Papo com Pedro Franz, autor de Incidente em Tunguska: “Me interessa criar espaços de trânsito, pensar no funcionamento dos quadrinhos em outros cenários”

O projeto de mestrado do quadrinista Pedro Franz na Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) resultou em uma dissertação, uma exposição e uma história em quadrinhos. Definitivamente uma das grandes HQs brasileiras do ano passado, Incidente em Tunguska tem como principal fonte de inspiração a misteriosa explosão de um meteoro ocorrida na Sibéria no ano de 1908 e até hoje não esclarecida plenamente. As páginas do quadrinho foram posteriormente expostas em uma galeria de Florianópolis e a relação entre a obra original e a exposição à qual ela deu origem serviram de base para para a pesquisa de Franz. A HQ está disponível de graça na internet e também pode ser encomendada no site do artista, apenas com o custo de envio.

Conversei com o quadrinista via Skype no início de março e ele me falou sobre as origens do trabalho, suas inspirações e as várias reflexões decorrentes de sua pesquisa. “Me interessa criar espaços de trânsito, pensar no funcionamento dos quadrinhos em outros cenários”, diz Franz.

Em preto e branco e disponível na íntegra na internet, Incidente em Tunguska parte do ocorrido na Sibéria para tratar de várias narrativas sobre relacionamentos e diferentes tipos de interações e choques entre seres vivos. Seu desenvolvimento foi contemporâneo de outra pérola produzida por Franz e publicada parcialmente na Nébula em 2015, a série Cão Cego, Rei Monstro. Foco inicial do mestrado do quadrinista, Cão Cego acabou ganhando outros formatos e objetivos, devendo ser lançada em uma versão impressa em um futuro próximo.

Ao longo de quase duas horas de entrevista com Franz, também conversamos sobre as suas percepções em relação às possibilidades da linguagem dos quadrinhos, seus próximos projetos, suas opiniões sobre a presença cada vez mais constante das HQs no ambiente acadêmico e também sobre a realidade política brasileira. Ó que massa:

“Tenho uma dúvida muito forte hoje em dia: qual é o posicionamento do artista, inclusive do quadrinista, se for possível atuarmos num campo mais amplo, além da página?”

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Como surgiu o Incidente em Tunguska?

O Incidente eu fiz como parte do meu projeto de mestrado em artes visuais na Udesc. Quando iniciei o mestrado, o projeto que queria fazer envolvia política, o que depois virou o Cão Cego, Rei Monstro, que acabou publicada na Nébula. Por mais que no começo tivesse essa questão política, o que me interessava era pensar as aproximações entre as artes visuais e as histórias em quadrinhos. Pensar o quadrinho como meio na arte contemporânea e pensar tanto a história em quadrinhos como arte contemporânea e a arte contemporânea como história em quadrinho. Criar um espaço de trânsito para essa conversa. Quando ainda estava pensando e pesquisando como realizar esse trabalho, comecei a fazer o Incidente em Tunguska envolvido em todas essas questões. Fiz quatro páginas e propus pra um jornal daqui, o Diário Catarinense. Conhecia um editor e ele me pediu um texto, aí falei que tinha essa HQ , conversamos e tivemos a ideia de publicar semanalmente no caderno de cultura, aos sábados. Já tinha as quatro primeiras partes e ia continuar semanalmente. Quando saiu a segunda, que tem uma referência sexual, alguns leitores reclamaram. Então me perguntaram se teria mais alguma coisa nas próximas, eu imaginei que teria, acabou até não tendo, mas a gente conversou e eles pediram pra eu tentar evitar. Conversamos e debatemos um pouco mais e eu queria um espaço de liberdade, pra fazer a HQ que eu queria, e acabou que encerramos a publicação. Saíram só as três primeiras páginas.

A partir disso comecei a pensar muito nessa obra, no fato dela ser publicada e ter sido, de certa forma, cortada. Por mais que ali não fosse a questão presente, percebi que todas as questões que estava pensando no mestrado eu estava fazendo nesse trabalho. Então ele acabou se transformando no meu objeto de pesquisa, levei adiante a partir disso e passei a publicar na internet. Reuni primeiro em dois volumes com tiragens pequenas, quase como zines. Enquanto eu ia fazendo essa pesquisa, depois falo melhor dela, eu queria pensar a história em quadrinhos além da página. Eu pegava diversos trabalhos de artistas que não necessariamente a gente pode dizer que são uma história em quadrinho, mas que são muito próximo dos quadrinhos, eu olhava junto aos quadrinhos. Alguns desses trabalhos envolviam espaços expositivos, saiam da publicação impressa e iam pra espaços físicos. A ideia era justamente pensar isso, como pode ser uma exposição de uma história em quadrinho? Como uma história em quadrinhos pode funcionar em outros espaços? Então isso surgiu nessa pesquisa, e tornou-se importante ser tanto teórica quanto prática. Ter uma exposição foi uma das partes da pesquisa.

