Aproveitei o relançamento de Sopa de Lágrimas por aqui, pela Veneta, pra pedir uma entrevista pro Gilbert Hernandez. Simpático pra caramba, ele topou de imediato. Transformei nossa conversa por email em matéria, que saiu na Ilustrada da última segunda (1/8). Você lê o meu texto falando sobre a nova edição de Love and Rockets e um pouco da história dos irmãos Hernandez por aqui. Publico a seguir a íntegra do nosso papo. O quadrinista me falou sobre o início da carreira dele, o diálogo de seu trabalho com a literatura de Gabriel García Márquez, a importância de alguns de seus contemporâneos para a legitimação dos quadrinhos como forma de arte nos Estados Unidos e a popularidade crescente do conservadorismo de Donald Trump. Aproveita aí:
“Mais ninguém possui as minhas experiências, então minhas histórias funcionam como uma espécie de diário. Quero criar a ilusão de que todos nós já estivemos naquele determinado lugar”
Você e seus irmãos começaram a criar o universo de Love and Rockets no início dos anos 80 e desde então ele nunca parou de crescer, com novas revistas e republicações constantes. O que vem à sua cabeça quando você pensa nas suas primeiras experiências na indústria dos quadrinhos e até onde vocês chegaram?
Eu nunca pensei no futuro dos meus quadrinhos quando nós começamos, apenas que esperava que fosse possível continuar fazendo os trabalhos que gostaria de fazer. O fato de ser um trabalho republicado várias e várias vezes e em línguas diferentes só me faz querer merecer ainda mais essa atenção. Quero produzir novos trabalhos que durem tanto quanto Love and Rockets.
Muitas pessoas veem um imenso diálogo entre seu trabalho em Sopa de Lágrimas e Cem Anos de Solidão. Vocês conheciam o livro quando começaram a produzir Love and Rockets?
Eu não havia lido Marquez até o número 14 de Love and Rockets, quando as pessoas me disseram que eu deveria. Reconheço essas semelhanças. A única relação provável que vejo para esse diálogo talvez seja minha formação católica e latina.
Quando vocês começaram a criar Love and Rockets o quanto já tinham elaborado do universo que compõe a série?
Nós liamos quadrinhos quando criança e desenhávamos para a nossa própria diversão. Não havia nenhum plano elaborado em relação ao que faríamos com quadrinhos. Não queríamos fazer HQs da Marvel ou da DC, então fizemos a partir da nossa imaginação e das nossas experiências de vida.