Bryan Lee O’Malley, Los 3 Amigos completo e Charles Burns: confira lançamentos do selo de HQs da Companhia das Letras para 2018

Quem acompanha a conta do selo de HQs da Companhia das Letras no Instagram já percebeu os planos grandiosos para a Quadrinhos na Cia em 2018. Por lá constam prévias de algumas das publicações mais aguardadas dos próximos meses: a capa de Desenhados Um Para o Outro, parceria de Robert Crumb e Aline Kominsky; um trecho de um depoimento de Art Spielgeman para Metamaus; a adaptação das páginas de Minha Coisa Favorita é Monstro, de Emil Ferris, para o português; rascunhos de Odyr Bernardi para a adaptação de A Revolução dos Bichos; e uma foto de Guazzelli entregando os originais do álbum A Batalha na sede da editora.

De acordo com o editor da Quadrinhos na Cia, Emilio Fraia, a expectativa é o catálogo do selo ganhe cerca de dez títulos em 2018. Ele também promete o a trilogia Last Look, de Charles Burns – traduzida para o português por Diego Gerlach como Sem Volta; as adaptaçõess de O Idiota, de Dostoiévski, assinada por André Diniz, e A Obscena Senhora D, de Hilda Hilst, por Laura Lannes; a parceria entre a escritora Simone Campos com a quadrinista Amanda Paschoal em O Aleph de Boatafogo; o primeiro volume de Snotgirl, de Bryan Lee O’Malley (criador de Scott Pilgrim) e Leslie Hung, com o título em português de Garota Ranho; e A Origem do Mundo, publicação aclamada da quadrinista sueca Liv Stromquist.

Além da outras possíveis surpresas, Fraia ainda promete a edição completa de Los 3 Amigos, com a versão integral do trabalho conjunto assinado por Angeli, Laerte, Glauco e Adão Iturrusgarai. Conversei com o editor sobre os próximos lançamentos da editora, as revelações feitas por Robert Crumb e Aline Kominsky em Desenhados Um Pelo Outro e o trabalho de edição e adaptação do complexo Minha Coisa Favorita é Monstro. Confira:

My Favorite Thing is Monsters, de Emil Ferris


Na conta da Quadrinhos na Cia no Instagram há alguns teasers dos próximos lançamentos do selo. Há prévias de publicações como Minha Coisa Favorita é Monstro, Desenhados Um Para o Outro, Metamaus, o Revolução dos Bichos, do Odyr, e A Batalha do Guazzelli. Também já li a respeito do lançamento do Miseráveis, do Marcatti, e da trilogia Last Look, do Charles Burns. Você pode adiantar alguma agenda para esses lançamentos? Há alguma outra publicação do selo para 2018 que vocês ainda não anunciaram e poderiam adiantar?

A previsão é de cerca de dez lançamentos em 2018, um pouco mais do que nos últimos anos. Um dos mais aguardados é sem dúvida o Minha Coisa Favorita é Monstro, da Emil Ferris (com tradução do Érico Assis), que encabeçou todas as listas de melhor graphic novel de 2017 e ganhou o Ignatz Indie Comics Award. O livro é o diário desenhado (todo feito com esferográfica) de uma garota de dez anos obcecada por filmes B de terror. Além desse, vamos publicar a aguardada trilogia do Charles Burns, que aqui vai se chamar Sem Volta, com tradução do Diego Gerlach. Vamos fazer o A Batalha, do Guazzelli com roteiro da Fernanda Veríssimo, que se passa em 1641 e resgata um episódio pouco conhecido da história do Brasil, a batalha do Mbororé, que opõe os guaranis das recém-formadas missões jesuítas, no sul, a caçadores de índios vindos de São Paulo. O Metamaus e a adaptação do Os Miseráveis, do Marcatti, ficaram para 2019. De adaptações literárias, em 2018, vamos ter o A Revolução dos Bichos, do Orwell, adaptado pelo Odyr Bernardi; O Idiota, do Dostoiévski, numa versão em preto e branco e quase sem falas, feita pelo André Diniz; e o A Obscena Senhora D, da Hilda Hilst, que a Laura Lannes está fazendo, e esperamos lançar em julho, na Flip, que homenageia a Hilda. Estão previstos também O Aleph de Botafogo, parceria da escritora Simone Campos com a quadrinista Amanda Paschoal; o primeiro volume do Garota Ranho, que tem tudo para ser um sucesso, do Bryan Lee O’Malley (autor do Scott Pilgrim, que é um fenômeno); e o A Origem do Mundo, de uma quadrinista e ativista jovem sueca, Liv Stromquist, uma não-ficção super engraçada e provocativa, que traça uma história cultural/social da vagina, desde a antiguidade até os dias de hoje, em quadrinhos.

