ASTEROIDES – Estrelas em Fúria é o primeiro quadrinho solo longo do quadrinista e editor Lobo Ramirez. O álbum é ambientado em um futuro distópico no qual o esporte mais popular e letal do planeta é o salto ornamental. O roteiro da HQ é focado em uma série de ataques contra as atletas da equipe feminina de salto Centaurium, começando pelo assassinato da treinadora do time e dando início a uma investigação que coloca em risco a vida das demais saltadoras. As 120 páginas de violência extrema do quadrinho de Ramirez apresentam uma das tramas mais divertidas e absurdas que você lerá em 2018.
Se em 2017 Ramirez editou e publicou pela sua Escória Comix as excelentes Úlcera Vórtex, de Victor Bello, e Nóia, de Diego Gerlach, ele dá início às atividades do selo em 2018 com um épico tão bizarro e espetacular quanto os dois títulos de maior sucesso de sua editora. “Apliquei o que vinha funcionando: capa coloridona, quadrinho num formato de 15×21 cm, mas dessa vez com maior número de páginas”, conta o artista em entrevista ao blog. O lançamento da publicação está marcado para a Feira Plana 2018 – entre os dias 23 e 25 de março de 2018 na Cinemateca Brasileira em São Paulo.
Na entrevista a seguir, Ramirez fala sobre suas inspirações para ASTEROIDES, seus métodos de produção do quadrinho, os personagens da obra e o estilo de sua arte na HQ. Ele ainda produziu uma playlist com o que chama de “a trilha sonora não oficial do quadrinho”. Saca só:
Como surge a ideia do ASTEROIDES – Estrelas em Fúria? Houve algum ponto de partida específico que te impulsionou a contar essa história?
Foi surgindo aos poucos. Depois que li NÓIA, do Diego Gerlach, e Úlcera Vortex, do Victor Bello, fiquei empolgado e com vontade de fazer alguma coisa também. Eu estava sentindo falta da diversão horrivelmente trabalhosa que é fazer quadrinhos então aproveitei a disposição e o tempo e decidi que ia fazer um quadrinho, só que faltava a história. Revisei um monte de anotações procurando alguma ideia boa, mas a maioria era um monte de trocadilhos e cenas retardadas sem contexto nenhum. Deixei amadurecer um pouco essas ideias e foi quando, num sábado tranquilo assistindo TV, coloquei no canal de esportes e estava passando a final de salto ornamental feminino, de repente tudo fez sentido, todas as ideias começaram a se encaixar, pronto, estava feito, eu tinha uma história.
Eu queria saber sobre os seus métodos de criação do quadrinho. É o seu projeto pessoal mais longo, certo? Você chegou a criar um roteiro fechado e depois desenhou?
Isso mesmo, o objetivo era fazer umas 100 páginas, não dava pra meter o loco e sair desenhando. Nunca fiz roteiro, mas dessa vez senti que, se não tivesse o mínimo de organização, ia acabar me cansando no meio da coisa toda. Fiz vários rascunhos dos personagens e anotações da ordem dos acontecimentos, depois meio que dividi o número de páginas por parte e comecei a desenhar, no início eu desenhei na sequência das páginas depois percebi que não precisava seguir a ordem comecei a fazer as páginas aleatórias que eu estava mais afim de desenhar e ai fui preenchendo o meio. Deixei rolar, muita coisa foi mudando na hora, mas mantive mais ou menos a estrutura inicial. Demorei uns 6 meses pra terminar, sem pressa, às vezes desenhava muito, às vezes deixava de lado, também fui mostrando pruns amigos que deram uns toques.
Eu gosto muito dos personagens do quadrinho, acho que alguns até mereciam uns spin-offs. Como você administra a presença desses vários ‘heróis’ na HQ? Beirando aos spoilers, eu fico quase puto como eu tô curtindo pra caramba um personagem e aí você tira o foco dele e passa a centrar a história em outro.
Não acho que sou bom para criar personagens. Por isso não foquei em nenhum especificamente, na minha cabeça tudo ia acontecendo ao mesmo tempo, quando focava em um personagem eu ficava pensando o que estava acontecendo com o outro, senti necessidade de mudar o foco várias vezes, mas sempre mantendo ali uns três personagens principais, sem saber muito bem se existia um protagonista. O mais importante pra mim foi ligar os pontos no emaranhado de cenas sem noção.