Pensando nesse lado acadêmico: formalismo e formatações estão intrínsecos a essa realidade da academia. O Incidente é muito experimental, como foi pra você conciliar esse experimentalismo com a formatação do mundo acadêmico? Até onde você podia ir? O que você podia fazer? 

Sim. Existem universidades com propostas muito diferentes. Pra minha orientadora era importante pensar nesses outros aspectos, ela incentivou a ter uma exposição. Me interessa muito a ideia da publicação impressa ser pensada como um espaço expositivo. Há livros de artistas e eu pensei em fazer quadrinho de artista. A própria dissertação eu diagramei de um jeito que o resumo dela tá na capa, isso surgiu de uma ideia que veio na qualificação, uma espécie de primeira apresentação do trabalho. Eu coloquei a HQ no final: você lia o trabalho e no final estava a HQ. Aí sugeriram que eu abrisse com a HQ, você leria o quadrinho e depois veria a pesquisa. Isso foi muito bacana, de passar o resumo, uma formalização acadêmica, pra capa, como se fosse o texto de abertura de uma exposição. Você sabe do que se trata e pode escolher entre ler a HQ ou passar direto pro trabalho dissertativo. E dentro do Centro de Artes da Udesc tem alguns professores com interesse em pensar a publicação, em como que uma pesquisa do artista é parte da prática do artista. Há todas essas formalizações da ABNT e é preciso seguir um formato, mas discutimos muito isso lá dentro, até como a própria biblioteca vai catalogar isso, né? É um problema mesmo: você está num formato diferente e eles precisam encontrar uma solução, como catalogar. É uma conversa que ainda existe e que as pessoas continuam discutindo. Eu contei com pessoas na banca que entenderam o trabalho e foram muito generosas em relação a todas as relações de formatos diferentes. A minha defesa aconteceu no espaço da exposição. Foi numa sala de um centro cultural e eu consegui uma sala ao lado, as pessoas entravam, viam a exposição depois de já terem recebido a história em quadrinhos em casa, e fiz a defesa ao lado. Queria que a banca pudesse ver a exposição, ler a história em quadrinhos e acompanhar as as três partes, finalizando com a dissertativa.

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Fico curioso pra saber não apenas a sua conclusão no trabalho, mas tudo que você pensou em relação à possibilidade do quadrinho – como exposição, de estar além do papel, de ocupar espaços diferentes,… Pensamos muito no convencional, na versão impressa. O quanto isso tudo mexeu com a sua cabeça em relação às possibilidade de fazer quadrinho?

Pra mim foi muito interessante. Quando eu estava começando essa pesquisa, na verdade quando eu estava escrevendo o projeto que ia mandar pra um possível mestrado, fui na palestra do Philippe Dubois, que é um pesquisador francês que pesquisa o cinema de exposição – o cinema que se insere em espaços expositivos, nos museus, que sai da sala de cinema ou então a própria sala de cinema vai pro espaço expositivo. Ele foi muito bacana de encontrar e a forma como ele fazia essa conversa foi um dos eixos que usei. Ele pensa os eixos do cinema como um dispositivo. A gente costuma a pensar o cinema muito a partir dos filmes, a partir dos cortes, a partir do que vemos na tela. Então ele fala de um “efeito cinema” – aliás, toda uma corrente diz isso – a partir de seu dispositivo, pelo efeito que provoca na sala de cinema. Ou seja, a existência de uma sala escura, a posição do espectador e uma tela grande iluminada onde passam filmes. Você tem esses elementos e ele entende o cinema como uma instituição, como “o mundo do cinema” – que tem o crítico, o Oscar, premiações e outras elementos. Foi muito importante para mim entender que existe uma “instituição de quadrinho”. Podem existir trabalhos com o dispositivo da história em quadrinhos que não sejam feitos dentro da instituição da história em quadrinho. Eu parto muito do Philippe Dubois, relacionando muito com outros pesquisadores de quadrinhos, pessoas que já tinham pensado essas relações, para fazer esses paralelos. Não me interessa dizer “isso é uma história em quadrinho”, é muito de olhar uma pintura e pensar o que isso tem de quadrinho e como pode ser colocado ao lado dos quadrinhos.

Tem uma questão que é libertadora e também confusa pra mim, que parte inclusive de como a gente se define, né? Eu me defino como quadrinista. Hoje quando me perguntam o que eu sou, é o que respondo. É um posicionamento. Nem sempre as pessoas entendem o que é isso, mas eu digo que faço quadrinhos. Mas hoje eu tenho um pouco de dúvida. Posso fazer outros trabalhos. No meio da produção do Incidente em Tunguska eu participei de uma exposição e não expus os meus quadrinhos, fiz uma curadoria de quadrinhos e expus a minha dissertação na parede e eu estive nessa galeria, durante 10 dias, escrevendo minha dissertação e conversando com as pessoas, apresentando trabalhos que eu estava pesquisando e falava da minha pesquisa. Até que ponto isso é uma prática de um quadrinista? Vários meios e disciplinas artísticas já passaram por esse questionamento. Tento entender esses caminhos que alguns artistas passaram e puderam abrir suas práticas artísticas para outros meios e disciplinas. Inclusive, eu encerro minha dissertação falando de arte relacional, de práticas interdisciplinares. Por mais que eu tenha feito um trabalho que tenha uma autonomia como obra, existem também outras coisas, o envolvimento dessa HQ com uma comunidade, uma questão política,…enfim, a prática também envolve essas questões.

