A terceira edição da Dente Feira de Publicações está marcada pra rolar amanhã (17/6) em Brasília, na praça interna do Conic e na salas da Faculdade Dulcina de Moraes, das 10h às 22h. A cena de quadrinhos e publicações independentes do Distrito Federal é das mais interessante do país e a lista de artistas e editoras com presença confirmados no evento chama atenção (saca só). Junto com a feira também serão anunciados os vencedores da segunda edição do Prêmio Dente de Ouro. Você confere a íntegra da programação no site do evento – e eu recomendo bastante a ida para quem estiver em Brasília.
Bati um papo por email com o quadrinista Daniel Lopes, um dos organizadores do evento e que respondeu algumas perguntas sobre a feira em nome de seus colegas da equipe Dente (composta pelos selos e artistas LTG, MÊS, Lovelove6, Piqui, Extraterrestre e Heron). [OBS: lá na Dente você encontra as edições 3, 4, 5 e 6 da Série Postal. Os quadrinhos podem ser retirados de graça nas mesas do coletivo Mês e da Taís Koshino/Selo Piqui]. Segue a minha conversa com os organizadores da Dente:
A próxima edição da Dente será a terceira. Que balanço vocês fazem do evento até o momento?
Acreditamos que desde a primeira edição da Dente a feira veio crescendo e se consolidando na cena independente. Da primeira pra segunda edição houve um aumento significativo de expositores e atividades e a feira passou a ocupar a área externa da Faculdade Dulcina de Moraes, localizada no Conic, um conjunto de prédios central em Brasília e muito importante na história da cena cultural underground da cidade. Do ano passado pra esse reduzimos um pouco o tamanho da feira e das atividades, buscando ter uma melhora na organização, qualidade e no cuidado com cada atividade, então acreditamos que a feira tem um ganho geral em qualidade. Continuamos com um grande interesse de expositores e muita rotatividade, tem muita coisa nova esse ano que não teve nos outros e tem muita gente que veio nos outros que não poderão vir esse ano, isso é uma característica bacana da feira pois dá uma arejada no tipo de trabalho que aparece por aqui. Além disso, o Prêmio Dente de Ouro se consolida em sua segunda edição, mais direcionado pros quadrinhos e zines e com muitos trabalhos interessantes, mostrando que é possível fazer um prêmio independente com remuneração financeira dentro da cena. Para o ano que vem já estamos com muita coisa programada e articulada que vai facilitar a viabilidade do evento, então podem esperar por algo ainda mais legal.
Há um aumento no número de feiras de quadrinhos e publicações independentes por todo o país, o que faz com que cada evento busque públicos mais específicos e tenham suas linhas editoriais mais claras. Com a Dente chegando na terceira edição, vocês conseguem sintetizar qual é essa linha editorial do evento? Vocês têm claro qual é o público de vocês?
A Dente sempre buscou acolher as mais diferentes vertentes da produção autoral e independente de impressos nacional. Mesmo que todos nós da organização tenhamos uma forte ligação com os quadrinhos, na seleção da feira sempre procuramos transmitir essa diversidade, indo desde o zine punk de xerox até as publicações com um acabamento maior e as pequenas editoras independentes. Acredito que esse é um dos diferenciais da nossa feira e deu pra sentir no processo de seleção desse ano que o publico já se relaciona com isso. Foi a primeira vez que fizemos uma grande convocatória aberta – nos anos anteriores dividíamos as inscrições entre convidados, interessados que nos procuravam e convocatórias menores -, e vimos que os autores que nos procuraram e se inscreveram traduziam bem essa diversidade.
Queria saber o mesmo de vocês em relação ao Prêmio Dente. Vocês conceberam alguma linha editorial que permeia esse processo de seleção dos trabalhos finalistas?
O processo de seleção do Prêmio Dente passa muito pelos jurados. Nas duas edições do prêmio o júri foi parte da organização da feira. Na edição passada fomos todos nós, e esse ano apenas alguns. Então o processo de seleção tem muito da subjetividade de cada jurado, mas acreditamos que as diferenças entre eles forma uma boa combinação. Apesar dessas subjetividades, existe uma preocupação de avaliar os trabalhos com base em critérios de originalidade, acabamento, utilização dos materiais, relevância socio-culural e outros.
Um elemento característico que eu vejo da cena de quadrinhos de Brasília, presente em vários dos autores e dos coletivos que eles formam, é uma vontade constante de experimentar em relação a formatos. Isso também faz parte da identidade da Dente?
Acredito que sim. Desde a primeira edição da dente nós estamos experimentando tanto no formato da feira quanto nas oficinas e demais atividades. A primeira edição aconteceu dentro da galeria da Faculdade Dulcina com as oficinas nas salas do 5º andar no sab e domingo, a segunda foi para a area externa com as atividades ali perto, no hall da faculdade, na sexta e sabado; e pra edição desse ano investimos em uma feira de um dia só, indo das 10h22h e com uma programação de atividades mais concisa. Pro ano que vem o projeto é ainda mais diferente, mas por enquanto é só isso que podemos dizer.
Um dos debates da Dente é sobre estratégias de financiamento de publicações independentes e grande parte dos autores e expositores da feira são independentes, com trabalhos bancados do próprio bolso. Nós estamos em um cenário de crise econômica. Vocês notam alguma influência desse contexto no número de títulos publicados e financiados pelos próprios autores em relação ao evento do ano passado?
É um pouco dificil responder essa pergunta antes da feira acontecer, tem muita coisa nova dentre os participantes da feira então pra gente também terá algum nível de surpresa com o quanto iremos encontrar. Mas a gente vem sentido sim que a situação do país tem dificultado um pouco pra muita gente, inclusive dentre nós. As novas regras de bagagem das companhias aéreas, por exemplo, vão complicar muito a participação de autores independentes em feiras fora de seus estados.
O Brasil vive um imenso caos político, nossos representantes nunca estiveram em tamanho descrédito, há um conservadorismo crescente pelo país e todos os olhos estão voltados para Brasília. Como principal evento de quadrinhos e publicações independentes da capital do país, a Dente pretende se posicionar de alguma forma em relação a todo esse cenário?
A Dente se posiciona claramente contra o golpe que foi dado no Brasil e toda movimentação para aprovar reformas trabalhistas e retiradas de direitos sociais. Também nos posicionamos a favor da diversidade e contra a perseguição contra minorias por parte de grupos conservadores de tendências fascistas. Nosso lado é o da produção autoral, independente, underground e ela não tem como se concretizar em toda sua potência sem a diversidade.