O quadrinista David Lloyd está no Brasil. Após participar da convenção de cultura pop Comic Con RS em Canoas, no Rio Grande do Sul, o coautor de V de Vingança fará duas sessões de autógrafos em São Paulo, na Loja Montra (Praça Benedito Calixto, 158): sábado (10/8) e domingo (11/8), nos dois dias das 14h às 19h e com entrada gratuita. Você encontra outras informações sobre o evento clicando aqui.
Hoje aos 69 anos e membro de uma geração de autores nascidos no Reino Unido que revolucionou os quadrinhos britânicos e norte-americanos, Lloyd é figura fácil em eventos brasileiros de HQs. Ele já veio algumas vezes ao país, mas sua última passagem por aqui havia sido em dezembro do ano passado, antes da posse de Jair Bolsonaro. Então entrei em contato com o artista para saber o que ele tem ouvido falar sobre o atual presidente brasileiro. Você confere a resposta do autor clicando aqui, em matéria que escrevi pro portal UOL.
Nesse papo rápido por email, o parceiro de Alan Moore em V de Vingança ainda falou sobre os paralelos entre o cenário distópico de seu trabalho mais famoso e a realidade habitada por Bolsonaro, o presidente norte-americano Donald Trump e o recém-eleito primeiro-ministro britânico Boris Johnson. O quadrinista também expôs certo desencanto em relação ao alcance limitado do projeto de webcomics Aces Weekly, levado por ele desde 2012, e sua insatisfação com alguns hábitos colecionistas de leitores de quadrinhos.
Deixo aqui outra vez o link para a minha matéria pro UOL sobre essa vida do David Lloyd ao Brasil e reproduzo a seguir a íntegra da minha conversa com o artista. Ó:
A Aces Weekly está em seu sétimo ano. Qual balanço você faz desse projeto até agora?
Está estável, mas não crescendo tão rápido quanto eu gostaria. A resistência aos quadrinhos digitais ainda é forte – um enorme obstáculo.
Após sete anos de Aces Weekly, quais as suas principais conclusões sobre quadrinhos publicados, distribuídos e vendidos pela internet?
É o mercado mais difícil no ramo dos quadrinhos, se você está produzindo como um negócio sério e não apenas fazendo isso por diversão, como muitos produtores de webcomics fazem. É um mercado amplo demais para fazer uma análise geral, mas ninguém trabalhando nisso faz o tipo de sucesso que poderia caso o público leitor de quadrinhos estivesse menos interessado em quadrinhos como objetos colecionáveis e mais interessados neles como uma grande linguagem para se contar histórias, como eles são, podendo ser publicados em qualquer superfície, não apenas em árvores mortas.
“Populismo, a exploração de um eleitorado desesperado e vulnerável para benefícios políticos, está se espalhando como um contágio”
A Aces Weekly é essencialmente uma editora de quadrinhos independentes. O impacto da Amazon no mercado editorial é nefasto. Você sente esse impacto no seu trabalho com a Aces Weekly? Qual avaliação você faz do impacto da Amazon no mercado editorial?
A Amazon é dona da Comixology então eles poderiam dominar o mercado de quadrinhos digitais caso quisessem, mas não acho que é o caso. E não acho que eles estariam interessados em tomar vantagem dos baixos custos da distribuição de quadrinhos digitais para aproveitar ao máximo seus potenciais. Eu fico com a impressão que eles estão felizes em estar focados em seus clientes de impressos, fornecendo versões digitais de coisas já disponíveis no papel.
Por meio do Comixology, a Amazon tem os 18 volumes da Aces Weekly em um formato diferente daquele no nosso site, então estamos fazendo uso deles, mas eles levam 50% do nosso preço. A minha postura em relação à Amazon, como vendedora de quadrinhos impressos, é que eles estão fazendo um bom trabalho entregando HQs para pessoas que não estão tão próximas de lojas especializadas e assim fazendo quadrinhos chegarem em mais gente – uma coisa boa!
Eu fico curioso para saber sobre a sua leitura do mundo hoje. Vivemos em uma realidade no qual Donald Trump é presidente dos Estados Unidos, Boris Johnson é o primeiro-ministro do Reino Unido e o presidente do Brasil é Jair Bolsonaro. O que você acha que está acontecendo com o mundo? Você é otimista em relação ao nosso futuro?
Em geral, não: populismo, a exploração de um eleitorado desesperado e vulnerável para benefícios políticos, está se espalhando como um contágio, mas você pode ter a Grécia como estímulo. Um tempo atrás, um grupo chamado Aurora Dourada estava em ascensão por causa de uma situação econômica terrível – um dos fatores-chave em qualquer ascensão dos radicais – mas a situação mudou e a ameaça diminuiu. Portanto, há esperança de que políticos honrados não continuem negligenciando os desesperados e vulneráveis. Será que eles irão fazer isso?
Você já visitou o Brasil várias vezes, mas essa será a sua primeira vez com Bolsonaro como presidente. O que você sabe do governo dele por meio da imprensa britânica?
Coisas nada boas – e tenho certeza que ouvirei mais quando estiver aí.
Você vê muitas semelhanças entre a realidade distópica que você e o Alan Moore criaram para V de Vingança e a nossa realidade?
Sim, na ascensão do populismo e de líderes oportunistas, é claro, mas se a democracia continuar existindo uma boia salva-vidas sempre estará à disposição para evitar que nos afoguemos, se tivermos o bom senso de agarrá-la
Você pode recomendar algo que esteja lendo, assistindo ou ouvindo no momento?
The Handmaids Tale na TV.
Você está trabalhando em algum projeto em particular no momento?
A Aces Weekly é a minha única ocupação.
A última! Qual a memória mais antiga que você tem de quadrinhos na sua vida?
Como leitor? Uma tira no estilo Jungle Jim em um livrão com diversas aventuras.