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Posts por data junho 2022

Entrevistas / HQ

Papo com Julie Doucet, autora de Meu Diário de Nova York: “A alma do meu trabalho está no preto e branco”

Meu Diário de Nova York é uma das minhas melhores leituras no ano e possivelmente o maior acerto da editora Veneta no primeiro semestre de 2022. Primeiro título da canadense Julie Doucet publicado na América do Sul, o álbum chega ao Brasil seis meses após a autora ser homenageada com o Grand Prix da 49ª edição do Festival de Angoulême, mais tradicional festival de histórias em quadrinhos do Ocidente.

A honraria concedida pelos organizadores do evento francês celebra anualmente o conjunto da obra e as contribuições de um artista para a linguagem dos quadrinhos. Ao anunciar a vitória de Doucet, os organizadores do festival exaltaram sua arte “sem concessões, radical e subversiva”.

Entrevistei Doucet e transformei esse papo em matéria exclusiva aqui para o blog. No meu texto eu contei mais sobre a história da autora, a relação dela com o mundo dos quadrinhos e também sobre as origens e a produção de Meu Diário de Nova York. Reproduzo agora a íntegra da minha conversa com a artista. Papo bem massa, saca só:

“Nunca fui uma autora de grandes sucessos”

Quadro de Diário de Nova York, obra de Julie Doucet publicada pela editora Veneta (Divulgação)

As HQs de Meu Diário de Nova York foram publicadas pela primeira vez em 1998. O que significa para você ver esse trabalho sendo republicado ainda hoje, 24 anos depois? Aliás, o que significa para você ver o seu trabalho sendo publicado pela primeira vez no Brasil?

Oh la la os anos passam!! Isso me deixa muito feliz, claro… Foi muito inesperado, uma bela surpresa. Trata-se da minha primeira edição brasileira, e também na América do Sul, isso não é pouca coisa!

A Nova York em que você morou na década de 1990 é muito diferente da Nova York do presente. Existem aspectos desta “velha Nova York” que você sente falta? Há algum aspecto de Nova York que você acha que é melhor hoje em dia do que o seu tempo morando lá?

De fato, a cidade mudou muito desde então… Mas o mesmo pode ser dito de tantas outras grandes cidades atualmente. Gentificação, aluguéis crescentes, pessoas pobres e oprimidas cada vez mais longe dos centros, o mesmo valendo para os artistas… Deste ponto de vista a vida com certeza parecia mais fácil naquela época. Uma vida underground, quando era tudo na base do boca a boca… E ainda havia toda uma aura de mistério…

Você poderia comparar a recepção do seu trabalho no início da Dirty Plotte e atualmente? O mundo parece estar mais aberto a obras independentes, pessoais e antiestablishment como as suas, mas há um conservadorismo crescente e problemas sociais e financeiros que me parecem ser um obstáculo para tudo isso.

Eu nunca fui uma autora de grandes sucessos, o meu sucesso foi de crítica, nunca comercial. O que quero dizer é que nunca chamei atenção da impresa, que talvez não estivesse tão interessada ​​em quadrinhos na época. Quadrinhos são mais bem aceitos como meio artístico hoje, com certeza… Há um conservadorismo crescente, mas há o movimento Me Too, que ainda é muito forte na França. O que posso lhe dizer é que tenho vendido muitos livros recentemente!

“Eu jamais poderia distorcer a realidade”

Página de Diário de Nova York, obra de Julie Doucet publicada pela editora Veneta (Divulgação)

Existe algum aspecto do início da carreira da jovem Julie retratado em Meu Diário de Nova York você sente falta?

Não. Para dizer a verdade, não mudaram muitas coisas no meu estilo de vida. Só que agora bebidas alcoólicas me dão enxaquecas.

Para mim, o que mais se destaca em Meu Diário de Nova York é sua honestidade, a sua sinceridade como autora. Quais você acha que são as principais qualidades de Julie, autora, da época de Meu Diário de Nova York?

Falando especificamente sobre a minha época desenhando Meu Diário de Nova York, eu diria que naquela época eu estava no auge da minha arte, pelo menos em termos gráficos. Em termos narrativos, foi meu trabalho mais ambicioso. Olhando para trás, eu gostaria de ter investido em uma abordagem mais complexa, menos convencional, mas tudo bem. Sobre a sinceridade, sim… Eu jamais poderia distorcer a realidade. Eu omiti muita coisa, mas não por causa de alguém ou qualquer coisa.

