A quadrinista Aline Zouvi expõe a partir de sábado (8/4) em Campinas as 32 artes do zine Condição. O projeto é uma coletânea de retratos ilustrados de artistas de diferentes áreas e épocas listando a doença de cada um. Você vê por aqui quatro dos trabalhos que estarão expostos na Pandora Escola de Artes e outros lá na página da série no Medium. Acho bem legal os trabalhos da Aline. Além do Condição, dela eu também li o zine Cordas e alguns trabalhos ótimos publicados na Folha – dá uma mexida no Medium pra ver algumas dessas publicações.
Pra quem estiver em Campinas, recomendo um pulo na exposição (as instruções estão aqui). Ela fica em exibição até o dia 13 de maio, sendo que na abertura também rola um bate-papo com a autora. Mandei três perguntas por email pra Aline Zouvi, sobre as origens do projeto e a possibilidade da exposição ir pra outros lugares. Papo rápido, mas massa. Ó:
Como surgiu a ideia da Condição? Como foi a seleção dos artistas retratados na série?
Como quase qualquer outra pessoa, lidei com doenças (físicas e psicológicas, as minhas e as dos outros) a vida inteira. Mas só passei a me focar de fato nessa questão depois que comecei a ter ansiedade – junto com a ansiedade, desenvolvi hipocondria. Por algum tempo, pensar, viver e fantasiar doenças foi parte do meu cotidiano. Eu quis desenhar doenças e/ou pessoas doentes para mastigar essa minha relação estranha com a doença, e, também, por sentir falta de ver uma representação menos clichê/dramática do ser/estar doente em produções culturais em geral. O que me levou a querer representar as doenças de uma seleção de artistas foi a busca por uma identificação, tanto minha quanto de um possível público com eles. Depois que passei a publicar os retratos, algumas pessoas entraram em contato comentando sobre como os ajudou descobrir que tinham tais e tais doenças em comum com aquele ou aquela artista – é uma questão de não estar só, de recuperar sua autoestima e entender que se vive plenamente – e se produz muito – mesmo estando doente. A doença, na maior parte das vezes, foi a própria condição de desenvolvimento para o dom artístico de alguns dos retratados. A condição em que se encontravam – na maioria das vezes, de dor, sofrimento, isolamento – foi fruto de seus trabalhos mais geniais.
Mesmo sem querer, acabo voltando um pouco à questão da representatividade: quis fazer a Condição para tornar a doença algo visível – tentar dar à doença uma visibilidade mais serena, livre de estereótipos. A série de retratos foi se construindo aos poucos, como um exercício. Daí a juntar tudo em um zine foi algo natural para mim, pois me interesso muito em produções gráficas. A ideia da exposição na escola Pandora, em Campinas, foi uma iniciativa do meu ex-professor de quadrinhos e brother Mario Cau (valeu, Marião!). Selecionar quais artistas seriam retratados foi algo mais difícil, pois eu quis compor um grupo heterogêneo de artistas. Em algumas vezes, ao longo do processo, pedi dicas para as pessoas nas redes sociais na hora de pesquisar os artistas e suas doenças. Busquei retratar pessoas negras e lgbt – minha frustração foi não ter conseguido retratar nenhum artista trans, mas ainda é um plano.
Qual técnica você usa pra produzir esses trabalhos?
Em todos os retratos usei canetas de nanquim descartável e, em alguns, misturei a caneta com aguada de nanquim. Não tive nenhuma referência específica para esta série. Tentei aproveitar para experimentar técnicas diferentes a cada retrato (dentro do limite possível para que os desenhos funcionassem em conjunto).
Você tá com planos pra algum trabalho novo pra breve? Há projeto de levar essa exposição pra outras cidades?
Tenho planos de refazer o zine Ansiedade (que imprimi em fevereiro deste ano) e estou produzindo o Areia, um zine que propõe quadrinizar narrativas de sonhos, junto com o escritor Thiago Sá. Quero muito levar o projeto para outras cidades, mas por enquanto só a exposição em Campinas está confirmada. Quem tiver interesse em abrigar os retratos por algum tempo, pode escrever para [email protected].