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Posts por data março 2023

HQ

– Prêmio Grampo 2023 de Grandes HQs – Dia 9/4, às 14h30, Vitralizado + Balbúrdia (+live no canal da Ugra Press!)

O Prêmio Grampo 2023 de Grandes HQs já tem data, hora e local para acontecer. Os vencedores do prêmio e todos os títulos indicados pelos jurados serão revelados no dia 9 de abril, domingo, às 14h30, em posts compartilhados nos blogs Vitralizado e Balbúrdia e no tumblr do Prêmio. Como já virou tradição: vamos anunciar os quadrinhos que levaram os Grampos de Ouro, Prata e Bronze, assim como os rankings individuais dos 20 jurados de 2023.

Na imagem acima, você confere a identidade visual do Prêmio Grampo 2023, criada pelo designer Jairo Rodrigues.

Logo depois da divulgação do resultado, também no dia 9 de abril, às 15h, os três organizadores do prêmio (Lielson Zeni, Maria Clara Carneiro e Ramon Vitral) participarão de uma live no canal da loja e editora Ugra Press no YouTube, com mediação do editor Douglas Utescher. A pauta da conversa será o resultado do Grampo 2023, um balanço do mercado nacional de quadrinhos em 2022 e as perspectivas para 2023.

O Prêmio Grampo surgiu em 2016 inspirado na saudosa votação de melhores do ano do blog Gibizada, do jornalista Télio Navega, no jornal O Globo. Assim como ele fazia, nós convidamos várias pessoas envolvidas de diferentes formas na cena brasileira de quadrinhos a produzirem rankings com aqueles que elas consideram os 10 melhores títulos publicados no país no ano anterior.

A ideia é que esse júri passe por mudanças pontuais a cada ano. Agendamos para o dia 3 de abril (segunda-feira), às 12h, a revelação dos nomes dos jurados da edição de 2023 do Grampo (com cinco novidades!) em posts simultâneos no Balbúrdia e no Vitralizado.

Então tá feito o convite: dia 3 de abril anunciaremos os jurados e dia 9 de abril serão revelados os vencedores e os rankings individuais do júri. Depois rola a live no canal da Ugra Press com Lielson Zeni, Maria Clara Carneiro e Ramon Vitral, e mediação de Douglas Utescher. Enquanto isso, diz aí: quais são as suas apostas para o Grampo 2023?

Sobre os Prêmios passados, você pode conferir por aqui.

Entrevistas / HQ

Papo com Glenn Head, autor de Chartwell Manor: “Me recuso a deixar minhas experiências passadas me dominarem ou me silenciarem”

Chartwell Manson foi uma das minhas leituras mais impactantes de 2022. O álbum narra as vivências de seu autor, o quadrinista Glenn Head, durante a infância, no internato que dá título à obra, e seus traumas como uma das vítimas do diretor da institução, o predador sexual condenado Terence Michael Lynch. Entrevistei Head sobre o livro, publicado em português pela Comix Zone, com tradução de Érico Assis, e transformei a nossa conversa em reportagem para o jornal Folha de S.Paulo (você lê o meu texto clicando aqui). Compartilho abaixo a íntegra do meu papo com o artista. Saca só:

“Foi estranhamente libertador desenhar esse pesadelo de terror gótico”

Chartwell Manor não é apenas sobre o seu período no internato, mas também sobre o impacto dessa experiência na sua vida e também na vida de seus colegas. Você já se pegou pensando em quem poderia ter sido, quem os seus colegas de Chartwell Manor poderiam ter sido, caso não tivessem passado pelos abusos que passaram?

É claro, ao olhar para trás, você sempre se pergunta sobre essas coisas, sobre o passado e como você poderia ser diferente caso não fossem certas experiências – especialmente aquelas mais traumáticas, como um abuso.

Uma coisa que foi muito positiva (uma das únicas coisas!) em ter passado por Chartwell foi que me ajudou a forjar a minha identidade como artista. Eu tinha um professor de inglês que me encorajava muito em relação à minha produção artística. Então, o que quero dizer é: por pior que Chartwell tenha sido, para todos nós que fomos lá, a vida é complicada! Por mais infernal que aquele lugar fosse, eu realmente saí de lá com algo bom. Um amor por desenhos que dura até hoje. Isso também aconteceu em Chartwell.

