Entrevistei o quadrinista Craig Thompson, autor de Retalhos e Habibi. O foco da conversa foi o lançamento da edição brasileira de Space Dumplins, obra infantil de 2015 recém-publicada em português pela editora Companhia das Letras.
A HQ é uma é uma ficção científica protagonizada pela jovem Violeta Marlocke, filha de uma estilista e de um coletor de cocô de baleias espaciais, valiosa fonte de energia intergalática. Uma “diarreia baleiesca” causa um desastre ambiental que separa a menina de seus pais e coloca sua vida em risco enquanto ela tenta desvendar o ocorrido.
A minha entrevista com Thompson virou matéria para o jornal Folha de São Paulo e você lê o texto clicando aqui. Por lá eu falo mais sobre a produção e o desenvolvimento da obra, os temas tratados na HQ e apresento algumas opiniões do quadrinista sobre o mercado norte-americano de quadrinhos.
Reproduzo a seguir a íntegra da minha entrevista com o autor, traduzida pelo tradutor/pesquisador/jornalista Érico Assis, também tradutor da edição brasileira de Space Dumplins (valeu, Érico!). Ah! Lá em janeiro de 2013, alguns meses antes da criação do Vitralizado, também entrevistei Thompson e você confere essa conversa por aqui. Ó a entrevista nova:
“Já era hora na minha carreira de retribuir ao meu eu criança, que se apaixonou por essa mídia aos nove anos de idade.”
Você se lembra do instante em que teve a ideia de Space Dumplins? Qual foi o ponto de partida para esse livro?
Foi muito simples. Meus dois maiores amigos tiveram uma filha, chamada Violet, no fim de 2010. Assim que ela nasceu, eu soube que ia fazer um livro pra ela. Acabou que o livro teve ela e os pais.
Neste meio tempo, Habibi saiu em 2011 e a filha de outros amigos, com oito ano, pegou e leu de uma sentada. Fiquei um pouco incomodado com a situação e virou o impulso para fazer uma graphic novel que leitores mais novos pudessem ler.
Faz tanto tempo que os quadrinistas vêm tentando provar que “gibis não são mais só pra criança” que deixamos este mercado de lado. Já era hora na minha carreira de retribuir ao meu eu criança, que se apaixonou por essa mídia aos nove anos de idade.
Você pode me falar sobre a sua dinâmica de trabalho durante a produção de Space Dumplins? Você desenvolveu alguma rotina diária durante a produção desse livro? Quais materiais você utilizou durante a produção dessa HQ? O quanto esse processo se distinguiu de seus trabalhos prévios?
Diferente dos meus outros álbuns, escrevi Space Dumplins muito rápido. Passei um ano escrevendo Retalhos antes de começar o desenho final. E dois anos de cabo a rabo escrevendo Habibi. Mas Space Dumplis eu escrevi, com muita alegria, em três meses. Ajudou a história ser fantasiosa e cômica, e não exigiu pesquisa nem introspecção sofrida.
O desenho, por outro lado, foi tão meticuloso quanto em Habibi. Geralmente eu desenho e arte-finalizo uma página por dia. Em Space Dumplins tentei trabalhar pela primeira vez no digital, numa tablet Cintiq. Mas descobri que não me sentia à vontade com o traço digital, então decidi fazer só o “lápis” na tablet, imprimir em azul e passar o nanquim direto no papel com pincel de aquarela. Assim fiquei com um pé em cada barco, no digital e no analógico.
A cor, evidentemente, foi a grande diferença em relação a outros trabalhos. Da minha parte, prefiro o preto e branco. Mas os leitores contemporâneos, principalmente os mais novos, preferem o colorido, então decidi ir por aí. Sou muito lento para colorir sozinho. O álbum ia me tomar mais um ano ou dois. Então contratei Dave Stewart para esse serviço. Essa foi outra novidade: colaborar e me acertar com outro autor, em vez de ficar com toda a produção nas minhas mãos.
Space Dumplins é um livro para todas as idades, mas acho que tem um alcance para o público infanto-juvenil que Habibi e Retalhos não têm. Foi muito diferente para você criar uma obra pensada em um público mais amplo? Você encontrou algum desafio particular em pensar uma história em quadrinhos que poderia ser lida por um público infantil?
