Vitralizado

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Posts por data julho 2023

HQ

Vitralizado, por Jairo Rodrigues

Ao longo dos quase 11 anos de vida do Vitralizado, poucas pessoas colaboraram tanto para a existência e a continuidade do blog quanto o meu amigo designer e ilustrador Jairo Rodrigues. Ele é responsável pela identidade visual do Prêmio Grampo, assinou as artes dos cartazes das duas primeiras edições do curso Os Ciclos Produtivos das HQs Brasileiras (um aqui e outro aqui), criou o projeto gráfico da Série Postal e me ajudou a pensar várias pautas e entrevistas que publiquei por aqui. Enfim, o Vitralizado seria outra coisa sem ele.

Não bastasse isso tudo, ele me deu de presente essa arte lindona aqui em cima (valeu outra vez, Jay!). Aí que imprimimos algumas cópias com o ateliê de publicações em risografia Faísca Lab e vamos distribuir algumas delas no evento de lançamento do meu livro, Vitralizado – HQs e o Mundo (MMarte), na Ugra, no sábado, dia 29 de julho. Mas ó, como disse, são poucas unidades, exclusivas para quem comprar o livro (ou comprou na internet e aparecer na festa). Leva quem chegar primeiro!

Entrevistas / HQ

Papo com Allan Sieber, autor de As Sete Vidas do Gato Jouralbo e coautor de Satã Amigo das Crianças Boas: “Dou preferência para um desenho chutado”

Conversei com o quadrinista/cartunista Allan Sieber sobre seus dois trabalhos mais recentes, As Sete Vidas do Gato Jouralbo (Bebel Books/Mandacaru) e Satã Amigo das Crianças Boas (Veneta) – em parceria com Rafael Sica. Transformei esse papo em texto que você lê clicando aqui. Compartilho agora a íntegra da minha entrevista com o autor. E deixo a dica: dia 6 de agosto rola o lançamento de As Sete Vidas do Gato Jouralbo no Rio de Janeiro, na livraria Argumento. A seguir, meu papo com Sieber. Ó:

“Crianças são muito malucas”

Eu concordo com o texto da atriz Maria Ribeiro na quarta capa de As Sete Vidas do Gato Jouralbo, também não sou de acreditar muito em livro infantil. Livro bom é livro bom, seja para qual público for. Mas fico curioso: muda muito a chave na sua cabeça quando você vai criar um livro / uma HQ / uma obra pensada para adultos ou para crianças?

Sim. Não que eu tenha virado a chave, mas eu tomei alguns cuidados para não usar palavras muito rebuscadas. Ter um texto mais claro e objetivo possível. Não um texto idiota, né? Sem tratar a criança como idiota. Um texto sem muito rococó. Eu tive esse cuidado.

E o que você acha que faz uma boa obra para crianças?

Uma boa história, né? Basicamente. Isso é óbvio, para crianças e adultos. Um livro que não subestime a criança, que quando possível entre nessa onda de fantasia da criança – que tem esse mundo interno muito rico. Então, nesse sentido, é muito bom escrever para criança. Porque elas são muito malucas. Então, entre aspas, elas “comparam” uma ideia muito maluca.

Aliás, o que você gostava de ler quando era criança?


Eu lia muito, muito, muito quando era criança. Eu pirei com Monteiro Lobato. Nossa, Monteiro Lobato eu lia muito.  Enfim, Reinações de Narizinho, Os Trabalhos de Hércules… Adorava. Eu gostava muito também de Edy Lima que tinha uma série da Vaca, A Vaca Voadora, a Vaca Não Sei O Quê. Essa pessoa, que agora eu realmente não sei dizer se é homem ou mulher (eu acho que é uma mulher), enfim… Ela escreveu livros maravilhosos. Li um pouco de Júlio Verne também. Eu gostava muito de ler.

A capa de As Sete Vidas do Gato Jouralbo (Bebel Books/Mandacaru), de Allan Sieber (Divulgação)


O que você espera de uma boa HQ?

Ah, eu espero que não seja só um exercício de virtuosismo. Ângulos, luz e sombra e… Enfim, eu tenho um certo pé atrás com quadrinho assim. Um desenho muito lambido acho uma merda. Pessoalmente, dou preferência sempre para um desenho chutado, que não briga com o texto. Às vezes o desenho é tão primoroso que quase abafa o texto. Não sei, isso é muito pessoal.

