A máfia em crise em O Homem da Máfia

Escrevi sobre O Homem da Máfia na última edição do Divirta-se.

Os últimos instantes do governo de George W. Bush, a disputa entre democratas e republicanos pela Casa Branca nas eleições de 2008 e a posse do primeiro mandato de Barack Obama servem de pano de fundo para o enredo de O Homem da Máfia. O cenário de transformação instaurado no início da campanha que resultou na eleição do primeiro presidente negro dos EUA evidencia o tema preponderante desta produção estrelada por Brad Pitt: até os gângsteres, alguns dos elementos mais nefastos do idílico sonho americano, estão em ruínas no mundo pós-crise financeira de 2008.

Este é apenas o segundo longa do diretor Andrew Dominik, responsável também por ‘O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford’ (2007). O roteiro – adaptado de ‘Cogan’s Trade’, romance policial escrito por George Higgins em 1974, inédito no Brasil – coloca Brad Pitt no centro da trama. Ele interpreta Jackie, um assassino de aluguel contratado pela máfia para encontrar os responsáveis pelo assalto a um grupo de gângsteres durante um jogo de cartas.

O filme aparenta ter muito mais que seus 97 minutos e não por suas várias cenas de diálogo com longa duração. Pelo contrário: as extensas conversas entre o personagem de Pitt e alguns coadjuvantes, como os vividos por James Gandolfini (o patriarca de ‘Família Soprano’) e por Richard Jenkins (de ‘O Visitante’, 2007), são extremamente benéficas ao enredo. Os excessos ficam por conta de algumas cenas de violência. Sem o aspecto caricatural da brutalidade de ‘Drive’ (2012), o grafismo de alguns trechos de ‘O Homem da Máfia’ não acrescentam nada à história.

Intérprete de um suspeito pela organização do assalto, Ray Liotta é uma das presenças mais significativas do bom elenco reunido por Dominik. “Até onde me lembro, sempre quis ser um gângster”, disse Liotta na abertura de ‘Os Bons Companheiros’ (1990), de Martin Scorsese. Vinte e dois anos depois, ‘O Homem da Máfia’ mostra como até a menos célebre das aspirações pode ser desconstruída em uma economia quebrada.

Avatar photo
Ramon Vitral

Meu nome é Ramon Vitral, sou jornalista e nasci em Juiz de Fora (MG). Edito o Vitralizado desde 2012 e sou autor do livro Vitralizado - HQs e o Mundo, publicado pela editora MMarte.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *