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Posts por data junho 2016

HQ

Ugrito #7: Fired (ou Ricardo Coimbra X O culto à proatividade)

A coleção Ugrito chegou em seu sétimo número. Publicada pela Ugra Press desde julho do ano passado, a série é uma das sacadas mais criativas e interessantes dos quadrinhos brasileiros nos últimos 12 meses. O autor da sétima edição é o quadrinista Ricardo Coimbra. Batizado de Fired, o gibi conta a história de um psicólogo organizacional de 23 anos com uma carreira promissora dentro de uma fábrica de parafusos, cinzeiros e próteses mecânicas. A HQ será lançada na tarde de sábado, a partir das 15h, com sessão de autógrafo, na loja da Ugra, aqui em São Paulo.

O quadrinho de Coimbra é o capítulo mais recente da batalha pessoal do autor contra indivíduos proativos e a cultura da alta performance do mundo moderno – ele falou bastante sobre o assunto na entrevista que me deu lá em abril de 2013. Assinada pelo também quadrinista Arnaldo Branco, a apresentação da HQ dá o tom da obra: “Finalmente alguém imortalizou aquele desabafo impotente sobre o filho da puta que veste a camisa da empresa que declamamos para ninguém mais além do nosso copo vazio no balcão do bar”. Bati um papo rápido com o Coimbra por email e ele falou um pouco sobre o tema da HQ:

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Como o Arnaldo Branco diz no verso da HQ, o gibi é o mais recente capítulo de sua guerra pessoal contra pessoas proativas. Em que pé você acha que está essa batalha? Cá entre nós, me parece uma luta perdida.

Embora na divulgação deste gibi o pessoal da UGRA tenha se referido a mim como enfant terrible e que muitas pessoas confundam minha incompetência artística e imaturidade com frescor de iniciante (e minha síndrome de pônei com juventude), o fato é que já estou beijando a casinha dos quarenta e venho publicando já há algum tempo. Tenho dito pros meus amigos mais próximos que já passou da minha hora de parar de fazer quadrinho. E não por causa da coluna fodida, dos problemas de vista ou da já lendária incapacidade de se ganhar dinheiro com esta atividade, mas porque percebo que já disse tudo o que tinha pra dizer. E já disse umas três vezes. Quem acompanha meu trabalho sabe que eu giro em torno de uns três ou quatro temas, no máximo. E este mini-gibi não é diferente. Mas vou dizer uma coisa que pode parecer esquisita. Apesar das piadas obsessivas ao longo do tempo, eu não tenho raiva das pessoas proativas, que é a palavra que geralmente se usa pra designar gente prestativa e bem-intencionada, embora ingênua. O que sempre me incomodou era esta cultura artificial criada pelos departamentos de RH que se aproveita dessa boa-vontade das pessoas pra fazê-las trabalhar mais pelo mesmo salário. Mas nem chega a ser uma guerra pessoal, não. Sou bundão demais pra fazer guerra contra qualquer coisa. Na verdade, é só uma birrinha pra alimentar cartum mesmo. Agora, tenho que concordar com a provocação da sua pergunta: não resta a menor dúvida de que a mentalidade proativa é a que venceu.

Uma vez você falou comigo que o pior do culto à proatividade é quando ele se mistura à cultura da alta perfomance. Você continua empenhado em pregar o desencorajamento como um valor?

Continuo. Embora a melhor forma de lutar pelo desencorajamento seja não lutar, né? O tema desse gibi é justamente esse. O Lourenço reflete um pouco da minha admiração pelas pessoas que, mesmo no inóspito ambiente de trabalho e sob o assédio psicológico “fofo” do RH, se recusam a participar do teatrinho da empresa feliz. Pessoas que podem até entregar seu corpo e seu tempo livre à empresa mas não sua mente. Pessoas que estão dispostas a irem às últimas consequências para defenderem seu território psicológico e manterem suas personalidades íntegras. Uma das motivações, aliás, que me atraiu pro projeto UGRITOS foi a chance de criar um quadrinho que as pessoas pudessem carregar no bolso e ler como um refúgio, como eu lia as tirinhas do Dilbert naquelas edições da L&PM Pocket disfarçadamente durante as palestras ridículas que era obrigado a assistir quando trabalhava no ambiente corporativo.

Há alguma possibilidade do protagonista da HQ ser você em um passado distante? O Ricardo Coimbra de antes de começar a fazer quadrinhos? Que todo o trauma narrado na HQ tenha sido o despertar de sua carreira como um dos mais bem-sucedidos representantes da milionária indústria nacional de quadrinhos?

Hahahahahahah Não. Mas certamente eu gostaria de ter sido a pessoa que lhe causou o trauma. Infelizmente, como falei lá em cima, sou muito bundão pra isso. Quanto aos motivos do “despertar da minha carreira como um dos mais bem-sucedidos representantes da milionária indústria nacional de quadrinhos” revelarei em breve em uma palestra motivacional que estou preparando em parceria com os amigos Maurício de Sousa e Kleber Bambam.

