Entrevistei o diretor Marcus Alqueres pra edição de outubro de Galileu. Ele é o responsável por um dos filmes mais legais de 2013, o curta Flying Man. Já tinha postado a produção por aqui ano passado, mas confere ela aí de novo antes de ler a nossa conversa.
O brasiliense voador
Com Flying Man, Marcus Alqueres pode ter conseguido ingresso para entrar em Hollywood
Com seu The Flying Man, o brasiliense Marcus Alqueres, 35 anos, segue a mesma estratégia de nomes como Neill Blomkamp (Distrito 9 e Elysium) e Feder Alvarez (A Morte do Demônio), que dirigiram seus primeiros longas após o sucesso de produções de curta duração. Com custo que, segundo ele, “equivale a apenas uma fração do que se paga em editais de curtas no BRasil”, ele alcançou quase 500 mil visualizações em apenas um mês online. Formado em desenho industrial e residente no Canadá desde 2005, ele não é novato na indústria e já prestou serviços de animação e efeitos especiais em filmes como 300 e As Aventuras de Tintim. Galileu conversou com ele por e-mail.
Você esperava que a repercussão de The Flying Man seria tamanha?
Trabalhando por tanto tempo em alguma coisa você cria expectativas, é natural, mas quando realmente acontece é diferente, muita coisa te pega de surpresa. É sempre bom ver o reconhecimento do seu trabalho ainda mais quando vem de pessoas que você admira.
Como surgiu história de ‘The Flying Man’?
Exatamente do fato de nunca ter visto algo no cinema que explorasse um super-herói ou vigilante pelo ponto de vista da população. Sempre imaginava como uma sociedade reagiria com um homem voando pela cidade. Nos filmes que vemos estamos sempre na ótica deles, quando na realidade pouco saberíamos a respeito. Além disso adicionei o fato do herói não ser politicamente correto e operar através de sua lógica própria, desconsiderando as leis locais. Isso criaria um impacto muito maior.
O Neill Blomkamp filmou Distrito 9 após o sucesso do curta Alive in Joburg. O Sam Raimi convidou o Fede Alvarez para dirigir a refilmagem de Evil Dead após assistir Ataque de Pánico. Qual o papel dessas produções independentes e digitais para Hollywood?
A indústria de cinema está sempre a procura de projetos que possam ter retorno financeiro. Quando se tem um curta metragem na internet chamando a atenção de muita gente, isso funciona como uma prova de que existe um público forte para aquela ideia. Então esse curtas conseguem mostrar ao mesmo tempo que aquela ideia é interessante quando executada corretamente e que existe uma audiência que potencialmente pagaria para ver mais.
Você foi procurado por algum estúdio, produtora ou diretor após o lançamento do curta?
Sim, o interesse está sendo grande, estou trabalhando em parceria com agentes a fim de achar o melhor lugar para produzir o The Flying Man.
O George Lucas e o Spielberg deram na Universidade da Califórnia no começo de junho. Uma das falas do próprio Lucas foi: “Os estúdios estão obcecados em gastar muito para ter um retorno enorme, e isso não vai funcionar para sempre”. O que pensa a respeito?
Eu concordo, principalmente depois desse ano, com a maioria dos blockbusters decepcionaram nas bilheterias. Já existe uma corrida para explorar filmes produzidos de forma mais independente e barata mas que conseguem apoio de estúdios para ter uma divulgação maior. Esse ano mesmo tiveram filmes produzidos com quatro milhões de dólares que tiveram mais bilheteria que muitos que custaram 100 milhões. Um filme grande de estúdio tem que fazer mais de 500 milhões em bilheteria apenas para não ter prejuízo, não tem como manter esse sistema por muito tempo.
Nesse contexto de mudanças, como o formato digital facilita a entrada de novos nomes no mercado?
Hoje em dia com um capital de giro muito baixo você já tem acesso a muita coisa. Câmeras estão mais baratas que nunca, computadores e softwares estão a disposição. A tecnologia não impõe mais restrições como antigamente, isso democratiza muito a aparição de novos talentos. Antigamente só quem tinha acesso a certos equipamentos tinha oportunidade de se mostrar. A parte de divulgação também evoluiu: dez anos atrás, o caminho mais correto era inscrever em festivais, esperar meses para ser selecionado, gastar dinheiro criando sua cópia em filme e um outro tanto para pode enviar. No final de tudo apenas umas poucas centenas quando não dezenas de pessoas veriam seu trabalho, era uma loteria. Hoje em dia, colocando no You Tube ou no Vimeo, seu trabalho tem a chance de ser visto por milhares ou até milhões de pessoas em muito pouco tempo, atraindo a atenção do seu público alvo com muito mais eficiência. E, logicamente, você ainda pode aplicar para os mesmos festivais só que de forma digital, o que facilita bastante.
Quais lições os grandes estúdios podem tirar de produções como ‘The Flying Man’?
Difícil falar. Produções como a minha não custam tanto pois as pessoas sabem que você não tem um orçamento e muitas vezes não vão te cobrar ou cobram uma taxa diferenciada. Se, por exemplo, eu tivesse filmado com atores sindicalizados, eu teria gastos que eu não tive, como seguros, refeições extras dentre outras normas. O mesmo acontece com produções grandes, existe um sistema que provavelmente já está inflacionado e fica muito difícil cortar certos custos. Por outro lado existem outros formatos, sendo cada vez mais utilizados hoje em dia, no qual os profissionais ganham uma cota no filme em troca de cobrarem menos dos produtores. Se o filme é um sucesso financeiro todos ganham, caso contrário o risco e dividido entre todos. A criatividade ajuda também a abaixar custos. A solução mais fácil é jogar dinheiro para arrumar qualquer problema, já em The Flying Man a falta de capital me fez gerar soluções que não me custaram nada, mas que tiveram resultados satisfatórios.
Quando você filmou o curta, tinha em mente um passado para o personagem e futuras histórias traçadas pra ele?
Sim, eu ja tinha uma base para ele. Ter um passado te ajuda a escrever cenas para qualquer personagem. Logicamente estou evoluindo a história para uma possível adaptação para o cinema. Aguardem.
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Blockbuster de bolso
Todos estão em choque com o surgimento do homem voador. As autoridades seguem os destino da criatura, em vão. A partir de dado momento, ele passa a capturar pessoas aleatórias e jogá-las do céu. Instaurado o pânico, a polícia detecta o padrão: ele só ataca quem tem fichas criminais. O final da história – ou apenas o começo se Hollywood não deixar passar – você assiste em http://vimeo.com/69882318