Uma das propostas do quadrinistas Jão ao produzir a 11ª edição da Série Postal foi controlar o tempo de leitura da HQ. Segundo o autor, a ideia era estimular que seus leitores voltassem à obra e não esgotassem a leitura em um primeiro contato. Publiquei as falas do Jão sobre o quadrinho no Tumblr da Série Postal e reúno a íntegra dos depoimentos por aqui. A seguir, falas do autor:
“O convite para fazer o postal veio num período em que eu estava trabalhando esse tipo de quadrinho, uma coisa mais experimental. Eu tinha começado a fazer o Flores, O Bárbaro e acho que as duas coisas juntaram. Era algo que eu estava afim de fazer naquele momento, no segundo semestre do ano passado, algo mais experimental e relacionado a movimento em quadrinhos. No primeiro semestre do ano passado eu tinha feito algumas experiências semelhantes que não cheguei a mostrar pra ninguém, mas as coisas foram andando pra chegar nisso. Quando veio o convite pra poder fazer essa história, pensei que aquilo que eu estava desenvolvendo, nesse tipo de narrativa, não necessariamente com um começo no canto superior direito e um fim no inferior esquerdo, sabe? Queria algo que você pudesse entrar por outro lugar. No caso dessa história específica, pensei em algo circular”
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“Eu não tinha me ligado nessa conexão com Spy Vs. Spy, mas agora penso que tem tudo a ver. Na época que comecei a fazer quadrinhos, há uns 10 anos, eu lia muito. Então acho que é uma influência, sim”
“A construção da paleta de cores dos meus quadrinhos é uma questão meio bizarra. Eu posso ter uma vaga ideia de que quero trabalhar com uma cor específica e aí vou fazendo umas experiências até chegar numa paleta que compõe o todo. Mas eu também não tenho uma paleta padrão nos meus trabalhos. No caso do postal, eu fiz alguns testes com outras cores antes e tal, mas eu queria uma coisa que destacasse em algumas partes, até pra que as cores guiassem a leitura. Fui fazendo esses testes até chegar nessa composição final”
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“Normalmente, quando vou criar uma história pequena, que precisa ser resolvida num espaço curto, eu tenho muito problema. Ao mesmo tempo, o conceito do postal me trouxe a história, toda essa narrativa circular me fez pensar no rolê do postal ser uma coisa que você vai mandar um recado pra alguém, pra uma pessoa que você gosta e tudo mais. Aí essa pessoa vai pegar essa HQ e vai colocar num quadro ou numa gaveta e de vez em quando vai retomar esse trabalho. Daí o que pensei foi isso: se eu fizesse uma história com início, meio e fim, uma coisa fechada, a pessoa não precisaria mais olhar pra ela. Eu queria que fosse um desafio, o postal estando na gaveta e permitindo uma viajada sempre que o leitor entrasse em contato com ele”
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“Em relação ao roteiro, eu já tinha a história na cabeça e sabia o que ia acontecer nela. Eu sentei e fui fazendo e alguns elementos foram aparecendo. No caso do Baixo Centro, eu e o Rafael [co-autor da HQ] fizemos um roteiro básico, muito aberto, inclusive era pra ter apenas 16 páginas e acabou com 64. Então fui incluindo elementos e algumas cenas que já estavam escritas eu ampliei até chegar no resultado final. Nos últimos dias tô fazendo um processo completamente diferente desse: sentar e escrever um roteiro, pra uma história que estou planejando pro ano que vem. Eu tô fazendo um processo que tem muito tempo que não faço, até pelo fato da história ter diálogos. Então é importante ter essa prévia antes, pensar roteiro, o que vai acontecer com os personagens e construir algo mais amarrado”