Então, hoje em dia, quando me perguntam o que eu sou, se eu sou um quadrinista, me interessa dizer que sou um quadrinista, mas não sei se isso não é me limitar um pouco. Existem outras práticas de…a gente desenha, escreve, publica,…o quadrinista é um pouco editor também, um pouco camelô, pois vendemos o nosso próprio trabalho. Me interessam muito esses espaços de trânsito, como eles podem funcionar.

É interessante em relação ao Incidente em Tunguska em relação a uma questão que tinha muitas dúvidas. Por exemplo, eu falo do Fernando Lindote, que é um artista que fez publicações de quadrinhos, muito claramente você abre e é um gibi mesmo. Por que esses gibis não circularam dentro do mundo das histórias em quadrinhos? Me interessa muito criar esses espaços de trânsito. Como que a gente pode reconhecer essas práticas? Não sei se posso dizer que o Lindote é um quadrinista, mas sei que posso dizer que o que ele fez é algo que você pode dizer que é um quadrinho. Então me atraem muito esses espaços de trânsito e como criar esses espaços, o que talvez seja o mais difícil. Vai muito de encontrar uma fala que seja pertinente aos dois espaços. Uma fala, um trabalho, uma forma de conversa, uma forma de presença e acho que nas cenas de publicação de artistas tem acontecido naturalmente. É um dos espaços que nos últimos anos foi mais interessante de ver como quadrinistas: artistas que trabalham com publicações, escritores, designers e todo mundo meio junto vendendo seu trabalho e nem sempre interessa se uma coisa é quadrinho ou não, se é um livro ilustrado, o que já deixou de ser. Enfim, essa linha ténue em que ele fica.

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Determinar o que uma coisa pode ser extremamente limitante, mas quando te perguntam o que é o Incidente, o que você responde?

O Incidente é uma história em quadrinho, eu chamo ele de história em quadrinho, e a gente vai se perguntar o que é uma história em quadrinho. Já essa pergunta eu não sei responder (risos) O que eu proponho, junto com o Philippe Dubois é que o quadrinho é tanto uma relação com o leitor, quanto essa instituição história em quadrinho, quanto um tipo de publicação, quanto um dispositivo muito específico que a gente pode chamar de linguagem dos quadrinhos. Acho que em muitas páginas do Incidente, se você olhar apenas uma página, a linguagem dos quadirnhos não tá presente, seria só um desenho. Outra página você vai dizer que é um texto escrito a mão. Olhando só aquela página talvez você não pense como uma história em quadrinho, mas isso, obviamente, foge de uma estrutura, de uma normatização que existe em algumas histórias em quadrinhos – tanto pelo uso de material, quanto pelo formato da página, a ausência de balão e figuras humanas,… Mas se olharmos bem, isso acontece dentro de várias histórias em quadrinhos, você pega várias páginas que são só texto, ou outras que são splash pages que são só desenhos. Claro, com um estilo de desenho muito mais tradicional que reconhecemos como história em quadrinho. Reconhecer algo como história em quadrinhos na hora de falar de relação de HQs com artes visuais foi bem importante no sentido de entender o motivo das pessoas, por exemplo, sempre pensarem no Roy Lichtenstein quando falamos dessa aproximação. Você olha o trabalho dele e pensa em quadrinhos.

Também pensando com o Phillipe Dubois: ele fala que o cinema pode se inserir nas artes visuais a partir de uma apropriação de imagens ou migração de dispositivos. Os dispositivos seriam o que tô falando em relação à publicação da história em quadrinhos transitar para a instituição das artes visuais, seja na galeria ou para uma feira de publicações de artistas. Você vai para um espaço que normalmente não tem tantas histórias em quadrinhos e tem uma lá. Existe uma apropriação em que esses trabalhos deixam de ser histórias em quadrinhos, mas você o reconhece dessa forma, seja por usarem personagens, um estilo de traço ou um balão. Você olha uma pintura isolada que tem um balão com texto e isso é quadrinho por algum motivo. Então tentar pensar essas diferenças me interessava muito.

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Dentro do que você se propôs a fazer lá no começo do seu trabalho, você fica satisfeito com o resultado final e com as suas conclusões?

