Capitão América 2: O Soldado Invernal equivale ao nono capítulo da versão cinematográfica do Universo Marvel. O filme dirigido pelos irmãos Anthony e Joe Russo desconstrói os principais conceitos estabelecidos nas oito produções prévias que resultaram na formação dos Vingadores. Em seguida à última das duas cenas pós-créditos do longa, a cronologia da Marvel no cinema toma rumos inesperados e definitivos para o grupo de super-heróis composto, até então, por Homem de Ferro, Thor, Hulk, Capitão América, Viúva Negra e Gavião Arqueiro. Produção mais madura da série, a continuação estreia no Brasil dia 11 de abril e apresenta o personagem mais profundo e promissor da Marvel Studios até o momento, o Soldado Invernal (da foto acima). Assisti à produção ontem a tarde em um cinema no centro de Londres e o público sem conhecimento da identidade secreta do vilão não segurou o choque quando ela foi revelada. O “oooohhh” foi coletivo.
Ainda tentando se adaptar ao mundo contemporâneo após passar quase 70 anos congelado, Steve Rogers vive em função das missões da S.H.I.E.L.D. Sem qualquer vida social, ele possui um pequeno caderno no qual anota as várias obras que ele precisa assistir/escutar/ler/comer/conhecer/ver para ficar em dia. Nela constam o seriado I Love Lucy, a chegada do homem à Lua, a construção e a queda do Muro de Berlim, a Copa do Mundo de futebol, música Disco, comida tailandesa, Star Wars e Star Trek, os Beatles, James Bond e o filme Rocky. Por recomendação de um colega de corridas por Washington chamado Sam Wilson, ele inclui a trilha sonora do filme Trouble Man, composta por Marvin Gaye. Alter-ego do personagem Falcão nos quadrinhos, Wilson é interpretado por Anthony Mackie. Além de uma ótima inclusão ao grupo de personagens da Marvel no cinema, ele compartilha alguns dos principais dramas e dilemas vividos pelo protagonista.
Enquanto o herói cumpre missões secretas para o governo norte-americano, Nick Fury coordena uma nova empreitada da S.H.I.E.L.D., um conjunto de aeronaves de guerra semelhante à derrubada por Loki em Os Vingadores. Agora, elas possuem uma tecnologia ainda mais avançada, fornecida pelas Indústrias Stark. Apesar da relutância de Steve Rogers em relação ao projeto, ele é levado a diante por Fury e seu superior, Alexander Pierce (Robert Redford). Uma conspiração interna tira de Fury o controle da frota, torna o Capitão América e a Viúva Negra fugitivos e apresenta ao mundo o Soldado Invernal. Assim como em sua primeira aparição nos quadrinhos, o personagem é mostrado como uma lenda da Guerra Fria. Vários acontecimentos políticos e históricos tiveram suas ações criminosas como ponto de partida, mas com pouquíssimos vestígios de suas interferências. Com um braço de metal, ele luta de igual pra igual com o líder dos Vingadores.
Apesar das ótimas cenas de ação, os melhores instantes do filme são os mais intimistas – e são vários. A visita de Steve Rogers à sua antiga namorada Peggy Carter, os diálogos entre o Capitão e Sam Wilson, os momentos de fragilidade de Nick Fury, a fuga acompanhada pela Viúva Negra, a exposição sobre a vida do Capitão América e todos os choques entre o herói e seu antagonista. Como os trailers venderam, o clima é de thriller político dos anos 70 e a ação é apenas um detalhe no melhor roteiro já filmado pela Marvel Studios. A primeira cena pós-crédito é empolgante em relação ao futuro da série. Com os direitos dos X-Men vendidos para a Fox, as mentes criativas do estúdio arrumaram uma alternativa para apresentar o conceito de mutantes em suas produções. A ideia é mostrada ali, uma prévia de Os Vingadores 2 – A Era de Ultron, com lançamento previsto para 2015. Mas está na cena extra seguinte o ponto alto de todo o filme. É simples, mas essencial. Fique até o fim.
PS: veja se consegue pegar a referência mais mórbida e sutil já feita a Pulp Fiction. Ri alto.