A jovem Priscila S. foi vítima dos experimentos de um cientista a serviço do governo militar-reptiliano. No lugar de seu braço direito foi implantada uma arma e seu olho esquerdo foi trocado por um visor cibernético. A intenção do projeto era criar agentes secretos ciborgues para a captura de anarquistas, mas Priscila foge, passa a perseguir seus captores e também vira alvo das autoridades locais.
As 32 páginas em preto e branco de Máquina Assassina (Escória Comix), álbum de estreia da quadrinista Riotsistah, apresentam as aventuras de Priscila como caça e caçadora dos militares a serviço do presidente réptil que transformaram seu corpo. Entre uma ida e outra a uma boate para espairecer, ela aniquila os milicos em seu encalço.
“Eu só sabia que tinha que misturar política, mas sem ser um negócio sério, sabe?”, me diz a autora quando pergunto sobre o ponto de partida da HQ.
Também apresentadora de um programa de soul-funk chamado Rádio Raheem na Vírus Rádio Comunitária, Riotsistah desenvolveu a trama de seu trabalho em torno de seu gênero preferido, blaxploitation; sua musa maior, a atriz Pam Grier; e clássicos como Cleópatra Jones (1973).
“Uma das coisas que mais me atrai no gênero é definitivamente o figurino, sou definitivamente apaixonada pela moda dos anos 70”, conta a artista. “E também pelas trilhas sonoras dos fimes, que são sempre ótimas. E obviamente o protagonismo negro”.
Na entrevista a seguir, Riotsistah fala sobre sua relação com histórias em quadrinhos, sua paixão por filmes de blaxploitation, suas técnicas e rotinas de trabalho e suas músicas preferidas. Papo massa, saca só:
“Sou apaixonada pela moda dos anos 70”
Vou começar com uma pergunta que faço para todo mundo com quem conversei nos últimos meses: como estão as coisas aí? Como você está lidando com a pandemia? Ela afetou de alguma forma a sua produção e a sua rotina diária?
Estão bem na medida do possível, né. Eu tô desempregada e achar um emprego nessa crise não tá fácil, mas pelo menos me dá bastante tempo pra desenhar e fazer colagens.
Máquina Assassina é a sua primeira HQ publicada, certo? Você pode me falar um pouco, por favor, sobre a sua relação com histórias em quadrinhos?
Isso, a primeira. Bom, eu fui uma adolescente muito nerd então lia tudo quanto é quadrinho de super-herói e fantasia. Mas aí fui ficando mais velha e conhecendo o cenário alternativo dos Estados Unidos e do Brasil e foi mais ou menos nessa época que eu conheci a Escória Comix e me apaixonei.
“Eu só sabia que eu tinha que misturar política, mas sem ser um negócio sério”
Queria saber também sobre a sua relação com com o gênero blaxploitation. Você lembra do seu primeiro contato com obras do gênero? O que mais te atrai em trabalhos desse gênero? Quais são as suas principais referências de blaxploitation?
Bom, eu só tenho 22 anos então quando o movimento surgiu eu nem tava pensando em nascer. Meu primeiro contato foi a partir de Todo Mundo Odeia o Chris. Eu era (e ainda sou) obcecada pela série então eu buscava TODA referência que aparecia lá e ai eu conheci Superfly e entrei para esse mundo. Uma das coisas que mais me atrai no gênero é definitivamente o figurino, sou apaixonada pela moda dos anos 70. Mas também pelas trilhas sonoras dos filmes que são sempre ótimas. E obviamente o protagonismo negro. Minhas principais referências são todos os filmes da Pam Grier no gênero, Cleopatra Jones e Black Dynamite.
Você pode contar, por favor, um pouco sobre o ponto de partida de Máquina Assassina? Essa história teve alguma origem em particular?
Cara, pra ser bem sincera, não. No fim de 2019 o Lobo [Ramirez, editor da Escória Comix] perguntou se eu queria fazer um quadrinho pra Escória e eu topei, passei a noite pensando numa história meio por cima pra ver se ele gostava e essa foi a primeira ideia. Eu só sabia que eu tinha que misturar política, mas sem ser um negócio sério, sabe?
“Minhas principais referências são os filmes da Pam Grier“
As trilhas sonoras de filmes de blaxploitation costumam ser muito marcantes. Você ouvia música enquanto produzia Máquina Assassina? Você consegue imaginar alguma canção ou artista que poderia servir de trilha para o seu quadrinho?
Nossa, eu ouvia muito. Me amarro muito em soul-funk (inclusive tenho um programa de soul-funk na Vírus Rádio Comunitária, chamado Radio Raheem) e era o ritual botar algum disco do gênero enquanto desenhava. No próprio quadrinho aparecem algumas músicas em determinadas situações que já servem meio como uma recomendação mas se fosse para eu recomendar um álbum pra ouvir enquanto você lê o quadrinho seria o Maggot Brain, do Funkadelic.
Como foram os seus métodos de trabalho durante o desenvolvimento dessa HQ? Como você trabalha? Você seguiu alguma rotina?
Olha, eu diria que eu fui meio descobrindo enquanto fazia. Mas eu percebi que fluía melhor no fim da tarde e a noite e sempre com música e uma cerveja do lado pra não ficar tensa.
Você pode recomendar algo que esteja lendo/assistindo/ouvindo no momento?
Pior que no momento eu terminei séries e livros e tô em busca de novos, mas tem uma série que saiu em 2019 e eu não superei até agora é a minissérie de Watchmen. Já vi, revi e recomendo compulsoriamente para as pessoas. Ah! E tem um pouquinho de blaxploitation nela! E eu tô ouvindo bastante uma rapper dos anos 90 chamada Heather B, a muié é muito braba!