Faltam 11 dias para o término da campanha de financiamento coletivo do álbum PARAFUSO ZERO – Expansão, projeto do quadrinista Jão que estou trabalhando no papel de editor. Lembrando que o quadrinho só será impresso se contar com o seu apoio e alcançar 100% da meta da campanha. Enquanto isso, chegamos por aqui ao 10º post da série PARAFUSO ZERO – Expansão: Bastidores, na qual Jão fala sobre inspirações, técnicas e reflexões relacionadas ao desenvolvimento desse próximo quadrinho dele.
No post de hoje, o foco é no catálogo de personagens que o autor está criando para povoar a cidade de superseres do universo PARAFUSO ZERO. O catálogo ainda faz parte de um desafio autoimposto pelo quadrinista de conceber um personagem para cada um dos apoiadores da campanha no Catarse. Não tava sabendo? Corre lá e apoie pra você ganhar o seu próprio superser.
Como bônus do post de hoje, incluo uma conversa que eu e o Jão tivemos com o jornalista Pedro PJ Brandão do podcast HQ Sem Roteiro. Papo muito bom sobre as origens e a evolução de PARAFUSO ZERO – Expansão e na qual eu comento o meu trabalho editando o quadrinho. Então vamos lá: apoie o projeto, ouça o podcast e leia a seguir a 10ª atualização de PARAFUSO ZERO – Expansão: Bastidores. Ó:
PARAFUSO ZERO – Expansão: Bastidores [Parte #10: Catálogo de personagens]
Apanhado de superseres
“Eu preciso de muitos personagens para seguir com a história da PARAFUSO ZERO – Expansão. O álbum não será focado em um ou outro personagem. Como já comentei por aqui, a história é uma espécie de tabuleiro, por isso é fundamental que eu tenha um catálogo de personagens. Durante o processo de criação da história, enquanto eu levo as minhas ideias para as páginas do quadrinho, ter esse catálogo agiliza muito o processo para mim, não preciso ficar parando para pensar como será cada personagem.
Na Parafuso 0, lançada em 2016, enquanto eu construía a história, recorria constantemente aos meus cadernos de desenhos pra pegar personagens que eu tinha criado sem ter em mente exatamente uma determinada história. Os meus cadernos sempre têm desenhos de personagenzinhos e muitos deles acabam aparecendo e sendo utilizados em trabalhos distintos.
Em relação à PARAFUSO ZERO – Expansão, a ideia é ir construindo um grande catálogo de personagens que vá me permitir utilizá-los não só na história principal do álbum, mas também em outras histórias desse universo. É um catálogo ao qual eu poderei sempre recorrer. É bom ter esse apanhado de personagens tendo em vista toda a expansão que tenho em mente”.
Bacia de referências
“Esse mundo dos superseres tem algumas peculiaridades. Ao mesmo tempo que é um mundo ultratecnológico e tal, eu gosto de pegar elementos que também sejam de obras de fantasia. Alguns personagens são mais tecnológicos, têm alguns equipamentos futuristas; outros têm mais cara de super-heróis, com collants e capas; e tem outros que poderiam estar presentes nas minhas histórias do universo de Flores, O Bárbaro.
Uma das coisas que tenho pensado muito nos últimos tempos é que a história da PARAFUSO ZERO – Expansão é provavelmente o meu maior apanhado de referências. Acho que é a minha obra composta por mais referências até agora, referências tanto da fantasia quanto da ficção científica. Referências que vão desses meus pensamentos em torno dos super-heróis e mangás e da forma como farei uso desses robôs gigantes. É uma grande bacia de referências e personagens”.
Possibilidades
“Ao criar cada personagem eu vou pensando nos poderes e em um breve histórico de cada um. Inclusive já tentando encaixar esses elementos em alguma história. Tipo, eu vejo um personagem e penso que posso usá-lo em uma história x em que ele faça sentido. Ou então, eu penso algumas histórias e desenvolvo meus personagens partir delas. É esse o processo que movimenta a minha cabeça.
