. Tem tanta bosta medíocre e cheia de si por aí, Megg e Mogg são justamente o oposto disso. É zoado e DIVERTIDO.

“Minha missão principal é apenas de frisar o absurdo. As contradições escrotas”

Página de Mau Caminho, HQ de Simon Hanselmann publicada pela Veneta (Divulgação)

Aliás, o que você pensa ao ver o seu trabalho sendo publicado em um país como o Brasil? Você fica curioso em relação à forma como seu trabalho é lido e interpretado em uma realidade tão distinta da sua?

A série foi traduzida para 13 línguas ao redor do mundo e já visitei quase todos esses países. Achei as pessoas todas muito parecidas em todos esses lugares. Humanos são humanos. A gente come e caga e procura por distração. Amamos quadrinhos!

Li uma entrevista em que você fala sobre o impacto de ter nascido e crescido em uma cidade pequena e conservadora da Austrália. Como você acha que essa formação impactou seus interesses e o tipo de trabalho que você produz?

No geral, me fez querer me esconder da realidade e daquilo que é convencional. Consumi diversos tipos de arte e mídia, sempre em busca de perspectivas novas e interessantes e de outras maneiras de me comportar. Fugi assim que pude.

E falando em conservadorismo, estamos vivendo em um mundo cada vez mais conservador. Os seus quadrinhos para mim refletem um pouco a depressão de jovens vivendo nesse contexto e instigam certa subversão quase antagônica a esse reacionarismo. Você também vê a sua obra dessa maneira?

Sim, Megg e Mogg existem para as pessoas. São um espelho no qual quem vive por baixo se enxerga, os fodidos e excluídos. Mas também não é super de esquerda, é algo removido de questões políticas de certo modo, é sobre pessoas egoístas que odeiam política e estão às voltas com seu próprio tumulto emocional.

“É ótimo que alguém tenha algum interesse ainda que remoto por meu pequeno teatro de papel”

Página de Mau Caminho, HQ de Simon Hanselmann publicada pela Veneta (Divulgação)

Qual você acredita ser o papel potencial de instigar e praticar subversão e questionar o establishment em tempos tão reacionários como esses que estamos vivendo?

Na maior parte do tempo, estou apenas tentando entreter as pessoas. Arte que não entretém não vai achar um grande público… Minha missão principal é apenas de frisar o absurdo. As contradições escrotas. Me nego a dar lições, quero que os leitores tenham condições de decidir… Provavelmente não deveria confiar tanto nas pessoas. Um monte de gente é estúpida e rápida demais ao reagir, sem a devida consideração de ideias complicadas.

Tenho curiosidade em relação à sua visão do mundo no momento. Vivemos numa realidade na qual Donald Trump é o presidente dos EUA e Jair Bolsonaro é o presidente do Brasil. O que você acha que está acontecendo com o mundo? Você é otimista em relação ao nosso futuro?

Estou cansado de todo esse circo. Todos uns bostas, completos filhos da puta. A essa altura só quero que me deixem em paz. Costumava ter esperança, mas agora só espero pelo fim. Estou aqui no estúdio, esperando as bombas caírem. A qualquer momento.

“Estou cagando para o que pensam, faço quadrinhos pra mim e pros meus amigos, estou tentando agradar apenas a mim mesmo”

Página de Mau Caminho, HQ de Simon Hanselmann publicada pela Veneta (Divulgação)

Eu gostaria de saber sobre a sua relação com a crítica e com esse interesse crescente pelo seu trabalho. O que você sente ao ver o seu trabalho tão analisado e interpretado e tantas pessoas interessadas nos seus quadrinhos?

Gosto de ler as interpretações das pessoas, em especial resenhas negativas. Aprendo um bocado, coisas que eu mesmo não enxergava.

De modo geral estou cagando para o que pensam, faço quadrinhos pra mim e pros meus amigos, estou tentando agradar apenas a mim mesmo. É ótimo que alguém tenha algum interesse ainda que remoto por meu pequeno teatro de papel.

Você poderia me contar um pouco sobre a sua dinâmica de trabalho? Quanto tempo você leva criando um roteiro? E depois quanto tempo você leva no desenho esse roteiro?

Depende. Mau Caminho tomou dois meses para ser roteirizado em thumbnail, uns dois meses para desenhar, e quarenta dias para arte-finalizar as 156 páginas (meu recorde) e aí uns sete meses para colorir. A colorização foi de matar. No total foram 3764 horas.

No momento, estou fazendo apenas uma tira diária no Instagram, que escrevo conforme invento, e aí faço o esboço a lápis, passo tinta e coloro. Leva entre três e oito horas, dependendo do meu grau de ressaca da noite anterior… Quase nunca fico sem trabalhar. Não consigo nunca desligar o modo trabalho do meu cérebro. Estou sempre escrevendo.

Com quais técnicas você trabalhou em Mau Caminho? Você tem preferência por alguma técnica em particular? Quais materiais você utiliza?