Em termos gerais foi fácil, pois eu não tentei ser “literário”. Foi questão de elaborar uma aventura simples, em três atos, e dar um jeito de encaixar uma gargalhada por página. Apesar disso, muitos temas de meus outros trabalhos, como conflito de classes, crise ambiental etc., acabaram entrando. Mas foi uma coisa natural, sem esforço.
Eu foquei no modelo Pixar, que é o de não escrever exclusivamente de olho nas crianças, mas, com sorte, dando atenção também aos pais e aos leitores que eu já tinha.
Foi a primeira vez na carreira que tive um retorno do editorial sobre o que eu escrevi e houve alguns elementos que meu editor segurou para que ficasse uma leitura apropriada aos pequenos. Mas, no geral, não senti que tive que abrir mão de nada… Fora o design da capa, que teve que se encaixar em orientações bem restritas do que é “vendável” quando se lida com este público.
“Quando eu era criança, eu não era tão focado nas batalhas épicas de Star Wars, e sim nos momentos mundanos, domésticos, tipo o Chewbacca jogando xadrez naquele cantinho da Millennium Falcon”
Space Dumplins também foi seu primeiro trabalho do gênero de ficção científica. O que mais te interessa nesse gênero? O que mais te surpreendeu trabalhando dentro desse universo? Quais são as suas principais referências em termos de ficção científica?
Fora que a filha dos meus amigos, Violet, foi meu primeiro “público”, escrevi Space Dumplins para meu eu de nove anos. Por isso que o livro regurgita uma cacetada de cultura pop dos anos 1980, cosias que eu amei na época: Star Wars, E.T., Goonies, Tubarão, Caça-Fantasmas, o Atari 2600 e esquisitices tipo S.O.S. Tem Um Louco Solto no Espaço e Cerveja Maluca. O interessante é que depois isso tudo virou influência de Stranger Things, a série famosa na Netflix. Como adulto, acho que eu sou mais vidrado no Alien original, o de Ridley Scott.
Quando eu era criança, eu não era tão focado nas batalhas épicas de Star Wars, e sim nos momentos mundanos, domésticos, tipo o Chewbacca jogando xadrez naquele cantinho da Millennium Falcon. Além disso, eu nunca gostei do idealismo de Jornada nas Estrelas, e preferia coisas tipo a classe operária suja e desajeitada no cargueiro de Alien.
Falando em gêneros, tem algum gênero em particular que você tem interesse de trabalhar, mas ainda não teve a oportunidade?
Meu projeto mais recente, Ginseng Roots, é um documentário não-ficcional, que é o que eu mais gosto de ler em prosa e que eu venho querendo explorar nos quadrinhos. Em algum momento também vou desenhar alguma coisa aquática ou submarina.
“O que mais gosto nos Spielbergs das antigas é que eles tratam menos das espaçonaves ou do tubarão, e mais dos humanos, do elemento emotivo”
Aliás, Space Dumplins pode ser interpretado como uma obra de ficção científica, mas também como uma história de formação. Você concorda? O quanto você tinha determinado em relação à jornada da Violet entre o início do desenvolvimento da HQ e o lançamento do livro?
Já falei de E.T. e Tubarão. O que eu mais gosto nestes Spielbergs das antigas é que eles tratam menos das espaçonaves ou do tubarão, e mais dos humanos, do elemento emotivo. São histórias de família, histórias pequenas; E.T. trata de um garoto que lida com o divórcio dos pais e Tubarão trata de três homens de pontos diferentes do espectro social – do privilégio, da classe média e da classe operária – aprendendo a se unir e trabalhar juntos.
Era nisso que eu queria chegar em Space Dumplins. Violet está tentando lidar com a relação problemática dos pais, que se resume praticamente a conflito de classes. Está nos nomes. O nome da mãe dela quer dizer “azul”, como o azul progressista e democrata na política dos EUA, e o nome do pai dela quer dizer “vermelho”, como os republicanos conservadores da classe operária. Qual é a ponte entre esses mundos? A Violet! Com os amigos dela é a mesma coisa. Elliot é da elite rica e instruída e Zaqueu é o órfão que não terminou o colégio. Violet é a ponte que gera a amizade entre os dois.
