Papo com Jeffrey Brown

Entrevistei o quadrinista Jeffrey Brown e nossa conversa foi publicada hoje no Caderno 2 do Estadão. Ele acabou de lançar seu mais recente trabalho, Kids Are Weird, sobre as várias perguntas estranhas e hábitos pouco usuais de seu filho pequeno. É dele o álbum Darth Vader & Son, ainda inédito no Brasil, um dos maiores blockbusters de quadrinhos de 2012. Apesar do sucesso com os trabalhos ambientados no universo Star Wars, ele continua produzindo outras obras sensacionais sobre relacionamentos, vida, morte, paternidade, religião e sexo. Só clicar na imagem pra ver o pdf da matéria:

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A força está com o cartunista Jeffrey Brown
O autor norte-americano lança gibi autobiográfico após sucesso com a famosa série ‘Star Wars’

Ramon Vitral – Londres – Especial para O Estado de S.Paulo

O quadrinista norte-americano Jeffrey Brown nunca escreveu sobre aventuras cósmicas de super-heróis, mas cruzar entre universos tem sido uma constante em sua carreira recente. Autor independente de histórias autobiográficas sobre relacionamentos, religião, emprego e dramas existenciais, ele virou artista best-seller em 2012 ao lançar o quadrinho Darth Vader and Son (Darth Vader e Filho). Protagonizado pelo capanga-mor do Império Galáctico e seu filho Luke Skywalker, o álbum é baseado na rotina de Brown com seus dois filhos pequenos e mostra uma versão infantil do herói Jedi acompanhando seu pai em passeios pelo zoológico ou em uma loja de brinquedos.

Após mais dois gibis ambientados no universo criado pelo cineasta George Lucas, Brown está de volta às suas origens em Children Are Weird (Crianças São Estranhas, 108 páginas, Chronicle Books, US$11,53). Recém-lançado nos Estados Unidos e na Inglaterra, o quadrinho retoma os enredos autobiográficos do autor, mas dessa vez com histórias protagonizadas por seu filho mais velho, Oscar.

“Por mais verdadeiras que as histórias sejam, ainda há partes delas que permanecem comigo, que eu não preciso compartilhar”, explica o ilustrador e escritor de 39 anos sobre a veracidade de suas tramas, em entrevista ao Estado. Segundo ele, 2014 promete ser um dos anos mais agitados de sua vida, com mais dois lançamentos dedicados a Star Wars e outro sobre seus filhos, além de seu emprego como professor de pintura e ilustração no Instituto de Artes de Chicago, sua cidade natal.

Mesmo fã das aventuras do clã Skywalker, Brown conta não ter esperado a tamanha repercussão que seu trabalho com a série de filmes ganhou. O sucesso das vendas de Darth Vader and Son contribuiu para o lançamento de outros dois trabalhos. Vader’s Little Princess (A princesinha de Darth Vader) é sobre o relacionamento do vilão com sua passional filha Leia. Já Jedi Academy (Academia Jedi) mostra um jovem aspirante a cavaleiro Jedi em sua rotina com mestres como Yoda. Em julho, ele lança Jedi Academy 2 e Good Night Darth Vader, com as histórias que Darth Vader conta para Luke e Leia dormirem.

Também diretor do clipe da música Your Heart is an Empty Room, da banda indie Death Cab for Cutie e ainda inédito no Brasil, Brown falou sobre as origens de seu trabalho com os personagens de George Lucas, os vários gêneros de suas obras e a produção de outros artistas independentes de sua geração.

As prateleiras dedicadas aos seus trabalhos nas lojas de quadrinhos reúnem seus gibis independentes com os trabalhos de Guerra nas Estrelas. São universos muito extremos?

Não acho, para mim há muitas semelhanças no que diz respeito à audiência e aos temas. São ambos muitos pessoais, mesmo nos livros de Star Wars, acabo desenhando minhas próprias experiências. Sinto que todo trabalho que faço reflete minha personalidade e meus sentimentos, tenham eles um tom mais sério ou então mais cômico e divertido.

Seu trabalho autobiográfico expõe muito de sua história. O que você sente quando vê outras pessoas lendo seus quadrinhos?