Eu vejo alguns personagens e falo ‘esse aqui eu gostei mais então quero que entre em um momento tal’. Aliás, eu gosto de praticamente todos os personagens, mas principalmente desses mais fortinhos (risos). Se algum dia for possível, acho que gostaria bastante de ter esses superseres reunidos em uma espécie de catálogo impresso.
Pelos desenhos você vê que um determinado personagem tem uma mobilidade maior pra servir a alguma determinada situação. Também existem aqueles mais durões, que vão servir em outros momentos. Tô tentando variar bastante nesse sentido pra ter muitas possibilidades, pra em nenhum momento das histórias eu ficar preso por falta de opção”.
Exercício de criação
“O meu processo é muito caótico. Eu imprimi uns papéis quadriculados, inclusive nesses mesmos papéis eu fiz o bookplate da campanha. Eu gosto desse papel por ele me permitir ter noção melhor das proporções. Já vou desenhando direto na tinta, com a caneta, sem esboço. Normalmente eu não demoro tanto pra desenhar cada personagem. Tem personagem que eu já penso inteiro antes e outros eu vou no freestyle, sem saber o que vai sair dali.
Em relação ao tempo, eu devo demorar cerca de 10 minutos em cada personagem. Quando eu faço uma página inteira de personagens, como a última que desenhei, com 25 superseres, fico extremamente cansado. Não fico cansado pelo tempo que gasto, mas por ser um exercício de criação que cansa muito a cabeça”.
Moscas e manual de inutilidade
“A ideia na PARAFUSO é que esses personagens sejam superpoderosos e com dons especiais, mas em um universo em que todo mundo tem isso, eles acabam se tornando apenas moscas, são insignificantes dentro do todo. Acho que isso também acaba valendo pra gente no mundo em que vivemos (risos).
Dia desses eu estava assistindo no Netflix aquela série Brinquedos Que Marcaram Época, o episódio sobre os bonequinhos do He-Man. É legal ver o pensamento da galera pra criar aquilo e como o mundo do He-Man foi criado a partir dos brinquedos. Isso é uma coisa que o Gabriel Góes faz também, né? Aliás, o Billy Soco é ainda mais descarado em relação a isso, ele está desenhando o próprio bonequinho no quadrinho.
Isso também tem a ver com o processo de desenho desses personagens. Eu tenho cada vez mais pirado em manuais e infográficos. Esse é um tipo de exercício e criação que tô achando muito legal, ver a página com esses bonequinhos, tô gostando e nunca tinha parado pra fazer. Tô pirando cada vez mais. Talvez no futuro o meu trabalho vá virar um grande manual de alguma coisa que não tem utilidade alguma (risos)”.
BÔNUS:
CONTINUA…
ANTERIORMENTE:
>>PARAFUSO ZERO – Expansão: Bastidores [Parte #9: Facebook, drogas psicodélicas e algoritmos falhos];
>> PARAFUSO ZERO – Expansão: Bastidores [Parte #8: Viabilidade, encontros e trocas];
>> PARAFUSO ZERO – Expansão: Bastidores [Parte #7: Chris Ware, Elza Soares, Emicida e uma teia paranóica de referências];
>> PARAFUSO ZERO – Expansão: Bastidores [Parte #6: Akira, Wally e paralelismos distópicos];
>> PARAFUSO ZERO – Expansão: Bastidores [Parte #5: Proporções extremas e a insignificância humana no Universo];
>> PARAFUSO ZERO – Expansão: Bastidores [Parte #4: A origem do ‘Formato Jão’];
>> PARAFUSO ZERO – Expansão: Bastidores [Parte #3: Um sonho com Moebius];
>> PARAFUSO ZERO – Expansão: Bastidores [Parte #2: Baixo Centro, Flores e texto];
>> PARAFUSO ZERO – Expansão: Bastidores [Parte #1: origens, restrições e OuBaPo].