Papo com Jeffrey Brown – Volume 2

Os trabalhos de Jeffrey Brown que mais gosto são os títulos autobiográficos do começo de sua carreira. Clumsy, Unlikely e Any Easy Intimacy Over Us são extremamente sinceros e impiedosos com seu protagonista – no caso, o próprio autor. Publicados entre 2002 e 2005, os livros mostram Brown no final das adolescência lidando com um namoro a distância, descobrindo o sexo e vivendo pela primeira vez em uma relação madura. Também gosto muito de A Matter of Life. Acredito que esse quadrinho lançado em 2012 é o mais maduro do artista, mostrando a relação com seu pai e seu filho. Difícil imaginar que a pessoa responsável pelas cores belíssimas dessa HQ é a mesma que fazia os gibis sujos e em preto e branco do começo dos anos 2000.

Preferiria que o primeiro contato do público brasileiro com o trabalho de Brown fosse com um desses trabalhos. De qualquer forma, fico feliz que ele esteja finalmente sendo publicado por aqui. Seus livros com os personagens de Star Wars são um tremendo blockbuster e também dizem bastante sobre a vida pessoal e o estilo do autor. Havia conversado com o quadrinista no início do ano passado para uma matéria do Estadão e também no final de 2014, para uma seção extinta do blog. Voltei a entrar em contato quando soube que ele finalmente seria lançado no Brasil. Essa nossa segunda conversa virou matéria no Uol. Segue a íntegra do nosso papo:

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Você se lembra da primeira vez que assistiu Star Wars?

Star Wars faz parte da minha vida desde as minhas primeiras memórias. Minha primeira lembrança na vida é assistir Uma Nova Esperança no cinema e fazer o meu pai levantar para me levar ao banheiro. Eu tinha apenas dois anos, então essa memória pode ter sido criada pelas histórias que meus pais me contaram. Meus irmãos e eu ganhávamos bonequinhos de Star Wars todo Natal, nós também colecionávamos alguns cards e líamos os livros. Nossa babá também era uma grande fã, lembro que ela nos levou pra assistir O Império Contra-Ataca no cinema.

Quando conversamos pela primeira vez, você tinha lançado apenas três livros de Star Wars. Agora já são oito e eles estão sendo traduzidos pro português. Quando você fazia Darth Vader & Son, em algum momento imaginou que poderia chegar a esse ponto?

Nunca poderia esperar por isso e tem sido espetacular. Eu já teria ficado feliz de desenhar apenas o primeiro livro! Imaginei que poderia ter um interesse pela primeira continuação, mas quando me pediram para desenhar e escrever a série Jedi Academiy, pude perceber que era algo que eu poderia criar ainda mais e teria um público. Me sinto muito agradecido pelos fãs terem respondido de forma tão positiva.

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Star Wars é também conhecido por sua enorme e intensa quantidade de fãs, a história e os personagens são bastante universais. Você teve algum retorno de leitores de fora dos Estados Unidos?

Uma das melhores coisas de Star Wars é a vastidão de seus fãs. São tantas pessoas incríveis do mundo inteiro e é maravilhoso que elas estejam lendo meus livros – e não apenas os livros em inglês, agora que eles estão sendo traduzidos em outras línguas.

Esse é seu primeiro livro traduzido para o português, certo? Como é pra você, originalmente um quadrinista indie, ver seu trabalho chegar em outro país?

É meu primeiro livro em português. Por um lado, é estranho pensar no trabalho imenso que é fazer novas edições para outros países, mas ao mesmo tempo, enquanto estou só desenhando, acaba sendo a mesma coisa de sempre. É apenas divertido fazer quadrinhos e fazer os livros de Star Wars.

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E como funciona a dinâmica do seu trabalho com os donos dos direitos de Star Wars? É muito diferente do seu método de produção com quadrinhos mais autorais?

É muito diferente o trabalho com os livros de Star Wars, mas pra mim tem sido muito tranquilo e produtivo. Tenho editores na Lucasfilm que trabalham em cada um dos livros e, no geral, eles têm deixado eu apresentar as minhas ideias e depois me dão algum retorno. De qualquer forma, eles são muito bons e esses retornos têm sido sempre úteis – sejam sugestões para quando empaco em alguma ideia ou coisas pequenas que eles notam e tornam os livros melhores. Eles não forçam a barra para que eu faça as coisas de uma determinada maneira ou impõem regras que devem ser seguidas. Acho que funciona muito bem assim porque, ao tentar me manter fiel ao espírito de Star Wars, meu amor por esse universo acaba se manifestando.

E na primeira vez que conversamos você me falou que seus livros dessa série eram extremamente autobiográficos. Desde então, sua experiência com a série e como pai acabaram crescendo, algo mudou nessa relação com os livros? Eles ainda são basicamente inspirados na sua relação com seus filhos?

Eu reproduzi muito das minhas inspirações como pai que tinha em mente nos dois primeiros livros. No livro mais recente, Darth Vader and Friends, eu pude mostrar outras relações e explorar outras dinâmicas de ser pai, como a interação com os pais dos amigos dos filhos. Então ainda retrata as minhas experiências como pai, mas também momentos que passei com amigos enquanto crescia. Todos os meus livros ainda são criados a partir dos meus sentimentos e das minhas memórias.

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Você já tem algum próximo projeto em vista? Um próximo livro de Star Wars ou algum projeto mais biográfico?

No momento não tenho nenhum livro longo planejado para a série Star Wars, estou trabalhando em uma série para crianças chamada Lucy & Andy Neanderthal, que tem sido uma ótima mudança de ares. Tenho algumas ideias para livros autobiográficos – incluindo um livro sobre os meus processos como artista, para o qual já tenho reunido ideias, mas que ainda demora uns dois anos até ser lançado.

Sou um grande fã dos seus livros de Star Wars e também do seu trabalho autobiográfico, mas imagino que eles fazem parte de mundos extremos no que diz respieto até a vendas. Como é para você fazer parte de realidades tão extremas?

Eu gosto bastante de poder ir e voltar dentro de uma vasta variedade de temas e estilos, de Star Wars para super-heróis da vida real, do humor para histórias mais sérias ou menos cômicas. Depois da minha série com o Neanderthal eu também tenho planos para um livro ilustrado sobre dinossauros e uma série de ficção científica.

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E é muito diferente para você trabalhar nos livros de Star Wars e nos seus quadrinhos mais pessoais?

Os livros de Star Wars – e outros mais cômicos, dentro desse estilo de paródia – tendem a ser mais práticos e menos planejados em termos de detalhes, então há muito espaço para explorar ideias e mudar as coisas até eu chegar na arte final. Com os quadrinhos mais autobiográficos eu geralmente tenho ideias mais específicas em relação ao sentimento que quero dar à história e ao resultado final delas. Ainda assim, seja com qual trabalho for, quero me divertir fazendo e quero que elas partam de uma experiência muito pessoal.

Estamos a menos de seis meses do lançamento de O Despertar da Força. Você está empolgado com o filme? O que você acha dos trailers e teasers lançados até agora?

Estou muito empolgado – tenho de admitir que os trailers me deixaram arrepiado, apesar de eu ter preferido evitar qualquer spoiler ou descobrir alguma coisa antes da hora. Estou ansioso para ver o filme como um fã, sem ter a preocupação de pensar como vou incorporar partes dele em um novo livro!

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Ramon Vitral

Meu nome é Ramon Vitral, sou jornalista e nasci em Juiz de Fora (MG). Edito o Vitralizado desde 2012 e sou autor do livro Vitralizado - HQs e o Mundo, publicado pela editora MMarte.

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