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Entrevistas / HQ

Papo com Chabouté, autor de Solitário, Um Pedaço de Madeira e Aço e Moby Dick: “Meu trabalho é solitário e me alimento de imaginação ao longo de cada dia”

Das 380 páginas em preto e branco do álbum Solitário, apenas 80 apresentam alguma representação textual, seja em forma de balões de fala ou de leituras feitas por seus protagonistas. Segundo o autor da obra, o quadrinista francês Chabouté, sua intenção ao minimizar ao máximo a presença de texto tem como objetivo permitir que o leitor se aproprie da história. 

“A imagem fala por si só e possibilita que o leitor imagine o que vê”, diz o artista em conversa com o blog. “Eu deixo muitas portas abertas para que o leitor faça seus próprios diálogos, sua própria história, seu próprio passado e próprio futuro dos personagens. Não imponho nada; proponho”, afirma.

Solitário é o terceiro álbum de Chabouté publicado no Brasil e, assim como os dois anteriores, Moby Dick e Um Pedaço de Madeira e Aço, ganha edição em português pela editora Pipoca & Nanquim com tradução de Pedro Bouça. O livro é protagonizado por um eremita já com seus 50 anos que nasceu e cresceu no farol instalado em uma ilhota afastado do mundo.

O foco do quadrinho está nas breves interações desse protagonista solitário com o mundo além de sua ilha e em sua imaginação abastecida pela leitura de um dicionário.

Na minha conversa com Chabouté, o autor falou sobre o ponto de partida de Solitário, comentou sobre suas técnicas e sua rotina de trabalho, expôs algumas de suas influências e ressaltou a importância do silêncio em seus trabalhos. Papo massa traduzido pelo tradutor/ pesquisador/ editor/ crítico Érico Assis (valeu, Érico!). Saca só:

“Não sou uma pessoa solitária nem me sinto solitário, mas trabalho sozinho e me isolo bastante por conta das folhas em branco”

Um quadro de Solitário, álbum do quadrinista francês Chabouté publicado no Brasil pela editora Pipoca & Nanquim

Eu vejo vários padrões nos seus três livros publicados no Brasil até o momento, mas pouca coisa se faz mais presente para mim em Moby Dick, Um pedaço de Madeira e Aço e Solitário como a melancolia. Enquanto lia as três obras eu senti o tempo todo essa mescla de sensação de não pertencimento com deslocamento e introspecção. Você costuma pensar muito sobre solidão e melancolia? Você se considera solitário e melancólico?

Não sou uma pessoa solitária nem me sinto solitário, mas trabalho sozinho e me isolo bastante por conta das folhas em branco. Quanto à melancolia, não sei dizer. Mas, sim, não sou muito de conversa e sou ainda menos nos meus livros.

Solitário é seu trabalho mais recente publicado no Brasil. Você pode me falar um pouco sobre o ponto de partida dessa obra? Como ela teve início?

Dez anos atrás me perguntaram: que livro você levaria para uma ilha deserta? A pessoa que fez a pergunta, um professor, disse que levaria só um dicionário, porque com um pouquinho de imaginação cada verbete daria um conto…

Achei a resposta incrível, e a ideia foi se desenvolvendo até eu chegar em um livro de 376 páginas. Um autor como eu, que desenha solitário, que escreve solitário e que passa o dia trabalhando solitário… eu fico sozinho diante de folhas em branco e com folhas em branco. Meu trabalho é solitário e me alimento de imaginação ao longo de cada dia.

“Eu me via muito, por exemplo, no personagem de Ahab, com essa vontade de ir até o fundo em tudo, mas parando quando estou perto da loucura”

Um quadro de Solitário, álbum do quadrinista francês Chabouté publicado no Brasil pela editora Pipoca & Nanquim

Aliás, você pode me falar se há algum ponto de partida em comum para o início do desenvolvimento dos seus trabalhos?

Uma ideia simples, que toma forma ou não… Uma sementinha que eu deixo germinar, os ingredientes que me agradam e que encontram seu lugar na história. Como a gente faz na cozinha quando quer preparar um bom prato.

Os seus trabalhos tratam de sensações e ideias que vão ao encontro do que é ser humano. Penso na obsessão retratada em Moby Dick, no encontro de várias emoções e sentimentos em Um Pedaço de Madeira e Aço e nas reflexões que você propõe sobre a imaginação em Solitário. Esses temas são caros a você? Você costuma pensar no que faz de nós humanos?

Só tento trabalhar com sinceridade, falar do que me toca, do que há ao meu redor, do que eu sei… O que me emociona é o que eu tento transmitir no texto e nas imagens.

Eu me via muito, por exemplo, no personagem de Ahab, com essa vontade de ir até o fundo em tudo (que é uma coisa que se precisa na minha área, pois ela é bem difícil), mas parando quando estou perto da loucura.

“Eu deixo muitas portas abertas para que o leitor faça seus próprios diálogos, sua própria história, seu próprio passado e próprio futuro dos personagens”

Um quadro de Solitário, álbum do quadrinista francês Chabouté publicado no Brasil pela editora Pipoca & Nanquim

Aliás, a imaginação é um aspecto muito importante de Solitário. Qual você considera a importância do estímulo à imaginação na vida de uma pessoa?

Permitir-se os silêncios, deixar espaço, encontrar a melodia gráfica que sirva melhor ao texto… Com os desenhos, trazer uma outra dimensão ao texto, encontrar a harmonia entre texto e imagens, um equilíbrio narrativo para que o leitor possa apropriar-se da história, que seja um escape, que lhe deixe uma porta aberta ou caminhos a cruzar…

É o ponto de vista de qualquer pessoa que faz uma história. Eu não exagero no texto para não dar muita importância aos personagens. A imagem fala por si só e possibilita que o leitor imagine o que vê. Eu deixo muitas portas abertas para que o leitor faça seus próprios diálogos, sua própria história, seu próprio passado e próprio futuro dos personagens. Trabalho sobre um eixo central onde cada leitor pode tomar um rumo e se apropriar da história. Não imponho nada; proponho. Na literatura, o leitor “imagina” a imagem. Aqui, as imagens estão dadas e o leitor imagina o texto que elas podem ter.

Se eu cumpri minha função, o leitor vai construir seus diálogos onde não há nenhum. Creio que a melhor maneira de transmitir uma emoção não é escrevendo. Não é, mas sugerindo. Cada leitor tem que captar a emoção a seu modo, de um jeito que torne ela sua e dê suas próprias tonalidades à história.

“O que mais me inspira e influencia meu trabalho é o que se passa ao meu redor, meu cotidiano”

Um quadro de Solitário, álbum do quadrinista francês Chabouté publicado no Brasil pela editora Pipoca & Nanquim

Outro padrão nos seus trabalhos é o preto e branco. Por que a opção pelo preto e branco? Há algum artista que tenha influenciado essa sua opção?

Nenhum artista por si só me influenciou nessa opção, mas a lista de artistas que influencia meu trabalho é comprida… Didier Comès, Hugo Pratt, Alberto Breccia, Dino Battaglia etc…

Mas o que mais me inspira e influencia meu trabalho é o que se passa ao meu redor, meu cotidiano.

Eu associo minhas cores, ou a falta de cores, à história que quero escrever. Em todos meus livros fiquei no preto e branco porque a cor não traria nada. Foi só em Purgatoire que vi necessidade de cores.

“Tenho várias pistas e rotas, espero que as ideias amadureçam e dou tempo para amadurecem, depois volto para ver o que consigo fazer”

Quadros de Moby Dick, álbum do quadrinista francês Chabouté publicado no Brasil pela editora Pipoca & Nanquim

Você poderia me falar um pouco sobre a sua dinâmica de trabalho? Você costuma finalizar um roteiro antes de começar a desenhar?

O que me atrai de início é uma atmosfera ou um clima. Fico pensando, deixo aquilo rodar na minha cabeça, mas não crio nenhum entrave, deixo que venha. Chega um momento em que se acumulam as vontades e as ideias, que as coisas ficam um pouco mais precisas. Tenho caderninhos que levo por tudo, onde anoto ideias soltas e em algum momento as coisas tomam forma, se assentam. Tenho várias pistas e rotas, espero que as ideias amadureçam e dou tempo para amadurecem, depois volto para ver o que consigo fazer.

Você pode falar um pouco sobre as suas técnicas, por favor? Você faz tudo a mão, com tinta? Há algum elemento digital?

Costumo fazer o lápis inteiro do livro, montar as páginas e aí deixo quinze dias parado antes de passar ao nanquim. Estes quinze dias me dão um pouco de perspectiva em relação à história e talvez me façam refazer ou corrigir algumas coisas. Quase nunca me jogo numa história se não estiver bem fundamentada. Utilizo muito documentos, fotos. A internet é uma mina de informações. Não utilizo o computador na criação. Muito pelo contrário, trabalho de maneira bem tradicional: nanquim, caneta, pincel e papel.

Um quadro de Moby Dick, álbum do quadrinista francês Chabouté publicado no Brasil pela editora Pipoca & Nanquim

Tenho curiosidade em relação à sua visão do mundo no momento. Vivemos numa realidade na qual Donald Trump é o presidente dos EUA, Jair Bolsonaro é o presidente do Brasil e a França vê o fortalecimento da extrema-direita. O que você acha que está acontecendo com o mundo? Você é otimista em relação ao nosso futuro?

Absolutamente sem otimismo! Mas uma música, uma melodia ou uma boa história nos entusiasma. Isto é comprovado e nos dá alguma esperança…

O que você pensa quando um trabalho seu é publicado em um país como o Brasil? Somos todos ocidentais, mas são culturas muito diferentes. Você tem alguma curiosidade em relação à forma como um trabalho é lido e interpretado por pessoas de um ambiente tão diferente dos seu?

Hoje a internet deixa que vejamos o trajeto que um livro faz até o outro lado do planeta e eu confiro as percepções, as imagens e as avaliações dos leitores de Um pedaço de madeira e aço ou de Solitário que chegam do Brasil ou de outros países. E gosto muito.

Um quadro de Um Pedaço de Madeira e Aço, álbum do quadrinista francês Chabouté publicado no Brasil pela editora Pipoca & Nanquim

Você pode recomendar algo que esteja lendo/assistindo/ouvindo no momento?

Leio poucos quadrinhos, ainda menos livros. Li recentemente um livrinho chamado Yellow Cab, do senhor Benoit Cohen…

Ouço bastante música, jazz e blues (acústico). Do jazz, um disco sensacional: Jasmine, de Keith Jarrett e Charlie Haden… Do blues, todos os álbuns de Kelly Joe Phelps

Você está trabalhando em algum projeto novo atualmente?

Sim, estou trabalhado em um projeto novo e escrevo várias histórias ao mesmo tempo. Mas não falo dos meus projetos, pois sou da opinião de que dissipa a energia que posso investir em um livro futuro.

“Faço quadrinhos porque quero contar histórias e transmitir emoção…”

Um quadro de Um Pedaço de Madeira e Aço, álbum do quadrinista francês Chabouté publicado no Brasil pela editora Pipoca & Nanquim

Você pode me falar como é seu ambiente de trabalho?

Trabalho em casa, preciso de calma e tranquilidade para trabalhar. Trabalho bastante ouvido música… Mas preciso da solidão para entrar no jogo.

O que mais te interessa na linguagem dos quadrinhos?

Os quadrinhos são uma ‘ferramenta’ formidável para contar histórias, de poder desenhar o que não se quer escrever e poder escrever o que não se deseja desenhar, tudo com o simples fim de servir à melhor história.

Brincar com o leitor, propor o caminho narrativo, convidá-lo, acompanhá-lo, mas sempre de um jeito que ele possa entender…

Faço quadrinhos porque quero contar histórias e transmitir emoção…

Qual a memória mais antiga da presença de quadrinhos na sua vida?

Eu fui (e sou) grande leitor de Asterix e Lucky Luke, antes de me jogar nos quadrinhos dos anos 70 e mais tarde passar a revistas como Métal Hurlant ou À Suivre, na França.

A capa de Solitário, álbum do quadrinista francês Chabouté publicado no Brasil pela editora Pipoca & Nanquim
Entrevistas / HQ

Papo com Sonny Liew, o autor de A Arte de Charlie Chan Hock Chye: “O livro virou referência no debate sobre censura em Singapura”

Eu entrevistei o artista malaio Sonny Liew sobre a A Arte de Charlie Chan Hock Chye, quadrinho lançado em português pela editora Pipoca & Nanquim dois anos após ser eleito o livro do ano pelas revistas The Economist e Publishers Weekly e a melhor graphic novel de 2016 pelo jornal Washington Post. Em 2017, a HQ venceu três troféus do Prêmio Eisner (melhor escritor/desenhista, melhor design de publicação e melhor publicação estrangeira). Sobre a história de Singapura e do quadrinista fictício Charlie Chan Hock Chye, o álbum ainda virou notícia por conta do empenho do governo singapuriano em sabotar seu lançamento contestando o suposto teor subversivo do livro.

Não é todo dia que você verá um quadrinho de um autor malaio publicado originalmente em Singapura causar tamanha comoção e ainda sair no Brasil. Eu escrevi sobre esse percurso tortuoso e triunfal da obra para a Folha de São Paulo. Recomendo a leitura do quadrinho, do meu texto para o jornal e, depois, da íntegra da minha entrevista com Liew. Você confere esse papo complexo a seguir. Ó:

Você se lembra do instante em que teve a ideia de criar A Arte de Charlie Chan Hock Chye? Se sim, você poderia falar um pouco sobre as origens desse projeto?

Bem… Não dá pra confiar o tempo todo em memórias, mas se me lembro bem, a ideia surgiu enquanto lia Comics, Comix & Graphic Novels, do Roger Sabin. Ali eu realizei que qualquer relato sobre a história de quadrinhos exige alguma contextualização histórica – os quadrinhos do Crumb e o movimento contra-cultural dos anos 60, por exemplo, ou o despertar e o desaparecimentos de vários gêneros nos Estados Unidos antes, durante e depois da Segunda Guerra Mundial. Então eu fiquei com essa ideia em mente, fazer um livro que tratasse da história de Singapura, mas que aparentasse ser uma obra sobre a história dos quadrinhos. O formato exato do livro acabou mudando à medida que fui trabalhando – por exemplo, inicialmente eu o concebi com a presença de vários ensaios em formato de texto ao invés de uma obra inteiramente em quadrinhos.

