Está marcado para as 16h de sábado (01/02), na loja Ugra, em São Paulo, o lançamento do segundo número da revista Banda. Você confere outras informações sobre o evento na página do lançamento no Facebook. Após tratar dos clássicos das HQs nacionais em sua edição de estreia, a publicação agora tem como tema “HQ, política e liberdade de expressão” e celebrando os 50 anos recém-completados do lançamento do jornal O Pasquim.
Editada pelo jornalista Thiago Borges (editor do blog O Quadro e o Risco) a Banda conta com uma equipe fixa formada pelo designer Douglas Utescher (sócio-proprietário da Ugra) e pelos jornalistas Carlos Neto (editor do Papo Zine) e Gustavo Nogueira (editor do Êxodo). Os colaboradores desse segundo número são a designer, fotógrafa e escritora Alê Meira; as quadrinistas Aline Lemos e Aline Zouvi; o editor Rogério de Campos; e o quadrinista Diego Gerlach, responsável pela capa da publicação.
Bati um papo com Thiago Borges sobre a produção desse segundo número da Banda. Ele falou do aniversário do Pasquim como ponto de partida para o tema da publicação, comentou como a campanha “quadrinhos sem política” impulsionou algumas das reflexões propostas pela revista, expôs um pouco dos temas tratados nesse segundo número e adiantou o tema da terceira edição da revista: eventos de quadrinhos. Saca só:
(OBS. 1: Você relê a minha entrevista Thiago Borges sobre a primeira edição da Banda clicando aqui. OBS. 2: Como já foi noticiado aqui no blog, fui um dos colaboradores da Banda #1)
“Quem confunde antifascismo com ideologia provavelmente é analfabeto político – ou mau caráter”
Por que tratar de política nessa segunda edição da Banda?
O tema nasceu lá atrás, antes de lançarmos a campanha no Catarse pra #1. 2019 marcou o aniversário de cinquenta anos do nascimento de O Pasquim, o maior ícone da contracultura e do jornalismo alternativo nacionais. Então, era meio que uma “obrigação” falar disso de alguma forma. E O Pasquim foi um símbolo do engajamento político contra a ditadura e a favor da liberdade de expressão. Portanto, as matérias deveriam focar em questões como censura, produção em períodos de intolerância etc. Curioso que, conforme os meses foram passando e a gente começou a escrever essas reportagens para a #2, vários assuntos surgiram pra dar mais força ainda a esse tema: a tentativa de censura do prefeito do Rio de Janeiro contra um simples beijo gay num gibi dos Vingadores durante a Bienal do Livro, a absurda campanha “Quadrinhos Sem Política”, surgida pra bater de frente com o movimento “Quadrinistas Antifascistas” e outros. Vale ressaltar, né: quem confunde antifascismo com ideologia provavelmente é analfabeto político – ou mau caráter.
Às vésperas do lançamento desse segundo número, qual avaliação você faz do debate político na cena brasileira de quadrinhos?
Acho um debate bem limitado, assim como o debate político brasileiro em geral, preso a um “nós contra eles” que parece não terminar nunca. O grande problema é: como falar desse assunto sem cair em acusações, mesmo dentro dos quadrinhos? Os artistas do campo progressista, com trabalhos mais atuantes na questão política, parecem falar para convertidos. E isso nem deve ser culpa deles, mas reflexo das bolhas em que cada pessoa está metida e não faz questão de sair. Por exemplo, se alguém tem convicção que debater racismo, abuso sexual e homofobia é coisa de “comunista”, como fazê-lo enxergar o mundo com outros olhos? Aí está o entrave disso tudo: fazer as ideias circularem, como Laerte comenta na matéria escrita pelo Carlos Neto, mas também fazer com que sejam minimamente entendidas pelos leitores. Sem isso, a população (e quem lê quadrinhos) continuará interessada em política, só que da forma mais superficial possível.
“Se alguém tem convicção que debater racismo, abuso sexual e homofobia é coisa de ‘comunista’, como fazê-lo enxergar o mundo com outros olhos?“
Imagino que “política” seja um universo mais abrangente que “clássicos”, tema da primeira edição. Qual foi o principal desafio para fechar as pautas desse segundo número?
Foi realmente encontrar assuntos relevantes atuais sobre a relação entre gibis e política. Não queríamos focar em coisas manjadas desse tema, como Watchmen, V de Vingança etc. A ideia era pensar a respeito de um ponto de vista brasileiro, pegando O Pasquim como ponto de partida para chegar a questões contemporâneas, como as tentativas recentes de censura por aqui, a interação com leitores facilitada pela internet (e também o ódio propagado contra artistas), a tendência cada vez mais reacionária da tal “cultura nerd”… Por isso mesmo, a entrevista com a Ciça é muito importante. Mostra quem esteve lá, contra a opressão da ditadura, fazendo humor gráfico em prol da liberdade de expressão.
Uma das suas pautas nessa segunda edição trata da relação do Mauricio de Sousa e da Turma da Mônica com a realidade sócio-política brasileira. O que você pode adiantar sobre essa matéria?
Ficou uma matéria bem interessante (e falo isso não só porque eu a escrevi hahaha), e bem longe de abordar o tema com um teor polemista. Não dava pra falar de “quadrinhos, política e liberdade de expressão” sem citar Maurício ou a Turma, dois patrimônios da cultura nacional. Por isso, analisamos como criador e criatura abordam essa realidade do Brasil, com todas as contradições inerentes.
“Diego Gerlach é um de nossos maiores criadores, e ter um trabalho dele em nossa revista é algo inacreditável“
Assim como no primeiro número, com o trabalho da Mariana Waechter, vocês acertaram muito bem na capa dessa segunda edição, assinada pelo Diego Gerlach. Quais foram as instruções que vocês passaram para ele quando encomendaram esse trabalho?
A gente tenta deixar o artista escolhido pra capa o mais livre possível. Nas duas vezes, mostramos a pauta com a relação das reportagens. O Gerlach deu mais sorte, pois quase todas as matérias estavam prontas a tempo de lê-las antes de finalizar o desenho. E acho que ele pegou o espírito certeiro do conteúdo. A imagem meio que é um quadrinho em si, pois tem uma história contada ali, e isso só a deixou ainda mais potente. Sou grande fã do Gerlach, pra mim é um de nossos maiores criadores, e ter um trabalho dele em nossa revista é algo inacreditável.
“Nossa intenção nunca é esgotar determinado tema, mas, sim, analisá-lo sob diferentes ângulos”
Quais foram as principais lições que vocês tiraram do primeiro número da Banda e aplicaram nessa segunda edição?
Ainda estamos aprendendo a fazer a revista. Falta arrumar algumas coisas no processo aqui e ali, mas tudo bem, isso virá com o tempo. A Banda não é nosso ganha pão (isso se algum dia ganharmos dinheiro com ela hehehe), porém queremos sempre deixá-la cada vez melhor e mais profissional. A maior lição da #1, que seguiremos em todas as edições, é fazer com que as reportagens tenham uma sequência lógica, um fio condutor pra deixar tudo amarrado e fazer com que o tema faça sentido na hora de ler. Lembrando que nossa intenção nunca é esgotar determinado tema, mas, sim, analisá-lo sob diferentes ângulos.
Como estão os preparativos para a terceira edição da Banda? Em que pé está a produção desse próximo número?
Posso adiantar com exclusividade que o tema da #3 será “eventos de quadrinhos”. Uma das principais matérias, sobre a CCXP, já está apurada, obviamente. Teremos outras bem bacanas também, mas ainda dependemos de algumas confirmações. A pauta está quase 100% fechada.