Escrevi sobre O Som ao Redor pro Divirta-se.
O som ambiente de um bairro de classe média de Recife é o protagonista de O Som ao Redor, estreia do crítico de cinema Kléber Mendonça Filho na direção de um longa de ficção. Nono colocado no ranking de melhores de 2012 do crítico do New York Times A. O. Scott, o filme foi listado em companhia dos últimos lançamentos de Steven Spielberg (‘Lincoln’), Quentin Tarantino (‘Django Livre’) e Paul Thomas Anderson (‘O Mestre’) – os três com estreias no Brasil previstas para este mês de janeiro.
Vencedor dos prêmios de Melhor Filme de Ficção e Roteiro na edição de 2012 do Festival do Rio, ‘O Som ao Redor’ investe num departamento técnico tradicionalmente deficitário no cinema nacional. A espetacular captação de áudio, assinada pelo próprio diretor, é o ponto mais alto desta obra, com enredo determinado pelas várias tonalidades dos sons naturais de uma cidade.
Uma dona de casa tenta calar o cão da vizinha com remédios, briga com a irmã e assiste às aulas de chinês dos filhos. Um jovem rico vende terrenos e investimentos de sua família e inicia um novo namoro. Uma empresa de segurança começa a funcionar no bairro e provoca suspeitas na vizinhança. São várias as histórias sobrepostas e intercaladas em ‘O Som ao Redor’, todas tratando de temas distintos, mas conectadas por uma mesma região e por pequenos fatos, comuns entre os núcleos.
Os diálogos, que também costumam ter desenvoltura limitada no cinema nacional, neste filme de Kléber Mendonça ressaltam o cuidado explícito dos realizadores com o áudio. Naturais, eles fluem sem dificultar a compreensão do espectador e ressaltam as sonoridades do sotaque recifense.
O forte conjunto de atores que compõe o elenco deixa o roteiro ainda mais espontâneo, com destaque para o bom trabalho de Irandhir Santos, o deputado Diogo Fraga de ‘Tropa de Elite 2’. Com este filme que faz do espectador quase um voyeur, 2013 começa promissor para o cinema nacional.