Eu gostaria de saber um pouco mais sobre a produção do livro. Você chegou a finalizar um roteiro antes de começar a desenhar? Como você concebeu essa mistura de estilos que define a estética do livro?

Como eu disse, o livro acabou mudando à medida em que eu trabalhava nele. Outro exemplo é o escopo do qual eu tratava – eu queria que fosse um panorama mais amplo da história dos quadrinhos em Singapura, então pensei em criar uma dúzia ou mais de quadrinistas ficcionais para protagonizá-lo… Mas foi ficando claro para mim que seria muito difícil para o leitor acompanhar isso tudo, então decidi focar em um único artista. E sim, eu fiz um roteiro completo – nesse caso em formato de thumbnails ao invés de um roteiros em texto. Eu não consigo pensar quadrinhos apenas como texto, então todos os meus roteiros são em formato de thumbnails.

O livro contém todo tipo de estilo artístico e os estilos do Charlie mudam ao longo do tempo. Eu queria que ele fosse meio camaleônico, mas que isso também criasse uma dúvida na cabeça do leitor, se ele estava apenas copiando o estilo de outras pessoas ou se ele era realmente um criador original. Uma questão era o quanto eu deveria desenhar do livro, para distinguir os meus desenhos dos desenhos do Charlie. Também por isso eu fiz uso das sequências de entrevistas, inspiradas no quadrinho Lao Fu Zhi (Old Master Q), de Hong Kong.

Eu também gostaria de saber mais sobre o desenvolvimento do projeto editorial do livro. O Chipp Kidd é listado como o diretor editorial da obra. O quanto você já havia desenvolvido o projeto quando o apresentou para os seus editores? Quais foram as principais contribuições deles pra obra final?

A edição de Singapura já havia sido publicada quando vendemos os direitos pro Chip e pra Pantheon. Eu fiquei muito empolgado que o Chip gostou do livro – ele é uma lenda no mundo do design. Claro que muito do visual do livro foi inspirado nos trabalhos dele em livros de arte – o uso de texturas de quadrinhos antigos, as marcas de copos – mas isso veio mais da minha leitura dos trabalhos dele do que de dicas que tenham partido do Chip. O principal trabalho de edição veio da minha editora, Joyce Sim, com alguma ajuda do Dan Koh. A Joyce me ajudou a fazer a checagem de todas as informações, tivemos longos debates sobre o uso de algumas palavras e frases para que tudo fluísse da melhor forma. Também contamos com um advogado e com um historiador para que tivéssemos certeza que as nossas interpretações eram apropriadas e que nada era descabido. Para a edição dos Estados Unidos fizemos algumas pequenas mudanças – acrescentamos uma nota de rodapé para explicar o que é “kachang puteh, por exemplo

Para a edição de Singapura, tudo o que falei para os meus editores é que queria fazer um livro sobre Singapura que também fosse uma versão ficcional da história dos quadrinhos de Singapura. Eu acho que não consegui me fazer entender na época – ninguém compreendia o que eu estava fazendo – acho que eles apenas acreditaram que aquilo tudo resultaria em alguma coisa interessante…

O quadrinho segue três linhas distintas: a vida desse artista esquecido, a história de Singapura e a história dos quadrinhos. Foi difícil para você administrar esses três focos diferentes em um único livro?

Por causa disso, quando finalizei o livro, eu precisei resolver problemas em várias passagens… O final, por exemplo, passou por diversas transformações. Mas em relação a essa sua referência à combinação desses vários temas: muito disso veio tão rápido nas primeiras 30 ou 60 páginas que logo ficou claro para mim que talvez pudesse funcionar. Havia algo em relação à fluidez e às conexões que parecia funcionar. Mas esses pontos de conexões também acabaram funcionando nas 300 páginas seguintes. Eu tive muita ajuda do pessoal para quem enviei os meus rascunho – o meu ex-professor no Rhode Island School of Design David Mazzucchelli me deu muito retorno e o meu ex-editor francês Jean Paul Moulina sugeriu criar títulos para os capítulos para deixar o livro mais organizado.

Eu li sobre os vários problemas que você teve com as autoridades de Singapura. Você imaginava que o livro poderia ter essa recepção enquanto trabalhava na produção da obra? Quais as principais lições que você tirou dessa resposta inicial?

Eu tinha alguma consciência que o livro poderia ter alguns problemas, por ser uma espécie de crítica e uma revisão da narrativa mainstream sobre a história da Singapura. Mas eu não achava que a verba do NAC seria retirada. A controvérsia em que isso resultou ajudou a chamar atenção para o livro em um nível que a editora nunca imaginou e acabamos esgotando rapidamente as primeiras tiragens. Talvez ainda mais importante tenha sido como isso tudo transformou o livro em um referência no debate sobre censura por aqui.

