Está no ar a campanha de financiamento coletivo do álbum A Máscara da Morte Rubra e Outros Contos de Poe, do quadrinista italiano Dino Battaglia (1923-1983). A publicação será o quinto título da editora Figura caso a vaquinha virtual alcance 100% da pedida de R$ 26 mil. O projeto propõe a publicação de um álbum em capa dura, de 96 páginas, reunindo oito adaptações feitas por Battaglia para contos assinados por Edgar Allan Poe.
“Acreditamos que, depois de trazer de volta a obra de Toppi e publicar um super clássico como Mort Cinder, chegar ao Battaglia era mesmo um caminho natural”, diz o quadrinista e editor da Figura, Rodrigo Rosa, citando dois dos trabalhos prévios publicados pelo selo – os dois volumes de Sharaz-de – Contos de As Mil e Uma Noites, de Sérgio Toppi, e Mort Cinder, de Héctor Germán Oesterheld e Alberto Breccia. Ainda compõe o catálogo da editora o álbum Crimes e Castigos, de Carlos Nine.
Ainda para 2019, Rosa adianta conversas com os editores de uma obra que ele diz ser um sonho de publicação por parte da Figura. “É algo de muita importância, e que, caso consigamos fechar um acordo, será nosso maior desafio editorial. Vamos torcer…”, pede. Na conversa a seguir, o editor faz um balanço sobre os lançamentos de seu selo no ano passado, fala um pouco sobre as perspectivas da Figura para 2019 e as estratégias pensadas por ele para administrar seus lançamentos em um mercado editorial em crise. Ó:
Você pode, por favor, adiantar e comentar alguns dos lançamentos da editora em 2019?
Nosso primeiro lançamento é A Máscara da Morte Rubra e Outros Contos de Poe, obra que trará de volta ao Brasil o genial Dino Battaglia, depois de quarenta anos sem nada dele publicado aqui. Acreditamos que, depois de trazer de volta a obra de Toppi e publicar um super clássico como Mort Cinder, chegar ao Battaglia era mesmo um caminho natural. Esse livro reúne todos os contos do Edgar Allan Poe que o Battaglia adaptou ao longo de sua carreira, e inclui desde clássicos como A Queda da Casa de Usher ou o conto que dá título à edição, mas também obras que mostram um lado mais humorístico do Poe, como é o caso de A Peste. O livro está em campanha de financiamento no Catarse neste momento e começou muito bem. Ah, vai ter um texto do Marcello Quintanilha analisando a obra do Battaglia, o que nos deixa muito entusiasmados com essa edição.
Depois do Battaglia, estamos conversando com os editores de uma obra que realmente é um sonho nosso publicá-la. É algo de muita importância, e que, caso consigamos fechar um acordo, será nosso maior desafio editorial. Vamos torcer…
Em 2018 a Figura publicou os clássicos Mort Cinder e Crimes e Castigos. Como foi o retorno de vocês em relação a esses títulos?
O retorno com Mort Cinder tem sido sensacional. O livro tem tido uma acolhida entusiasmada do público e está em 90% das listas de melhores do ano. Mort é um dos meus quadrinhos fundamentais e eu brinco que a Figura já poderia fechar as portas depois de editá-lo, pois já teria cumprido seu dever. Com Crimes e Castigos a acolhida também é boa, mas é um livro mais difícil e de um autor que exige um pouco mais do público. Mas estamos muito orgulhosos de trazer a primeira novela gráfica do Carlos Nine ao Brasil, pois nos parece também um autor essencial.
Quais as principais lições que a Figura tirou da crise das grandes livrarias que aflorou em 2018? Como a editora pretende lidar com essa crise em 2019?
Nós tivemos alguma sorte quanto à crise, pois quando ela estourou, nós estávamos apenas com o segundo volume de Sharaz-De distribuído, e boa parte dele já havia sido vendido. Então quando a crise bateu de vez, nós começamos a apostar cada vez mais na venda direta, e é esse o modelo que queremos seguir aperfeiçoando. Também estamos mais próximos as comicshops, negociando direto com eles. Mas o negócio do livro, como tem sido feito ao longo das últimas décadas, acreditamos que é mesmo insustentável. Simplesmente não vale à pena para uma editora como a nossa.
Como a editora está lidando com a chegada ao poder de um governo de extrema-direita que acabou com o Ministério da Cultura e que promete cortes em políticas públicas e sociais de fomento às artes?
A gente sente que, para a cultura como um todo, o cenário deve ser trágico. Mas também creio que é nessas crises que se renova a força de fazer coisas novas, mais desafiadoras. É como comprar uma briga mesmo, no melhor dos sentidos. De nossa parte, pretendemos publicar livros que sejam provocadores dessa onda moralizadora que, não nos enganemos, ataca tanto da direita quanto da esquerda. Achamos, por exemplo, que o Crimes e Castigos já é uma resposta a isso. É um livro de um humor muito ácido, onde o autor não poupa ninguém, simplesmente nenhum personagem ali vale nada (risos). Mort Cinder, por ser um livro de Oesterheld, com a história dele e pela própria mensagem que está por trás de muitas das histórias, também tem um recado a dar. Não vi ninguém se dar conta ou falar disso até agora, mas a última HQ do livro, A Guerra das Termópilas, de 1968, talvez seja das primeiras histórias com um fundo homoerótico dos quadrinhos.