Conversei com alguns artistas pra escrever uma matéria sobre a HQBR21 pro Caderno 2 do Estadão de hoje (15/5) e o Divirta-se de 6ª (10/5). Tá sabendo da exposição? Reúne várias artes originais de quadrinistas nacionais contemporâneos lá Sesc Belenzinho, aqui em São Paulo, a partir de amanhã. A ilustração aí de cima é de Monstros, do Gustavo Duarte, e também vai estar por lá.
Exposição reúne autores nacionais
Sesc Belenzinho abriga artes originais de quadrinistas brasileiros contemporâneos feitas em diferentes formatos
Nem mesmo alguns dos protagonistas da exposição HQBR21 – O Quadrinho Brasileiro do Novo Século têm consciência plena do vasto e atípico cenário do qual fazem parte. A maior retrospectiva já realizada sobre a produção nacional contemporânea de histórias em quadrinhos adultas ocupa, a partir de amanhã, o galpão do Sesc Belenzinho e revela, para leigos e especialistas, uma cena inédita.
“É uma história praticamente desconhecida do grande público”, analisa o curador da mostra e professor do Departamento de Letras da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Paulo Ramos. Segundo ele, a reunião de obras originais de artistas dos mais diversos estilos expõe a construção de um novo espaço para o quadrinho do País.
Com entrada gratuita e funcionando entre 10 h e 21 h, até o dia 11 de agosto, a HQBR21 foi dividida em três eixos: narrativas, independentes e webtiras. “Eles sintetizam bem esse atual momento, dividindo parte nos álbuns, parte da autopublicação, parte na internet”, explica Ramos.
“É um marco”, resume Rafael Coutinho, autor de Cachalote – publicada no Brasil pela Companhia das Letras e na França pela Cambourakis –, que terá algumas de suas páginas expostas a partir de amanhã. “Existe uma revolução silenciosa, realizada por pessoas que compartilham de uma mesma forma de pensar quadrinhos e estarão juntas pela primeira vez”, diz ainda Coutinho.
Autor da premiada Bando de Dois (Zarabatana Books), Danilo Beyruth acredita que a exposição apresenta um cenário inédito no País: “É possível ser amador e também um autor profissional no Brasil. Há gente fazendo e também leitores, é só prestar atenção”.
Sem regras. De acordo com os responsáveis pelo evento, a separação entre as formas de publicação foi pensada como uma solução didática para a explicação do cenário em vigência. Para eles, os três eixos apresentados não representam uma rota única iniciada em tiras online que culminariam em publicações impressas com muitas páginas.
“Há autores de grandes editoras que migraram para o circuito independente e vice-versa. O que há de diferente, no entanto, é o fato da internet ter conseguido destacar bem as produções curtas, rápidas de ler, caso específico das tiras. Hoje, as principais estão nos sites e blogs, e não mais nos cadernos de cultura dos jornais”, interpreta Paulo Ramos.
Em acordo com o recorte feito para a mostra, alguns dos autores com trabalhos emprestados ressaltam a flexibilidade inerente ao meio. “Eles ficaram em dúvida onde eu entraria: fiz trabalhos independentes, publiquei por várias editoras e alguma coisa online. As três vias funcionam”, conta Gustavo Duarte, com quatro páginas de sua Monstros no evento.
Para Rafael Coutinho, estar presente em uma categoria não significa ser aquela a sua via de publicação preponderante. “Estou nas três… e em mais umas cinco que não foram relacionadas”, brinca o autor.
Outra possibilidade para o público da exposição será a de compreender a construção de uma narrativa em quadrinhos. Uma página concebida por Lourenço Mutarelli será reproduzida em suas quatro camadas, do esboço à arte final, passando pela colorização e inserção dos textos. E nos espaços finais da mostra, os livros destacados estarão disponíveis para leitura.
Ainda no quadro da exposição, estão marcados outros dois eventos no Sesc Belenzinho. Amanhã, às 20 h, na HQBR21, o quadrinista Marcello Quintanilha, autor de Almas Públicas e Sábado de Meus Amores (ambos da Conrad), conversa sobre sua trajetória profissional. No dia 23, às 21 h, o grupo La Mínima encena A Noite dos Palhaços Mudos, peça baseada numa obra do quadrinista Laerte.
Hermanos. Apesar de toda a efervescência da realidade nacional, o mercado local ainda é distante da indústria norte-americana de HQs, de cifras milionárias mesmo em suas editoras mais alternativas. No entanto, a produção brasileira reflete muito do que ocorre na Argentina.
Autor do livro Bienvenido (Zarabatana Books), sobre os quadrinhos publicados no país vizinho, Paulo Ramos revela estar criando uma nova obra exatamente sobre as semelhanças entre o que é feito no Brasil e a produção natural da nação mais ao sul da América.
Com o título provisório de Nosotros: Uma Comparação Entre os Quadrinhos Brasileiros e as Historietas Argentinas, o livro tem previsão de lançamento para o primeiro semestre de 2014, também pela Zarabatana, mas ainda sem preço definido.
Ao quadrado
Quem lê o Divirta-se já sabe: há um boom no mercado de histórias em quadrinhos produzidas no Brasil. Ele já é vasto o bastante para ter todo um segmento dedicado aos gibis adultos. Segmento que ganha, a partir de 5ª (16), uma grande exposição no Sesc Belenzinho.
A HQBR21 abriga, pela primeira vez sob um mesmo teto, artes originais dos protagonistas desta cena. Dividida nas categorias novelas gráficas, produções independentes e gibis digitais, a mostra exibe trabalhos de artistas bem conhecidos – como Lourenço Mutarelli, Rafael Coutinho, João Montanaro e Gustavo Duarte – além de obras de coletivos independentes de todo o País e outras antes só vistas na internet.
“É algo que ainda não havia sido feito e é uma história praticamente desconhecida do grande público”, diz Paulo Ramos, curador da mostra e professor do departamento de Letras da Universidade Federal de São Paulo. Segundo ele, os autores escolhidos são responsáveis por construir um novo espaço para o quadrinho adulto brasileiro.
Enquanto a exposição não abre, revisite nossas páginas sobre o tema em bit.ly/DivHQ.