Eu não tenho certeza quais são as lições mais importantes, com exceção da suspeita de que um criador não tem controle de nada além da própria obra. Você pode tentar aprender sobre a indústria de quadrinhos, sobre política, sobre as redes sociais… Mas no final do dia o que importa é apenas a criação do livro.

Quais as suas opiniões sobre o uso de quadrinhos para tratar de política? Quadrinhos podem ser para apresentar realidade político-sociais complexas e até mesmo fazer do mundo um lugar melhor?

Bem… Eu acredito que a linguagem dos quadrinhos tem potencial para ajudar a explicar vários assuntos complexos – não apenas pelo fato da mistura de imagens e palavras tornar qualquer coisa mais intuitiva, mas também pelo fato da maioria das pessoas associar quadrinhos como aquelas coisas que líamos quando crianças e por isso baixarem um pouco a guarda em relação a eles. Além disso, é um meio como qualquer outro, com seus méritos e suas fraquezas, então eu acredito que diz mais respeito à habilidade de apresentar as coisas em um formato diferente. Pode ser um quadrinho político da mesma forma como shows de TV analisam a nossa política e a nossa sociedade, como o David Simon fez em The Wire.

Fazer do mundo um lugar melhor? No que diz respeito a quadrinhos, eles com certeza melhoraram a minha vida, de Calvin & Haroldo à 2000 A.D., de Homem-Aranha ao Cul de Sac… Mas mudar o mundo é algo difícil e exige muitas forças agindo em conjunto. O mundo de hoje parece estar encaminhando para o autoritarismo em cada vez mais lugares e reagir a isso não é algo fácil – talvez a nossa obrigação seja não apenas mostrar que liberdade e aceitação levam a mais igualdade e crescimento, mas também desafiar a noção que crescimento perpétuo é o que mais importa para países e economias ao redor do mundo.

Você tem um vasto conhecimento sobre quadrinhos norte-americanos e trabalha para a indústria de super-heróis. A maior parte desse material é comprado e consumido principalmente por seu aspecto escapista e pelo distanciamento da realidade. A Arte de Charlie Chan Hock Chye é muito pessoal e uma obra também muito política. É muito diferente para você trabalhar nessas realidades tão extremas?

O trabalho autoral é mais envolvente em vários aspectos… Mas geralmente também resulta em adiantamentos menores! Então, como muita gente, eu preciso conciliar o trabalho comercial com o autoral. O bom disso é que todos eles sempre envolvem a ilustração de quadrinhos, então não gosto de reclamar. Com o trabalho comercial você aprende trabalhando com outros escritores diferentes formas de narrativa e os prazos fazem com que você aprenda novas técnicas para desenhar mais rápido e de forma mais eficiente. Os escritores também acabam sendo as pessoas lidando com os problemas narrativos, então sendo um artista contratado a sua responsabilidade principal é ajudá-los a esclarecerem suas ideias. Em linhas gerais, dá pra dizer que os projetos comerciais são menos trabalhosos, mas também menos divertidos, já os autorais são mais trabalhosos e mais divertidos – se pudermos definir “diversão” como os desafios envolvidos em muitas leituras e pesquisas e busca por dar uma forma a uma história.

Eu diria que muitos quadrinhos mainstream acabam sempre correndo o risco de serem insulares – se referindo mais às suas próprias mitologias do que a uma história propriamente dita. Mas isso não quer dizer que escapismo é uma coisa ruim – todos nós precisamos de um pouco de escapismo de vez em quando. É apenas que as minhas preferências pessoas acabam pendendo para um maior envolvimento com o dito mundo real. Eu lembro de assistir Logan e torcer para que eles tivessem focando mais da história nos caminhões sem motoristas e nos campos de milhos geneticamente modificados!

Outra questão sobre política: Singapura parece ser um país muito conservador e estamos vendo um crescimento desse mesmo conservadorismo na Europa e no continente americano. Por isso tudo, você é otimista em relação ao nosso futuro?

No momento… É difícil ser otimista. Eu acho que os dias do Fim da História, como o Francis Fukuyama previu, com certeza não estão vindo, mas também não estamos próximos do sonho de uma humanidade em paz como em Star Trek. Mas continuamos tentamos, certo? Sejamos intelectualmente pessimistas, mas otimistas nos nossos espíritos.

O que mais te interessa em relação a quadrinhos atualmente?

Principalmente o que é conhecido como quadrinho indie ou alternativo – trabalhos do Daniel Clowes, do Chris Ware e do Chester Brown. Histórias envolventes que também experimentam com a linguagem dos quadrinhos. Se eu tivesse mais tempo também gostaria de ler mais trabalhos do Inio Asano.

