Viu o primeiro episódio da temporada final de Mad Men? Caso não tenha visto e não curta spoilers, guarde o post pra depois, ok? Aliás, não vou revelar muito e nem pretendo me estender. Só queria compartilhar essa leitura que apareceu na minha cabeça logo no começo do episódio e foi crescendo até o fim. Já li em algum lugar que Mad Men é uma série sobre vícios, que cada personagem tem o seu. Alguns são compartilhados por todo mundo, como a bebida, mas um é mais predominante que os demais: o vício de todo mundo ali pela própria agência. Estão todos loucos, cada vez mais filhos da puta, mais alcoólatras e ególatras, mas ninguém arreda o pé da Sterling Cooper & Partners.
Severance é o nome do primeiro episódio dessa leva final. A palavra em inglês possui diversos significados. Em português poderia significar separação, divisão, rompimento, quebra ou partida. Todos os termos em português seriam aplicáveis como título em algum momento desse capítulo de abertura. Todos fazem sentido nesse episódio focado em Don, Peggy, Joan e Ken. Em algum momento, pelo menos um deles está de alguma forma separado, dividido, rompido, quebrado ou de partida – ou prestes a optar por isso. Os quatro buscam, de alguma forma, sair da empresa, mudar de vida e/ou desligar do passado. O drama é que quase nenhum deles consegue completar esse processo de separação/divisão/rompimento/quebra/partida.
Daí lembrei de uma comparação que insisto. Da semelhança de Mad Men com o filme Revolutionary Road, do Sam Mendes. O título do filme em português é sugestivo e já revela bastante do ponto em que quero chegar: Foi Apenas um Sonho. Em 2013, às vésperas da estreia da sexta temporada da série já havia comentando como via semelhanças entre a produção estrelada por Leonardo DiCaprio e Kate Winslet e o seriado de Matt Weiner.
Adaptação do livro homônimo de Richard Yates, o longa conta a história de um jovem casal de classe média no final dos anos 50. Mad Men já está na década de 70, mas os dilemas não são muito diferentes dos mostrados no início da série, em 1960 e poucos, e também no filme. Em ambas as obras, o grande vilão é a vacuidade sem esperança do mundo ao redor. Em Revolutionary Road, esse vazio está na vida suburbana do casal e nos empregos burocráticos do marido e de sua esposa. Em Mad Men, a agência e todo o universo da publicidade representam esse oco. No filme, os personagens principais decidem abandonar os Estados Unidos e viver uma aventura na Europa. Eles amarelam na hora H e as consequências são drásticas. Assim como os viciados de Mad Men, eles estão presos a um contexto.
Partindo do pressuposto que Matt Weiner tenha o filme de Mendes ou livro de Yates como inspiração, é impossível não imaginar um final trágico para Don e cia. Algo sutil e elegante, como é toda a série, sem qualquer dramalhão. Um final semelhante ao do personagem de DiCaprio em Revolutionary Road, solitário e sem perspectivas. Aposto que esse será o destino não só de Don, mas também dos demais funcionários da agência. Algo parecido com a cena final desse primeiro capítulo.