Outro livro aguardado é a edição completa do Los 3 Amigos, do Angeli, Laerte e Glauco. E agora em fevereiro sai o livro do Robert e da Aline Crumb, Desenhados Um Para o Outro. Uma coisa ou outra deve acabar mudando, mas é mais ou menos isso que está nos planos (mais algumas surpresas).

A capa de Desenhados Um Para o Outro, de Aline e Robert Crumb

Tem uma frase da Aline Kominsky no Desenhados Um Para o Outro que acho que sintetiza o que é esse livro. Não sei como será a tradução de vocês, mas é algo como “quanto mais pessoal e revelador, mais interessante”. Hoje o Crumb tá com 74 anos e acho que poucos artistas se expuseram tanto em suas obras como ele, o que você acha que o Desenhando Um Para o Outro oferece de novo em relação a ele?

O Desenhados Um Para o Outro é uma HQ em que praticamente todos os quadros são desenhados a quatro mãos, um negócio maluco se a gente para pra pensar. Durante cerca de 40 anos esse casal, Aline e Robert, sentou e desenhou HQs juntos – o livro reúne tudo o que eles publicaram em colaboração de 1974 até 2011 mais ou menos. E o tema das histórias é justamente esse: relacionamentos, a relação a dois, sexo, brigas etc etc. Essa ideia a que você se refere, do “pessoal e revelador”, é levada às últimas consequências. E ao acompanhar as histórias, brigas, as neuroses etc. dos dois, vamos também entrando em contato com um certo panorama da contracultura americana, passando pelos hippies dos anos 70, os yuppies dos 80, a mudança dos Crumb para a França, o nascimento da filha deles. Pra quem gosta de quadrinhos, é um acontecimento.

Guazzelli entregando os originais de A Batalha na Cia das Letras

Eu fico curioso em relação ao trabalho de edição do Minha Coisa Favorita é Monstro. É um livro muito elogiado, presente em várias listas de melhores nos últimos anos no exterior e muito marcado por seu projeto gráfico quase rústico. Como é o trabalho para manter essa identidade visual por aqui?

Esse é um daqueles livros que a gente fica feliz ao contratar mas que no momento seguinte já estamos pensando: tá, mas e agora? A sorte é que a equipe que cuida da produção dos quadrinhos na editora é muito boa. Chefiadas pela Helen Nakao, a Alissa Queiroz, a Luiza Acosta, a Camila Nishiyama e a Luísa Kon, com o apoio do Américo Freiria, estão quebrando a cabeça para, por exemplo, dar conta de reproduzir em português os letreiros das capas das revistas de terror pelas quais a protagonista do livro é fascinada. E tem uma porção de outros desafios gráficos, invisíveis para quem lê, mas que são um verdadeiro pesadelo para quem está do outro lado.

Um rascunho de Odyr Bernardi para a adaptação do clássico A Revolução dos Bichos

As primeiras publicações nacionais da Quadrinhos na Cia ficaram muito marcadas pelo envolvimento de uma geração, na época, em ascensão na cena nacional de HQs. Eram vários jovens artistas, você inclusive, com o DW Ribatski em Campo em Branco. Dentre esses próximos lançamentos nacionais constam pelo menos três nomes mais veteranos – Guazzelli, Odyr e Marcatti. Há algum foco seu e da editora por autores de uma ou outra geração mais específica?

Não, foi casual. Em breve, vamos ter livros da Laura Lannes e da Amanda Paschoal, talentos da nova geração. A Janaína Tokitaka também está preparando uma HQ. A ideia é ser a editora do Angeli, do Maus, do Tintim, do Aqui e publicar novos autores nacionais, o Minha Coisa Favorita é Monstro e o jovem autor nórdico de trinta anos que fez o livro bombar a partir de um projeto no Kickstarter (aguardem).

Eu considero Aqui o melhor e mais importante quadrinho publicado no Brasil em 2017, mas sei que é uma publicação que foge ao convencional em termos narrativos. Eu fico curioso em relação à resposta do público em relação à obra. Imagino que vocês não podem passar número de vendas, mas que tipo de retorno vocês tiveram dessa publicação? A imprensa cobriu de forma intensa esse lançamento, mas que tipo de resposta vocês tiveram por parte do público?

A melhor possível. A primeira edição inteira esgotou há alguns dias, estamos programando a reimpressão para fevereiro. É um livro emocionante. Merecido.

Duas páginas de My Favorite Thing is Monsters, de Emil Ferris
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Ramon Vitral

Meu nome é Ramon Vitral, sou jornalista e nasci em Juiz de Fora (MG). Edito o Vitralizado desde 2012 e sou autor do livro Vitralizado - HQs e o Mundo, publicado pela editora MMarte.

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