É tudo no papel, odeio computadores. Tenho uma lapiseira barata, algumas canetas de ponta fina meia-boca e um pouco de aquarela, guache e corante alimentar. Gosto de usar itens facilmente acessíveis. Nada muito chique. Qualquer um pode fazer, não é nada muito técnico, é só mexer as mãos.

“Odeio webcomics, sou zineiro, tenho fetiche por livros, mas estou adorando colocar essas tiras no Instagram”

Página de Mau Caminho, HQ de Simon Hanselmann publicada pela Veneta (Divulgação)

Qual é a sua abordagem em relação a cores?

Eu só sigo uma vibe naturalística e simples. Madeira é marrom, plantas são verdes, etc. Não viajo muito nisso.

Meu objetivo principal é deixar o trabalho legível para o público, que a informação seja facilmente digerível. Megg é verde, Mogg é cinza, Owl é amarelo. Quando desenho só em preto e branco não fica tão legível, você tem que se esforçar mais para decifrar os componentes individuais. Meu trabalho é todo calcado num ritmo rápido, realístico. Quero que pareça como se fosse uma animação.

Eu gosto da forma como você faz uso dos grids. Você tem alguma motivação em particular por trás desse padrão?

Manter as coisas simples! O leitor deve ser sugado pro mundo dos personagens. Layouts doidos e zoados e balões de fala muito cheios atrapalham a experiência do leitor. Tem que se mover sempre!

Aliás, esse padrão acabou se mostrando muito útil para você no Instagram, no qual a sua produção e seus posts têm sido muito ativos e constantes. Você gosta do Instagram como plataforma de distribuição dos seus quadrinhos?

Sim, desenho minhas páginas do mesmo modo de sempre e tiro fotos dos painéis pro Instagram. Odeio webcomics, sou zineiro, tenho fetiche por livros, mas estou adorando colocar essas tiras no Instagram.

No começo da pandemia, minha gráfica local teve de fechar e meio que fiquei sem escolha… Além disso, realmente queria tentar divertir e ajudar as pessoas a suportarem o isolamento. Entretenimento acessível para as massas. O telefone é o melhor modo de fazer isso. Eu meio que quero continuar essa tira do Instagram pra sempre, mas imagino que terei de parar em algum momento… Se bem que o mundo segue ficando cada vez mais e mais doido… Talvez eu nunca consiga parar? Preciso muito começar a continuação de Mau Caminho… Mas ainda não. Ainda parece estranho escrever sobre o ‘velho mundo’. 

“Dan Clowes visitou meu estúdio no começo do ano e fiquei tão constrangido, já estive no estúdio dele e é muito mais classudo”

Quadros de Mau Caminho, HQ de Simon Hanselmann publicada pela Veneta (Divulgação)

Ainda sobre plataformas e redes sociais. O seu trabalho ganhou repercussão por meio do seu Tumblr, iniciado em 2012. O quanto o Tumblr foi útil para você e sua carreira? O Instagram vem tomando lugar do Tumblr como plataforma para distribuição e difusão de HQs e imagens em geral?

Sim, o Tumblr foi como mostrei meu trabalho pro mundo. Por anos me recusei a colocar meu trampo online, mas finalmente cedi. Fico feliz de ter feito isso, abriu muitas portas. O Tumblr agora está oficialmente morto, faz anos já, virou uma bosta, excluir pornografia foi o último prego no caixão. Estou satisfeito com o Instagram por ora, já temo por sua eventual morte, pois gostam de censurar coisas… Na real fico bem chocado que meu conteúdo passa batido por lá… Se me derrubarem, tô fodido.

Você pode me falar como é seu ambiente de trabalho? Você poderia descrever o local no qual Mau Caminho foi criado?

Tem um quarto vazio na minha casa. Tem uma mesa de café da Ikea e um colchão. É basicamente isso (e alguns manequins e merdas aleatórias). Dan Clowes visitou meu estúdio no começo do ano e fiquei tão constrangido, já estive no estúdio dele e é muito mais classudo. Charles Burns também visitou meu estúdio (mais de uma vez) e senti vergonha. Preciso parar de sentar no chão feito uma criança…

“Quero voltar pra Tasmânia e me entocar nas montanhas, bem longe de todas as facções em guerra”

Quadros de Mau Caminho, HQ de Simon Hanselmann publicada pela Veneta (Divulgação)

Você pode me falar um pouco sobre viver em Seattle? É uma cidade que me parece mais aberta outras culturas e a diversidade do que outras cidades dos Estados Unidos. É isso mesmo?

Se posso, evito sair de casa.  Mesmo antes da quarentena, tentava ficar em casa tanto quanto possível. [Seattle] parece ok… Meio que um buraco deprimente, mas ok. Ainda não levei um tiro. Realmente parece a queda do Império Romano aqui nos States… Quero voltar pra Tasmânia e me entocar nas montanhas, bem longe de todas as facções em guerra. Não quero mais viver em cidades.

