Mariana Paraizo e a produção do 12º número da Série Postal

O desenvolvimento do trabalho de Mariana Paraizo para a 12º Série Postal é bastante interessante e propõe reflexões relevantes relacionadas a questões de direitos autorais e direitos de uso de imagem. Assim como fiz com os depoimentos de todos os autores do projeto, publiquei a entrevista que fiz com ela no Tumblr dedicado à coleção de postais e reúno por aqui a íntegra dos depoimentos. A seguir, aspas de Mariana Paraizo:

“Foi bem legal a oportunidade de participar do projeto. Parecia que se encaixava muito bem com essa vontade que eu tinha de construir uma narrativa a partir de imagens do Google. Eu tenho uma coisa com objetos antigos, coleções, coisas guardadas… No caso, eu queria fazer um trabalho em um cartão postal que remetesse a um cartão postal. Não queria só fazer uma imagem que fosse só passear pelo cartão sem ter nenhuma relação com o próprio formato. Achei essa caixa antiga de cartões postais do meu pai. Procurando o que fosse me estimular para fazer uma narrativa eu encontrei esse texto meio misterioso sobre uma moça chamada Kátia que não devolveu um chaveiro. Era estranho, era um cartão postal que parecia ter sido abandonado pela metade. Não parecia que a pessoa tinha chegado de fato ao que ela queria. Ficava uma coisa interrompida. Eu mostrei pro meu pai e ele não reconheceu. Ele lembrava da Kátia, amiga dele, mas que aquela letra não era dele, parecia do irmão dele e o cartão nem tinha sido mandado. Então já se instalou um vontade de trabalhar em cima dessa coisa meio misteriosa, que parecia que ia se relacionar bem com essa pesquisa no Google em que fui colocando palavras-chaves e procurando imagens pra formar sequências não completamente ao acaso, em uma composição que indicava um caminho interessante de narrativa sem que ela estivesse lá por completo”

“O que aconteceu é que essa primeira versão do postal foi barrada pelos direitos de imagem. Como eu usei os prints e não pedi permissão para cada um dos sites pra utilizar as imagens, o Itaú Cultural ficou preocupado com a possibilidade de processo. Isso me deixou meio chateada, mas da adversidade vivemos (risos). Tive que lidar com esse fato. Eu não via nenhuma possibilidade real de alguém buscar o direito dessas imagens de volta. São imagens que não são nem muito representativas e nem autorais, pareciam feitas por uma instituição para uma circulação mais comercial e que normalmente são deixadas e abandonadas ao relento. Elas não são localizadas, não ficam sendo acompanhadas para se ter um registro de sua localização. Mas enfim…”

-X-

“Daí a solução que encontrei para um segundo cartão postal com o tempo que tinha, foi lidar com essa situação como parte do cartão postal que eu ia fazer. Usei o printscreen da mesma forma, usei a sequência do Google da mesma forma e procurei por ‘autoria’ no Google. Dei uma borrada no nome do Google, mas deixei as cores. Trabalhei em cima da coisa de não usar a imagem na íntegra, mas indicar completamente o que ela era. No caso no Google eu borrei e coloquei ‘buscador’ por cima e nas outras imagens eu coloquei tarjas pretas em duas linhas de sequência de foto vindas da busca por ‘autoria’. Tirei as duas linhas e inseri no postal, na íntegra, e em cima de cada imagem coloquei a tarja preta e fui apagando aos poucos para mostrar o verso, mas não o suficiente para revelar que era uma fotografia ou uma imagem coorporativa ou instituicional com uso restrito”

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Ramon Vitral

Meu nome é Ramon Vitral, sou jornalista e nasci em Juiz de Fora (MG). Edito o Vitralizado desde 2012 e sou autor do livro Vitralizado - HQs e o Mundo, publicado pela editora MMarte.

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