Que tipo de retorno você teve até agora de crianças que leram o livro? Nos eventos de lançamento, como tem sido a reação do público do livro para os muitos destinos trágicos do Jouralbo?

Olha, eu tive dois lançamentos em São Paulo. Confesso que para mim é meio complicado essa coisa de sessão de autógrafos e tal, acho um puta de um… Eu não gosto de muita gente junta, acho bem aflitivo. Mas teve um lançamento numa livraria muito legal chamada Miúda, uma livraria só de livro infantil, que foi sensacional. Porque só foi criança mesmo, entendeu? Eu gosto muito de criança, eu gosto de falar com as crianças, ouvir elas. Eu tenho um filho de 10 anos, então foi muito bom. O retorno que eu tive… Teve uma garota que falou, ‘ah, mas não vai ter uma continuação? Por que só sete vidas?’. Tenho gostado.

Queria saber um pouco sobre seus métodos de trabalho em Jouralbo. Você chegou a finalizar um roteiro todo antes de começar a desenhar? Quanto tempo você levou para produzir esse livro?

Sim, eu finalizei todo o roteiro antes, eu sempre faço isso. Já dividido em quadros, em páginas. E eu levei, sei lá, para escrever o roteiro, desse jeito assim, CDF… Não sei, eu levei uma semana. E para desenhar foram dois meses. 

“Acho interessante trabalhar dentro de limites”

A arte de Allan Sieber que inspirou a parceria com Rafael Sica em Satã Amigo das Crianças Boas (Veneta)

Queria saber também sobre a sua dinâmica com o Rafael Sica no Satã Amigo das Crianças Boas. Que tipo de interações e trocas vocês tiveram durante a produção desse livro?

Foi o Rafael, que eu conheço há muito tempo, de Porto Alegre, que me propôs esse livro, baseado em uma serigrafia que eu vendo, Satã Amigo das Crianças Boas, com um diabo dando um sorvete para uma criança. E ele me propôs, ‘vamos fazer um livro a partir disso’. Aí eu fiz uns versinhos meio canhestros, umas rimas. E o Rafael, nossa, ele destruiu, né? Ele tá com desenho muito, muito sofisticado. Eu fiquei muito feliz com esse resultado. 

Ainda sobre o livro da Veneta, a arte do Sica é sempre espetacular, mas gosto muito da concisão e do bom-humor do seu texto. Você tem outros trabalhos só como roteirista, mas como foi escrever esse trabalho e pensar em cada uma dessas situações envolvendo Satã e crianças?

Na verdade eu tinha outros trabalhos como roteirista. Eu tinha uma produtora de animação, eu fiz vários curtas, escrevi roteiro de longa, fiz coisa para TV. Mas confesso que hoje em dia eu detesto audiovisual. Acho muito chato. Sei lá, um ano atrás, dois anos atrás, me chamaram para escrever uma série, colaborar em uma série, eu realmente não tive saco. Eu cansei de audiovisual, não tenho mais saco para fazer roteiro. A ideia era, sei lá, botar Satã como um tio bonzinho. Ele tá sempre ajudando as crianças. Ele fala para as crianças não serem preconceituosas, não serem egoístas e tal. É basicamente o contrário do que Deus… [risos] Se Deus existisse, Deus falaria justamente o contrário, ‘sejam preconceituosos, odeiem seu próximo’. 

Pelo que leio e já conversei por aí, nem todo artista se diverte durante a criação de suas obras. Mas eu me diverti muito lendo esses seus dois trabalhos recentes. Enfim, você se divertiu durante a produção desses dois livros mais recentes?

Sempre sofro um pouco. Porque, por incrível que pareça, eu sempre tento entregar uma coisa bastante íntegra e honesta. Isso demanda um certo esforço, não gosto de coisas mal feitas, feitas nas coxas. Meu desenho é propositalmente bem chutado, mas não é uma coisa desleixada. É outro conceito. Mas eu me diverti, me diverti muito fazendo o livro do gato Jouralbo. Porque eu tive que trabalhar com duas cores, né? Preto e um jade, para não ficar uma coisa muito óbvia. Usei muita ridícula, misturei tanto preto quanto jade. Misturei um pouquinho dos dois e usei retícula. Foi divertido esse processo. Eu gosto de coisas limitantes assim. Na verdade, eu prefiro tudo preto e branco [Risos]. Mas essa coisa de não poder tudo, eu acho bem mais interessante do que poder tudo. Eu gosto de limites. Acho interessante trabalhar dentro de limites.

