Estava morando em Londres no início de 2014 quando vi no metrô a publicidade de um livro recém-lançado pela Crown Publishig chamado The Martian. Longe de ser uma obra-prima da literatura mundial ou mesmo um clássico da ficção científica, o livro era divertido, sem muitas pretensões. Li em poucos dias e entrei em contato com o escritor, Andy Weir (esse cara aqui em cima). Ele me contou que os direitos de adaptação do filme tinham sido vendidos naquela semana, mas não estava tão empolgado assim. Mesmo com a venda dos direitos pra a Crown e pra Fox, não era dinheiro suficiente pra largar o trabalho como engenheiro de software e viver só de se escrever. Contei essa história em uma matéria publicada no Estadão.
Continuei acompanhando a vida de Weir de longe, pelo Facebook. Depois que meu texto saiu ele anunciou que a Crown havia assinado um contrato para um novo livro e que ele largaria a vida de engenheiro de software. Ele também revelou que a adaptação do livro seria dirigida pelo Ridley Scott e protagonizada pelo Matt Damon. Aí apareceram fotos dele na companhia dos atores do longa, registros de visitas à Nasa e outras de passeios em convenções e eventos nerds nos Estados Unidos. Voltei a entrar em contato com Weir no início de agosto, marcamos uma entrevista por Skype e ele me contou o tanto que a vida dele havia mudado desde nossa primeira conversa. Transformei esse papo em matéria outra vez, agora pro Uol.
Já disse por aqui: sei lá se a versão pro cinema de The Martian será lá essas coisas. Boto fé pelo elenco e pelo material de divulgação apresentado até aqui. Apesar dos pesares recentes na filmografia do Ridley Scott, ele ainda é o cara que dirigiu Alien e Blade Runner, então tem crédito também. Ainda assim, o mais divertido nessa história toda foi acompanhar a trajetória do autor do livro nesse período entre o lançamento da obra e a chegada da adaptação nos cinemas. Sensacionais os rumos que a vida de alguém pode tomar. Andy Weir deixou de ser um nerd, fã de ficção científica, pra virar peça na indústria do entretenimento, coisa que ele ainda está se esforçando pra entender. Prova disso é uma coleção recente bastante particular iniciada por ele quando The Martian ganhou suas primeiras edições internacionais.
O livro começa com seu protagonista constatando: “I’m pretty much fucked”. Weir passou a reunir e reproduzir em seu Facebook as versões dessa frase em todas as línguas para as quais o livro era traduzido. Na minha última entrevista ele me pediu pra explicar o sentido literal da frase que abre a edição nacional, “Eu estou ferrado”. Expliquei que estava mais pra “screwed”, uma versão suavizada do “fucked” deles. Uma besteira, mas da qual ele riu bastante. Pelos rumos que a vida dele tomou nos últimos dois anos, taí um cara com motivo de sobra pra rir de qualquer bobeira, né?