Você fez parte de uma geração lendária de quadrinistas – artistas que até aparecem em Meu Diário de Nova York (como Charles Burns, Françoise Mouly, Art Spiegelman e Peter Bagge). Como foi para você fazer parte desse grupo? Aliás, você se sente parte desse grupo?

Em Nova York mais ou menos, não fiquei lá tempo suficiente e morava muito longe, no Uptown, e não havia tantas oportunidades de encontrá-los (e o meu inglês naquele primeiro ano nos Estados Unidos não era dos melhores). Só quando fui morar em Seattle (onde vivem Peter Bagge e Jim Woodring) passei a me sentir parte do grupo. Eu me sentia meio caída de paraquedas no meio desses artistas famosos de Nova York, chegava a ser intimidante.

“Só tínhamos a opção de trabalhar em preto e branco”

Quadro de Diário de Nova York, obra de Julie Doucet publicada pela editora Veneta (Divulgação)

Um elemento muito característico de seu trabalho com quadrinhos é o preto e branco. Imagino que esta não seja apenas uma opção estética, mas também financeira. Enfim, qual é a sua relação com o preto e branco? Como você acha que esse elemento contribui para as suas histórias?

Na verdade, originalmente nós só tínhamos a opção de trabalhar em preto e branco. Mas com a prática, posso dizer que toda a alma do meu trabalho está no preto e branco, sou irresistivelmente atraída por esse contraste da ausência de cores. Eu gosto de sua franqueza, sua dureza… E dos desafios estéticos decorrentes dele.

Como você se sente ao reler livros antigos como Meu Diário de Nova York? Aliás, você tem o hábito de reler suas obras mais antigas?

Não, não muito.

Em Meu Diário de Nova York, você apresenta um pouco da sua rotina de trabalho naquela época. Você pode nos contar um pouco sobre suas técnicas e seus materiais de trabalho quando fez esses quadrinhos? E qual é a sua rotina profissional hoje? Você segue alguma rotina específica?

Naquela época eu costumava usar papel Bristol e tinta indiana Pelikon e caneta bico de pena. Mais recentemente passei a usar uma Rapidograph, que eu usava quando estava começando nos quadrinhos, e desenho em cadernos Leporello. Eu tinha uma rotina quando fazia parte de uma oficina de gravura comunitária (desenhos pela manhã, oficina de tarde), mas não mais atualmente.

“Gosto de quadrinhos que buscam reinventar o formato”

Página de Diário de Nova York, obra de Julie Doucet publicada pela editora Veneta (Divulgação)

O que mais te interessa hoje em termos de quadrinhos, tanto como autora quanto como leitora?

Histórias em quadrinhos criadas por mulheres. Eu gosto quadrinhos/ensaios, quadrinhos mais experimentais, mais desconstruídos, que buscam reinventar o formato.

Qual sua memória mais antiga relacionada aos quadrinhos?

De fazer as comprar longe de casa, em uma cooperativa que parecia um grande galpão. Toda vez que íamos lá a minha mãe me dava um Tintim – havia uma banquinha de histórias em quadrinhos por lá, principalmente de Tintim, se não me engano. Eu obviamente adorava.

Você poderia me dizer o que você mais gostou de ler, assistir e ouvir no momento?

Buru Quartet, de Pramoedya Ananta Toer; Todos os livros da Yoko Tawada; Eveils, de Juliette Mancini (Atrabile); Rave, de Jessica Campbell (D&Q);

Eu amo escutar música eletrônica velha… Daphne Dram, Eliane Radigue, Bernard Parmigiani, Conrad Schnitzler… E também a Laurie Anderson.

Você está trabalhando atualmente em algum projeto específico? Se sim, é algo relacionado a quadrinhos? 

Acabei de publicar um livro pela Drawn & Quarterly que é uma espécie de retorno às história em quadrinhos, um grande painel de 144 Páginas. Mas tem toda uma história, autobiográfica também. Chama Time Zone. Para o futuro, não faço ideia. 

A quadrinista canadense Julie Doucet (Divulgação)
HQ

Casa dividida, por Chris Ware

O quadrinista Chris Ware assina a arte da capa da edição de 4 de julho de 2022 da revista New Yorker. A arte faz referência ao Dia da Independência dos Estados Unidos e chama atenção para a divisão política do país. O autor de Jimmy Corrigan e Rusty Brown batizou seu trabalho de House divided (Casa dividida). Daí que esse seria só mais um post do Vitralizado noticiando um trabalho do Chris Ware, mas a história dessa capa não acaba aí.

