Em 2018 houve uma tendência explícita por parte das principais editoras brasileiras de quadrinhos de investir em publicações caras, em capa dura, formatos luxuosos e de autores estrangeiros. A Balão Editorial seguiu na contramão dessa corrente. O selo publicou quatro títulos (Hell No! – Os diabos tão soltos, Hell No! – Uma busca dos diabos, Quando você foi embora, Por muito tempo tentei me convencer de que te amava), todos de autores nacionais, com poucas páginas e custando entre R$ 20 e R$ 35.
No post de hoje da série de entrevistas com editores nacionais sobre as perspectivas de suas editoras para 2019, compartilho um bate-papo com Guilherme Kroll, um dos sócios da Balão Editorial.
Na conversa, Kroll adianta que tem fechada a publicação do quarto e último capítulo da Hell No!, de autoria do quadrinista Leo Finocchi. Ele comenta a repercussão de Quando você foi embora, de Ana Cardoso, e Por muito tempo tentei te convencer de que te amava, de Thiago Souto – e com a minha participação no papel de editor. Por último, ele comenta a linha editorial da Balão e seus temores em relação ao mercado editorial em crise e a chegada de um governo de extrema-direita ao poder. Ó:
Você pode, por favor, adiantar e comentar alguns dos lançamentos da editora em 2019?
Para 2019 a única certeza é que sai o capítulo final da saga Hell No! do Leo Finocchi. Estamos bastante empolgados com os esboços que ele mandou, acho que os leitores que estão acompanhando vão ter uma grata surpresa. De resto, ainda não temos nada acertado.
Como foi o retorno de vocês em relação aos quadrinhos publicados pela Balão Editorial em 2018?
Publicamos quatro HQs em 2018 (Hell No! – Os diabos tão soltos, Hell No! – Uma busca dos diabos, Quando você foi embora, Por muito tempo tentei me convencer de que te amava) e as resenhas sempre foram positivas. O público parece ter gostado e cada um dos títulos encontrou o seu nicho. Acho que, nesse sentido, não poderia ter sido melhor.
O ano de 2018 foi marcado por muitos lançamentos de obras internacionais, caras e em acabamentos luxuosos. Todos os quadrinhos publicados pela Balão Editorial em 2018 foram obras curtas, baratas e de autores brasileiros. Por que você vai na contramão dessa tendência do ano passado?
Gosto de livros que sejam acessíveis. Sempre que publicamos uma obra, conversamos com o autor e procuramos encontrar uma forma pela qual o livro sairá o mais barato possível sem prejudicar a visão artística dele. Posto isso, capa dura nunca será a versão mais barata de uma obra, então dificilmente optaremos por isso. Não desmereço o uso de capa dura, há livros que pedem por isso, mas geralmente são reedições, títulos consagrados ou obras que saem com uma contraparte em brochura para bolsos mais modestos. Não descarto reeditar algo em capa dura no futuro, caso ache que a obra peça por isso. Editar é escolher e escolhemos caso a caso. Quanto às obras nacionais, já publicamos material estrangeiro antes e talvez publiquemos de novo no futuro, mas no momento acho que já tem bastante gente lançando coisas gringas de forma competente, então podemos nos focar no material nacional que eu gosto bastante.
Quais as principais lições que a Balão Editorial tirou da crise das grandes livrarias que aflorou em 2018? Como a editora pretende lidar com essa crise em 2019?
Nós, da Balão, sempre tivemos uma relação diferente com as livrarias. Pelo fato dos nossos livros costumarem ser mais baratos, a logística para envio às livrarias grandes ficava um pouco proibitiva. Fechávamos apenas grandes pedidos, o que acabou nos deixando um pouco fora do circuito. Esse mesmo circuito colapsou em 2018 e nós quase não fomos afetados pois já estávamos voltados para uma distribuição mais alternativa.
Como a editora está lidando com a chegada ao poder de um governo de extrema-direita que acabou com o Ministério da Cultura e que promete cortes em políticas públicas e sociais de fomento às artes?
Não temos muito o que fazer no momento. Continuamos nossa linha editorial e procuramos fazer oposição a medidas que nos prejudicam. Por enquanto, não temos muito a dimensão do que vai acontecer. O fim do Ministério da Cultura é uma tristeza que pode nos prejudicar muito, porém acho que esse problema vai ser em um prazo maior. O que eu acho que realmente pode ser um duro golpe para editoras e artistas é o aventado fim do Sistema S. Sem o Sesc perderíamos feiras, cursos de formação para autores, editores, etc.