A maioria dos personagens do livro tem sua falha, mas foi difícil achar as falhas na nossa heroína, Violet, e o que ela precisava mudar. Não é spoiler eu dizer que ela teve que pensar na família como algo global, que inclui todas as espécies, ao invés do nuclear, da família mais imediata.
“Seria incrível se um dia eu pudesse lançar uma versão especial sem cores de Space Dumplins”
Eu estava pensando sobre o visual do Zaqueu e como ele dialoga um pouco desses personagens cartunescos nonsense que estão se tornando cada vez mais comuns em animações. Penso em Hora de Aventura, Rick & Morty e outros representantes de uma escola que acredito que venha muito das produções originais do Cartoon Network. O quanto produções do tipo influenciaram o desenvolvimento de Space Dumplins? Você tem interesse por esse tipo de animação?
Zaqueu surgiu no meu livro de 2004, Carnet de Voyage [inédito no Brasil]. Mas durante toda minha infância, no ensino médio, e com certeza durante minha carreira de ilustrador de revistas infantis em fins dos anos 1990, sempre usei essa criaturinha “borrachuda”. Acho que vem de Ren & Stimpy e do Gumby, depois de Pip & Norton, os personagens bizarros do Dave Cooper, cartunista underground.
Hora de Aventura só estreou em 2010, então Pen Ward provavelmente bebeu das mesmas influências que eu, principalmente Dave Cooper. Além disso, não tenho dado tanta atenção a animação de TV.
Ainda sobre o visual dos personagens. Enquanto seus trabalhos prévios são mais realistas, protagonizados principalmente por seres humanos ou criaturas terrestres, Space Dumplins tem ares muito mais fantásticos. Como foi o trabalho de conceber e pensar na estética das criaturas que habitariam esse universo?
Mais uma vez, minha infância inteira se definiu desenhando esse tipo de criatura. Bloom County me influenciou muito. Eu criei o Galinho Elliott ainda em 1994. Foi só quando eu desenhei Retalhos que tive que aprender a fazer desenho de observação e da figura humana. Universos bobos e cartunescos como o de Space Dumplins me vêm com mais naturalidade.
Além disso, a construção do mundo de Space Dumplins foi o que eu mais gostei no processo. Adorei projetar as espaçonaves e os “cenários”, e imagino que seria divertidíssimo trabalhar como designer de produção no cinema ou na animação.
O que você pode contar sobre a dinâmica do seu trabalho com o Dave Stewart? Que tipo de diálogo vocês tiveram antes e durante a produção do livro? Como foi você pensar um livro em cores, sendo ele colorido por outra pessoa?
Foi difícil abrir mão de parte do controle criativo. No fim das contas, eu acho que meu trabalho, por conta da linha grossa no lápis, fica melhor em preto & branco. Seria incrível se um dia eu pudesse lançar uma versão especial sem cores. Por outro lado, as cores do Dave renderam muita atmosfera e profundidade nas páginas. E ele é um dos melhores no ramo.
“Notei que outros cartunistas se empolgam com a possibilidade de reviver gibis ‘indie’, em série, que tiveram sucesso nos anos 1980”
Eu li uma entrevista que você deu para o Comics Journal na qual você fala sobre seu cansaço em relação ao formato de graphic novels. O que te levou a esse esgotamento?
Duas coisas, eu diria. Uma, como criador, que é o isolamento de se entocar no estúdio durante quatro anos ou mais, desbastando esse projeto. Eu trabalhei em jornal nos anos 1990, depois de designer gráfico e ilustrador, e sinto falta do prazo apertado, fosse diário ou semanal, assim como da sensação mais imediata de realização que vem da produção acelerada.
A segunda, como consumidor, é que é esmagador ver quantas graphic novels chegam nas livrarias e nas lojas de gibis todo mês. Bem mais do que eu teria como comprar ou teria espaço para por em casa. Sinto falta da simplicidade e da humildade da revistinha. É um formato maravilhoso para conhecer novos autores, novos personagens. Não exige tanto da sua atenção nem do seu bolso.
