O próximo título publicado pelos editores da Beleléu é candidato potencial a várias listas de melhores quadrinhos brasileiros de 2017. SOCO! Volume 1 é escrito e ilustrado pelo quadrinista Gabriel Góes e está em pré-venda no site da editora por R$ 28. O álbum de 68 páginas é protagonizado pelo herói Billy Soco – “um misto alucinado de Astro Boy e das Meninas Superpoderosas em asteróides”, segundo seus editores – e intercala as batalhas do personagem contra monstros gigantes com anúncios fictícios de seus bonequinhos e de cupons promocionais de seus gibis. Li um trecho do gibi e chamo atenção principalmente para o dinamismo do traço de Góes e a grandiosidade do universo de Billy Soco.
Conversei com um dos editores e sócios da Beleléu, o quadrinista Elcerdo. Ele contou de sua vontade de longa data em publicar um título assinado por Góes, falou sobre a decisão de lançar a revista protagonizada por Billy Soco e também como ele planeja que o título represente uma nova fase para a Beleléu. “Algo que me incomoda um pouco nesse mercado atual, é o crescimento dos ‘quadrinhos de luxo’. Tenho visto muito quadrinho com cara de zine sendo lançado com capa dura e valores meio absurdos. E isto você pode ter certeza que não faremos”, afirma o editor. Selecionei alguns trechos da nossa conversa e dividi em tópicos em meio a algumas prévias de SOCO! Volume 1. A seguir, aspas de Elcerdo:
A origem de SOCO! Volume 1
“O Góes é um grande amigo e este é o primeiro passo para a Beleléu publicar algo dele. Ele é um puta ilustrador e quando o conheci, acho que entre 2006 e 2007, o bicho já tinha uma produção absurda de quadrinhos. Eu só não tinha publicado algo dele antes, porque quando começamos, ele estava começando com a Samba.
Eu escolhi o Soco pois acho nosso mercado Brasileiro carente de bons personagens. Nossos maiores cartunistas, Angeli, Laerte, Allan Sieber, deixaram o uso de personagens em suas publicações. Quando se cria um personagem, a possibilidade do universo dele ir crescendo é muito interessante. E quando nossas veias começam a sentir o capitalismo correndo, é gostoso sair do universo do papel e começar a pensar nas outras possibilidades desses personagens em outras mídias. Eu curto pensar no design de camisas, canecas, adesivos,… Como eu gosto muito de consumir este tipo de produto, tenho esta tendência a criá-los também. Essas possibilidades vão gerando afinidades com o personagem: quem curtiu o quadrinho vai querer a caneca, o boné,…
Por mais que o Billy Soco pareça meio boçal numa primeira leitura, é um personagem massa. Ele é quase um amálgama de toda a cultura pop que uma geração como a minha e do Góes cresceu consumindo. Desenhos, seriados japoneses e brinquedos”
A nova fase da Beleléu
“A Beleléu continua com o mesmo propósito que a fez nascer: basicamente, publicarmos aquilo que gostamos e que acreditamos ter um potencial gráfico interessante, que permita experimentar novos formatos. Ainda operamos nos moldes de uma editora pequena, não temos a pretensão de profissionalizar e seguir o caminho de uma editora grande. Como uma editora independente, acho que nossa vantagem é poder usufruir de uma pegada mais informal, tanto nas publicações como na forma de divulgação, nos eventos, e até mesmo na relação que temos com os lojistas, sempre tentando apoiar as pequenas livrarias e gibiterias.
Eu sinto que nosso trabalho foge um pouco do que a maioria consome – ou do que esta na moda. Conversando com meus sócios (Pablo Carranza e Eduardo Arruda) e minha namorada (Bia, que agora esta trabalhando na editora também) percebemos o quanto nosso gosto é bem diferente do que vemos sendo elogiado nas redes sociais. Continuaremos focados em publicar nosso próprio material (embora eu mesmo esteja em dívida) e publicando amigos próximos.
Nós somos tipo aquele desenho dos Super-Amigos, onde existia a formação clássica de super-heróis e vez ou outra aparecia um novo personagem ajudando nas missões. Temos um grupo de amigos que vez ou outra publicamos, amigos que estão conosco desde o início. A gente publica o que acreditamos ser bom, geramos um conteúdo que nós gostaríamos de ver mais, que gostaríamos de ler e não vemos muito sendo feito.
Quadrinhos de luxo e Amazon
“Algo que me incomoda um pouco neste mercado atual, é o crescimento dos ‘quadrinhos de luxo’. Tenho visto muito quadrinho com cara de zine sendo lançado com capa dura e valores meio absurdos. E isto você pode ter certeza que não faremos. Sabemos da realidade brasileira.
Toda esta campanha da Amazon me assusta um pouco e acho que vai quebrar muitas livrarias pequenas e gibiteiras, que sempre foram nossas parceiras e fortaleceram muito o mercado dos pequenos. Então ainda estamos fora desta gigante devoradora de almas chamada Amazon. A distribuição, a venda e a divulgação sempre foram um problema para os independentes. Imagino que a Amazon tenha um puta alcance e acho inteligente a mecânica de recomendações de novos livros aos compradores, que acaba sendo uma ótima forma de divulgação. Mas entrar neste meio é ser um pouco egoísta, é deixar de pensar neste mercado que ajudamos a fortalecer”.