Mas, na verdade, Chartwell traumatizou todos nós. Todo mundo que eu conheci que passou por lá acabou com problemas de vícios em drogas. Alguns foram para a prisão ou cometeram suicídio. Alguns se tornaram abusadores. Mas também acho que na vida existem pessoas que são ‘jogadas debaixo do ônibus’ pela sociedade. Às vezes quando jovens. Se eles tiverem sorte, se eles não morrerem no caminho, eles saem apenas feridos, mas continuam. Assim como eu.

Eu sempre quero saber sobre o ponto de partida das obras que leio, sobre a inspiração do autor por trás de sua obra. Mas o seu livro é, essencialmente, sobre as motivações para a produção dele. Então eu gostaria de saber: o que significou para você publicar Chartwell Manor?

Publicar Chartwell Manor significou muitas coisas. Acima de tudo e mais importante, significou pegar essa experiência profundamente perturbadora e transformá-la em uma história em quadrinhos divertida e fascinante! Uma história que emociona, assusta e se prende a você… É motivo de orgulho para mim que muitas pessoas leiam Chartwell Manor em uma sentada só. Talvez pareça estranho falar sobre uma história de abuso dessa maneira, mas acredite em mim quando digo: se uma história em quadrinhos (graphic novel, sei lá) não diverte, está morta! E Chartwell não está morta.

A publicação de Chartwell também significou algo mais profundo: que me recuso a deixar minhas experiências passadas me dominarem ou me silenciarem. Quem tentar desenhar um livro como este ouvirá muitas vozes dizendo: ‘Não! Não desenhe isso, você não pode!!’. Bem, eu posso. E desenhei. 

“Nem todo mundo teve a saída criativa dos desenhos que eu encontrei”

Página de Chartwell Manor, obra de Glenn Head publicada pela editora Comix Zone (Divulgação)

Você pode contar um pouco por favor sobre seus sentimentos ao reviver todas as suas experiências em Chartwell Manor? Aliás, não só as suas, aquelas que seus colegas também viveram por lá, como crianças. Como o Glenn, hoje, aos 65 anos, se sentiu ao retratar todos esses crimes cometidos contra crianças?

Como eu me senti desenhando e revivendo essas experiências? Bem, digo que é estranho voltar no tempo e fazer essa viagem pela minha infância… Mas foi estranhamente libertador desenhar esse pesadelo de terror gótico. Colocar isso tudo no papel… Eu gostei! De verdade, foi a experiência mais divertida que já tive fazendo uma história em quadrinhos. Mas é bom esclarecer essa afirmação: não quis minimizar o sofrimento de ninguém que passou por Chartwell Manor. Nem todo mundo teve a saída criativa dos desenhos que eu encontrei. Vejo essas memórias como uma farpa que precisava sair. Foi muito libertador para mim encarar esse material da forma que encarei.

Também me fez sentir mal pelos meus amigos da época. Sinto como se fôssemos todos crianças rejeitadas. Crianças que os pais queriam largar em outro lugar.

Também queria saber sobre os seus métodos durante a produção do livro. Você chegou a finalizar um roteiro todo antes de começar a desenhar? O quanto de pesquisa esse livro exigiu além das suas memórias sobre os eventos ligados a Chartwell Manor?

O roteiro é de longe a coisa mais importante. A história inteira tem que estar muito bem resolvida antes de qualquer lápis. Eu vejo todo o processo como se estivesse fazendo um filme. Todos os bons filmes têm bons roteiros… É a mesma coisa com os quadrinhos. Escrever é fundamental!

 Minha esposa é uma ótima editora, então ela vê os rascunhos, as ‘falhas’ do livro, capítulo por capítulo, antes dos desenhos e da tinta. Eu ouço os conselhos dela. Ela é a melhor editora que já tive.

A maior parte da pesquisa tinha a ver com estudar crianças, não é como desenhar adultos, protagonistas da maior parte dos meus desenhos como cartunista. Tive que estudar as proporções para fazer direito. Também trabalhei com fotos quando necessário. Chartwell Manor é essencialmente realidade em quadrinhos, então tem que parecer o mais real possível!