Além disso, pode-se argumentar que o entretenimento em série ressurgiu. Há quem faça maratonas de seriados e na Netflix. Mas você também pode prolongar o prazer de consumir uma história quando ela é parcelada em bocadinhos.
Eu imagino que uma das consequências do seu cansaço em relação ao formato de graphic novels seja a sua investida em Ginseng Roots. Como tem sido até agora essa sua experiência com o formato serializado?
Tem sido difícil! É um desafio encaixar um capítulo em 32 páginas. E depois, a cada mês se interromper para fazer design, produção e promoção. Neste sentido, passar uns anos escondido para elaborar uma graphic novel resulta em um fluxo de trabalho mais constante, sem interrupções.
E gibi “indie” é uma coisa que não existe mais no mercado norte-americano, fora a Love & Rockets dos irmãos Hernandez. Aí é difícil convencer lojistas e leitores a darem atenção a um formato fora da moda. Por outro lado, eu notei que outros cartunistas se empolgam com a possibilidade de reviver gibis “indie”, em série, que tiveram sucesso nos anos 1980.
A parte que eu amo nesse processo é que meu irmão menor, o Phil de Retalhos, colabora com duas páginas que ele mesmo escreve e desenha a cada edição de Ginseng. Ver essas páginas me dá uma alegria tremenda e é uma cópia exata da sensação que eu tinha de nós desenhando juntos, às vezes até na mesma folha, quando éramos crianças.
“A página física, impressa em papel de verdade, é a estrutura que uso para compor. Espero que dure!”
Nessa mesma entrevista com o Comics Journal você fala sobre o seu interesse em pensar uma história a partir das restrições impostas pela mídia física. O quanto é importante para você trabalhar tendo consciência das restrições físicas dos meios que está utilizando, mas também se impor desafios estéticos ou técnicos para a construção de uma obra?
Sim, considero as “restrições” necessárias no processo criativo. Em Habibi, eu fiquei travado com o tanto de liberdade criativa que eu tinha, até que me impus a estrutura dos “quadrados mágicos” na narrativa.
Também quero que cada trabalho seja totalmente singular em relação ao precedente. Isso que foi tão animador em Space Dumplins. Depois do peso e seriedade de Habibi, eu precisava fazer uma coisa mais brincalhona, colorida, engraçada.
Muitos quadrinistas dão prioridade ao seu trabalho em plataformas digitais, tipo passar de quadro em quadro no Instagram ou rolar a barra no Webtoons. Mas eu ainda batalho pelo impresso. A página física, impressa em papel de verdade, é a estrutura que uso para compor. Espero que dure!
Quais você considera as principais transformações pelas quais o mercado de quadrinhos dos Estados Unidos passou desde o início de sua carreira?
As graphic novels no mercado livreiro mudaram tudo. Tive sorte de Retalhos ter surgido no meio dessa grande mudança, assim como Jimmy Corrigan de Chris Ware e Fun Home de Alison Bechdel. Hoje, graphic novels para crianças como Sorria de Raina Telgemeier e as do Homem-Cão de Dav Pilkey vendem mais que qualquer gibi de super-herói.
Falando de super-heróis, eles viraram o novo mainstream junto com tudo mais da cultura nerd, o que obviamente não era a situação dos anos 1990.
Hoje os gibis fazem muito mais sucesso do que quando eu me formei no ensino médio. Tem cursos focados em quadrinhos, inclusive nas faculdades de arte. E se ensina quadrinhos em cursos de literatura. Há mais interesse e mais concorrência do que nunca nos quadrinhos. Em termos gerais eu ficou grato, pois significa um “cânone” mais forte de grandes obras que se produzem ao longo do tempo.
Mas eu ainda tenho saudade da vibração, quando eu era mais novo, com aquele ralé forasteira que trabalhava às escuras e formava a comunidade que me acolheu e me defendeu!
Tenho curiosidade em relação à sua visão do mundo no momento. Vivemos numa realidade na qual Donald Trump é o presidente dos EUA e Jair Bolsonaro é o presidente do Brasil. O que você acha que está acontecendo com o mundo? Você é otimista em relação ao nosso futuro?