O que passa pela sua cabeça quando vê um trabalho seu sendo publicado no Brasil? Você fica curioso em relação à forma como esse livro será lido e interpretado em uma cultura tão diferente da sua?

Sim. O Brasil é um local fascinante e complexo sobre o qual não tenho tanto conhecimento. Não vejo a hora de ver como será essa recepção para o livro.

No que você está trabalhando atualmente?

No momento é a Eternity Girl para a DC Comics, mas eu também comecei uma pesquisa para um livro novo relacionado a questões sobre o capitalismo.

A última! Você pode recomendar algo que tenha lido, visto ou ouvido recentemente?

Rick & Morty é excelente. Em termos de filmes, todos do Hirokazu Kore-eda que assisti foram muito emocionantes e me fizeram pensar bastante.

HQ

Sonny Liew, HQs, boicote, subversão e A Arte de Charlie Chan Hock Chye

A Arte de Charlie Chan Hock Chye é uma das grandes surpresas e um dos principais lançamentos de quadrinhos no Brasil em 2018. O álbum é singular não apenas por sua história e pela arte do quadrinista malaio Sonny Liew, como também pelo contexto no qual foi publicado. Por isso tudo, foi eleito o livro do ano pelas revistas The Economist e Publishers Weekly e a melhor graphic novel de 2016 pelo jornal Washington Post.Em 2017, venceu três troféus do Prêmio Eisner (escritor/desenhista, design de publicação e publicação estrangeira).

Eu entrevistei o autor do livro recém-lançado por aqui pela editora Pipoca & Nanquim e esse papo virou matéria pra edição de hoje do caderno Ilustrada da Folha de São Paulo. No meu texto eu fala sobre as origens do projeto e a comoção que ele gerou na crítica especializada internacional e nas autoridades de Singapura. Você lê a matéria clicando aqui.

HQ

Confira uma prévia de Um Pedaço de Madeira e Aço, HQ de Chabouté e próximo lançamento da Pipoca & Nanquim

O próximo lançamento da editora Pipoca & Nanquim será Um Pedaço de Madeira e Aço, do francês Chabouté, o mesmo autor do aclamado Moby Dick. O álbum terá 304 páginas e tem o lançamento previsto ainda para o mês de maio. Segundo os editores da obra, o quadrinho é inteiramente centrado em um banco de praça pública e todas as pessoas que o frequentam e passam ao seu redor. Tô bem curioso, viu? Saca só a prévia de algumas páginas do quadrinho que o pessoal do Pipoca & Nanquim enviou aqui pro blog:

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Entrevistas / HQ

Papo com Ramón K. Perez, o autor de Conto de Areia: “A história é uma espécie de Teste de Rorschach”

Conto de Areia é provavelmente o título que mais gosto do catálogo da editora Pipoca & Nanquim. Não só por ser uma grande HQ, com experimentos narrativos muito interessantes, mas também por ser divertida demais. Fiquei indo e voltando em várias páginas enquanto tentava compreender a jornada do personagem principal e também para admirar a beleza da arte de Ramón K. Perez para a oba, adaptação do roteiro de um longa nunca filmado escritor por Jim Henson (1936-1990) e Jerry Juhl (1938-2005). Eu entrevistei o autor da adaptação e esse papo virou matéria para o jornal O Globo, disponível para leitura aqui.

Reproduzo mais abaixo a íntegra da minha entrevista com Perez, mas recomendo antes a leitura de Conto de Areia, em seguida a leitura do meu texto pro Globo e só depois o papo a seguir. Na nossa conversa, o quadrinista fala sobre como ocorreu seu envolvimento na adaptação, conta como foi seu trabalho com a Henson Company e dá a sua interpretação sobre a trama do quadrinho. Papo massa. Ó:

Como você acabou se envolvendo no projeto que resultou em Conto de Areia? 

Eu fiquei muito surpreso em receber o convite para trabalhar em Conto de Areia. Eu fui procurado pelo editor da Archaia, Chris Robinson. A empresa, Archaia, estava entrando em contato com vários artista sobre a possibilidade de adaptar o roteiro e pedindo que que eles fizessem uma ou duas páginas-teste baseadas em trechos do roteiro, para ver como cada um poderia interpretá-lo. Eu fiz uma espécie de ilustração no estilo de pinup (que acabou sendo modificada e utilizada na capa) e também uma arte sequencial (mais especificamente, eu adaptei a sequência mostrando a revelação inicial do Patch após ele emergir da cratera causada pela bomba que foi jogada no Mac).

Os testes pedidos aos vários artistas foram então submetidos à Henson Company, que tomou a decisão final de qual seria o artista escolhido. Felizmente, tanto a Lisa Henson quanto as boas pessoas da Archaia concordaram que seria eu.