A New Yorker divulga suas capas junto com uma entrevista curta com os autores responsáveis pela arte. Na conversa com o Chris Ware ele diz que teve a ideia da ilustração ao lembrar de seu período vivendo em Oak Park, no Illinois, na época das eleições presidenciais entre Barack Obama e John McCain. Uma casa geminada da vizinhança tinha cartazes do candidato democrata de um lado e do republicano no outro. Na mesma entrevista o quadrinista também compartilhou um desenho de seu diário para falar sobre suas observações da árvore em frente ao estúdio dele que ajudaram nessa arte mais recente, ó:

Arte do diário de Chris Ware publicada no site da revista New Yorker

Pouco depois da divulgação da capa do Chris Ware, a ilustradora Julia Rothman, também colaboradora da New Yorker, compartilhou no Instagram um trabalho oferecido por ela para a revista em 2020, com o mesmo conceito e várias semelhanças com a arte de Ware (mas ainda melhor, acho).

Ela escreveu na legenda do post: “Às vezes dois artistas fazem ilustrações muito parecidas e uma é publicada na capa e outra não. E é uma droga quando é você que acaba de fora. (Na primeira foto: meu teste de 2020, segunda foto: a capa do Chris Ware essa semana). Ah puxa”. Você confere o post da Julia Rothman clicando aqui.

O post de Julia Rothman apontando a semelhança entre os trabalhos dela e de Chris Ware

Enfim, também não é que a ideia é das mais originais. Só chama atenção por serem conceitos extremamente parecidos. No Twitter, uma pessoa ainda lembrou do trabalho aqui embaixo, do espanhol Sergio García Sánchez, também colaborador frequente da New Yorker. Sanchéz respondeu ao post contando que a arte foi proposta por ele para a revista em 2021, mas também acabou sendo recusada. Como escreveram no Twitter, poderia ser o interior das casas retratadas por Ware, saca só:

A arte proposta por Sergio García Sánchez para a New Yorker em 2021

HQ / Matérias

Julie Doucet fala sobre Meu Diário de Nova York: “Me sentia caída de paraquedas no meio desses artistas famosos de Nova York”

A quadrinista canadense Julie Doucet evita computador e celular, possíveis gatilhos para seus ataques epilépticos. Ao topar ser entrevistada por mim, tendo em vista a edição brasileira de Meu Diário de Nova York (Veneta), ela pediu que as perguntas fossem enviadas aos assessores da editora canadense Drawn & Quarterly. O meu email foi impresso e entregue a ela, para ser respondido à mão. As respostas foram posteriormente escaneadas e enviadas de volta para mim.

Doucet vive praticamente offline, distante da comoção virtual recente com a descoberta de seu nome por novas gerações.

No último mês de janeiro ela foi premiada com o Grand Prix da 49ª edição do Festival de Angoulême, mais tradicional festival de histórias em quadrinhos do Ocidente. A honraria celebra anualmente o conjunto da obra e as contribuições de um artista para a linguagem dos quadrinhos. Ao anunciar a vitória da autora canadense, os organizadores do festival exaltaram sua arte “sem concessões, radical e subversiva”. Agora, com Meu Diário de Nova York, traduzido por Cris Siqueira, ela ganha sua primeira edição na América da Sul. 

Página de Diário de Nova York, obra de Julie Doucet publicada pela editora Veneta (Divulgação)

As 144 páginas em preto e branco do álbum retratam as vivências de Doucet, durante o período de pouco mais de um ano que ela viveu em Nova York, entre 1991 e 1992. O livro reúne histórias originalmente impressas entre 1995 e 1998 na revista autoral e independente Dirty Plotte. A obra começa um pouco antes da mudança da artista para os Estados Unidos, em 1983, com ela ainda em Montreal, aos 17 anos, em seu primeiro ano na universidade.

O álbum abre com um relato de Doucet sobre sua primeira experiência sexual, depois parte para uma sequência sobre suas frustrações universitárias e amorosas no início da vida adulta. Então ocorre um salto temporal mostrando a ida para Nova York, quando ela já era um nome em ascensão na cena underground de quadrinhos da América do Norte. Grande parte do livro é centrada na vida de sexo e drogas da artista enquanto ela conciliava sua rotina profissional com seus ataques epilépticos e as demandas de um namoro tóxico.