Quem sabe dizer? Deve ter a ver com a internet com os algoritmos das redes sociais que gratificam conflito, discórdia e bullying. Fora a globalização e a automação, que acaba com os empregos e faz as pessoas se voltarem para drogas e retórica xenófoba. E se você ainda botar na conta a crise climática…
Acho que eu coloquei meu otimismo em Space Dumplins torcendo que as pessoas aprendam, como a Violet, que nações são invenções artificiais e que todos fazemos parte da mesma família, e que isso não é exclusivo à raça humana. Temos que encontrar os vínculos com todas as espécies!
O que você pensa quando um trabalho seu é publicado em um país como o Brasil? Somos todos americanos, mas são culturas muito diferentes. Você tem alguma curiosidade em relação à forma como um trabalho seu será lido e interpretado por pessoas de um ambiente tão diferente dos seu?
Eu fico abismado. Quando estava trabalhando em Retalhos, eu ficava aflito, achando que nenhum leitor ia se interessar. Aflito porque era uma história muito restrita a um tipo de infância numa comunidade minúscula do meio oeste agrícola, com a qual os leitores urbanos ou de famílias seculares não iam encontrar nenhuma identificação. Descobri o inverso. Há temas universais em Retalhos, em torno de família, fé e primeiro amor, que aparentemente se correlacionam com leitores de qualquer canto do mundo.
Isso é o que mais me interessa. Histórias que fazem ponte entre fronteiras nacionais e diferenças culturais. Essa que é a importância da narrativa, que me parece que tem o impacto oposto da política e da economia que mencionei acima, que separam as pessoas.
“Eu só falo de Ginseng Roots, meu projeto atual, que trata dos dez anos de infância que trabalhei em lavouras de ginseng, um raiz medicinal muito valorizada na medicina chinesa e que é plantada em Wisconsin”
Você pode recomendar algo que esteja lendo/assistindo/ouvindo no momento?
Fiquei contente com as opções do Oscar este, pois Parasita, de Bong Joon Ho, e o documentário Indústria Americana foram meus filmes preferidos de 2019. E os dois tratam de classes socais, da crise de imigração e da economia global.
Em relação ao clima política mencionado acima, encontrei algum alívio no livro O Enraizamento, de Simone Weil.
Meu novo projeto, Ginseng Roots, também se inspira nos livros de Michael Pollan sobre comida e plantas, como Em Defesa da Comida.
Você está trabalhando em algum projeto novo atualmente?
Ah, sim, desculpe. Eu só falo de Ginseng Roots, meu projeto atual, que trata dos dez anos de infância que trabalhei em lavouras de ginseng, um raiz medicinal muito valorizada na medicina chinesa e que é plantada em Wisconsin. É um trabalho que recupera muitos dos meus temas prediletos, como os países em lados opostos do mundo que se conectam, classes sociais, cura holística…
“Enquanto eu trabalhava no campo, eu sonhava com os gibis que ia comprar e sonhava com a carreira futura de quadrinista que ia me salvar do trabalho duro”
Você pode me falar como é seu ambiente de trabalho?
Atualmente eu não tenho. Tive uma vida em trânsito nos últimos anos e estou começando a mudança para Minneapolis, no meio oeste, para morar com meu irmão. É uma chance de ficar mais perto dele e do resto da família de quem me afastei há 24 anos. Sem falar que vou voltar à cidade da minha editora atual e da gráfica do meu projeto atual, Ginseng Roots, além de ficar a três horas de viagem das lavouras sobre as quais estou escrevendo.
A última! Qual a memória mais antiga que você tem da presença de quadrinhos na sua vida?
Verão de 1986. Meus pais deram um dólar pra minha irmã, um pro meu irmão e um pra mim, para gastar na lojinha de presentes do acampamento. Minha irmã comprou balas. Meu irmão e eu compramos nossos primeiros gibis. No mesmo verão, aos 10 anos, eu comecei a trabalhar na lavoura, como lavrador, para poder comprar gibis com meu dinheiro. Enquanto eu trabalhava no campo, eu sonhava com os gibis que ia comprar e sonhava com a carreira futura de quadrinista que ia me salvar do trabalho duro.