Você poderia falar um pouco sobre as suas técnicas e os seus métodos para adaptar o roteiro? Como ilustrador, eu imagino que você esteja acostumado a dialogar com os roteiristas dos seus trabalhos, mas dessa vez você não tinha acesso ao Jim Henson e ao Jerry Juhl…

Conto de Areia foi mais fácil de adaptar do que trabalhar com um roteiro de história em quadrinhos, apesar de provavelmente também ter levado mais tempo. Quando trabalhando com um roteiro específico de quadrinho eu preciso seguir, na maior parte, àquilo que o escritor escreveu. Por sorte eu tenho trabalhado com alguns bons escritores de quadrinhos, então raramente precisei fazer mudanças drásticas no enredo – e quando mudanças são necessárias eu sempre posso conversar com ele ou com o editor.

No entanto, com Conto de Areia, não tive nenhuma amarra. Nada estava determinado, em termos narrativos. No que diz respeito ao layout dos meus painéis, ao número de painéis, às viradas de páginas, ao ritmo e todo o resto, estava tudo por minha conta. A liberdade criativa que isso me permitiu foi imensurável.

Tendo o roteiro inteiro à disposição, eu sentei com ele e com um scketchbook customizado que eu fiz para o projeto e comecei a adaptar visualmente o roteiro. Fui essencialmente transformando em um storyboard, ao invés de adaptar cada trecho do roteiro. Foi um processo muito interessante – que eu adoraria repetir.

Para imaginar o visual e compreender como eu adaptaria o roteiro eu mergulhei nos primeiros trabalhos do Henson, como Cube e Time Piece, assim como vários curtas animados. Ganhei conhecimento sobre o tempo dele, o estilo de edição, o ritmo e a música, eu filtrei isso tudo a partir das minhas sensibilidades narrativas e assim levei Conto de Areia adiante.

E como foi a sua dinâmica com os editores da Archaia e com a Jim Henson Company durante esse processo de adaptação?

Felizmente a Jim Henson Company estava muito aberta e me deu bastante liberdade para lidar com o roteiro como eu achasse melhor. Eu encontrei com a Lisa Henson umas duas vezes também e ela me deu algumas boas dicas relacionadas ao pai dela. Durante o desenvolvimento do processo eu também trabalhei muito próximo com os meus editores Stephen Christy e Chris Robinson fazendo ajustes ao roteiro, informando-os sobre cortes na história original por questão de espaço e por necessidades de adaptação, reajustando coisas que podem funcionar em um filme, mas não em um quadrinho.

O roteiro do Jim e do Jerry já estava finalizado, mas ele precisava ser interpretado, trabalhado e ajustado para fazer sentido dentro da linguagem de uma graphic novel. Eu realmente acredito que a história de Conto de Areia é uma espécie de Teste de Rorschach, você pode chamar uma dúzia de narradores para interpretar e conseguir uma dúzia diferente de histórias. Por isso, essencialmente, essa é a minha interpretação de Conto de Areia, o que a história era para mim. Então sim, eu fiz ajustes e mudanças no roteiro em alguns aspectos para que fizessem sentido na minha interpretação e adaptação.

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“O Jim era bastante peculiar em relação à forma como a música servia aos seus filmes e animações. Sendo as histórias em quadrinhos uma linguagem silenciosa, eu fiz uso das cores para adaptar essa característica dos filmes dele. Sem alguém colocar as páginas de Conto de Areia lado a lado, veria um concerto de cores”

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Eu gostaria de saber mais sobre as cores do livro. Como você encontrou a paleta que considerava ideal para a história que estava contando?

Como disse anteriormente, eu mergulhei em muito dos trabalhos iniciais do Jim e do Jerry, o que deu uma noção da paleta que eles gostavam de usar, que misturada com os meus gostos pessoais me levaram à paleta do livro. Depois eu peguei essa paleta e usei como a minha trilha sonora para o livro, criando o que chamo de sinfonia de cores. O Jim era bastante peculiar em relação à forma como a música servia aos seus filmes e animações. Curtas iniciais dele, sem diálogo, dependiam do som para expressar emoções e ressaltar algumas passagens. Sendo as histórias em quadrinhos uma linguagem silenciosa, eu fiz uso das cores para adaptar essa característica dos filmes do Jim. Sem alguém colocar as páginas de Conto de Areia lado a lado, veria um concerto de cores.

Eu gosto do formato do livro. Você sempre soube como ele seria publicado? Como você acha que esse formato de Moleskine contribui para a história do quadrinho?

Foi minha sugestão ter o tamanho do livro igual ao do meu Moleskine de rascunhos e o Stephen Christy levou isso ainda mais adiante fazendo questão de que o elástico fizesse parte da versão final do livro. A razão por trás disso é que o Jim mantinha cadernos de rascunho e diários nos quais anotava suas ideias e pensamentos durante toda a vida. Conto de Areia é basicamente um diário da aventura do Mac – então, no final das contas, pensamos que esse seria o formato perfeito para contar a história e prestar uma homenagem ao Jim ao mesmo tempo.

