O quadrinista João B. Godoi está morando na cidade de Angoulême, na França, e participando da classe internacional de quadrinhos da Ecole Européenne Supérieure de L’image (EESI). Eu conheci o João em 2016, na primeira edição do curso Os Ciclos Produtivos das HQs Brasileiras. Na mesma época ele publicou um quadrinho na 16ª edição da Café Espacial e o primeiro trabalho solo dele, Verônica. Depois, ele criou o selo/coletivo Dangô, junto com os também quadrinistas Kainã Lacerda e Victor Reis. O Dangô publicou títulos dos outros dois membros do selo, de artistas convidados e duas edições impressas da revista Vira Lata – disponíveis online junto com o terceiro número, que ainda não saiu no papel.
Pouco antes da ida do João pra França, sugeri dele fazer uma espécie de série/diário da rotina dele por lá e assim nasceu Je Suis Cídio. “Sempre gostei muito de quadrinhos sobre o cotidiano, meio como diários em quadrinhos, como fazem a Gabrielle Bell, a Julia Wertz, o James Kochalka e também aquele Vida Boa, do Fabio Zimbres”, explica o autor em relação às influências presentes no projeto. A página aqui em cima e a outra abaixo são o primeiro número de Je Suis Cídio, que deverá voltar a aparecer semanalmente aqui no blog. Também reproduzo a seguir uma breve conversa por email com o autor, na qual ele fala sobre os planos pra série e a rotina dele em Angoulême. Ó:
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Você poderia se apresentar, por favor? Você pode falar um pouco sobre a sua experiência com quadrinhos até o momento?
Bom, meu nome é João. Em 2014 comecei a ter vontade de produzir quadrinho. No ano seguinte comecei, o que gerou nos meus primeiros fanzines, com a última história que fiz sendo publicada na Café Espacial #16. Logo depois fiz o curso de quadrinhos do Octavio Cariello na Quanta, onde comecei a fazer meu primeiro quadrinho maior, o Verônica, que lancei em 2017. Ao mesmo tempo, eu comecei um coletivo com uma galera da faculdade, que me fez começar a frequentar diversas feiras de publicações. Quando o coletivo acabou eu conheci o Kainã Lacerda e o Victor Reis, e nós lançamos o selo Dangô, pelo qual eu comecei a publicar minha série de quadrinhos mais atual, a Vira Lata. E no final do ano passado vim pra Angoulême estudar quadrinhos.
Quando você foi para a França e o que você está fazendo aí?
Me mudei outubro do ano passado. Estou participando da classe internacional de quadrinho na EESI, uma faculdade aqui de Angoulême.
Você pode contar um pouco sobre a dinâmica do curso? Como são as aulas? Quem são os professores e os alunos?
O curso não está na grade regular da faculdade, então temos um orientador principal, o Benoit Tranchand, que é um autor e editor francês. Nos reunimos com ele quase toda semana e mostramos exercícios de narrativa que nos passam de tarefa. Além disso, ele tenta nos encaixar em workshops de outras turmas, o mais interessante que eu participei foi um organizado pelo Paul Karazik. Na minha turma tem outro brasileiro, o Marcos Machado, um espanhol, uma islandesa, duas chinesas e uma coreana.
Você já tinha morado fora do Brasil antes? Como tem sido a experiência de viver na França?
É a primeira vez que moro fora e tem sido uma experiência muito esquisita. Por eu ter decidido muito de repente me mudar, não estudei francês, o que foi um grande problema no começo, enquanto arrumava toda a vida aqui. Mas agora está mais tranquilo, estou estudando o idioma, já tenho um lugar certo para morar, telefone local e tal.
Como costuma ser a sua rotina por aí?
Minha rotina dá uma variada, entre momentos com aulas em que chego lá as 9h e saio às 15h, e momentos de produção em que perco totalmente a noção de horário.
Por que batizar a série de Je Suis Cídio?
Boa pergunta… Esse nome eu tinha pensado há muito tempo. Eu não sabia muito o que colocar de título, lembrei desse e achei que combinava.
Você teve alguma inspiração em mente para a criação da série? Você tem alguma influência em mente no desenvolvimento desse trabalho?
Algumas. Sempre gostei muito de quadrinhos sobre o cotidiano, meio como diários em quadrinhos, como fazem a Gabrielle Bell, a Julia Wertz, o James Kochalka e também aquele Vida Boa, do Fabio Zimbres – que é ele fazendo humor com um personagem conversando com um copo numa sala sem mais nada. Também gosto muito do álbum Os Últimos Dias de Pompeu, em que o Andrea Pazienza desassocia o texto e as imagens, deixando que elas conversem mais ou menos em função do que tá rolando.