É difícil responder (risos) O Promessas de Amor A Desconhecidos Enquanto Aguardo o Fim do Mundo foi o meu primeiro trabalho grande em quadrinhos. Já tinha publicado outras coisas, mas foi minha primeira HQ mesmo, lancei entre 2010 e 2012. Publiquei em três volumes, os três com propostas gráficas bem diferentes, o primeiro bem mais tradicional, o segundo é um envelope com páginas soltas, de um lado com texto e do outro imagem. Eu proponho que o leitor possa embaralhar e encontre outras leituras. Isso dialoga com o conteúdo do trabalho, sobre uma grande manifestação que acontece, então tá sempre presente uma ideia de ordem e caos. E o terceiro volume é um trabalho todo colorido, praticamente sem requadro, tudo acontece meio fluido e junto. Falo sobre isso na dissertação porque quando o segundo volume saiu muita gente falou que aquilo não era uma história em quadrinhos. Ouvi isso de algumas pessoas, falando que era uma outra coisa, que quadrinhos são livros e não páginas soltas. O traço era muito estranho, o texto era escrito a máquina, no desenho eu usava uma canetinha muito fininha em um papel velho bem manchado, por cima eu usava lápis dermatográfico e estilete em papel acetato. Então é um desenho esquisito, bem pesado, carregado…me interessa essa questão, a dúvida, sempre ouvia: “Pedro, isso não é história em quadrinho” ou “Pedro, agora você exagerou”.

A Leya Mira Brander, por exemplo, trabalha com gravura e imprime várias matrizes na mesma página. Você tem várias gravuras que acabam dialogando. O texto e a imagem criam uma relação muito própria dos quadrinhos, mas ela é uma gravurista e se vê assim, por mais que o trabalho dela transite entre outras coisas. Quando eu faço um projeto eu olho como um projeto em quadrinhos. O Incidente em Tunguska tem isso. Talvez algumas partes do trabalho podem não ser quadrinhos, mas o que são as partes de um trabalho eu tenho dúvida. Muitas vezes eu publico independente, trabalho como editor e vendo meu trabalho. De alguma forma também vejo isso como parte do trabalho. Não sei mais se é uma parte do quadrinista, mas é uma parte do trabalho. O Incidente ganhou o edital Elisabete Anderle e saiu de graça, e eu queria muito poder distribuir ele de graça, fazer chegar nas pessoas. A forma de encontrar como distribuir uma HQ de graça tá sendo uma descoberta também. Por mais que possa funcionar deixar uma pilha em um lugar para que as pessoas peguem – e já usei desse procedimento -, não me interessa só botar um papel e dizer “olha, essa é de graça!”. Quero que a pessoa se interesse e eu possa dizer que é de graça. As reações que surgiram disso foram muito interessantes de ver.

Não sei se tô me perdendo na pergunta…qual era mesmo? (risos)

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Se você ficou satisfeito com o resultado final.

Ah, isso. É muito difícil responder em relação a satisfação. No começo da dissertação dava esses dois exemplos: do segundo volume de Promessas, que muita gente falava que não era uma HQ, e de uma experiência com um amigo, também artista visual e pesquisador. Falei com ele do título do projeto na época, era A História em Quadrinhos na Arte Contemporânea ou algo assim, mas ficava muito claro no título que era sobre história em quadrinho. Esse amigo disse que não deveria colocar história em quadrinho, que eu tinha que usar outro nome, “narrativa visual” ou inventar uma palavra. “Se você colocar quadrinho no título eles não vão nem ler ou ter interesse”. Cara, há um receio como as outras áreas olham os quadrinhos e sempre falamos muito do preconceito que os quadrinhos sofrem, né? Daí, em relação a essa satisfação, realmente não sei se cumpri tudo que eu queria ou poderia ter feito, mas fico muito feliz de ver esse espaço de trânsito que o trabalho conseguiu criar. Ele parece estar transitando entre os quadrinhos e as artes visuais.

Um dos primeiros textos que saiu sobre o trabalho, talvez o primeiro, foi num site de uma artista que escreve sobre livros de artistas. E ela escreveu sobre Incidente em Tunguska. O segundo foi no de um crítico de quadrinhos. Agora eu estou dando uma entrevista para um site de quadrinhos e quando inscrevi pra me expor em um espaço de artes visuais também fui aceito. Me deixa muito feliz conseguir esse trânsito na prática também. Não só de estar falando sobre esse trânsito, mas conseguir essa circulação. Artistas estão interessados nesse trabalho, ele foi lançado em Florianópolis em um museu, por um convite desse espaço, depois foi lançado em Curitiba em uma loja de quadrinhos. Esse trânsito já acontecia com outros trabalhos meus, mas com o Incidente ficou um pouco mais evidente. Pra mim é uma satisfação, não queria que esse trabalho ficasse restrito a um campo só. Queria a exposição, a dissertação e a história em quadrinho, as três partes, circulando entre esses dois campos.

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Fiz recentemente uma entrevista com o Rogério de Campos e ele ressaltou essa efervescência criativa e editoral pela qual passa o mercado brasileiro de quadrinhos. Mas ele diz que o que acha que está aquém no momento é a reflexão sobre HQs. O que você acha dessa reflexão hoje sobre o que é quadrinho? Sobre o discurso, sobre aprofundar o debate, sobre o que é possível fazer dentro de uma HQ?