HQ / Matérias

Allan Sieber fala sobre As Sete Vidas do Gato Jouralbo e Satã Amigo das Crianças Boas: “Crianças compram ideias malucas”

Quando o cartunista Allan Sieber diz que gosta de limites, ele obviamente não está se referindo a restrições temáticas. Sua primeira HQ infantil narra as muitas mortes trágicas de um gatinho fofo e gordinho chamado Jouralbo. Ele morre esmagado por uma bigorna, comido por um tubarão, atingido por uma bala de canhão e paro com os spoilers por aqui. As Sete Vidas do Gato Jouralbo acabou de sair, em parceria da editora Bebel Books com o estúdio de comunicação Mandacaru. O prefácio do álbum é de Fábio Zimbres, autor dos clássicos Música para Antropomorfos e Vida Boa, ambos publicados pela editora Zarabatana Books.

Sieber também publicou há pouco Satã Amigo das Crianças Boas (Veneta), com desenhos de Rafael Sica. O título é autoexplicativo: a obra é protagonizada por um diabo gente boa em situações de camaradagem com crianças legais.

Os limites apreciados por Sieber dizem respeito a restrições técnicas e espaciais. O quadrinho do gato Jouralbo é integralmente composto por páginas com quatro quadros em preto, branco e jade. Já Satã intercala versinhos bem-humorados com as ilustrações de Sica.

Quadros de As Sete Vidas do Gato Jouralbo (Bebel Books/Mandacaru), de Allan Sieber (Divulgação)


“Gosto de coisas limitantes assim”, me diz Sieber sobre as restrições e os padrões autoimpostos nos dois livros. “Não poder tudo eu acho bem mais interessante do que poder tudo. Eu gosto de limites. Acho interessante trabalhar dentro de limites”.

Jouralbo é o que se espera de uma obra infantil de Sieber. O quadrinho é divulgado por seus editores como voltado para leitores a partir de cinco anos, mas eu diria “leitores a partir de cinco anos com predisposição ao humor agressivo do autor”. Sabe aqueles acidentes do Coiote tentando pegar o Papaléguas? Ou os infortúnios do Tom tentando capturar o Jerry? A vibe é a mesma.

Sieber põe em prática em Jouralbo suas crenças em torno do que faz uma boa obra para crianças. 

“Uma boa história, né?”, resume o autor. “Basicamente. Um livro que não subestime a criança, que quando possível entre nessa onda de fantasia da criança, que tem um mundo interno muito rico. Então, nesse sentido, é muito bom escrever para criança. Porque elas são muito malucas. Então, entre aspas, elas ‘compram’ uma ideia muito maluca”.

Allan Sieber com As Sete Vidas do Gato Jouralbo (Bebel Books/Mandacaru) em mãos (Livia Aguiar)

Ele também é coerente com suas preferências em relação a um bom quadrinho: “Ah, eu espero que não seja só um exercício de virtuosismo. Ângulos, luz e sombra e… Enfim, eu tenho um certo pé atrás com quadrinhos assim. Um desenho muito lambido, acho uma merda. Pessoalmente, dou preferência sempre para um desenho chutado, que não briga com o texto. Às vezes o desenho é tão primoroso que quase abafa o texto”.

Em Satã Amigo das Crianças Boas, Sieber adapta seu texto para outra proposta. Ele mantém o bom humor, mas escreve em versos – “canhestros”, segundo ele.

A proposta para o projeto partiu de Rafael Sica, a partir de uma serigrafia de Sieber com o título Satã Amigo, retratando o diabo oferecendo um sorvete para um garoto.

“O Rafael destruiu, né? Ele tá com o desenho muito, muito sofisticado. Eu fiquei muito feliz com esse resultado aí”, comemora o autor. “A ideia era, sei lá, botar Satã como um tio bonzinho. Ele tá sempre ajudando as crianças. Ele fala para as crianças não serem preconceituosas, não serem egoístas e tal. É basicamente o contrário do que Deus… [risos] Se Deus existisse, Deus falaria justamente o contrário, ‘sejam preconceituosos, odeiem seu próximo’”.