No livro, você demonstra uma certa relutância inicial em contar a sua história em um quadrinho autobiográfico. Por que essa relutância? Aliás, o que você acha que faz um bom quadrinho autobiográfico? Você tem uma obra preferida desse “gênero”?

Minha relutância em fazer Chartwell Manor foi importante porque mostrou a dificuldade inerente em enfrentar o passado, especialmente os momentos mais dolorosos. Sinto que isso precisa ser ressaltado – que este é um material difícil. Não é fácil e não entrei nessa levianamente.

O que faz um bom quadrinho autobiográfico? Para mim tem que ter o que qualquer bom quadrinho tem: bom desenho, uma história bem escrita, algum humor, com a óbvia adição de ser profundamente tocante e pessoal. Não gosto de abordagens jornalísticas ou dia-a-dia-aqui-é-minha-vida-em-tempo-real para autobiografia, isso é chato! Olha, como eu disse antes, os quadrinhos são sempre entretenimento. Eles também podem ser muitas outras coisas, mas….

Meu quadrinho autobiográfico favorito é do Art Spiegelman, com o título Spiegelman Moves to New York Feels Depressed!. É uma história em quadrinhos de uma página, mas mergulha profundamente no isolamento e na ansiedade da vida urbana. Para mim é o quadrinho mais pessoal dele, é ele extremamente vulnerável.  Vulnerabilidade, aliás, é a chave para uma boa autobiografia. É óbvio.

“Os quadrinistas underground exigiam a liberdade para desenhar o que quisessem”

Página de Chartwell Manor, obra de Glenn Head publicada pela editora Comix Zone (Divulgação)

Chartwell Manor tem várias referências a quadrinhos underground dos anos 1970, principalmente aos trabalhos de uma geração quem tem no Robert Crumb seu maior expoente. O que mais te atrai, o que você vê de mais especial nos quadrinhos dos autores dessa geração?

As vozes individuais. A primeira coisa que realmente me impressionou, junto com as temáticas malucas, eram as singularidades de seus traços. Estranhos, idiossincráticos, primitivos, grosseiramente desenhados ou mais polidos (como Crumb), esses eram artistas que seguiam seu próprio caminho. A palavra-chave aqui: autonomia. Os quadrinistas underground exigiam a liberdade, o espaço, para desenhar o que quisessem. Essa liberdade, como a liberdade dos próprios artistas, era radical. Essa recusa em ser censurado, diluído, tornado respeitável, era muito parecida com outras formas de arte que me atraíam na época (na música e no cinema).

O ponto real, porém, é que o que esses quadrinistas underground fizeram foi seguir em frente. Eles abriram portas para outros artistas, como eu. Para levarmos as coisas ainda mais longe, se quisermos.

Aliás, você apresenta quadrinhos e música como grandes escapes para você em meio às suas vivências em Chartwell Manor e também em outras fases de sua juventude. Qual a importância de quadrinhos, música e artes em geral na sua vida? Ou melhor, o que quadrinhos, música e artes significaram para você durante essas experiências traumáticas da sua juventude?

Bem, o rock and roll é usado quase como trilha sonora de Chartwell Manor! A canção Jumpin’ Jack Flash [dos Rolling Stones] tem uma frase sobre ser ‘educado com uma alça nas costas’ – ela se encaixa perfeitamente no mundo do internato britânico em que eu estava no livro.

A cultura pop era muito importante para mim porque eu não gostava do mundo em que cresci:  internato e subúrbio, eu odiava tudo isso, então algum tipo de escapismo era necessário. De certa forma, não mudei… Acho que 90% do que acontece na vida é besteira, tento evitar a maior parte disso tudo me apegando ao que amo: quadrinhos, filmes, música, arte, livros e fotografia.

Eu fico curioso, quais são os seus sentimentos ao ver seu trabalho chegando no Brasil?

Bem, eu ainda não vi a edição brasileira, mas estou ansioso… Espero que alguém me envie uma cópia! Mas é claro, é muito emocionante ver meu trabalho traduzido. Chartwell Manor está em toda a Europa, e isso também é uma grande motivação para mim! Para um quadrinista, fazer seu trabalho e ser visto pelo maior número possível de pessoas, todos nós almejamos isso, né?

