A primeira temporada de Pumii do Vulcão, do quadrinista Rogi Silva, consta entre as minhas leituras preferidas de 2020. Essa leva inicial da série é composta por 50 posts, compartilhados duas vezes por semana pelo autor no Instagram entre 25 de março e 5 de novembro do ano passado. A segunda temporada da HQ tem estreia marcada para 12 de janeiro de 2021, com promessas de novas atualizações sempre às terças e quintas.
Pumii é poesia em quadrinhos protagonizada, ocasionalmente, pelo personagem-título e sua amiga Merapi, habitantes de um vulcão. A série é centrada, principalmente, nas interações da dupla com outras criaturas da fauna e da flora da ilha em que vivem.
“Olha, imagino que seja um quadrinho poético fantástico mesozóico devoniano”, me conta o artista em tom bem-humorado quando pergunto sobre o gênero no qual ele classificaria esse trabalho.
Autor de Não Tenho Uma Arma, Aterro, Mergulhão, Planta e Pedra Pome (vencedora do Prêmio Dente de Ouro 2020), Silva diz planejar mais 80 episódios para Pumii. Após o término, ele quer lançar a série em uma edição impressa, em parceria com alguma editora ou via financiamento coletivo. Na entrevista a seguir o quadrinista fala sobre as origens de Pumii, a segunda temporada do quadrinho e o futuro da HQ. Papo massa, saca só:
Tô perguntando para todo mundo que passa aqui pelo blog: como estão as coisas aí? Como você está lidando com a pandemia? Ela afetou de algumas forma a sua produção e a sua rotina diária?
O começo foi difícil, as coisas pareciam que nunca iriam estabilizar, mas o tempo foi passando e criei uma casca mais dura para lidar com a situação. Logo no começo do isolamento me mudei para bem próximo do mar, era um lugar mais isolado e com clima de “férias”. Isso aliviou bastante a minha ansiedade. Nesse período escrevi e li bastante, descobri novos escritores e quadrinistas. Aliás, tenho alguns projetos em andamento que foram concebidos durante essa quarentena próximo ao mar.
Você pode me contar um pouco, por favor, sobre as origens de Pumii? Essa história tem algum ponto de partida em particular?
Pumii do Vulcão, teve começo quando me cansei de notícias ruins na internet e quis resgatar os meus gostos por histórias fantásticas e poemas. É uma mistura dessas referências que sempre tive mas nunca foram evidentes em trabalhos anteriores que publiquei.
Acho que obra nenhuma precisa ser enquadrada em nenhum gênero em particular, mas fico curioso: em qual gênero você colocaria Pumii?
Olha, imagino que seja um quadrinho poético fantástico mesozóico devoniano rs
Não gosto de ler quadrinhos no computador, em tablets e celular, mas acho que esse formato do Pumii funciona bem para mim, com cada post equivalendo a uma página. Como você chegou nesse padrão?
Foi o desejo de contar uma história sem ter a obrigatoriedade de seguir uma estrutura narrativa comportada. Até porque, ultimamente, tenho achado esses tipos de narrativas muito enfadonhas de ler e fazer.
Também queria saber um pouco mais sobre o design dos personagens dessa série. Você pode me contar um pouco, por favor, sobre o desenvolvimento estético dos protagonistas da HQ?
O personagem Pumii surgiu quando estava desenhando no meu caderno aleatoriamente. A minha única preocupação era não desenhar um ser humano. Essa tem sido uma fixação constante minha, cansei de ver pessoas em minhas histórias em quadrinhos, agora quando elas aparecem sempre se dão mal.
“Não excluí totalmente o papel do meu processo”
Com quais materiais você está trabalhando nessa série? Envolve tinta e papel ou é tudo digital?
Tenho um caderno que fico planejando e escrevendo os episódios, para depois sentar em frente ao computador e passar a limpo tudo o que esbocei. Foi uma maneira que encontrei de produzir mais rápido, sem excluir totalmente o papel do meu processo.
A primeira temporada de Pumii chegou ao fim após 50 episódios. Você já sabe quantos episódios serão na segunda temporada? O quanto ela já está desenvolvida?
Provavelmente irei desenhar mais oitenta episódios para fechar. Não tenho todos escritos, mas já esbocei e escrevi bastante coisa que desejo trabalhar até que chegue ao fim.
“Pensar no formato do livro me deixa muito empolgado”
Aliás, você já sabe quando termina Pumii? Você já sabe como vai terminar a série?
Acho o final a parte mais interessante de criar para a história. Mas não gosto de pensar que tenho esse final fixo na mente. Estou permitindo que a história caminhe o suficiente para me mostrar como ela deve terminar.
Há a possibilidade de vermos Pumii impresso em um futuro próximo?
Claro. Para me dar a sensação de que o projeto foi finalizado, isso tem que acontecer. Pensar no formato do livro me deixa muito empolgado. Mas ainda não sei como vai sair, por onde publicar. Uma certeza que tenho é que não tenho condição de bancar sozinho esse projeto. Se alguma editora não publicar, pretendo fazer algum financiamento coletivo.
Você pode recomendar algo que esteja lendo/assistindo/ouvindo no momento?
Tem dois autores que li ultimamente e me deixaram inquieto. São os ensaios e poemas de [Alexandre] Pushkin e os contos de Silvina Ocampo. Gosto da ironia, do humor estranho e dos lugares inusitados em que eles me levam.