Dois dos melhores quadrinhos publicados em português em 2018 saíram pela Zarabatana Books. O selo editado por Claudio R. Martini republicou o clássico Música para Antropomorfos, parceria de Fabio Zimbres com a banda Mechanics, e lançou Fugir – O Relato de um Refém, do canadense Guy Delisle. A agenda de publicações da Zarabatana em 2019 ainda está em construção, mas a editora adiantou para o blog o lançamento do 10º álbum da série Macanudo, do quadrinista argentino Liniers, uma edição especial com o dobro de páginas dos nove números prévios.
“A explicação do autor é que publicando livros com 96 páginas, muitas tiras acabavam ficando de fora e então Liniers resolveu acertar o passo e fazer um volume duplo”, explica Martini em conversa com o Vitralizado.
O editor ainda adianta que um outro título estrangeiro está em fase final de negociação e revelou conversas com alguns artistas nacionais sobre possíveis títulos brasileiros a serem lançados em 2019. Na entrevista a seguir, Martini faz um balanço sobre os trabalhos da Zarabatana em 2018, fala sobre os próximos planos da editora e analisa o mercado editorial em crise. Ó:
Você pode, por favor, adiantar e comentar alguns dos lançamentos da editora em 2019?
Por enquanto, apenas o Macanudo 10 está acertado para publicação. Um outro título estrangeiro está em fase final de negociação e tem algumas obras de autores brasileiros que estou conversando com os autores. O último volume de Macanudo (o #9) publicado pela Zarabatana foi em 2017 e este de número 10 é especial, pois tem o dobro de páginas dos outros. A explicação do autor é que publicando livros com 96 páginas, muitas tiras acabavam ficando de fora e então Liniers resolveu acertar o passo e fazer um volume duplo. Espero em breve também acertar o passo com as edições argentinas.
Em 2018 a Zarabatana publicou dois dos títulos mais interessantes lançados no Brasil: Música para Antropomorfos e Fugir. Qual foi o retorno do público em relação a esses títulos?
Só para situar: Música para Antropomorfos é uma reedição da HQ de Fabio Zimbres em parceria com o grupo Mechanics e que estava esgotada desde 2007. Fugir é um dos melhores livros de Guy Delisle (Pyongynag, Crônicas de Jerusalém etc.) e narra o drama de um colaborador da ONG Médicos Sem Fronteiras sequestrado por rebeldes chechenos. Os dois livros foram muito bem recebidos, e mesmo nesta era de crise (já estou usando “era”, pois não termina nunca) estão indo bem. Creio que são duas obras muito diferentes entre si e diferentes também da produção habitual de quadrinhos, inovando na narrativa e nos temas abordados.
Quais as principais lições que a Zarabatana tirou da crise das grandes livrarias que aflorou em 2018? Como a editora pretende lidar com essa crise em 2019?
A lição é: não confie em ninguém com mais de uma dúzia de lojas. Agora, como lidar com isso é uma coisa que estamos tateando e buscando alternativas (eu e tantas outras editoras), procurando participar de mais eventos, fazer promoções pontuais etc.
Como a editora está lidando com a chegada ao poder de um governo de extrema-direita que acabou com o Ministério da Cultura e que promete cortes em políticas públicas e sociais de fomento às artes?
É difícil dizer alguma coisa neste momento inicial do governo. São muitas notícias desencontradas e vários desmentidos. Com exceção do ProAC do governo do estado de São Paulo – que é muito importante e creio que irá continuar –, as políticas culturais federais não impactam muito em uma editora pequena como a Zarabatana, na verdade ficamos à margem delas. Já participei de muitos editais do antigo PNBE e tive apenas um livro selecionado: Bando de Dois. O atual PNLD está mais complexo e cheio de exigências que seria difícil para uma editora pequena cumprir. Vamos analisar quando abrirem novos editais. Se abrirem. Isso diretamente. Indiretamente, é preciso avaliar com o tempo. Editorialmente, acredito que temos que, dentro do possível, procurar publicar livros que enfrentem esta guinada conservadora, como é o caso da HQ Gibi de Menininha, uma parceria da Zarabatana com Germana Viana e outras 12 autoras e que traz “histórias de terror e putaria”, como explica o subtítulo.