Tento não pensar no que elas estão lendo, quais detalhes íntimos estão descobrindo. Ao mesmo tempo, não é algo que me preocupa ou me deixa desconfortável, já que o mesmo processo de usar essas histórias reais para expressar ideias, de adaptar as memórias para o formato dos quadrinhos, é aquele que também transforma essas histórias em outra coisa. E, por mais verdadeiras que as histórias sejam, ainda há partes delas que permanecem comigo, que não preciso compartilhar.

E o que as pessoas retratadas nos seus livros acham de estarem lá? Alguém já não gostou de virar um personagem?

Na verdade, não. Até aconteceu, mas era mais uma questão de como elas acharam que estavam sendo retratadas, mas sempre em aparições menores, com nada pessoal ou embaraçoso sendo exposto. A maioria das pessoas que compõem minhas histórias entende, acho, que não estou tentando escrever sobre elas, mas sobre emoções, eventos e coisas que vivenciamos.

Lendo os seus trabalhos em ordem cronológica, é possível acompanhar as várias mudanças pelas quais sua vida passou. Quais as principais transformações seu trabalho até hoje?

Acho que a principal mudança foi eu mudar meu foco adolescente, em amor romântico em juvenil, para família e realizações pessoas. Me tornei mais interessado em dar aula e acabo pensando num cenário maior que as emoções imediatas relacionadas a um determinado evento. Espero que as histórias que conto hoje façam sentido em um contexto mais amplo, relacionado com mais do mundo.

Como começou seu trabalho com a série Star Wars?

Fui procurado pelo Ryan Germick, chefe da equipe responsável pelas ilustrações da homepage do Google. Ele me perguntou se eu poderia fazer uns rascunhos para uma possível ilustração do Dia dos Pais, eles queriam alguma coisa mostrando como seria esquisito um momento cotidiano entre pai e filho vivenciado por Darth Vader e Luke Skywalker. O Google acabou usando uma ideia diferente, mas fiquei com as ilustrações e transformei em Darth Vader and Son.

Esperava tal repercussão?

Agora já lancei três livros de Star Wars, com mais três a caminho e alguns itens extras, como cartões postais e diários. Eu achava que o primeiro livro venderia bem por ser Star Wars, mas não imaginava que teria a resposta positiva que teve. Não esperava especialmente as reações das crianças e o tanto que elas amam os livros.

É famoso o controle que os donos da marca Star Wars tem em relação aos produtos relacionados a ela. Como foi trabalhar com esses personagens e até onde ia sua liberdade criativa?

De certa forma, tive muito pouco controle, pois a LucasFilm tem a palavra final em tudo e eles são muito envolvidos em todas as etapas, do conceito à versão final. Felizmente, eu e meus editores sempre estivemos na mesma sintonia, e sinto que eles confiaram na forma como eu queria escrever e desenhar os livros. No final, os livros acabam melhores com o retorno que recebo da LucasFilm e o nosso relacionamento tem sido bastante tranquilo para mim.

Mas os livros de Star Wars também têm aspectos autobiográficos?

Darth Vader and Son é, de alguma forma, bastante autobiográfico. Estou apenas pegando as minhas histórias como pai e substituindo pelo Luke e o Darth Vader Acredito que essa é uma das razões para o sucesso dos livros. Eles são tanto sobre encontrar humor nos desafios diários dos pais quanto sobre Star Wars.

E os próximos trabalhos?

2014 vai ser um ano bastante agitado. Meu primeiro trabalho vai ser Kids Are Weird, com lançamento em março. Depois vem Goodnight Darth Vader e Jedi Academy 2, no final de julho. Então são vários Star Wars mais uma vez, mas estou tentando produzir mais um autobiográfico, dessa vez sobre as coisas estranhas e engraçadas que o meu filho mais velho diz.

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Ramon Vitral

Meu nome é Ramon Vitral, sou jornalista e nasci em Juiz de Fora (MG). Edito o Vitralizado desde 2012 e sou autor do livro Vitralizado - HQs e o Mundo, publicado pela editora MMarte.

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