O ano de 2018 já tem confirmado um de seus lançamentos mais importantes em língua portuguesa: a Zarabatana Books confirmou para o primeiro semestre do próximo ano a edição em português de Hostage, álbum de 436 páginas do quadrinista canadense Guy Delisle que em português ganhou o título Fugir – O Relato de Um Refém. A publicação foi uma das minhas leituras preferidas de 2017 e cheguei a comentar sobre a obra na minha matéria pro UOL sobre o primeiro volume de O Guia do Pai Sem Noção, do mesmo autor. O livro é uma longa adaptação para o formato de HQ de um relato dado a Delisle por Christophe André, funcionário da Médicos Sem Fronteiras que passou 111 dias em cativeiro na Chechênia após ser sequestrado no último dia de sua missão na região do Cáucaso em 1997. Repito: é, desde já, um dos principais lançamentos de 2018 no Brasil. Reúno a seguir algumas aspas de Delisle sobre a obra coletadas da minha entrevista com ele no mês de junho:
Sobre escrever pela primeira vez uma história protagonizada por outra pessoa: “Foi a primeira vez que isso aconteceu e eu já queria contar essa história há um bom tempo. Eu apenas continuava adiando porque estava fazendo os livros de viagens. Em determinado momento nós paramos de viajar tanto e achei que era a hora de focar nesse trabalho que queria fazer há tanto tempo. Há dois anos resolvi que deveria fazer ao invés de ficar apenas pensando nisso. Então tirei dois anos para trabalhar nesse livro, porque sabia que seria algo muito longo”
Sobre se colocar no lugar de Christophe André: “Eu já tinha pensando nisso antes mesmo de começar a trabalhar no livro. Quando eu conversava informalmente com ele já ficava imaginando ‘Uau! O que eu faria na situação dele?’. Mesmo antes da ideia do livro existir eu já me relacionava com a história do Christophe. Todo mundo pode se relacionar com a ideia de ser sequestrado de alguma forma, você está no lugar errado e no momento errado e então vira um refém. Então é uma história muito envolvente e achei que seria interessante de contar em formato de história em quadrinhos. E sobre a forma como você reagiria em uma situação como aquela: na verdade é impossível saber. O Christophe me explicou que não era a mesma pessoa que passou aquele período sequestrado. No período em que passou sequestrado ele estava sob muito estress e apenas reagia diferente da forma como reagiria em uma situação cotidiana de sua vida normal. Por mais que você pense “eu faria isso ou aquilo”, você agiria de outra forma naquela situação, você também seria outra pessoa”
Sobre a produção do quadrinho: “Eu sempre mantive contato com o Christophe e estamos lançando o livro juntos aqui na França. Enquanto fazia o livro eu mandava as páginas para ele e ele lia e me retornava com alguns comentários. Eu não queria que ele recebesse o livro pronto e dissesse que eu deveria ser mais preciso em relação a alguma coisa ou que isso e aquilo não havia acontecido. Pra evitar isso eu enviava as páginas enquanto produzia e fizemos algumas mudanças aqui e ali. Para mim era muito importante que fosse o mais fiel possível à realidade”
Sobre as cores da HQ: “No Crônicas de Jerusalém também tem algumas cores. Eu gosto de cores, mas a estética desse livro é de pouco texto e de desenhos muito simples. Queria que as cores também fossem simples. Eu queria que tudo fosse tão simples quanto o contexto no qual o personagem estava vivendo. A comida era simples, ele não tinha mais nada. Enfim, queria simplicidade e o traço e as cores precisavam seguir isso. Pensei em fazer em preto e branco, mas fiz a capa e gostei do azul e achei que aquela cor dialogava com a situação”
Ao lado de The art of Charlie Chan eram as duas hqs que eu estava apostando para 2018. Vai ser um ano bom.
Gosto muito de todos os quadrinhos do Guy Deslile, morri de rir no “O Guia do Pai Sem Noção”.