“Criminosos brincalhões, carismáticos, intimidadores e mentirosos parecem cada vez mais presentes na política”

Página de Chartwell Manor, obra de Glenn Head publicada pela editora Comix Zone (Divulgação)

Eu fiquei pensando sobre a figura de Terence Michael Lynch e ele me pareceu muito semelhante, em seus discursos e técnicas, com lideranças com discursos religiosos de extrema direita que parecem estar se proliferando ao redor do mundo. Você também vê esse paralelo? Como você acha que podemos não nos deixar enganar por figuras como ele?

Eu vejo esse paralelo, é claro! Criminosos brincalhões, carismáticos, intimidadores, maiores que a vida e mentirosos parecem cada vez mais presentes na política agora e, sim, Lynch também era uma força da natureza. E como ele, esses políticos são muito perigosos porque podem ser absurdos, até engraçados, mas o que eles fazem não é brincadeira. A única maneira das pessoas não serem enganadas por figuras assim é pensando por si mesmas, não se deixando enganar. Mas sempre haverá pessoas sendo enganadas.

Eu sempre fui bastante questionador. Eu tinha treze anos quando comecei em Chartwell. Se eu fosse mais jovem, teria sido pior para mim. De certa forma, consegui ver através de Lynch, quem ele realmente era. Com Lynch, aprendi sobre líderes carismáticos. Essencialmente, o que eles querem é que você seja o combustível em seu tanque no caminho para a glória. Eles ficam felizes em usar você e qualquer outra pessoa para chegar onde querem. A verdade é que mundo está cheio desse tipo de coisa. Nem precisa ser sexual. Mas sempre acaba sendo predatório.

Você pode recomendar algo que tenha visto, ouvido ou lido recentemente?

A graphic novel Maverix and Lunatix: Icons of Underground Comix, do Drew Friedman e recém-lançada, é uma das minhas favoritas do momento. Ele captura esse mundo louco dos quadrinhos dos anos 1960 com belos retratos de todos os artistas dessa época. Eu recomendo. É maravilhosa!

A capa de Chartwell Manor, obra de Glenn Head publicada pela editora Comix Zone (Divulgação)
Cinema / HQ / Séries

Uma conversa com Vinicius Felix sobre Vitralizado – HQs e o Mundo (parte 2)

Está no ar a segunda parte da minha participação recente no podcast Telefonemas, do jornalista Vinicius Felix. Conversamos sobre Vitralizado – HQs e o Mundo, meu livro de reportagens e entrevistas publicado pela editora MMarte. Nessa sequência da entrevista (já viu a primeira parte?), o papo focou nas minhas preferências atuais em relação a quadrinhos e o reflexo desse filtro na linha editorial do livro, saca só:

Você compra Vitralizado – HQs e o Mundo, no site da editora MMarte, clicando aqui.
HQ / Matérias

Glenn Head fala sobre traumas, liberdade, Robert Crumb, Art Spielgeman e Chartwell Manson

Entrevistei o quadrinista norte-americano Glenn Head. O papo teve como foco Chartwell Manson, álbum publicado em português pela editora Comix Zone, com tradução de Érico Assis. Transformei esse papo em reportagem para o jornal Folha de S.Paulo. As 248 páginas autobiográficas do livro narram o período de Head, durante a infância, no internato que dá título à obra e suas vivências como uma das vítimas do diretor da institução, o predador sexual condenado Terence Michael Lynch. Na nossa conversa, o autor falou sobre seus traumas decorrentes do período em Chartwell, sua sensação de liberdade durante a produção da HQ e o impacto de Robert Crumb e Art Spielgeman em seus trabalhos. Você lê o meu texto para a Folha clicando aqui.

Entrevistas / HQ

Papo com Alan Moore, autor de Iluminações (parte 3): “Proponho uma arte poderosa o suficiente para abalar as muralhas da cidade e popular o suficiente para encontrar o engajamento da multidão”

Entrevistei o escritor inglês Alan Moore, autor de alguns dos maiores clássicos das HQs mundiais. A nossa conversa teve como ponto de partida Iluminações, coletânea de contos do autor britânico publicada no Brasil pela editora Aleph, com tradução de Adriano Scandolara e capa de Pedro Inoue. O meu papo com Moore é conteúdo exclusivo da edição nacional de Iluminações, disponível nas melhores livrarias e no site da editora Aleph.