“Para dizer a verdade, não mudaram muitas coisas no meu estilo de vida. Só que agora bebidas alcoólicas me dão enxaquecas”, me diz Doucet sobre os contrastes entre sua rotina frenética em Nova York no início dos anos 1990 e a vida que leva atualmente em Montreal, onde mora.

Sucesso de crítica

Quadro de Diário de Nova York, obra de Julie Doucet publicada pela editora Veneta (Divulgação)

Meu Diário de Nova York mostra um pouco da formação de Doucet. Nascida em Montreal, ela estudou em uma escola católica frequentada apenas por meninas. No curso de Belas Artes ela se vê em meio a “todos os rejeitados, todas as almas perdidas e sem esperança da faculdade”, como escreve ela no livro. O ambiente underground cercado por homens e as reflexões autodepreciativas e bem-humoradas seguiram com ela a partir daí, sempre retratados nos zines e nas publicações independentes que fizeram sua fama. 

“Oh la la, os anos passam! Isso me deixa muito feliz, claro…”, responde Doucet quando pergunto sobre a atenção recente à sua obra, a edição reunindo seus trabalhos sobre Nova York e sua primeira publicação em português. “Foi muito inesperado, uma bela surpresa. Trata-se da minha primeira edição brasileira, e também na América do Sul, isso não é pouca coisa!”

Hoje aos 56 anos, Doucet vem retomando aos poucos seus trabalhos com quadrinhos. Ela passou os últimos anos mais focada em trabalhos de poesia, colagens e artes plásticas. No fim do ano passado ela publicou Time Zone (inédito em português), HQ também autobiográfica sobre a ida dela para a França no fim dos anos 1980 para encontrar pessoalmente o namorado soldado que só conhecia por cartas.

Ela assume o contraste entre a recepção atual de seu trabalho e aquela entre os anos 1980 e início dos 2000: “Nunca fui uma autora de grandes sucessos. O meu sucesso foi de crítica, nunca comercial. O que quero dizer é que nunca chamei atenção da imprensa, que talvez não estivesse tão interessada ​​em quadrinhos na época. Quadrinhos são mais bem aceitos como meio artístico hoje, com certeza.”

Aluguéis crescentes

Página de Diário de Nova York, obra de Julie Doucet publicada pela editora Veneta (Divulgação)

Meu Diário de Nova York apresenta os principais elementos que fizeram a fama de Doucet. São histórias extremamente pessoais, relatos íntimos, às vezes escatológicos, com personagens com feições caricatas em contraste com cenários um pouco mais realistas, além do já citado preto e branco. Preto e branco, aliás, que surgiu como uma imposição do alto custo de imprimir colorido, mas acabou caracterizando o trabalho.

“Nós só tínhamos a opção de trabalhar em preto e branco”, diz ela. “Mas com a prática, posso dizer que toda a alma do meu trabalho está no preto e branco, sou irresistivelmente atraída por esse contraste da ausência de cores. Eu gosto de sua franqueza, sua dureza… E dos desafios estéticos decorrentes dele”.

Sobre a trama, entre uma e outra crise epiléptica e briga com o namorado, ela vai conseguindo trabalhos em publicações importantes na época, como Village Voice e New York Press. Em uma página ela retrata uma festinha com a presença de lendas como Art Spiegelman (autor de Maus) e Françoise Mouly (editora de arte da New Yorker), na época editores da lendária revista Raw, e é celebrada por contemporâneos como Charles Burns e Glenn Head.

Página de Diário de Nova York, obra de Julie Doucet publicada pela editora Veneta (Divulgação)

“Eu me sentia meio caída de paraquedas no meio desses artistas famosos de Nova York, chegava a ser intimidante”, conta Doucet sobre suas breves interações com colegas de profissão mais badalados durante o período retratado no livro. “Não fiquei lá tempo suficiente e morava muito longe, no Uptown [região de Nova York que vai do Harlem ao sul do Central Park], e não havia tantas oportunidades de encontrá-los (e o meu inglês naquele primeiro ano nos Estados Unidos não era dos melhores)”.

O álbum explicita esse isolamento de Doucet durante o período em Nova York. Ela diz só ter se sentido parte de um grupo quando se mudou para Seattle – outro pólo de quadrinhos dos Estados Unidos e na época residência de quadrinistas como Peter Bagge e Jim Woodring, amigos da autora. Também fica explícita a ausência de qualquer memória romântica da autora em sua época em Nova York – e ela crê que a cidade só piorou desde então.

