O quadrinista DW Ribatski lança sexta-feira (9/6) na Gibiteria aqui em São Paulo a HQ Veículo. Estarei por lá pra bater um papo sobre o quadrinho com o autor a partir de 19h30 e logo em seguida rola uma sessão de autógrafos. Já li a obra e achei bem interessante. A sinopse produzida pelo próprio autor diz o seguinte: “Jonas, um funcionário padrão de uma firma padrão, seguindo sua rotina diária, volta do trabalho para encontrar em seu apartamento uma desconhecida, nua. Não bastando essa estranheza, a misteriosa visitante é dotada de seios gigantescos que vertem mel”.
Bati um papo rápido com o autor do quadrinho pra ele falar um pouco sobre as origens do projeto e pra adiantarmos um pouco da conversa que rola na Gibiteria. A página do evento, com todas as instruções de como aparecer por lá, você confere aqui. A seguir, você lê a entrevista curtinha que fiz com Ribatski:
Como surge a ideia de Veículo?
Hmm, essas idéias ficam pairando no ar um tempo até começarem a se concretizar sozinhas, adquirem a forma de uma narrativa. Esta especificamente creio que surgiu a partir da questão do desejo. Sobre a estranheza dele refletindo no mundo externo, sobre a luta a partir dele pra se entender sua própria persona. Desejos sempre trazem algum tipo de história anexada. Segredos do inconsciente.
No evento de lançamento você lista alguns dos temas que o quadrinho aborda a partir do filtro do realismo fantástico. Tem alguma outra obra de realismo fantástico que de alguma forma diáloga de forma mais enfática com Veículo?
Sim, gosto dessa coisa que tem a ver com o surrealismo, mas que se propõe a ser (um pouco) mais verossímil. Permite chegar mais próximo a idéias e sensações que são abstratas demais pra serem explicadas literalmente. Alguma obra minha você diz? La Naturalesa talvez. São HQs que eu posso me perceber no papel de leitor. Algumas pessoas vão simplesmente taxar como surreal, e vale, com certeza, mas na minha visão elas se diferenciam desse gênero e se aproximam do realismo fantástico pelo tipo de espaço de significação que sugerem ao leitor.
São climas muito distintos, mas o drama do protagonista me lembrou de problemas vividos por personagens principais de filmes como Her, A Garota Ideal e até algo de Encontros e Desencontros. São questões muito relacionadas ao ser humano moderno preso a um rotina de trabalho que acaba buscando por alguma forma de escape. Você vê esse diálogo?
Certamente. Eu adoro esse ‘arquétipo’ do trabalhador ‘comum’ que vive, por uma consequência natural da sua cultura, uma rotina proletária em um loop massacrante e, ao mesmo tempo, inócua. Pessoas cujo desejo tende a ser de horrendo e secreto a inerte e sem função. Gosto quando o ‘escape’ que você chama, é algo que não buscaram, que cai na cara deles, uma espécie de missão aparvalhada.