Ainda tem muito a ser feito, né? Talvez nesse sentindo eu concorde com ele, de que ainda falta muito. Falta muita coisa pra gente avançar. Por exemplo, não temos uma graduação em quadrinhos. Ainda falta a gente evoluir muito, ainda tem muita coisa pra melhorar. As pesquisas de quadrinhos, normalmente ficam restritas a outros campos. Mas, ao mesmo tempo, esse é o momento que tem mais reflexão. Desde sempre. De muitas formas e em muitos âmbitos distintos. Há muita reflexão entre os quadrinistas, seja no seu fazer, na sua prática, na forma como fazem quadrinhos, seja uma reflexão política, que é muito forte. Nesse sentindo, as quadrinistas são muito importantes. Nunca teve uma mobilização política tão forte como a que elas conseguem fazer, elas estão o tempo inteiro refletindo os quadrinhos de diversas formas. Na pesquisa acadêmica há muitos trabalhos sendo defendidos. Trabalhos bem interessantes e que fogem de uma reiteração de temas, muita gente ficava se repetindo e não avançava, repetiam os mesmos autores. Talvez não estivesse condizendo com o que estava sendo estudado em alguns outros países. Aqui continuava se repetindo ideias um pouco redutoras. O Alexandre Linck defendeu a tese dele ano passado, a Maria Clara Carneiro defendeu também ano passado, o Érico Assis tá escrevendo a tese dele agora…O tempo inteiro surgem pessoas legais, tanto artistas quanto pesquisadores. O Érico tem uma atuação tanto como jornalista quanto como tradutor que é super interessante de ver. O próprio Rogério de Campos lançando o Imageria. Acho que é um momento de muita reflexão sim. Vários sites de quadrinhos tão surgindo, como o Vitralizado, o Balbúrdia, a Pilha do Érico. Os quadrinistas escrevem muito mais, o que era uma coisa muito aquém, os quadrinistas tinham dificuldade para falar sobre o próprio trabalho e o trabalho dos outros. Acho que é um momento de muita reflexão. Tem um avanço nesse sentido, de muitas formas, mas com certeza há muita coisa a ser feita.

Voltando ao Incidente. Claro que todo o trabalho envolvendo a produção da obra é interessante pra caramba, mas é muito bom também por causa da história que você conta. Quando começamos a conversar, você falou que pensou em produzir um quadrinho mais político que acabou virando o Cão Cego. Como você chegou nesse tema, sobre relacionamento?

Quando aconteceu aquele negócio com o jornal, surgiu a oportunidade de olhar pra um trabalho que é sobre relacionamentos e pensar o que há de político nisso, no afeto, na forma como a gente fala sobre relacionamentos, um tema que sempre corre o risco de cair no sentimental. Então pensei em como encontrar uma forma de falar nisso que talvez exista algo de…não sei se político é a melhor forma de dizer. Tentando responder de outra forma: o Cão Cego é uma ideia que tenho há muito tempo anotada, é uma história muito longa, de muitas páginas, que vai ser um livro muito grande e que envolve muitos personagens. Quando o Rafa (Coutinho) me chamou pra participar da Nébula, pensei no Cão Cego e sugeri pra ele. Eu tinha muitos enredos e personagens anotados, sabia o começo, o meio e o fim das muitas histórias, como elas se entrelaçavam. O que me interessava ali do que ele colocou foi aproveitar essa noção que ele queria de cotidiano e jornalismo. As coisas que acontecem ao meu redor me influenciam. Nas histórias que foram saindo, sempre houve relação com um assunto presente.

Durante o mestrado, fazendo o Incidente, eu comecei a trabalhar com umas páginas enormes, 50 por 65. Fazia umas páginas bem grandes e desenhava. Fazer dessa forma, usando grafite, eu quis pensar de que forma isso alterava o meu trabalho. Como mudar os materiais, usar o grafite, pode parecer bobo, mas tem muitos trabalhos que falam de política, mas têm uma forma convencional que quase quebram o discurso. O escrever o texto com grafite tem uma importância muito grande nesse trabalho, de tentar buscar uma oralidade que…Acho que essa foi a resposta que mais me atrapalhei (risos)

Enfim, eu quase sempre trabalhei com um texto escrito a mão. Quase nunca tive fonte. No Cão Cego, a fala do narrador tinha fonte. No Incidente, por ser uma fonte muito grande, enquanto eu ia trabalhando colocava verniz na página pra não borrar tudo, ia fazendo o texto e apagando, fazia isso enquanto escrevia. Tem uma coisa que falo quando dou alguma oficina pro pessoal que quer fazer quadrinhos: sempre trabalho com algumas constrições, alguns processos restritivos. No Incidente foram: só usar grafite, não ter figuras humanas, com exceção da última página, e cada narrativa estar contida em uma única página. Foram as três regrinhas que segui pra esse trabalho. Perceber essas restrições é muitas vezes importantes. Um quadrinista ou artista sempre trabalha com restrições, mas não percebe que elas existem, acha que é do trabalho dele. Ele vai lá e sempre usa pincel e nanquim, faz o quadrado de uma forma, usa um papel A4 ou A3, é sempre o mesmo formato. Não sei se tô exagerando, mas quebrar essas estruturas me interessavam em relação ao pensar o quadrinho e trazer algo de político. Pensar o político de alguma forma ampla.