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Entrevistas / HQ

Papo com Juscelino Neco, o autor de Matadouro de Unicórnios: “O limite da violência gráfica é a consciência do autor”

A recém-lançada Matadouro de Unicórnios é a primeira HQ de Juscelino Neco em seguida ao blockbuster internacional Zumbis para Colorir. Antes do álbum de 2015 chegar a países da Europa e em Taiwan, o quadrinista publicou Parafusos, Zumbis e Monstros do Espaço. O terceiro quadrinho de Neco publicado pela Veneta escancara de vez o gosto do autor por produções B de terror e apresenta um dos protagonistas mais repulsivos da história recente dos gibis nacionais.

Sobre um ghost writer transformado em assassino serial e autor de sucesso, Matadouro de Unicórnios mostra a colisão de alguns mundos. É um choque entre os filmes recentes de Woody Allen sobre sorte, azar e casualidades com as comédias dramáticas de erros dos irmãos Coen. Os traços e os design de páginas práticos, funcionais e modernos do quadrinho dialogam com o trabalho de autores em ascensão na indústria de HQs, como o norte-americano Box Brown.

Pesquisador e estudioso da história dos quadrinhos, Neco criou uma trama explicitamente inspirada em gibis de terror publicados na década de 30 e de gostos duvidosos já naquela época. Matadouro mistura influências de clássicos da editora EC Comics com elementos de obras italianas do gênero Giallo. O resultado é uma HQ chocante e extremamente divertida. Bati um papo por email com Juscelino Neco. Ele falou sobre as origens do gibi, suas inspirações na produção do quadrinho, violência gráfica e próximos projetos. Papo bem bom. Ó:

“Acho que violência gráfica é uma das coisas mais divertidas que existem e o único limite é realmente a consciência do autor”

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HQ

Guilherme Petreca apresenta o making-of de Ye na loja da Ugra

O Ye do Guilherme Petreca tem algumas das páginas de quadrinhos mais bonitas publicadas no Brasil em 2016. Já falei bastante sobre o gibi e outros trabalhos do autor por aqui, lembra? Sábado agora a loja física da Ugra comemora um ano de existência e um dos eventos marcados pra rolar no dia é uma apresentação ao vivo do Petreca falando sobre a produção do quadrinho. Já iria de qualquer maneira, mas acabei sendo convidado pra mediar a conversa entre o quadrinista e o público presente e sei que a promessa é de um papo bem massa. Então tá marcado: sábado, (2/6), às 10h. Mas cara, corre lá no site da Ugra que as vagas são limitadas.

HQ

O making-of de uma página de O Segredo da Floresta, por Felipe Nunes

A HQ O Segredo da Floresta tem lançamento previsto pra setembro de 2016. Produção do Stout Club, o gibi tem argumento do Rafael Albuquerque e do Thedy Corrêa, que também assina o roteiro. O desenho é do Felipe Nunes e as cores são da Fabi Marques. Acompanho com atenção o trabalho do Felipe Nunes desde o lançamento de Klaus, pelo qual ele venceu o troféu HQMix na categoria Novo Talento Desenhista. Ano passado, ele publicou por conta própria o excelente Dodô.

Nas últimas semanas, a medida que O Segredo da Floresta começa a ser finalizado, o Nunes começou a adiantar algumas prévias do quadrinho na internet. Minha maior curiosidade no momento é ver um artista conhecido, até agora, principalmente por seu trabalho autoral, produzindo a partir do texto de outras pessoas. Também fico curioso em relação às cores no desenho dele, ainda mais por Klaus e Dodô serem trabalhos belíssimos em preto e branco.

Pedi pro Nunes escrever aqui pro blog sobre a produção de O Segredo da Floresta. Ele me mandou o making-of de uma página, do roteiro à versão finalizada, já com os balões e um teste do texto final. A partir daqui, quem escreve é o quadrinista:

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“O Segredo da Floresta conta a história de dois meio-irmãos, Lucca e Nina, filhos da mesma mãe, que depois de uma situação são obrigados a viajar só com o pai (dele) e alguns amigos pra pescar e acampar. Os dois não se dão muito bem e o acampamento é um jeito de tentar melhorar essa relação, mas aí algumas situações bizarras acontecem nessa floresta.

Tivemos algumas discussões sobre a história pra conseguir captar a essência de cada cena, como quadrinizar isso e tudo mais. Decidimos que o melhor seria escrever uma escaleta com todos os tópicos de acontecimentos da história, sem determinar o número de páginas que ocupariam e com diálogos de intenção, ou seja, apenas demonstrando o que cada personagem falaria em cada cena. Como é minha primeira experiência com roteiro de outra pessoa, acho que isso foi até positivo pra me dar um pouco mais de liberdade na hora de decupar as páginas, de entender o ritmo e acrescentar algo da minha própria bagagem com quadrinhos. O roteiro vinha mais ou menos assim:

14 – Página inteira que apresenta Lucca, no seu quarto, com Dita, arrumando a sua mochila para o passeio. Nota-se o seu computador e decoração de um pequeno nerd.

15 – Página oposta, inteira também, apresentando Nina, no seu quarto, arrumando a sua mochila, visivelmente irritada com o passeio eminente. No quarto dela podemos mostrar alguma referência a música (rock?), alguns troféus (volêi?) e coisas de menina.