Publico agora a terceira de três perguntas da entrevista que o pessoal da Aleph liberou para compartilhar aqui no blog (você lê a primeira clicando aqui e a segunda clicando aqui). No trecho abaixo, Moore expôs sua opinião sobre a cooptação de artistas e obras pela indústria do entretenimento:

A literatura, a ficção científica, quadrinhos e outras formas de arte muitas vezes são tratadas como parte da “indústria do entretenimento”. Qual sua opinião quanto a essa cooptação dos artistas e suas obras pela indústria?

Se a arte não conseguir entreter, pelo menos em algum nível, então terá uma imensa dificuldade em transmitir sua mensagem a uma plateia que não seja minúscula. Por outro lado, se for apenas entretenimento vazio, então perde todo seu poder e sentido enquanto arte, e torna a empreitada imprestável, exceto para propósitos comerciais. O que eu proponho é uma arte poderosa o suficiente para abalar as muralhas da cidade e popular o suficiente para encontrar o engajamento da multidão. Espero que minha obra seja capaz de entreter o leitor o bastante para que ele absorva o conteúdo, mas nunca me vi como alguém do entretenimento. Por sorte, meus críticos me garantem que eu não preciso me preocupar nesse quesito.

(Na imagem que abre o post, arte original de Kevin O’Neill para A Liga Extraordinária)

Cinema / HQ / Séries

Vitralizado – HQs e o Mundo: uma conversa entre Ramon Vitral e Márcio Paixão Jr. (parte 2)

Vitralizado – HQs e o Mundo é uma coletânea de reportagens e entrevistas reunindo o que produzi de melhor ao longo dos 10 anos do blog. A obra será publicada pela editora MMarte – com capa de Fabio Zimbres, prefácio de Érico Assis, posfácio de Maria Clara e textos de orelha de Rogério de Campos e Douglas Utescher. Você compra o seu exemplar cliando aqui.

Compartilho agora a segunda parte de uma troca de emails entre eu e o editor do livro, Márcio Paixão Jr. Nossos papos têm girado em torno da linha editorial do blog, da edição de Vitralizado – HQs e o Mundo e das expectativas de nós dois em torno do lançamento da obra. Após uma primeira pergunta minha para o Márcio, vem a pergunta dele para mim. Ó:

Márcio Paixão Jr.: Em que momento você percebeu que era possível ter um diálogo direto com os maiores quadrinistas do mundo?

Ramon Vitral: Não tenho certeza se houve um momento específico. Nunca me pareceu impossível ter esse diálogo. Desde a faculdade sempre acreditei bastante em mandar emails e telefonar. Sempre na aposta do “vai que rola?”. Aí acabou acontecendo. É claro, várias dessas tentativas de entrevistas acabaram não emplacando, mas acredito que a maior parte delas virou. Não tem muito segredo, eu mando um alô, digo que é para uma entrevista e acontece – ou não. A maioria dos meus entrevistados, das minhas fontes, é de artistas, pessoas que querem divulgar seus trabalhos e expor suas crenças e opiniões para o mundo, então não é muito difícil conseguir essas entrevistas. Acho que o mais difícil mesmo é conseguir algo original, uma fala sincera, desses artistas. Nem todo mundo se dispõe a uma troca real de experiências. E tudo bem. Aliás, ninguém é obrigado a dar entrevista, eu inclusive prefiro que pessoas não gostam de ser entrevistadas não deem entrevistas. Entrevista também é conversa, não faz sentido se predispor a ser entrevistado se você não quer conversar.

Eu também me impressiono com “o time que reuni”, como você disse. Lá em 2013, quando entrevistei o Chris Ware pela primeira vez, lembro que pensei, “pronto, se parar hoje tá bom demais, já entrevistei a Laerte e o Chris Ware, não preciso de muitos mais gênios no meu currículo”. Aí que segui e veio mais gente extraordinária. Mas mais do que esses GRANDE NOMES, fico ainda mais feliz com as trocas sinceras que tive ao longo desses anos. Acho que consegui tirar de muitas pessoas respostas honestas em relação às visões delas do mundo e as motivações e inspirações por trás de seus trabalhos. Talvez essas sejam as minhas grandes motivações.

O papo continua nos próximos dias!

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