Acho bem legal o trabalho da dupla Beeau Goméz e Rodrigo Qohen no álbum Antologia Acid Jazz. Responsáveis pelo selo Baboon Comix, os dois entraram em contato pra me falar um pouco do próximo quadrinho deles. O Parricídio tem 56 páginas e começará a ser vendido na Bienal de Quadrinhos de Curitiba – os autores pediram pra avisar que estarão na mesa 23. Bati um papo rápido por email com a dupla e eles me falaram um pouco sobre as origens do projeto e as lições aprendidas por eles a partir da experiência com a publicação da Acid Jazz. Segue a sinopse do álbum novo, quatro páginas de preview da obra e a nossa conversa. [Atualizado! Esqueci de comentar um detalhe gigante: o gibi ainda conta com um prefácio da Laerte]. Ó:
Remi vive em estado de desânimo desde que pode recordar. Nesse tempo, vem revisitando sonhos antigos dentro dos próprios devaneios, o que faz com que tornem-se ainda mais verdadeiros. Através de sua janela, Remi vê uma misteriosa figura feminina que traz a persona à tona para corrigir a maior incoerência de sua vida.
Como surgiu a ideia de O Parricídio? Vocês lembram do instante que descobriram que essa história, esse álbum, seria o novo trabalho de vocês?
Qohen: Durante o FIQ 2015, onde lançamos o “Antologia Acid Jazz”, quando chegávamos cansados no nosso apartamento alugado, enchíamos um copo de uísque e íamos pra varanda papear e fumar um cigarro. Lá brotou semente d’O Parricídio. Era algo cru, provavelmente sobre um cara que ficava compulsivamente observando o movimento do mundo por sua janela enquanto fumava. Não era claro se o que puxava ele pra esse vício era o tabaco ou a curiosidade – ou os dois. Isso foi uma faísca num palheiro, que até acabou entrando no Parricídio como uma breve passagem. Percebemos então que um cigarro nem sempre é um cigarro.
Goméz: O apartamento que estávamos era no centro de BH, com uma varandinha voltada pros fundos de outros prédios. Nossa vista eram várias janelas encarando um estacionamento. Era uma coisa claustrofóbica, um beco sem saída. Pensamos em qual seria o desejo da personagem em ficar ali. O cigarro servia como uma boa desculpa pra passar horas observando as janelas, principalmente as fechadas. Então, procurando uma resposta, recorremos a autoanálise freudiana como metáfora da situação da personagem. O termo “parricídio” foi pescado no “Totem e Tabu”, do próprio Freud.
Quais as principais lições que vocês tiraram da Antologia Acid Jazz e aplicaram na criação desse novo projeto? Não só no que diz respeito ao texto e à arte de vocês, mas também em relação a venda/distribuição/impressão/acabamento do projeto?
Qohen: A concepção de Antologia Acid Jazz foi feita em pouco mais de um mês – desde o roteiro até impressão. Não tivemos muito tempo para acabamentos muito refinados. Pro Parricídio houve tempo para desenvolvermos um conceito editorial mais aprimorado. Quando a gente passa por livrarias, nos divertimos destrinchando os projetos gráficos dos livros. A falecida Cosac Naif é talvez a editora que mais nos cativa.
Goméz: Uma coisa importante que queríamos n’O Parricídio, e não fizemos em Acid Jazz, era ir além de apenas contar uma história e que carregasse um pensamento que gere reflexão. Antologia Acid Jazz é muito mais raso. Outra coisa que mudou é a forma como lidamos com o nosso processo criativo. A gente começou a criar métodos de pesquisa, onde cada um pudesse trabalhar na sua respectiva da área – eu na arte e o Rodrigo com os textos. Todo o rastro desses estudos estão na nossa página do Facebook, numa série semanal que criamos chamada Verso e Figura.
Parabens!! Parece um trabalho super interessante. Muito sucesso!!