Eu vi o Diego Gerlach fazendo uma referência ao Rob Liefeld em um texto sobre o Asteroides no Facebook e quando acabei de ler também pensei nesse diálogo dos seus quadrinhos com essas HQs da Marvel e do início da Image do começo dos anos 90, tudo meio bizarro, com muito músculo, à base de porradaria, morte e explosão. Esse universo dialoga com a sua formação como leitor de quadrinho?
O incrível universo dos músculos extremos com ASTEROIDES. Mais ou menos, faz parte da minha formação como leitor de quadrinhos, mas sempre comprei muita coisa em sebo e na época, apesar de ter muitos desses quadrinhos do inicio dos anos 90, nunca li muitos não, eu não sou um leitor do Rob Liefeld. Lembro de comprar umas minisséries tipo Robocop vs Exterminador do Futuro, Slash – O Guerreiro do Apocalipse e ALIENS. Eu gosto mais das coisas da revista HEAVY METAL, prum moleque metaleiro aquilo era muito mais legal que histórias de super-heróis ultra-musculosos, e tinha vários artistas e vários estilos de desenhos, sempre me interessei mais por isso. Também comprei muita coisa do Lobo, do Simon Bisley e Alan Grant, que é uma zuera com essa coisa toda de músculo, porradaria, morte e explosão. É retardado, idiota, bobo, imbecil, mas é divertido. Acho que é mais por esse lado.
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“Pô, Picasso é deformado, não é? Acho que Rob Liefeld é o Picasso dos quadrinhos então”
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Aliás, pensando aqui no Rob Liefeld, eu cresci lendo meio mundo execrando o trabalho dele, mas de uns tempos pra cá vi várias pessoas que admiro ressaltando a qualidade do trabalho do cara. Você curte a arte dele?
Nem conheço muito os quadrinhos do Rob Liefeld, mas no geral prefiro traço ‘deformado’. Eu vejo mérito no trabalho que tem um estilo próprio, uma coerência sabe? Pô, Picasso é deformado, não é? Acho que Rob Liefeld é o Picasso dos quadrinhos então.
Além de quadrinista e editor, você também tem uma banda. Você gosta de ouvir música enquanto trabalha? Se sim, isso contribui e influencia de alguma forma o desenvolvimento da história? O que você escutava enquanto criava o ASTEROIDES? Aliás, você consegue imaginar uma trilha sonora pro ASTEROIDES?
Sim, mas não influêcia muito o desenvolvimento da história, só faz o tempo passar mais rápido. No caso do ASTEROIDES, como na minha cabeça esse quadrinho é um filme, eu fiquei curtindo ouvir músicas que encaixavam melhor nas sequências que eu estava desenhando. Escutei bastante trilhas sonoras de filmes/desenhos, como Fuga de Nova Iorque, Hokuto No Ken, Maniac, O Quinto Elemento, Mad Max 2 e também uma porrada de New Retro Wave aleatório no YouTube. Consigo e fiz uma playlist bootleg com a trilha sonora não oficial do ASTEROIDES.
ASTEROIDES é o primeiro lançamento da Escória Comix em 2018, depois de um ano em que você investiu pesado no selo, com lançamentos elogiados pelo público e por críticos. Dessas suas experiências do ano passado, trabalhando com vários artistas, com diversos lançamentos e em formatos diferentes, quais as principais lições que você tirou e aplicou nesse gibi novo?
Eu acho que dei sorte com esses lançamentos do ano passado e não quero contar com a sorte, por isso tentei criar um método que funcionasse pra Escória Comix. A partir das experiências do ano passado decidi usar o ASTEROIDES de teste, apliquei o que vinha funcionando: capa coloridona, quadrinho num formato de 15×21 cm com mais ou menos 45 páginas, mas dessa vez já testei esse formato novo, com maior número de páginas – o maior da Escória, até agora -, testei também uma divulgação mais planejada, produzi um vídeo picareta, mandei release pra blogs e fiz parceria com a Ugra Press.