Mais uma edição do Escafandro Podcast no ar! Dessa vez, eu e os meus amigos Jairo Rodrigues e André Graciotti conversamos sobre Mindhunter e a carreira do David Fincher, produtor do seriado e diretor de alguns episódios e responsável por clássicos como Seven, Clube da Luta, A Rede Social e Zodíaco. E lembrando: agora você pode baixar (de graça) o Escafandro no iTunes, no Stitcher, seguir o nosso Tumblr ou também ouvir os programas pelo nosso canal no YouTube, como preferir. Dá o play!
Posts com a tag André Graciotti
Escafandro Podcast – S01E02: Rogue One e a inocência perdida de Star Wars
Voltei a participar em uma nova edição do Escafandro, podcast levado pelos meus amigos Jairo Rodrigues e André Graciotti. O papo do programa da vez foi focado em Rogue One: Uma História Star Wars. Assim como aconteceu com O Despertar da Força, saí do cinema satisfeito com o filme, mas acabei desanimando com o passar dos dias. Acho que isso não aconteceu apenas comigo e no final das contas o podcast é basicamente uma hora de reclamação em relação à forma como a saga criada pelo George Lucas vem sendo administrada. Dá o play:
Escafandro Podcast – S01E01: O Universo Cinematográfico Marvel
Participei da primeira edição do Escafandro, podcast produzido pelos meus amigos André Graciotti e Jairo Rodrigues sobre games, filmes, séries e tudo mais que eles quiserem tratar. O tema do programa foi o Universo Cinematográfico Marvel e nossa conversa abordou principalmente a falta de ambição criativa de Kevin Feige e companhia. Papo bem bom com quase duas horas de duração. Agradeço aos dois novamente pelo convite. Sempre bom jogar conversa fora sobre umas besteiras do tipo. Escuta aí:
“A melhor HQ de todos os tempos, hoje, para mim” – André Graciotti: Sleepwalk and Other Stories
Até agora foram apenas seis posts para “a melhor hq de todos os tempos, hoje, para mim“, mas a verdade é que acho que demorou pra algum trabalho do Adrian Tomine dar as caras por aqui. O autor do texto de hoje é o músico e designer André Graciotti. Companheiro de algumas matérias minhas no Estadão, o André me disse que a melancolia de seu som no cellardoor é repleto de influências do trabalho do Tomine. Só sei que li o que o André me mandou e voltei a ficar indignado com o fato do Tomine ainda não ter dado as caras em alguma edição nacional. Ó o que o público brasileiro tá perdendo:
“A ilustração mais simbólica de Adrian Tomine, dentre suas muitas famosas capas para a New Yorker, se chama Missing Connections, em que um garoto e uma garota se entreolham pela janela de seus trens, que seguem em direções opostas, ambos segurando o mesmo livro. O que fica ao observar a cena não é apenas um momento potencialmente romântico, mas o fato de que, apesar de tão promissor, ele acontece em menos de um segundo. É um frame da própria efemeridade do tempo em um relance; Um retrato preciso de todas as oportunidades perdidas a todo momento em todo lugar.
Foi tocado por essa ilustra tão memorável que me aventurei na obra de Adrian Tomine. E meu favorito sempre foi o Sleepwalk and Other Stories, uma antologia com 16 curtas histórias de sua antiga série Optic Nerve. Como não poderia deixar de ser, a exemplo de suas capas para a New Yorker ou de suas outras graphic novels, a melancolia é onipresente em cada história, a grande maioria centrada em personagens adolescentes ou jovens adultos tímidos e desajustados (os misfits) em dramas existenciais, de relacionamentos, ou típicos da idade. Porém, diferentemente de seus contemporâneos, como Daniel Clowes, que retrata os desajustados como figuras loosers em ácidas sátiras sociais, os personagens de Tomine são introspectivos e observadores, que sofrem em seu próprio mundo de isolamento e solidão, em ‘vazios’ retratados em seu traço PB de maneira tão efetiva. Não por acaso que ele frequentemente encerra suas histórias com um frame totalmente coberto por preto, como um fechar de olhos que renuncia à razão para dar lugar à meditação.
As 16 histórias de Sleepwalk vão desde um encontro totalmente awkward de um ex-casal de namorados – onde um ‘I miss you’ escapa de um deles e não resulta o esperado; uma idosa que todos os dias repete o mesmo gesto dentro de seu carro, apenas para relembrar um antigo amante; até um estudante que perde um vôo e, hesitante em voltar para casa e para as pessoas de quem já havia se despedido, resolve perambular pela cidade e esperar pelo vôo do dia seguinte em um quarto de hotel, o que acaba fazendo-o sentir como se já estivesse longe dali. Todas histórias predominantemente sobre a carência de pertencer – seja ao outro ou ao mundo ao redor. É leitura pesada sim, amarga e por vezes até dolorosa, mas igualmente arrebatadora.
A obra de Tomine é fascinante não apenas por ser visivelmente bastante autoral (quase todos os personagens são, como ele, imigrantes japoneses vivendo em Nova York), mas porque ele faz parte dos raros artistas que entendem a melancolia como um processo necessário à alma, não por um suposto pessimismo, mas pela inquietante recusa de aceitar as coisas como elas simplesmente são.
