Os editores da DarkSide Books planejam dar continuidade à expansão da linha de quadrinhos da editora em 2019. O selo DarkSide Graphic Novels foi iniciado em 2017, com títulos como Meu Amigo Dahmer e Black Hole, ganhou aquisições de peso em 2018 com o lançamento de obras internacionais como Black Dog, de Dave McKean, e Refugiados, de Kate Evans. No ano passado saíram os primeiros quadrinhos nacionais, com Samurai Shirô, de Danilo Beyruth, e Imaginário Coletivo, de Wesley Rodrigues.
Em papo por email com o blog, o editor Bruno Dorigatti promete títulos impactantes para os próximos meses. Em seguida ao lançamento do mangá A Menina do Outro Lado, já chegou em algumas livrarias a coletânea de HQs de horror Floresta dos Medos, de Emily Carroll. O próximo lançamento será Big Baby, com algumas das primeiras HQs de Charles Burns. Depois virão Jolies Ténèbres (ainda sem título em português), trabalho de Fabien Vehlmann e Kerascoët presente em várias listas de melhores do ano em 2014, e uma edição comemorativa de 30 Dias de Noite, de Steve Niles e Ben Templesmith.
“Temos alguns projetos de HQs nacionais em desenvolvimento, ainda para 2019, mas que não podemos comentar agora”, adianta o editor. Na conversa a seguir, Dorigatti também fala sobre a repercussão dos lançamentos da linha de quadrinhos da DarkSide no ano passado, as principais lições que a editora tirou da crise das grandes livrarias e o retrocesso político pelo qual passa a sociedade brasileira com o governo de Jair Bolsonaro. Papo massa, saca só:
Você pode, por favor, adiantar e comentar alguns dos lançamentos da editora para 2019?
Começamos o ano publicando nosso segundo mangá, A Menina do Outro Lado, do Nagabe; em breve já sai o segundo volume. Publicamos também o aguardado Floresta dos Medos, de Emily Carroll e suas histórias góticas; Francis, da italiana Louptyn, fantasia que dialoga com a produção japonesa; e Big Baby, compilação de histórias curtas do personagem do título, de Charles Burns. No prelo, temos Jolies Ténèbres (título a definir), com roteiro de Fabien Vehlmann e arte de Kerascoët. Ainda no semestre, saem as HQs da nossa parceria com a Image Comics; e uma edição comemorativa do clássico 30 Dias de Noite, de Steve Niles e Bem Templesmith.
E, no momento, temos alguns projetos de HQs nacionais em desenvolvimento, ainda para 2019, mas que não podemos comentar agora.
Como foi o retorno da editora em relação à linha de quadrinhos em 2018? Entre os meus títulos preferidos publicados por vocês ano passado estão Black Dog e Refugiados, que tipo de resposta vocês tiveram em relação a esses trabalhos?
O retorno dos leitores tem sido surpreendente. Nossos leitores e fãs que não eram leitores de HQs estão mergulhando nelas e compreendendo que o gênero hoje tem produzido muita coisa que foge dos padrões já estabelecidos. E os leitores de HQs seguem pedindo títulos já consagrados lá fora e que não haviam tido uma oportunidade por aqui, como Meu Amigo Dahmer, Creepshow, N. e Wytches. Ou estavam esgotados, caso de Black Hole e O Corvo.
Clássicos como a adaptação de Paraíso Perdido, de John Milton, pelo artista espanhol Pablo Auladell foi uma grata surpresa, com uma reação bastante empolgada dos leitores. E publicar a adaptação oficial de Yellow Submarine nos 50 anos da animação é algo que muito nos orgulha.
Black Dog tem maravilhado os leitores que conheciam o trabalho de Dave McKean sobretudo por conta de Sandman. Vimos a HQ mencionada em várias listas de melhores do ano dos blogs e canais dedicados ao gênero.
Refugiados é uma excelente obra de jornalismo em quadrinhos da britânica Kate Evans, e consideramos fundamental e cada vez mais necessário abordarmos questões urgentes, como a imigração, a crise dos refugiados, o aumento da xenofobia e do racismo.
Em 2018 a DarkSide investiu pela primeira vez em HQs nacionais. Qual balanço vocês fazem dessa experiência? Há planos para outras HQs de autores brasileiros para 2019?
Sempre foi o nosso desejo, e enfim conseguimos colocar nas ruas duas HQs bem diferentes, mas igualmente desafiadoras. Imaginário Coletivo é um projeto de alguns anos do Wesley Rodrigues, um dos grandes animadores brasileiros, uma fantasia surreal da qual éramos grandes fãs aqui na editora. Já com Samurai Shirô, é incrível ver o Danilo Beyruth se debruçar sobre uma história contemporânea, focada na cultural oriental e sua relação com a cidade de São Paulo.
A ideia do selo Graphic Novel é que ele continue a espelhar e a dialogar com as demais linhas editorias do nosso catálogo. Como disse acima, teremos novidades e mais autores nacionais em 2019.
Quais as principais lições que a DarkSide tirou da crise das grandes livrarias que aflorou em 2018? Como a editora pretende lidar com essa crise em 2019?
O ponto pacífico, por ora, é que o modelo de consignação não pode mais ser o modelo de negócios do mercado editorial. Estamos sempre procurando abrir novas formas e novas parcerias para levar os nossos títulos para mais leitores e mais regiões do país. No final de 2018, inauguramos a nossa
nova casa, darksidebooks.com, com vendas diretas aos leitores, a Experiência Dark com produtos exclusivos (pôsteres, marcadores, luvas, sketchbooks) que acompanham alguns de nossos títulos, além do Dark Blog, que publica semanalmente novidades sobre o universo dos nossos livros.
A saída é ampliar o contato direto com os leitores, tanto de maneira on-line – apresentando e instigando os leitores a conhecer e se interessar pelos nossos lançamentos e também pelo nosso catálogo –, como participando de eventos e fazendo lançamentos, bate-papos, convescotes e outras formas de encontra e dialogar com todos aqueles que acreditam no poder das boas histórias.
Como a editora está lidando com a chegada ao poder de um governo de
extrema-direita que acabou com o Ministério da Cultura e que promete cortes em políticas públicas e sociais de fomento às artes?
O novo governo não se furta de nos decepcionar diariamente. Sabíamos que seria terrível, mas mesmo os mais céticos ainda tinham uma ponta de esperança de que não poderia ser tão medíocre, desestruturado e sem uma agenda definida. O trio de ministros ideológicos – formado pelo olavismo que sitiou e ocupou os Ministérios da Educação, das Relações Exteriores e do Meio Ambiente –, além do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, tem sido o mais preocupante.
Não só abriram mão de avanços recentes nas respectivas áreas, como têm caminhado a passos céleres rumo ao passado, sem pessoas minimamente capazes de compreender as complexidades do planeta em 2019.
O caminho é publicar obras que levem o leitor brasileiro ao diálogo e ao
questionamento. A literatura nos mostra outros pontos de vista, nos ajuda a caminhar e a encontrar novas saídas para questões urgentes e coletivas. Os temas contemporâneos sempre estiveram em nosso radar e seguimos publicando obras que certamente podem nos ajudar a encontrar saídas diante da tragédia na qual nos encontramos.