Faltam três episódios para o fim de Mad Men. Tenho assistido essa última temporada da série com celular, email e facebook desligados e a porta do quarto fechada. Não quero distrações. É o final de uma das obras-primas da televisão mundial e merece ser assistido com atenção plena. O seriado não é como Lost, Sopranos ou True Detective que instigaram os espectadores a criar teorias sobre seus encerramentos. Apesar de tão envolvente quanta essas que citei, Mad Men é muito mais contemplativa. Ainda assim, tenho pensado bastante sobre os prováveis destinos de Don Draper e seus colegas da Sterling Cooper. Se você ainda não viu os episódios mais recentes, pare por aqui, combinado? Vou soltar uns spoilers.
Não é nenhum conceito muito mirabolante. O futuro da maioria dos personagens principais parece estar claro. Os sócios da agência estão cheios da grana, agora incorporados pela McCann Erickson, nem precisam mais trabalhar. Roger Sterling quer apenas curtir a vida e terá esse luxo. Ted Chaough não parece ter muitas pretensões e está feliz com o acordo. Pete Campbell está tentado a voltar à sua antiga vida no subúrbio, com a Trudy. Sinto pena da Joan: recentemente ela disse ter chegado na posição que sempre sonhou, mas notou que não terá o mesmo cargo na casa nova. Acredito que ela vai acabar optando por uma vida com o milionário que conheceu na Califórnia.
Prevejo muita felicidade para aqueles que saíram da vida de Don. Betty está satisfeita com o atual marido e Megan fará sucesso como atriz em algum momento, mas talvez isso nem seja mostrado. Em sua última aparição até agora, a Sally deixou claro que pretende ser o mais diferente possível de seus pais, ótimo pra ela. Talvez a melhor personagem da série, Peggy tem exposto suas fragilidades e demônios mais do que nunca. Sei que Mad Men não é disso, mas gosto de pensar nela acabando junto com Stan. Os dois têm uma cabeça parecida e parecem compreender mais do que ninguém a vacuidade e falta de esperança do universo em que trabalham. Talvez até decidam largar suas profissões e criar algo próprio e realmente criativo. Talvez eles tenham o final sonhado pelo casal de Revolutionary Road.
Enfim, resta Don. Lá em 2011 o Matthew Weiner disse que pretendia encerrar a série nos dias de hoje, com seu protagonista velho. Isso descarta algumas interpretações que já li por aí dizendo que o Don parece estar caminhando para o suicídio. Entendo essa leitura: ele não tem mais família, não é casado, a filha não gosta dele e agora perdeu a própria empresa, está sem nada, mesmo cheio de grana. Começo a imaginar um suicídio metafórico. Talvez a identidade Don Draper seja abandonada. Entende o que estou falando? Lembra que Don já fez isso antes? Aliás, Dick Whitman fez isso: assumiu a identidade de Don após ele morrer na Guerra da Coréia. Não que Don vá voltar a viver como Dick, pois no final das contas foi ele que morreu na Ásia. Mas talvez ele escolha um outro nome, qualquer um, e adote um estilo de vida mais semelhante ao de Richard Whitman.
Tá difícil entender a presença da garçonete Diana Bower nesses últimos capítulos. Pra mim, ela tá ali pra fazer uma ponte de Don com seu passado. Agora que ele tá no auge, tem o que sempre sonhou profissionalmente, nunca esteve tão inclinado a abandonar isso tudo. Lembra da abertura da série? É um cara em queda, coisa que o Don tá desde o começo do programa. Talvez tenha chegado a hora de dar adeus a esse mundo da Madison Avenue. Aí, no final, nos dias de hoje, veremos alguém velho e solitário que um dia já foi Don Draper.