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A minha interpretação sobre o Incidente é que é um quadrinho sobre encontro, contato. As relações humanas hoje parecem, mais do que nunca, ser de muito choque. Principalmente pelo que estamos vendo nas redes sociais e ao vivo no que diz respeito a política. Enfim, isso faz sentido dentro desse diálogo entre relacionamentos e política que você se propôs a fazer?

Há um coletivo de escritores que diz que a escolha de quais histórias contar e a forma como a gente conta é uma escolha política. Contar histórias é algo político. Nesse sentido, há uma relação, que tá na escolha do título e na própria forma como conheci o ocorrido em Tunguska, a partir do livro do Thomas Pynchon, o Contra o Dia. É um romance histórico, mas tem um cachorro que fala e acontecem várias coisas que misturam ficção e realidade. Quando acontece o evento de Tunguska, achei que era da parte de ficção. Então me interessa muito essa relação entre ficção e realidade, do que a gente coloca e escolhe colocar na ficção…

No Incidente em Tunguska, além da própria questão do relacionamento, entre duas pessoas, sempre há versões da história, se a sua versão realmente é a verdadeira, existem dois lados e não é que um ou o outro seja verdade, a forma como você olha para aquilo interessa muito como olhamos para o evento em Tunguska, você deixa de ser importante. É como se o que é verdadeiro e o que é falso existissem no mesmo lugar. Como você faz isso e se mantem ético está presente em todas as histórias, em todas as formas de contar. Por isso talvez seja perigoso dizer que o Incidente é uma HQ política, mas há essas questões que estão em todos os trabalhos de narrativa.

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Já o Cão Cego é uma HQ política. Tem um posicionamento e talvez seja possível ler muito das suas crenças. O que representa pra você usar esse quadrinho pra se expressar politicamente em uma época que o que mais tem são pessoas se expressando e dando suas opiniões?

É difícil, né? (risos) O Cão Cego foi publicado em sete partes na Nébula…

E são quantas? Você falou que é bem grande.

Ele continua. Agora eu tô terminando uma parte que provavelmente vai sair numa antologia organizada pelo Diego Gerlach. Essa parte é justamente sobre as eleições na Espanha. Passei os últimos meses acompanhando muito as eleições na Espanha, que foram realizadas dia 20 de dezembro. Entre novembro e dezembro eu só fazia isso, era uma coisa obsessiva, eu desenhava, trabalhava, ouvindo notícias da Espanha, via todos os programa de TV, todos os debates, quase fui pra lá, mas não tive como. Era muito estranho acompanhar. Logo antes de começarmos a conversar eu estava assistindo um programa sobre a Espanha, ainda é uma coisa muito presente pra mim. Tenho pensando muito nisso, em como o Cão Cego foi feito. Voltando a essa ideia de ficção, lá é um trabalho de ficção, tem uma parte que me insiro como personagem, tem coisas que aconteceram no mundo, mas são personagens e as histórias vão se misturando. A última parte que publiquei na Nébula, faço um diálogo com a Tania Bruguera, que é uma artista que foi presa ano passado, por tentar apresentar um trabalho em Cuba que ela propunha que as pessoas falassem durante um minuto e tivessem um espaço de debate.

Então penso muito ainda nesse ‘contar histórias’. Por mais que eu veja que há uma questão política nele e que muitas vezes a gente possa utilizar na ficção a ambiguidade do trabalho artístico, acho que ele te permite dizer e falar de coisas que você não sabe tão bem. Você consegue dizer algo sobre assuntos que também não domina. Se você for tentar fazer uma palestra sobre aquele assunto talvez vá dizer besteira, mas talvez consiga falar alguma coisa… Essa é uma questão que pra mim é bem importante: por mais que exista uma questão política presente no Cão Cego, poucas vezes é sobre algo, é muito sobre as coisas que estão no trabalho. Uma vez vi o Miguel Gomez, o diretor português, falando que fazia histórias com coisas e não sobre coisas. Acho que é uma ideia muito bonita: as coisas estão na sua narrativa e você não está escrevendo só sobre elas. Elas existem ali e acho isso muito mais próximo do que é o mundo.