Como era a sua relação com os trabalho do Jim Henson antes de ser convidado para a adaptação?

Eu era um GRANDE fã do Henson enquanto crescia, principalmente dos Muppets e da Vila Sésamo. Então quando houve a oportunidade de trabalhar em Conto e Areia foi uma imensa honra. A parte mais bonita de participar desse projeto foi entrar em contato com a Karen Falk, a arquivista da Henson Company que me forneceu cópias dos primeiros filmes e de projetos pessoais do Jim com os quais eu não tinha nenhuma familiaridade. Isso realmente abriu a minha visão em relação a outras facetas do trabalho dele.

Você também trabalha para a Marvel e outras editoras mais comerciais. Eu não sei se você considera Conto de Areia um trabalho mais pessoal, mas me parece um projeto mais singular do que uma revista mensal de super-heróis. É muito diferente para você trabalhar em universos tão distintos?

Eu com certeza digo que Conto de Areia é um trabalho muito mais pessoal. Sou eu do início ao fim. De adaptar até criar o visual da história e colorir as páginas trabalhando com a minha equipe de coloristas, principalmente o Ian Herring, mas também Jordie Belair e Kalman Andrasofszky, assim como o letrista, DJ e o designer do livro, Erick Skillman.

Trabalhar em publicações mensais, mesmo que envolvido, é um processo mais rápido e você constantemente se vê incapaz de ver o projeto com a unidade que gostaria. É geralmente a empresa que determina o visual e o estilo do livro. Apesar de ainda haver oportunidade de ser criativo e ousar em publicações mensais, é constantemente uma equipe de pessoas sendo coordenadas por um editor dentro de um ritmo muito rápido.

É engraçado que Conto de Areia seja um roteiro de filme adaptado para quadrinhos em uma época na qual predominam quadrinhos sendo adaptados para o cinema. Você vê muito diálogo entre essas duas mídia? O que você acha desse interesse crescente de Hollywood em quadrinhos ao longo da última década?

Eu acho maravilhoso que tantos quadrinhos estejam sendo adaptados para o cinema e oferecendo um outro formato para essas histórias. Dito isto, apesar de haver semelhanças entre as linguagens principalmente por serem formatadas a partir de histórias e imagens, há coisas que você pode fazer com quadrinhos que não pode fazer em filmes e vice-versa. Filmes são história ativas, a sua experiência é controlada pela visão dos diretores, enquanto os quadrinhos são passivos. Nos quadrinhos, os criadores apresentam a experiência, mas você pode ir para frente ou para trás no tempo com o passar das páginas, assim como a forma como você absorve os diálogos e gasta o seu tempo na arte.

Do que se trata Conto de Areia para você?

Para mim, Conto de Areia é sobre um homem preso nos confinamentos de sua própria vida. É você que faz a sua vida, mas às vezes os maiores empecilhos são aquele que você se impõe. Você é o seu próprio pior inimigo em busca de amor, trabalho, expressão e felicidade. O Mac continua preso dentro da história dele, mas talvez um dia ele veja os escritos nas paredes, como nas páginas iniciais do livro, e consiga se libertar.

Você pode recomendar algo que tenha lido, ouvido ou assistido recentemente?

Uma graphic novel favorita que sempre recorro para buscar inspiração é Asterios Polyp, do David Mazzucchelli. Estou lendo vários livros diferentes no momento, mas sou um grande fã dos livros do Malcom Gladwell. É difícil falar de flmes, nada tem me chamado atenção, apesar de eu ser um grande fã de O Despertar da Força e estar empolgado com Solo. Mas essa é a minha criança interior fã de Star Wars com grandes expectativas por mais histórias desse universo no qual eu cresci. Televisão é algo que tem atraído mais a minha atenção ultimamente. West World é um favorito e estou aguardando ansiosamente pela segunda temporada.

HQ / Matérias

Ramón K. Perez, o roteiro perdido de Jim Henson e Jerry Jhul e a sinfonia de cores de Conto de Areia

Fiz uma entrevista com o quadrinista canadense Ramón K. Perez sobre o trabalho dele no álbum Conto de Areia (Pipoca & Nanquim), adaptação para o formato de quadrinhos do roteiro nunca filmado assinado por Jim Henson (1936-1990) e Jerry Juhl (1938-2005). O papo virou matéria para o Segundo Caderno do jornal O Globo. Na matéria eu conto um pouco sobre como Perez acabou sendo selecionado para para transformar o texto do criador dos Muppets e da Vila Sésamo em uma HQ. No texto o autor da adaptação também fala como foi o processo de dar sentido a um roteiro pensado para o cinema no formato de HQ e como as cores tiveram papel fundamental nesse processo. Você lê aqui a minha matéria.