Antes de tudo, fica o registro: Macanudismo é uma das grandes exposições a chegar em São Paulo em 2015. Já havia constatado a qualidade da mostra na abertura para a imprensa, voltei ao Centro Cultural Correios nas manhãs de sábado e domingo e passei a gostar ainda mais. Seja você leitor de quadrinhos ou não, vá ao Vale do Anhangabaú até o dia 1º de setembro pra ver os originais do Liniers. O quadrinista argentino veio ao Brasil para a abertura e acompanhei os dois dias de interação dele com seus fãs. Na manhã de sábado, pouco antes da abertura para o público, participei de uma pequena coletiva de imprensa com o artista. Bem-humorado e sujo de tinta, Liniers havia acabado de desenhar em uma das poucas paredes em branco do espaço no qual seus trabalhos estão expostos.
Ansioso pela final da Copa América entre Argentina e Chile, ele elogiou o trabalho de letreiramento feito pelo quadrinista André Valente para a versão em português de suas tiras, extremamente fiel à tipografia original: “O André precisa ser tão famoso quanto Laerte!”. Ele comentou que pretende publicar em espanhol a coletânea Vida Boa, com os quadrinhos do brasileiro Fábio Zimbres, pela sua editora La Editorial Comun. Elogiou as vantagens que a internet traz para artistas independentes, mas lembrou do caso do garoto argentino vítima de bullying que ele defendeu pelo Twiter. Falou sobre seu envolvimento na marcha contra o feminicídio, realizada em Buenos Aires no início de maio, e sua relação com o movimento feminista: “Minha principal conexão com o feminismo vem do fato de ter três filhas”. Também comentou a mensagem otimista de seu trabalho: “Acho perigosa toda essa carga de pessimismo que recebemos dos jornais toda manhã, mas você chega nos quadrinhos, no final do jornal, e tudo fica bem”.
Em seguida, quando Liniers já era aguardado pelo público e se preparava para uma apresentação ao vivo com o músico Cheba Massolo, Laerte chega à exposição para cumprimentar o artista argentino. O show misturando música com pintura durou quase uma hora. O resultado final foi o painel que você vê no início do post.
Domingo de manhã, após acompanhar Maurício de Sousa pela exposição, Liniers conversou durante uma hora e meia com seus fãs. Gravei a conversa e é possível ouvir a íntegra no player a seguir. Papo bem legal, na qual ele falou como, sem querer, a opção por se retratar como um coelho acabou sendo uma mistura da versão como Matt Groening se desenha como um coelho com a forma como Art Spiegelman se desenha como um rato. Ele também comentou de suas duas semanas acompanhando a Copa do Mundo no Brasil, as inspirações de Macanudo, seus dias em Nova York acompanhado de Art Spiegelman e Françoise Mouly e sua relação com Buenos Aires. Ouça mesmo que vale a pena. E sério: perde Macanudismo não, cara. É de graça e épica.