Tô misturando as coisas. Tem uma dúvida que tenho muito forte hoje em dia: qual é o posicionamento do artista, inclusive do quadrinista, se for possível atuarmos num campo mais amplo, além da página? Acho que é uma continuação da pesquisa, tanto da questão da exposição, de como podemos fazer coisas, organizar coletivos e pensar o comum. Nessa pesquisa sobre a Espanha, que me interessava muito porque me interessava pensar uma alternativa, lá tem o Podemos e candidaturas municipalistas e populares que não eram de um único partido, por mais que tivessem em coligações. Principalmente a Manuela Carmena em Madri e a Ada Colau em Barcelona, e em várias outras cidades teve candidaturas assim. O que isso pode nos fazer pensar nesse momento de polarização absurda no Brasil? Ao mesmo tempo, teve um momento desse trabalho em que eu parava e via os vídeos do Pablo Iglesias…é igual ver os vídeos do Bernie Sanders falando, é um momento de luz nesse momento em que a gente vive, mas eu me sinto querendo ser governado por essas pessoas, o que é uma ideia estranha. Quando me dei conta que estava querendo ser governado por alguém, voltou um lado muito anarquista meu, que eu sentia saudade. Eu estava querendo achar uma coisa, uma luz na política representativa. Por mais que eu tenha achado coisas muito interessantes, que existem experimentações e dúvidas nessa política, passou a me interessar muito também o comum, quando sai disso e as pessoas se organizam. Me interessa isso com as histórias em quadrinhos, mesmo não só fazendo com alguma prática que envolva dar aulas, enfim, queria que o Cão Cego pudesse ser não só uma história em quadrinho, mas que também atuasse de outra forma, não sei como e nem sei se é possível (risos) Mas me interessa pensar nisso. Existem práticas de quadrinistas que vão assim para outros espaços.

registros das obras da exposição Compulsão Narrativa - sesc vila mariana

Quando você olha o mundo hoje, a partir de todas essas pesquisas e reflexões, em relação à nossa realidade política e em relação ao Brasil? Você acha que há potencial para melhorarmos?

Muito difícil falar qualquer coisa em relação ao Brasil sem falar bobagem (risos) Ou sem dar um contexto ou pensar tudo. Acho que no momento eu sou bem pessimista, mas ao mesmo tempo eu acho que tenho esperança. Sou um pessimista com esperança? (risos) Eu tô lendo agora o Tiqqun e o Comitê Invisível e tem uma ideia deles que eu acho…em um momento de uma entrevista do (Julien) Coupat ele diz que o contrário de ser de Esquerda não é ser de Direita, mas ser revolucionário. Essa ideia me atrai bastante, não que eu seja revolucionário, mas me interessa pensar de uma forma a sair desse lugar entre esquerda e direita. Com relação ao Brasil, algo que eu cada vez me atrai mais – e talvez a Espanha tenha sido uma influência pra mim em relação a isso – é como podemos olhar para algumas coisas menores. A gente fica dando uma opinião muito embasada do que tá acontecendo em Brasília e o que tá mais próximo é difícil falar. Enquanto eu acompanhava uma eleição em um outro país – e isso é uma experiência minha, posso estar falando uma grande bobagem, não sei se falo com tanta propriedade -, mas enquanto acompanhava chegou num momento em que eu conhecia os jornalistas, tinha lido os livros, sabia quem eram as pessoas, os deputados, os partidos, os candidatos e qual o jornal que me interessava. Mas num primeiro momento, enquanto eu ainda tentava entender a situação, era muito difícil saber encontrar informações que fossem um pouco mais interessantes. A partir do momento em que comecei a ler, passei a ver mais coisa, descobrir com quais publicações concordava mais e, mesmo assim, a procurar opiniões diferentes, tentava entender o que estava acontecendo. Mas a minha pergunta era: qual é a diferença da forma como eu estava acompanhando a política brasileira? Sempre de uma posição de segurança: do meu quarto, a partir do meu computador. É a forma como acompanho a política no Brasil, sempre mediada e a distância, de um lugar de segurança. Acabo falando sobre isso, também nas minhas histórias em quadrinhos, a partir desse lugar de segurança. Perceber isso, que também não é nada demais, nenhuma constatação absurda, é simples: a política do dia a dia a gente acaba achando que não é política. Isso foi me interessando porque está mais próximo. Talvez pensar o comum, o mais perto, talvez seja o mais interessante. Mesmo na forma de conversar com as pessoas, na forma como você dialoga ou convive com pessoas que são diferentes de você. Ou mesmo quando você politiza os afetos, pois existem questões políticas nas escolhas das pessoas com que você convive. Me perdi…tá muito confuso? (risos)

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Não, fez sentido para mim. Daquelas perguntas meio óbvias que acho importante, o que você tá lendo, ouvindo, assistindo hoje?

Tô lendo a Hilda Hilst, meio seguido. É uma escritora que já tinha lido um livro dela há muito tempo, uns 10 anos atrás. Tinha achado muito bonito, mas não sei o motivo que acabei não lendo mais. Agora eu tô trabalhando em um livro junto com uma companhia de dança. Eles fizeram uma residência e eu tô tentando organizar isso e transformar num trabalho, os registros deles misturados com quadrinhos e texto. Um dos bailarinos foi pra Casa do Sol, a casa onde a Hilda morou por muitos anos. Eu não precisava ler o trabalho dela necessariamente, mas me interessei por fazer um trabalho a partir dos textos dela. Me impressiona muito, tô muito apaixonado por ela. Li uns seis ou sete seguidos dela.

