Escrevi pro Divirta-se de hoje sobre Em Transe, filme novo do Danny Boyle.
Nos filmes de Danny Boyle predominam fotografias estouradas, cenas impactantes e passionalidade aflorada. Seja na correria da abertura de ‘Trainspotting’ (1996) ou na dança ao final de ‘Quem Quer Ser um Milionário?’ (2008); no sol agonizante de ‘Sunshine’ (2007) ou na ação aflitiva do protagonista de ‘127 Horas’ (2010), esses traços do diretor são impressionantes – e difíceis de esquecer.
Em Transe não foge ao padrão. Assim como ‘A Origem’ (2010), de Christopher Nolan, e ‘Brilho Eterno de Uma mente Sem Lembranças’ (2004), de Michel Gondry, a trama se desenrola majoritariamente na memória de seus protagonistas. Um grupo de ladrões contrata uma especialista em hipnose para encontrar, na mente de um de seus membros, um quadro furtado pelo bando: ‘Bruxas no Ar’, de Francisco Goya (1746-1828).
A trama se desenrola a partir do relacionamento entre o ladrão que esquece o destino da pintura após ser agredido (James McAvoy), o líder dos vigaristas (Vincent Cassel) e a médica especializada em hipnoterapia (Rosario Dawson). O tempo passa, a obra não é encontrada e as tensões afloram entre o trio.
O uso excessivo de algumas das características presentes na filmografia de Boyle acabam por tornar parte do filme cansativa – como a presença de luzes em tons de néon, a trilha sonora acelerada e o roteiro pouco linear. No entanto, esses mesmos elementos também auxiliam a criar o clima de confusão na cabeça dos protagonistas e do próprio espectador. A partir de determinada sessão de hipnose, fica difícil distinguir os instantes de transe da realidade.
Vencedor do Oscar de direção em 2008 por ‘Quem Quer Ser um Milionário?’, Danny Boyle tece um enredo sobre o qual quanto menos se sabe, melhor. Mistura de filme policial com romance e suspense – e algumas cenas de extrema violência –, ‘Em Transe’ reúne um elenco louvável em uma história bastante original. As subtramas escondidas em pequenos detalhes exigem foco, sim, quase hipnótico.