Conversando com o Thedy e o Rafa, achamos melhor juntar essas duas cenas em uma páginas só. Depois de algumas ideias, achei legal essa solução onde os quadros são contrapostos nas diagonais da página. Sabia que queria uma visão de cima, mas não fazia a menor ideia de como desenhar isso.

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Depois que eles acharam que a ideia poderia ficar legal, comecei o lápis. Meu processo tem sido bem mais complicado do que já foi, por alguns motivos.

Meu lápis é naturalmente bem sujo, cheio de traços, não costumo apagar SEMPRE que erro e isso acaba virando uma salada bizarra que dificultava muito na hora de passar a arte final, por não saber direito que linha era a certa (hahahha) e pelo sebo que o grafite fazia no papel. Decidi começar a usar um sulfite tosco, normal, pra fazer o lápis. Mas também no formato A3, ao contrário de muita gente que chega a fazer no A4 e depois ampliar.

lapis

Essa é a etapa mais difícil, onde preciso ir atrás das referências pro quarto dela (que por ser rabugenta e meio adolescente pensei em bandas de post-punk de atitude, geralmente com mulheres ou algo do tipo). Pro quarto do Lucca, precisava acomodar Dita, a cadela dele (e ponto central da história) na cama e, depois de pensar sobre o que ele faria na história, sugeri alguns pôsteres de filmões de terror ou aventura.

Enquanto o quarto dele deveria ser mais arrumado, o dela teria de ser uma zona. Enfim. Desse ponto, depois de pronto, escaneio, transformo em CMYK e mantenho apenas o Cyan (aquele azulzinho delícia), pra daí diagramar nas proporções, consertar algo e reforçar os requadros e imprimir num Canson decente, a uns 20-30% de tinta. Nesse ponto ainda consigo fazer pequenas alterações com lápis antes da arte final, caso ache necessário

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A arte final eu faço com um pincel n.0 (podendo alternar com um pincel n.2, que usava pra tudo até esse quadrinho, e uma caneta nanquim 0.8) e nanquim normal (alterno entre o Talens de 50 paus ou aquele Acrilex tosqueira de 3 hahahha Ambos funcionam super bem.

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Depois de escaneada em CMYK, costumo usar o canal do Magenta ou do Amarelo (o que tiver menos resquício daquele fantasminha azul ), transformo em tons de cinza e trato os Levels e aplico um Threshold, pra deixar a imagem apenas em Preto e Branco, sem pontos de cinza. Pro meu desenho isso funciona, porque não trabalho com aguada, mas com um desenho mais blocado no contraste, sem variação tonal.

A partir daí, limpo a página e mando pra Fabi, que está fazendo a cor. Geralmente eu tento passar um direcionamento do que acho que caberia na página, às vezes eu e o Rafa damos alguns palpites do que pode ficar massa mas pra essa em específico ela fez toda por conta e, até agora, ficou a mais legal das que temos prontas.

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Os balões também não tão na minha responsabilidade, então esse quadrinho tem sido pra mim um processo de desapego com o material final.

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Tudo fica mais fácil nessa divisão de etapas e é uma maneira diferente de trabalhar, já que sempre estive acostumado a cuidar de toda a parte gráfica sozinho. A experiência do gibi tem me ajudado muito a entender melhor o que faço, principalmente com os pontos e as sugestões que o Albuquerque levanta em narrativa, enquadramentos. Ele tem uma visão bem diferente de quadrinhos do Fábio Moon e do Gabriel Bá [de quem Nunes é estagiário], por exemplo, e é muito bom ter essa ótica pra acumular possibilidades.

O quadrinho, se Deus quiser, sai em setembro. Cruzem os dedos: tô trabalhando pra isso hahaha”

HQ

Ramona Flowers, via Mondo

Cara, parei com esse negócio de comprar bonequinhos tem um tempo – mas não tenho nada contra ganhar, diga-se de passagem. Ainda assim, tenho ficado bem tentado quando vejo essas estátuas produzidas pelo pessoal da Mondo. Lembra daquela versão matadora pro sketch original do Mike Mignola pro Hellboy? Agora produziram essa Ramona Flowers aqui em cima, com design do próprio Bryan Lee O’Malley. Vão sair duas versões: uma exclusiva da Mondo, por US$55 com o Scott Pilgrim saindo da bolsa dela, e outra mais simples, sem o Scott, por US$50. A peça estará a venda a partir de amanhã no site da Mondo. Demais.

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HQ

Aliens, baladas e um buldogue francês

A cada leitura passo a gostar ainda mais de Bulldogma. É um quadrinho que tá crescendo bastante com o passar dos meses. Apesar de todas as investidas do Wagner Willian em designs de páginas inovadores e tramas paralelas, o aspecto humano do quadrinho e a personalidade da protagonista são os pontos altos da obra. Escrevi sobre o gibi pra edição de junho da Rolling Stone, que chegou semana passada às bancas. Compra lá, cara. Atualizo o post quando o texto der as caras no site da revista.