Papo com Lucy Knisley

Uma semana antes de publicar minha matéria sobre Relish no Paladar, procurei a Lucy Knisley (a moça da foto aí aqui em cima) pra uma entrevista. No final das contas ela só me respondeu ontem, duas semanas depois que o texto saiu no jornal. Como o papo era para um caderno focado em gastronomia acabei não perguntando muito sobre histórias em quadrinhos, mas abordei dois tópicos bem legais: o fato dela ter criado um raríssimo exemplar de hq autobiográfica alto astral e os painéis sensacionais que ela produziu resumindo os sete livros do Harry Potter. Segue o papo:

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Comida e gastronomia não são assuntos muito comuns em histórias em quadrinhos. De cabeça, penso em Get Jiro! do Antony Bourdain e o mangá Gourmet de Jiro Taniguchi. Você já leu algum desses? Você utilizou alguma referência em quadrinhos durante a produção de Relish?

Acho que quadrinhos e gastronomia fazem uma grande combinação e há cada vez mais autores percebendo essa harmonia. Comidas compõem grandes narrativas e possuem um apelo estético que funcionam bem como quadrinhos. Li vários livros que misturam gastronomia a histórias pessoais. Acho que Relish foi influenciado pelo trabalho de David Leibovitz e também por Toast, do Nigel Slater, principalmente no que diz respeito a contar uma história pelos alimentos que consumimos. Alguns amigos quadrinistas e fãs de gastronomia também serviram de inspiração, como Sarah Becan, que fez um webcomic chamado Sauceome, sobre pratos e receitas.

Pesquisando pela internet e pelo retorno que tive da matéria sobre Relish, os trechos sobre os quais as pessoas ficam mais encantadas são as receitas. Como foi o seu processo para desenhar essas páginas? Você refez cada uma delas durante a produção de Relish?

Aquelas receitas são clássicos, favoritos meus e da minha família. São coisas que preparo com certa frequência e casam com alguma história relacionada àquela comida. Então não precisei testar, mas acho que alguns dos meus editores gastaram um bom tempo preparando cada uma!

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Você leu a crítica do Independent sobre Relish? O que você acha do livro ter sido definido “como se Toast, de Nigel Slater, fosse redesenhado por uma herdeira de Wes Anderson e Lena Dunham”?

Eu amei essa comparação. Toast é um grande livro – eu amo que ele realmente consiga te levar para um determindo local e tempo por meio de textos sobre comida. E amo Dunham e Anderson, claro. Me sinto lisonjeada.

Há uma geração enorme de quadrinistas que produzem trabalhos autobiográficos. Penso em Chris Ware, Craig Thompson e Alison Bechedel, só pra ficar em alguns dos mais famosos. No entanto, todos eles têm tons melancólicos e dramáticos fortes nas suas produções. É raro ver uma autobiografia tão positiva e alegre como Relish, não acha?

Acho que sim. Mas esse livro trata da minha relação com a comida durante o meu crescimento, que foi algo bastante positivo tanto para a minha família ou para onde eu estivesse. É o que há de apaixonante em comida: nos conecta e alimenta e cozinhar e comer podem ser formas de celebração. Não foi totalmente intencional escrever uma história tão positiva, e eu tive minha parcela de eventos tristes na infância, mas o foco na comida e meu amor por ela, permitiu construir a história a partir dessa paixão.

Você já experimentou algum prato típico do Brasil?

Fico triste em dizer que o mais próximo que estive do Brasil foi a República Dominicana. Eu ADORARIA conhecer o Brasil algum dia e espero fazer isso logo! Tenho certeza que ficaria LOUCA comendo tudo a vista. Levando em conta o meu amor por caipirinha, tenho certeza que ia amar muitas das comidas daí!

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Meu primeiro contato com seu trabalho foi na época que você publicou os painéis de Harry Potter. Como veio a ideia para aquelas ilustrações? As pessoas pedem outros trabalhos daquele tipo?

Eu estava dando uma aula sobre quadrinhos em uma escola daqui. Uma das minhas lições para as crianças foi contar uma história que elas conhecessem ou gostassem usando principalmente imagens. Elas acharam difícil esse exercício de depender em imagens ao invés de palavras para contar uma história, então quis mostrar que era possível e me desafiei a cumprir o mesmo dever. Fiz o pôster do primeiro livro e elas amaram e quiseram mais. No final foi um grande desafio, completar todos os livros naquele formato, uma espécie de teste de resistência em quadrinhos.

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Ramon Vitral

Meu nome é Ramon Vitral, sou jornalista e nasci em Juiz de Fora (MG). Edito o Vitralizado desde 2012 e sou autor do livro Vitralizado - HQs e o Mundo, publicado pela editora MMarte.

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