Também já falei do Comitê Invisível e do Tiqqun. Durante a produção do Incidente muitos trabalhos influenciaram de diferentes formas. O que mais influenciava é que eram trabalhos muito diferentes entre si, mas que coexistiam em um lugar que eu gostaria que o Incidente estivesse. Não sei se faz tanto sentido. Agora eu organizei minha prateleira de outra forma, mas antes eu criava uns espaços que eu colocava uns livros que eu achava que fazia sentido estarem um ao lado do outro. Era mais ou menos isso. Me interessava estar ao lado de certos trabalhos, todos com relações muito diferentes. Quando eu mostrei o primeiro artigo que escrevi sobre esse trabalho, o pesquisador de quadrinho que procurei disse que achava arriscado colocar algumas pessoas com trabalhos tão diferentes juntos. Ele via sentido no que eu estava falando, mas que normalmente não se faria essa junção. Me interessava muito que o Incidente estivesse nesse lugar, entre esses trabalhos que não tem um todo tão coeso.

Acho interessante perceber coisas que as pessoas depois olham e dizem: ‘mas isso lembra tal artista’, é sempre bacana. Tem uma página do Incidente que são dois quadradinhos, um preto e um branco, se encontrando. Terminei essa página e, um mês depois, encontrei uma página do Poema/processo, de uma ideia simples, sobre dois quadrados que se juntam, e é o começo da minha! Mostrei pra outras pessoas e disseram que não tem nada a ver, mas eu acho muito próximo. Talvez exista no Incidente uma vontade de tentar me ausentar nessa coisa de estilo, por mais que a última página seja praticamente uma negação disso. Não queria que as pessoas olhassem e falassem: “Ah, é o Pedro Franz que está aqui falando”, sabe? Mas que cada um pudesse imaginar quem são os personagens e como aquilo está criando e como é o espaço daquilo. Isso talvez seja o mais interessante: olhar para outros trabalhos das artes visuais e pensar trabalhos que poderiam ser histórias em quadrinhos. Muitas vezes, talvez até de forma egoísta, essa aproximação surge por algo que fiz. Faço algo que penso como uma história em quadrinho, mas depois vejo que outra pessoa que já fez isso. Tem um trabalho de gravuras da Louise Bourgeois que chama He Desappeared Into Complete Silence. São nove pranchas de gravuras, com um desenho que muitas vezes pode parecer abstrato e do lado vinha um texto. Ela fazia pequenos contos. Eu olho aquilo e acho muito próximo do segundo volume do Promessas. Guardadas todas as proporções, o desenho dela é lindo e incrível, não quero dizer que fiz algo parecido com ela, mas como lá existia uma coisa que muita gente achava que quando lancei o Promessas era experimental.

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Sobre os seus próximos projetos: você falou desse da dança, disse que está dando continuidade pro Cão Cego e vi que o Érico disse no blog dele que traduziu o Incidente pra inglês. O que você pode falar mais disso tudo?

O Incidente vai sair em inglês, essa etapa de publicação em outra língua fez parte do edital em que o projeto foi selecionado. Ele vai sair agora, tenho que terminar a letreirização, o lançamento deve ser em junho. Provavelmente vou lançar na Europa, participar de uma feira lá e ele deve ser lançado em espanhol, por uma editora da Espanha. Me interessa tentar fazer um lançamento meio que junto e pegar um país pra levar a edição em inglês. Tem uma feira muito bacana na Alemanha onde deve acontecer o lançamento. Tô fazendo esse livro de dança que devo terminar até abril e faço, em paralelo a isso, o Bellini e o Corvo, uma história em quadrinhos pra Companhia das Letras escrita pelo Tony Belloto e que estou super atrasado. Mas na verdade, caso o editor leia, é o que estou fazendo em primeiro lugar, sempre! (risos) Tá um pouco atrasado. É um pouco difícil isso de fazer um livro grande. Admiro muito as pessoas que conseguem sentar e fazer, ter esse fôlego de terminar um livro. Sempre trabalhei com projetos um pouco espaçados e ia fazendo coisas ao mesmo tempo, como durante o Bellini teve o mestrado no meio, ele ficou com dois anos de atraso. É uma coisa que tenho muita vontade de terminar e ver publicada. O Cão Cego acredito que vai se desdobrar em diversos projetinhos até aparecer como livro mesmo.

E você tem a previsão de quando ele poderia sair?

Olha, gostaria muito de terminar esse ano, mas não sei quando vai sair. Em algum momento eu gostaria de parar só pra fazer ele. É um plano. Eu tenho o começo de uma pesquisa de doutorado que eu gostaria de dar continuidade. Então talvez as questões que estou pensando no Cão Cego eu gostaria de ver em um outro projeto depois. Enfim, ainda tem trabalhos pequenos, que vão saindo. Tem um monte de coisa ao mesmo tempo.

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Ramon Vitral

Meu nome é Ramon Vitral, sou jornalista e nasci em Juiz de Fora (MG). Edito o Vitralizado desde 2012 e sou autor do livro Vitralizado - HQs e o Mundo, publicado pela editora MMarte.

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