Arte de Satã Amigo das Crianças Boas (Veneta), parceria de Allan Sieber e Rafael Sica (Divulgação)
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[Ugra, São Paulo, 29 de julho, 16h] Lançamento + sessão de autógrafos de Vitralizado – HQs e o Mundo

Ei, você em São Paulo, anota aí: dia 29 de julho (sábado), a partir das 16h, tem lançamento do meu livro, Vitralizado – HQs e o Mundo (MMarte) na Ugra (Galeria Ouro Velho, R. Augusta, 1371, loja 116). E ó: teremos brinde (tanto para quem comprar uma edição no evento quanto para quem tiver comprado na pré-venda e aparecer por lá). Semana que vem conto mais sobre esse presente, mas coisa fina, prometo.

A Ugra foi minha segunda casa em São Paulo entre 2015 e 2019. Lá mediei bate-papos, participei de debates e entrevistei um monte de gente massa (Pedro Franz, Laerte, Marcelo D’Salete, Diego Gerlach, Lobo Ramirez, Wagner Willian, Pedro Cobiaco, Gabriela Borges, Maria Clara Carneiro, Fabio Zimbres, Lielson Zeni, Guilherme Kroll, Thiago Souto e por aí vai).

Também passei algumas manhãs de sábado por lá apresentando meus cursos: duas edições de Os Ciclos Produtivos das HQs Brasileiras e uma de Biblioteca Básica das HQs Brasileiras. E ainda tiveram os vários encontros do Clube de Leitura Ugra & Vitralizado. Além das festas de aniversário do blog e lançamentos da Série Postal. E algumas edições do Prêmio Grampo. Ufa!

Vai ser massa, cara. Estarei te esperando por lá. Repito: dia 29 de julho (sábado), a partir das 14h, na Ugra (Galeria Ouro Velho, R. Augusta, 1371, loja 116).

E como disse, ainda volto a falar desse lançamento na Ugra por aqui. E também tenho outros eventos em vista por conta do livro, mas uma coisa de cada vez. Nos vemos na Ugra. Até!

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Chris Ware: Paper Life, no Cartoonmuseum

A carreira do quadrinista Chris Ware é o foco de uma exposição no Cartoonmuseum, em Basel, na Suíça. Chris Ware: Paper Life é anunciada pelos curadores do museu como a primeira retrospectiva da vida e da obra do autor de Building Stories em língua alemã. A mostra reúne originais do artista, animações filmadas por ele e algumas de suas esculturas. Você confere outras informações sobre o evento e fotos da exposição na página do Cartoonmuseum. Aqui em cima tá o cartaz da exposição.

Fica o registro porque, leitores do Vitralizado sabem, costumo noticiar por aqui tudo que me aparece relacionado ao Chris Ware. A dica da exposição veio do Pedro Cobiaco (valeu, cara!).

E deixo mais uma vez os links para a minha entrevista com Ware, feita na época do lançamento de Rusty Brow (papo que também virou matéria para o jornal Folha de S.Paulo) e também do vasto arquivo do Vitralizado dedicado à obra do autor. Lembrando que a entrevista sobre Rusty Brown e a minha reportagem para a Folha também estão no meu livro, Vitralizado – HQs e O Mundo.

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Você já assinou a newsletter do Gustavo Magalhães? Recomendo

Tenho acompanhado com atenção o trabalho do ilustrador e quadrinista Gustavo Magalhães. Ele me surpreendeu quando decidiu cancelar a série Curb Talk após 29 tiras e recomeçar a coisa toda do zero. O título novo é No Meio Fio e sai semanalmente na newsletter Antes Que Eu Me Arrependa (você assina de graça clicando aqui).

Confesso ter achado OUSADO esse recomeço, porque Curb Talk tava indo bem. Aí que já li as seis primeiras edições redesenhadas, com papel e nanquim, e o reboot fez sentido. A vibe nostálgica/melancólica da história, protagonizada por um grupo de crianças, me pareceu potencializada por ares mais rústicos/artesanais provavelmente vindos do uso da tinta.

E Magalhães também mudou enquadramentos e trouxe algumas abordagens novas para a história. Na segunda edição da newsletter ele comparou as duas versões da tira de abertura, por exemplo, e fica explícito como o quadrinho cresceu. Ele também já adiantou planos para uma versão impressa de No Meio Fio – que quero muito ver acontecer.

Enfim, tá massa e tô curtindo muito acompanhar. Recomendo que você faça o mesmo.

Arte de No Meio Fio, HQ de Gustavo Magalhães publicada na newsletter Antes Que Eu Me Arrependa