Infância Clandestina

Escrevi pro Divirta-se sobre Infância Clandestina, filme argentino aspirante a uma vaga na seleção dos candidatos a Melhor Filme Estrangeiro no Oscar de 2013.

Juan e sua família retornam à Argentina em 1979, após três anos fugindo da ditadura instaurada em 1976. Militantes de esquerda, que se opõem ao governo vigente, os pais do garoto de 12 anos assumem novas identidades e determinam que Juan passe a ser chamado de Ernesto Estrada. E é a dura passagem da infância para a adolescência de Juan, retratada em Infância Clandestina, a aposta argentina para uma vaga na categoria de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar 2013.

Ambientado durante o período mais nefasto da história recente do país vizinho, o roteiro é baseado na vida do diretor do filme, Benjamín Ávila – que assina o texto junto com o brasileiro Marcelo Müller. Ponto alto da produção, o elenco equilibra as muitas nuances de um enredo que trabalha com múltiplos gêneros: da tensão do drama político à ingenuidade de um romance infantil. As cenas compartilhadas por Juan e seu tio Beto (Ernesto Alterio) e a discussão entre os pais do garoto e sua avó merecem atenção especial.

Retratar um cenário em ruínas por conta de um governo ditatorial ou de posições políticas familiares a partir do ponto de vista de uma criança não é novidade. Somente na década de 2000, este foi o mote do chileno ‘Machuca’ (2004), do francês ‘A Culpa é do Fidel’ (2006) e do brasileiro ‘O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias’ (2006). Mas ‘Infância Clandestina’ está longe de ser mais um e faz coro ao alto padrão estabelecido por seus antecessores.

O uso de animação nos instantes mais nervosos da trama auxiliam a expressar os terrores crescentes vivenciados pelo protagonista, interpretado pelo promissor Teo Gutiérrez Romero. A linguagem, típica de narrativas lúdicas, é utilizada em prol de um roteiro baseado em fatos trágicos e pouco receptivos a uma identidade em formação. Estreante na direção de um longa, Ávila entrega um projeto grandioso, fortalecido pela presença de César Troncoso, de ‘O Banheiro do Papa’ (2007), e da atriz e cantora uruguaia Natalia Oreiro, que vivem os pais de Juan.

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Ramon Vitral

Meu nome é Ramon Vitral, sou jornalista e nasci em Juiz de Fora (MG). Edito o Vitralizado desde 2012 e sou autor do livro Vitralizado - HQs e o Mundo, publicado pela editora MMarte.

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