Você pode recomendar algo que esteja lendo/assistindo/ouvindo no momento?

Só tenho assistido DVDs de comédias antigas. Coisas britânicas. Jam, Brass Eye, Darkplace, de Garth Marenghi. Acabei de ler a nova graphic novel do meu camarada Natham Cowdry, Crash Site, que ganhou o prêmio Puchi na Espanha e está prestes a ser publicada, é muito foda. 

Tenho escutado todo tipo de música, em geral durante as pausas para o cigarro ou quando tomo banho. Coisas velhas, coisas novas, coisas de quando era adolescente. Coisas tão embaraçosas que não contaria pra ninguém.

A capa de Mau Caminho, HQ de Simon Hanselmann publicada pela Veneta (Divulgação)
HQ / Matérias

Sarjeta #11: Juscelino Neco fala sobre Reanimator, Stuart Gordon e H.P. Lovecraft

Está no ar a 11ª edição da Sarjeta, minha coluna mensal sobre histórias em quadrinhos no site do Instituto Itaú Cultural. Escrevi sobre Reanimator, HQ de Juscelino Neco publicada pela editora Veneta e inspirada tanto no conto Herbert West-Reanimator, de H.P. Lovecraft (1890-1937), quanto no longa Re-Animator: A Hora dos Mortos-Vivos (1985), do diretor Stuart Gordon. Conversei com Neco, apresentei algumas das reflexões dele sobre a produção da HQ e dei as minhas impressões sobre a obra.

Na entrevista que fecha a coluna, uma conversa com a quadrinista Aline Lemos, autora de Artistas Brasileiras e da recém-lançada Fogo Fato.

Você lê a 11ª Sarjeta clicando no link a seguir: Sarjeta #11: HQ narra frenesi sexual zumbi em adaptação sem reverência a obra de H.P. Lovecraft.

HQ / Matérias

Simon Hanselmann e o desencanto com o mundo em Mau Caminho

Escrevi para o jornal O Globo uma crítica sobre Mau Caminho, primeiro álbum do quadrinista australiano Simon Hanselmann publicado no Brasil, lançado pela editora Veneta e com tradução do quadrinista brasileiro Diego Gerlach. Contei um pouco da jornada do artista entre o início do Tumblr que impulsionou sua fama até sua chegada à editora Fantagraphics e chamei atenção para aqueles que considero seus principais méritos: a dinâmica interna dos personagens de Hanselmann, seus excessos e a indiferença deles em relação ao mundo.

Junto com Sabrina, de Nick Drnaso, Mau Caminho é um dos principais lançamentos de 2020 até o momento. Você lê o meu texto clicando aqui.

Cinema / HQ / Séries

Vitralizado #94 – 07.2020

Em janeiro de 2020 noticiei na quarta edição da Sarjeta os planos da Amazon em trazer a plataforma ComiXology para o Brasil. Aconteceu. No dia 30 de julho de 2020 foi divulgada a primeira investida da empresa de Jeff Bezos em uma ComiXology brasileira. Detentora dos discursos da maior parte dos produtores de conteúdo sobre quadrinhos no Brasil e avalista de algumas editoras nacionais, a empresa do homem mais rico do mundo faz um novo investimento no mercado nacional de HQs. Acho importante o registro.

Encerro esse breve editorial do sumário de julho do Vitralizado com trecho da carta aberta assinada por quadrinistas norte-americanos direcionada aos organizadores de festivais patrocinados pelo ComiXology:

“Os quadrinhos e o método ‘faça você mesmo’ das pequenas publicações promoveram uma cultura longa e histórica de independência. Quadrinistas independentes trabalharam para criar comunidades acolhedoras de todas as vozes, especialmente as que estão à margem. A Amazon procura se proteger dentro de nossas comunidades, comprando tanto o comércio quanto a cultura de nosso meio”.

A tira que abre o post é da quadrinista Cecilia Marins – recomendo Twitter e Instagram dela. Valeu, Cecilia! A seguir o conteúdo do blog em julho:

*Dediquei a décima edição da Sarjeta, minha coluna mensal sobre histórias em quadrinhos no site do Instituto Itaú Cultural, às minhas leituras nesses meses de isolamento social decorrentes da pandemia do novo coronavírus;

*E aproveitei a publicação de duas capas recentes da New Yorker assinadas pelo quadrinista Richard McGuire, autor de Aqui, para reunir outros trabalhos dele para a revista.

>> Veja o que rolou no Vitralizado #93 – 06.2020;
>> Veja o que rolou no Vitralizado #92 – 05.2020;
>> Veja o que rolou no Vitralizado #91 – 04.2020;
>> Veja o que rolou no Vitralizado #90 – 03.2020;
>> Veja o que rolou no Vitralizado #89 – 02.2020;
>> Veja o que rolou no Vitralizado #88 – 01. 2020;
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