Seus personagens, aparentemente tão complexos e desligados socialmente, provavelmente só precisariam de um encontro fortuito do destino para se sentirem em paz, exatamente como o relance momentâneo de Missed Connections. E essa é a força de Tomine: ao nos apresentar um mundo de personagens tão solitários, ele também mostra que, no fim, ninguém está realmente sozinho.”
O cinema de David Fincher
O David Fincher tá em alta por conta do lançamento de Gone Girl. Piro demais nos filmes dele e esse vídeo-ensaio do Tony Zhou me fez gostar ainda mais. Em pouco mais de sete minutos ele resume algumas das principais característica e dos pontos mais altos dos longas do Fincher. Assiste aí:
Aliás, vale muito a pena ficar de olho no canal do Tony Zhou no Youtube, é o Every Frame a Painting. Quem me mostrou os trabalhos dele foi o André. Um outro ensaio foda é o dedicado ao Edgar Wright. Coisa fina, saca só:
Gravidade e a busca por Deus
Uma das coisas que mais gosto em Gravidade é o fato do filme do Cuarón ser muito pouco didático. Tirando duas cenas bastante autoexplicativas – a entrada da Sandra Bullock na estação russa e a sequência final – o filme inteiro é bastante legível, mas cheio de nuances e possibilidades de leituras que vão muito além da sinopse básica de “thriller-espacial-sobre-dois-astronautas-abandonados-na-atmosfera-terrestre”. Das muitas interpretações possíveis para as várias metáforas presentes no longa, uma das leituras mais bem sacadas que vi foi a do André.
Assim como outras pessoas, ele também interpretou o filme como uma imensa alegoria religiosa, mas com alguns dos melhores argumentos que encontrei. De referências explícitas, como o santinho presente na estação russa e a estátua de Buda na nave chinesa, a outras mais elaboradas, como o nome do personagem de George Clooney – Matt em inglês significa presente de Deus e no filme inteiro ele trabalha como o anjo da guarda da Ryan de Bullock, né não? Segue o começo da análise dele. O resto tá aqui, cheio de spoiler.
A busca por Deus e a elevação espiritual em Gravidade
“Minha visão do nosso planeta foi um vislumbre de divindade” – Edgar Mitchell
“Olhar este tipo de criação lá fora e não acreditar em Deus é impossível para mim…apenas reforçou minha fé. Eu gostaria que houvessem palavras para descrever como é” – John Glenn
“Eu senti o poder de Deus como nunca senti antes” – James Irwin
Os exemplos são infinitos. Astronautas que dizem ter uma revelação divina em sua primeira experiência no espaço, ao olhar para a Terra do lado “de fora”. O motivo, a priori, parece ser simples: no espaço, você está desprovido da maior força terrena, aquela que melhor caracteriza tudo o que está “vivo”: a gravidade. Como alguns também descrevem, a sensação é de como estar fora do corpo, flutuando num estado de sublimação existencial. Visualizar a Terra de fora, para estes, é um choque de perspectiva; é como observar a si mesmo, num “extra-vida”; como estar “próximo de Deus”.
E é exatamente este choque existencial que “Gravidade” explora de forma tão autêntica. Que o filme na verdade é sobre o ‘renascimento’ da personagem de Sandra Bullock é bem claro (a cena em que ela adormece flutuando em posição fetal, assim como a iconográfica cena final, são bastante óbvias na referência e deixam bem explícito o que quer ser dito). Entretanto, se “Deus está nos detalhes”, são nos simbolismos e nas sutilezas espalhadas ao longo do filme que o tornam uma obra tão rica, complexa e significativa para os nossos tempos. Porém, como sempre, a leitura que eles permitem vai depender do quão aberto o espectador está.
Muito se tem comparado “Gravidade” com o “2001″ de Kubrick e, de fato, talvez seja a primeira vez desde então que um filme de espaço se utiliza da tecnologia de sua época com maestria e visual tão impressionante para discursar sobre a existência humana. Mas se para Kubrick o conhecimento humano leva ao exterior e à expansão espacial, para Alfónso Cuarón leva ao interior, à libertação do espírito, ao retorno à natureza e à redescoberta da essência humana.
E é a partir dessa premissa que pretendo me aprofundar aqui. Não é porque o filme possui ritmo frenético do gênero ação e carece dos momentos contemplativos de “2001” ou “Solaris” que ele também não tenha sua complexidade metafísica e autenticamente autoral (sempre achei, aliás, a ideia comum entre os cinéfilos mais xiitas de que só é possível alcançar “profundidade” com contemplação uma grande falácia).
Antes de qualquer coisa, que fique claro que esta leitura do filme é alegórica, pessoal, e obviamente não é a única possível, não é exclusiva nem absoluta, tampouco acredito que seja mero delírio associativo, já que Cuarón já havia recheado seu excelente “Filhos da Esperança” com diversas imagens icônicas e referências religiosas.