“A cidade mudou muito… Mas o mesmo pode ser dito de tantas outras grandes cidades atualmente. Gentrificação, aluguéis crescentes, pessoas pobres e oprimidas cada vez mais longe dos centros, o mesmo valendo para os artistas… Deste ponto de vista a vida com certeza parecia mais fácil naquela época”, reflete ela.

O que ela guarda de melhor desse período retratado em Meu Diário de Nova York é o próprio trabalho dela: “Eu diria que naquela época eu estava no auge da minha arte, pelo menos em termos gráficos. Em termos narrativos, foi meu trabalho mais ambicioso. Olhando para trás, eu gostaria de ter investido em uma abordagem mais complexa, menos convencional, mas tudo bem”.

A capa de Diário de Nova York, obra de Julie Doucet publicada pela editora Veneta (Divulgação)
HQ

Chris Ware no Centre Pompidou

Compartilho aqui em cima o cartaz assinado pelo quadrinista Chris Ware para a exposição dedicada à obra dele na Bibliothèque publique d’information, no Centre Pompidou, em Paris. Organizada em parceria com o Festival International de la Bande Dessinée d’Angoulême, a mostra fica em cartaz entre 8 de junho e 10 de outubro.

Na página do evento, os organizadores dizem que a exposição foi concebida em parceria com o artista, apresentando uma retrospectiva de toda carreira do autor de Jimmy Corrigan, Building Stories e Rusty Brown. Compartilho mais abaixo o vídeo de divulgação da exposição.

Aproveito a deixa para compartilhar por aqui os links da minha entrevista com Ware na época do lançamento de Rusty Brow (papo que também virou matéria para o jornal Folha de S.Paulo) e também do vasto arquivo do Vitralizado dedicado à obra do autor. A seguir, o vídeo de divulgação da exposição de Chris Ware no Centre Pompidou:

Cinema / HQ / Séries

Vitralizado #116: 05.2022

Meu plano era deixar o Vitralizado parado ao longo de maio, enquanto curtia minhas primeiras férias em um bom tempo. Aí resolvi bater um papo com o Gabriel Dantas para falar sobre Pato Gigante, série publicada por ele no Instagram e reunida em um único livro pela Ugra Press. Leu a minha conversa com ele? Papo massa. Encerraria o sumário do mês por aqui, mas aproveito o espaço para um registro.

Em novembro de 2019 fui chamado pela organização da Comic Con Experience (CCXP) para mediar uma conversa com uma das convidadas da convenção. Recusei após ser informado que eu não seria remunerado – a justificativa foi: “gastamos tudo para conseguir trazer os convidados”. Escrevi por aqui na época e repito: desculpa amadora e inaceitável.

Recentemente, fui convidado para compor o Comitê de Especialistas do primeiro CCXP Awards – premiação que será realizada na próxima edição da convenção, em dezembro de 2022. Perguntei sobre remuneração e o retorno que tive foi: “Vamos dar um(1) ingresso da spoiler night para quem votar em no mínimo 6 subcategorias”. Seguem sem entender nada – ou não querendo entender.

Matéria do site da revista Veja de 2018 diz que o impacto econômico da edição daquele ano da CCXP estava estimado em mais de 100 milhões de reais. Disney, Netflix, Globo, Riachuelo, Hasbro, Cinemark, HBO, Sky, YouTube e outros pagam caro para participar do evento e ganham dinheiro com ele. Em sua mais recente edição, digital em decorrência da pandemia, o evento teve mais de cinco milhões de espectadores.

Não me importo em mediar de graça eventos envolvendo artistas e publicações independentes. Faço mediações do tipo constantemente e continuarei a fazer sempre que estiver com a agenda livre, o local seja de fácil acesso e as obras a serem debatidas sejam do meu interesse. No entanto, considero ofensivos convites do tipo partindo de eventos com suporte – seja público ou privado – que não envolvam nenhum tipo de remuneração.

Repito o que escrevi em 2019: o mercado brasileiro de histórias em quadrinhos jamais será profissionalizado enquanto profissionais contratados para eventos do tipo não forem devidamente remunerados.

Também repito: a infantilização crescente nas discussões sobre histórias em quadrinhos no Brasil passa pelo uso de mão de obra não gabaritada e pelo escanteio de profissionais com formação, estudo e currículo para tratar desses temas em mesas, debates e bate-papos – e premiações. Sem massa crítica, resta apenas massa de manobra, colecionismo, ostentação e consumismo.

Sigo no aguardo dos próximos convites.

(na imagem que abre o texto, arte do Basil Wolverton tirada lá do sensacional The Bristol Board)

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